Freedom

Os dois lados da moeda


N: Hellen

Estávamos sozinhos do meu quarto, que era muito mais aconchegante que o dele, obviamente. Eu não era só uma assassina da Hidra, mas a menina dos olhos deles. Engana-se quem diz que eram os gêmeos. Pietro acariciava meus cabelos e ouvia o som que saía do meu violino. Era doce e agitada. Jazz. Não era muito normal eu tocar jazz. Mas eu tocava vez ou outra, uma música de Karen Briggs, que francamente é uma violinista espetacular.

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O carinho em minha cabeça era confortável. Soltei o violino e o fiz levitar até o canto da parede. Apoiei minha cabeça em seu peito e ouvi seus batimentos, na qual sempre estranhei a lentidão do pulsar. Cara... por que eu tô falando tão cordialmente? Bom, deve ser o clima. E o clima estava assim mesmo! Nós dois estávamos deitados na minha cama. Meu quarto era simples, mas eu nunca fiz questão de mais do que uma cama confortável, um computador, violinos e pôsteres dos meus artistas favoritos. Ele beija meu rosto e leva sua mão à um botão na gola do meu vestido. Segurei sua mão com força.

— Não. - pedi – Por favor, não faz isso.

— Ah... me desculpe. - respondeu, retirando a mão e pondo à altura do meu estômago - Eu me esqueci. No seu tempo... mesmo que ele não chegue.

— Sim, eu tenho trauma, ele pode não chegar.

— Não é por isso. - ele sussurrou.

Me levantei e o observei fazer o mesmo.

— Eu juro que eu não sabia...

— Os Vingadores estavam invadindo. Você poderia ter feito alguma coisa. Como eu e Wanda fizemos.

— Von Strucker me tirou de lá antes. Eu jurei que voltaria, e voltei!

— Mas eu não estava lá! Eu estava morto! - ele respondeu – Quer dizer, eu estou morto.

Apoiei minha mão em seu rosto e a outra em seu peito, enquanto as mãos dele seguram minha cintura.

— Ah, Peet. Eu juro que se eu soubesse, teria ficado. Sabe que raramente eu consigo ver o futuro e, mesmo assim, é sempre muito incerto e nunca é muito claro. Nem chega a ajudar de verdade!

— Hellen, a culpa não foi sua. Mas eu te amava...

— Eu também te amava...

— Mas você me amava!

A outra voz soou. Me afasto de Pietro e me viro, encarando o segundo.

— Jim? É você mesmo?

— Você disse que me amaria para sempre...

— Mas eu ainda te amo! - gritei.

Ao olhar de relance para trás, Pietro desaparecia, decepcionado. Eu não sabia o que fazer, então apenas andei para trás até James tocar meu ombro. Me virei com os olhos molhados.

— Então o que fazia com ele?

— Você morreu. Sou imortal, não posso viver no passado.

— Então amava a nós dois?

— Enquanto um estivesse morto, eu não via problema.

— Bom, isso quer dizer que nada mais importa agora. Nós dois estamos mortos, certo? - riu fraco, e então, começou a ficar transparente e desaparecer.

— Nã... não. Não faz isso comigo. - pedi, tentando o segurar, mas meus braços o atravessaram.

— Adeus, Len.

— James Buchanan Barnes, não ouse me deixar de novo!

Mas era tarde, ele já havia sumido.

Sonho off {tenho mesmo que escrever isso, Menth?!}:

— BUCKY! - acordei gritando e me sentando por impulso, ainda com as pernas no sofá.

Olho ao redor. Algumas pessoas discutiam. Não me importo com elas. Abraço minhas pernas e choro.

— Hey, garota. - falou o ilustre Capitão América (sim, eu sei quem ele é) - Quem é você e o que faz aqui?

Ignorei e continuei a chorar. Chorei de descrença, de arrependimento, de dor, de luto... e sabia que demoraria a parar.

— Bucky... - sussurrei – Me perdoe.

— Lady Caos, certo? Você... trabalhou com o Bucky. Também conhecia os Maxmorff, era influente na Hidra...

— O que foi que eu fiz? - continuo sussurrando - Desculpe, Peet! - meus olhos se enchem de lágrimas. Foi a segunda vez que eu me permiti chorar pra valer. A primeira em público.

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— Hey, Taylor! - o loirinho repetiu, segurando minhas mãos - Fica calma. O que você está fazendo aqui?

— Eu só queria rever meus amigos. Não sabia que ele tinha morrido e nem... ah, que droga! Vocês estão sendo procurados e se escondem aqui! Eu nunca medi as consequências dos meus atos, mas agora...

— Garota, não se preocupe, tá? Agora, precisamos saber o que você injetou na Michell. - dizia calmamente.

— Posso confiar em vocês? - perguntei (de verdade! Sem ironia) - Se mentir, eu vou saber.

— É claro que pode! Quer dizer, nós não deveríamos confiar em você. Ainda bem que a Paôla explicou algumas coisas e Wanda a interrompeu, dizendo que você estava tendo um pesadelo e estava arrependida. Sendo assim, é inofensiva... bom, pelo menos para nós.

— Ofensiva eu até sou, mas agora não é hora de ferir pessoas.

— Okay, chega de enrolar. - disse o negão que eu joguei na parede – O que você fez com a minha garota?

— Sam, posso falar com ela? - pediu a albina recém-transformada em humana.

— Ela tirou os seus poderes, Zoe! Ficou louca? - tentou persuadir.

— Por isso que eu mesma quero cuidar da garota.

— Estou aqui! - reclamei/alertei/as duas coisas.

— Com puro nardo... - cantarolou uma loirinha.

— Cala a boca, Stark. - pediu Logan.

— O que você quer comigo? - perguntei à (pelo que estão chamando) Zoe, que se senta ao meu lado assim que o Rogers se retirou.

— Tudo o que sabe sobre você. Tem quantos anos.

— Sou adolescente, tia Zoe. Tenho 85 anos.

— 85? - perguntou surpresa – E está há quanto tempo na Hidra?

— Estava dês dos 13 anos, quando meus pais morreram e... coisas desagradáveis quase aconteceram comigo.

— Pior do que perder seus pais?

— Não! É que... não estou aberta para comentar sobre isso.

— Se lembra dos seus pais?

— Muita coisa. Como disse, eu já era crescida quando os perdi.

Li sua mente. Lembranças de perdas e tragédias. Especificamente, de uma garotinha que perturba meus pesadelos. A mesma atende como "Cléo", e era o nome da filha do meu mentor. Um vestidinho rosa e amarelo, com sapatinhos vermelhos. Era como eu estava acostumada a vê-la.

— O que você injetou em mim? - perguntou.

— Ah... a Hidra estava em busca da cura mutante. Acho que eles a encontraram.

— É reversível?

— Não que eu saiba. Mas é bom testar alguma coisa. Eles não chegaram a testar, e umas versões mataram, e outras simplesmente não funcionaram, ou seja, vai que eles erraram a última também. - dei de ombros – Acho que... não tenho mais para onde ir. Nem tava me importando com isso.

— Fique por um tempo. Eu insisto. - pediu.

— A casa não é sua. Acho que é do rei T'shanala... T'shaga... ah, dane-se, o Chat Noit. Não é?

— É T'Challa. E sim, a casa é dele. - riu – Mas há alguma coisa em você que me deixa inquieta. - se virou para a morena, que também nos encarava – Wanda, pode dar a ela algo mais confortável para vestir?

— Claro, Zoe. - sorriu fraca – Vamos, Len.

Me levantei e a segui. Nunca iria esperar que eles fizessem isso por mim. Eu invadi a casa deles e destruí a sala, isso pra não falar que tirei os poderes de um deles! E eles retribuem positivamente? Esse pessoal tem problemas, e não são poucos. Agora começo a questionar minhas ações. Nunca me importei com certo e errado, mas agora sentia que eu estava fazendo algo ruim. Por quê? Por quê logo agora minha consciência foi pesar? E eu nem sabia que tinha uma, ou que ela ainda estava viva.

O elevador fecha e Wanda me abraça. Ela sabia o que eu estava sentindo, e também sentiu a dor da persa de Pietro. Arranjo forças para não dizer que com a perda do Marmorff, o Barnes voltou às minhas memórias. Eu sofria muito, mas preferi guardar pelo menos parte disso. Quando o elevador se abre, nós duas caminhamos pelo corredor e entramos em um dos quartos. As portas só se diferenciavam pelo número, mas por dentro, a atmosfera era diferente. O lugar era aconchegante. Uma cama simples, paredes sem muitos enfeites, um violão num canto que parecia se quer tocado...

— Melhor que aquela sela. - pensei alto.

— Não viu o do complexo dos Vingadores. - respondeu, se sentando na cama e apontando para o guarda-roupas – Escolha o que quiser. - tirei um vestido de alça preto e curto, bem simples, e mostrei a ela – Menos esse vestido.

Dei de ombros e coloquei ele de volta.

— Okay, né!

— E como foi no Japão?

— Uma droga. Show com hologramas, mais missões do que férias de verdade, sabão que parece doce... gente estranha.

— Só não diga essas coisas perto da Kaz. Ela ama esse tipo de coisa.

— Kaz? - perguntei, pegando uma blusa verde estilo cigana – Ajuda se eu souber quem é?

— Ah, essa blusa não é minha, é da Kazumi. - alertou e eu a coloquei de volta – É enteada do Steve, filha adotiva da Katrina, a...

— A ruiva grávida? Foi ela quem acertou minha cabeça, foi?

— Como sabe?

— Tive umas visões bem embaçadas em que ela bate na cabeça das pessoas. É asgardiana, né?

— É. Mas com a convivência, você esquece. Ela realmente se parece com uma humana.

— Reparei. - ri, puxando uma saia roxa – Você gosta de roxo?

— Não é minha cor predileta, mas essa saia e muito confortável. Eu pretendia usar mais tarde, mas se preferir...

— Não, tudo bem. Esse seu "escolha o que quiser" não foi muito pra valer. - paquerei algumas outras peças no armário - Por que tinha uma blusa da enteada do Capitão América no seu guarda-roupas?

— Confusão na hora de lavar. A jaqueta vermelha que a Nat me deu foi parar no armário da Julia.

— Quem são Nat e Julia...? Calma aí, Julia é a filha do Tony Stark. A garota das espadas. - falei, puxando um casaco rosa – Isso não é seu.

— Ah... acho que é da Julia, mas ela tem usado poucas cores ultimamente. Ela chama de "Depressão Pós Guerra Civil". Ore pela Julia.

— Sou ateísta. - respondi – Por que a Zoe me tratou desse jeito?

— Promete não contar pra ninguém?

— Prometo.

— Acho que ela acha... que você é a filha dela.

Isso... era estranho. Eu me lembrava dos meus pais. Me lembrava de tudo envolvendo a morte deles, a Hidra me resgatando... mas aquela garotinha, que atormentava alguns dos meus sonhos, estava nas memórias dela. E agora? Será possível?

— Impossível. Conheci meus pais. Tenho certeza de que ela não é minha mãe.

— A Hidra costuma mexer nas memórias das pessoas. Vai saber.

— Mexer nas memórias de uma telepata? Se conseguirem... - puxei um vestido preto e rosa. Aquilo me fez refletir – Rosa me lembra a música "Shatter Me", que eu amo.

— "Shatter Me" narra a minha vida. - comentou divertida - I pirouette in the dark. I see the stars through me. Você me apresentou a música.

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— É claro, eu disse "foca no violino" e você focou na letra. - rimos - O que há de errado nesse vestido? - perguntei, esperando ela não me emprestar.

— É lindo, mas não faz meu estilo. Pode levar.

Sorri.

N: Zoe

Ando de um lado para o outro preocupada. T'Challa me segura pelo braço e tenta me acalmar.

— Zandaia, andar em círculos não vai trazer seus poderes de volta.

— Não é nisso que estou pensando.

— Essa garota não tem chances de ser sua filha. - falou Jean.

— E se tiver? Passei todos esses anos longe dela, achando que estava morta...

— Amor, fica calma. - Sam me abraçou - Se for ou não, a gente vai descobrir. Fala sério! Não tem nada que você não possa fazer.

— Sabe... acompanhem meu raciocínio: quantos anos sua filha tinha quando se foi? Três anos. Não acha que ela não se lembraria de você se a entregassem à outra família?

— Sim, é no que estou pensando! - concordei.

— Piora as coisas, Julia! - Steve – A decisão de mantê-la aqui foi muito arriscada.

— Ela tem um motivo para estar aqui. - disse Paôla - Tem muito mais coisa para acontecer.

A porta do elevador se abriu e de lá saiu Wanda e Hellen, com um violino mais novo e bonito em mãos do que o anterior. Provavelmente é o mesmo violino que ela transformou, com o mesmo poder que transformou o arco em uma lâmina: manipulação da matéria. Reparo em seu rosto. O rosto dela lembrava muito o de Ben. Em certo ângulo, os olhos castanhos da garota ficam azulados. Ela usava um vestido preto com flores rosas e ria com Wanda de alguma coisa.

— ... e tipo, eu sabia que o Grant tava afim de uma garota da S.H.I.E.L.D. e sempre que a gente se falava, eu perguntava: "Hey, Romeu! Como está a Julietha?"

— A gente se conhecia nessa época. - respondeu Wanda – Que bom que se livrou daquele idiota.

— Depois que ele tentou dor...

— Hellen? Mais confortável? - perguntei.

— Sim, obrigada. - ela respondeu – Na real... eu não merecia isso, mas nunca me importei... por que eu tô me importando agora? - riu, com o rosto um pouco avermelhado.

— Não se preocupe com isso. Se preocupar com o certo e o errado, ou com o merecido e o de graça, é algo bom. Mas não quero você pensando em fugir para não incomodar.

— Sua sorte é que sou abusada. - brincou – Mas por quê?

— Não sei. Mas acho que vou descobrir logo. Não sou eu quem quer que você fique, não que eu queira que você vá.

— Claro. - ela assentiu - Paôla disse que vou encontrar alguém que eu amava, mas todos estão mortos. O que resta é esperar.

— Pode não ser necessariamente um namorado. - respondi.

— Não vai precisar esperar muito, Srta. Taylor. - falou Paôla se aproximando – O que está por vir está perto.

— O que é? - perguntei.

— Um cara novo pra você, Zoe. Mas Hellen... acho que já cruzou em algum momento de sua vida com alguém que lutou contra ele. E tem mais: os mortos vão voltar para você.

— Ah, vou checar a lista de inimigos dos meus amigos. Mas acho que nenhum deles pode causar um apocalipse zumbi.

— Só não diga que não avisei. - completou Flinn.

Senti um calafrio subir pela minha coluna.