Destinados

Capítulo 8


Capítulo 8
Anteriormente:

— O mundo bruxo é o nosso mundo. É onde vivemos, escondidos dos trouxas, é claro. Como você não sabe dessas coisas? - Ginny exalava curiosidade, mas pareceu deixar isso de lado, o fitando com seus olhos brilhantes, como se analisassem sua alma.- Isso não é realmente importante agora. Harry, você é famoso no nosso mundo. Na noite em que seus pais faleceram, você derrotou o você-sabe-quem e salvou todos das trevas. Você é um herói. Você é Harry Potter, o Menino-que-Sobreviveu.
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01 de Agosto de 1990, Ottery St Catchpole, Devon.

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Ginny nunca se encontrara tão confusa em toda a sua vida. Quando acordara, aquela memória de Diana ainda brilhava vívida diante de seus olhos. Ela sentia o cheiro de vinho e cravo, ouvia o farfalhar dos vestidos rodopiando e o crepitar do fogo nas enormes lareiras. Assim que se levantou, pensou em falar com a mulher, entender o que era aquilo exatamente. Mas assim que pegou o espelho, era apenas o verde brilhante que ocupava toda a sua mente. Ela queria ver Harry, saber se aquilo era real, se tinham estado juntos antes, séculos antes. Mas quando começaram a falar e ele se mostrou totalmente ignorante sobre quem era, Ginny assumiu que só poderia ser um sonho. Harry Potter era uma lenda, um nome que todos conheciam. Um herói. Mas aparentemente, apenas ele não sabia disso.

Ginny continuou encarando o rosto do amigo. Viu feições confusas se transformarem em incrédulas, logo ele estava balançando a cabeça repetidamente em um gesto de negação. A menina sentia que algo estava muito errado. Extremamente errado. Um sentimento de culpa começou a tomar conta da garota ao ver a dor, mesclada com algo que ela não conseguia definir, brilhando nos olhos verdes. Mas ela sentia que era seu dever esclarecer tudo para ele. Era como se ela houvesse feito isso muitas vezes antes. Ginny era aquela que o guiava, quem abria seus olhos e o despertava para a realidade. Ela simplesmente sabia disso.

— Isso só pode ser algum tipo de pegadinha. Meus tios... Eles devem ter achado divertido brincar com minha cabeça assim. Ou... - A voz dele diminuiu, enquanto fechava os olhos, a face contorcida em angústia. - Ou eu finalmente enlouqueci.

— Harry. - Ele não abriu os olhos, murmurando para si coisas como "não é real" e "Tio Vernon deve estar rindo muito da minha idiotice". - Harry!

Olhos esmeralda assustados imploravam por respostas. Não era justo que ele, de todas as pessoas, não soubesse sobre sua própria vida. Não era justo que ela, uma garota de quase nove anos, fosse a responsável por apresentar o mundo mágico para ele. Ela queria poder tocá-lo, tirar a confusão daquele doce rosto. Queria pegar toda a angústia de sua voz. Queria abraçá-lo. Era quase uma dor física não poder estar junto do seu amigo.

— Isso é real. Eu sou real. Você acredita em mim? Por favor, acredite em mim.

— Eu só... Eu não entendo. Se o que diz é verdade... Tudo que eu sei, tudo que eu sempre soube... É difícil entender. Magia não existe. Meus pais morreram em um acidente de carro. Eu sou o delinquente, o garoto estranho. Não um herói, ninguém especial. Eu sou apenas Harry Potter, o órfão que foi abandonado pelo mundo. - Ginny sentiu seus olhos marejarem ao ouvir aquela declaração. - Sinto muito não ser o que você pensa.

— Harry, olhe nos meus olhos. Acha que estou mentindo?

Um silêncio pesado caiu nos dois quartos. O lugar que Harry estava era muito escuro para Ginny conseguir ver o rosto dele de forma perfeita. Parecia que a fonte de luz era o espelho, que refletia o quarto dela totalmente banhado pelo sol da manhã de verão. Ambos ficaram se encarando, milhões de palavras não ditas caindo sobre seus ombros. A primeira lágrima correu pelo rosto delicado da ruiva. Temia que Harry não confiasse nela, que escolhesse não escutá-la. Sentia um misto de compaixão e desespero.

— Você nunca mentiria para mim. Eu apenas sinto isso. - Com um sorriso triste, ambos se permitiram relaxar.

— Nunca. Você é, de alguma forma, meu melhor amigo. Isso faz sentido? Quer dizer, nos conhecemos oficialmente há mais ou menos dois dias.

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— Nada disso faz sentido, Ginny. Mas eu sei que eu te conheço desde sempre. Talvez eu realmente te conheça desde sempre.

— Então estamos de acordo que aquilo foi real? Que estávamos dentro das memórias de outras pessoas, quero dizer.

— Para mim tudo isso parece ser um sonho confuso e maravilhoso. Ginny, todas as minhas certezas estarão se despedaçando se eu me permitir acreditar. Eu quero acreditar.

— Então acredite. Eu estou aqui Harry, eu sempre estive e sempre estarei. - Ginny colocou a mão sobre o espelho, como se tentasse tocar o rosto do amigo e ele fez o mesmo.

Uma sensação de calor se espalhou pelo corpo dela quando a mão de Harry encostou no espelho, exatamente sob a sua. Era como se conseguisse sentir a pele contra a sua, era como se estivesse realmente o tocando. Ficaram estáticos, sem entender o que estava acontecendo. Milhões de pensamentos passavam pela cabeça de Ginny, mas o único que ela conseguia captar era que ela não queria acabar com aquele momento.

Batidas fortes despertaram ambos, que saltaram de susto. Mas o som vinha da casa de Harry, que lhe deu um sorriso triste, antes de sumir sem dizer uma palavra. O coração de Ginny estava disparado, as batidas soando tão altas que mal conseguia ouvir os próprios pensamentos. Não sabia definir o que estava sentindo, apenas tinha essa necessidade enorme de estar com Harry, falar com Harry, tocar em Harry. Ele era ignorante sobre seu mundo e sua história, ele estava sofrendo. Ela queria ajudá-lo mais que tudo. Tudo relacionado a ele era o centro de um universo particular apenas dela.

O resto do dia passou como um borrão. Nem mesmo conseguiu dar atenção a sua mãe, que falava empolgada sobre o aniversário dela que seria em 10 dias. Só conseguia se focar em Harry e em Diana e nas milhares de perguntas que passavam por sua cabeça. Queria entender melhor essa história de almas e vidas passadas e o porquê de ter sonhado com a vida de outra pessoa, além das dúvidas que tinha à respeito da vida de Harry. Mas ela não teve coragem de pegar no espelho nenhuma vez, com medo do que poderia descobrir. Era muita coisa para sua cabecinha infantil e ela não achava que podia lidar com isso agora.

Deitou-se mais cedo que o comum e, mesmo com suas mãos coçando para que o fizesse, não pegou no espelho. Ainda repassava a conversa com Harry a cada minuto que podia, não queria por mais coisas em jogo antes de conseguir processar as informações que já tinha. E também havia uma confiança de que ela saberia de tudo, eventualmente. Se estava de fato ligada ao garoto, era lógico pensar que descobriria cada detalhe insignificante da vida dele. Estava tão concentrada nessa linha de raciocínio, que nem chegou a notar que havia fechado os olhos. Logo havia caído na escuridão dos sonhos.

Apenas para abrir os olhos e se ver em um lindo bosque. Havia uma cabana rústica e pequena, feita de madeira, rodeada de pequenas flores e ervas, espalhados num jardim que se misturava com as árvores enormes que rodeavam o espaço. Um pequeno lago espreitava por trás de arbustos difusos, brilhando azul no hesitante sol do início da manhã. Montanhas verdes se perdiam no meio das nuvens e um lindo castelo reluzia em branco, parecendo tão pequeno daquela distância que poderia ser de brinquedo. Nunca havia estado naquele lugar antes, mas ele era absurdamente familiar.

Conseguia ver uma menina loira correndo atrás de borboletas que voavam pelas flores, tardes cultivando as ervas medicinais, um ruivo chegando ensanguentado montado num cavalo ferido, uma moça deitada numa cama de sangue. Eram memórias, mas não suas. Diana havia vivido tudo aquilo. Mesmo assim, Ginny sentia como se fosse a vida dela. Sentia a felicidade pelo nascimento da irmã, a tristeza pela morte do pai, o sofrimento por ter que se esconder dos trouxas. Não era a sua vida, mas ela sentia como se fosse.

— Ginny?

Ela se virou para um Harry totalmente diferente do que se lembrava de ter visto. Ele usava uma roupa totalmente preta, que tornava a figura magra dele ainda mais frágil. Não usava seus óculos e não tinha a cicatriz que o tornava famoso. Era baixo e sua palidez não parecia saudável. Mas mesmo assim, havia algo na figura esguia que o tornava imponente. Como ela imaginava que um rei seria.

Toda a vontade que tivera de tocá-lo mais cedo voltou com força total e ela não consegui se conter. Correu para ele, percebendo apenas naquele momento que usava um vestido que não facilitava esse movimento, e o abraçou apertado. Num gesto que parecia natural e corriqueiro, ele passou os braços por sua cintura e afundou o rosto na curva entre o ombro e o pescoço, aspirando o perfume floral profundamente. Ginny se viu rodeada por um aroma amadeirado diferente de tudo que já havia sentido. Mergulhou naquele contato, finalmente suprindo uma necessidade, que nem conseguia imaginar que era tão forte.

— Oi, Harry.

Separaram-se devagar, um pouco relutantes em quebrar o contato físico. Passaram a se olhar, esperando encontrar respostas para perguntas que nem sabiam que tinham. Harry resolveu olhar o ambiente ao redor, mas Ginny continuou seu foco no rosto dele. Tinha uma fina cicatriz na boca, um nariz muito reto e maxilar anguloso, além de maças do rosto destacadas. Bonito, de uma forma frágil e infantil.

— Eu lembro desse lugar. - A voz dele quebrou o encanto em que a garota estava. Ginny, desviou os olhos para o chão, sentindo suas bochechas corarem fortemente. Não era normal ficar encarando as pessoas por aí, mesmo que elas fossem incrivelmente lindas.

— Eu também. Mas não são nossas memórias.

— São nossas.

Ambos se viraram e encontraram Diana e Garrett parados, se encaixando bem mais no cenário bucólico que os mais jovens, em suas roupas alguns séculos à frente. Diana estava exatamente igual, os mesmos cabelos longos, o mesmo vestido prata e a mesma aura de poder e sabedoria. Ginny só havia visto Garrett na memória/sonho, por isso não havia se dado conta de como ele parecia perigoso. Usava uma armadura totalmente preta, com um grande leão em vermelho em seu peito. Cabelos negros caíam desgrenhados por seus ombros e os olhos verdes eram escurecidos por sentimentos conflitantes, que ela não conseguia identificar.

— Minha Senhora. - A mesma voz rouca e forte falou, enquanto o homem dava um aceno respeitoso com a cabeça para Ginny. - Harry.

Acho que todos nos conhecemos aqui, mas mesmo assim irei apresentar-nos. Sou Diana, filha da lua, e esse é meu companheiro de alma, Garrett, protetor dos portões do sol.

— Temos algumas coisas à explicar para vocês, mas aviso que não sabemos de tudo e que nem tudo que temos conhecimentos pode ser revelado.

— Por que não? - Antes mesmo que pudesse pensar, a pergunta já havia escapado dos lábios da garota. Corou ao se ver sob o olhar divertido de Garrett.

— Já interferimos demais nos acontecimentos dessa realidade. Nos foi dada a chance de prepará-los para os desafios dessa encarnação, mas podemos perdê-la se começarmos a falar o que não devemos.

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Um silêncio desconfortável seguiu à fala de Diana. Os quatro ficaram se olhando. Eram iguais, um reflexo de diferentes idades da mesma alma. Era assustador e ligeiramente incompreensível. De uma garota comum, agora Ginny se via parte de algo maior. Algo que não entendia, mas que sabia ser parte fundamental. E ela queria aquilo. Sentia que era seu destino. Não havia maneira de fugir do destino. E ela não queria tentar.

— Vamos sentar e conversar.

Não era um pedido e a voz do homem deixava isso claro. Sem dar um segundo olhar para qualquer um deles, Garrett se virou e caminhou em direção ao lago, sendo seguido por uma Diana suave e delicada, que caminhava como se estivesse flutuando. Lançando um olhar demorado para onde os mais velhos se dirigiam, Harry pegou sua mão e começou a guiá-la para o lago.

Sentaram debaixo de uma árvore enorme, com um tronco cinzento e as folhas estranhamente roxas. Nada do que já havia visto antes. Além de roxas, elas tinham formato de coração e caiam delicadamente sobre a terra. O lago era cristalino e mostrava pequenas plantas aquáticas e peixes coloridos brincando sob a superfície plana, que só era perturbada por uma esporádica folha que caia sobre ele.

— Para começar, temos que esclarecer umas coisas para o Harry. - Diana mais uma vez quebrou o silêncio, dando um sorriso tranquilo para os dois. - Tudo que Ginny falou é verdade. Seus tios mentiram durante todos esses anos e pretendiam continuar mentindo. Eles odeiam magia e não queriam você envolvido com esse mundo.

— Mas se o que você diz for... Minha vida toda foi... Eu vivi uma mentira!

Raiva e ressentimento emanavam em ondas de Harry, ela apenas não conseguia vê-lo tão chateado. Segurou a mão dele firme, tentando demonstrar com esse gesto que estava ali para apoiá-lo e que tudo ficaria bem. O moreno respirou fundo algumas vezes, fechou bem os olhos e só depois conseguiu voltar-se para os mais velhos. E uma simples pergunta, carregada com uma angústia e uma curiosidade infantil, escapou. Um simples "por quê?".

— Vernon Dursley é um homem detestável. Ele odeia tudo aquilo que é diferente da sua realidade limitada. Não consegue entender e respeitar nada que não seja "normal". - Era perceptível o desgosto de Garrett ao falar sobre o tio de Harry, mas ninguém se manifestou. O cérebro de Ginny estava trabalhando para tentar encaixar as informações que recebia, com as que ela já possuía.

— Petunia é um assunto mais delicado. Ela não odeia magia ou você. Apenas o que representam. Ela teve que lidar com o fato da irmã ser uma bruxa e ela não. Sua mãe, Lily, era cheia de vida e chamava atenção de todos. Petunia se sentia rejeitada pelos pais, por eles "preferirem" sua mãe, e pelos amigos, que davam mais atenção à Lily. Sua tia acabou transferindo esses sentimentos à magia e a sua irmã. Então sua mãe morreu e Petunia sentiu culpa por não ter reatado relações com ela, culpa essa que ela transformou em raiva, que mais uma vez acabou transferindo à magia. Então veio você, tão cheio de vida e de magia. Petunia acabou te associando às coisas ruins.

— Basicamente ela é invejosa e descontou as frustrações em cima do Harry? - Mais uma vez Ginny falou sem pensar, assim que Diana fechou a boca. Mas seu peito se enchia de raiva só de imaginar alguém sendo ruim com o seu Harry.

— Basicamente. - Garrett olhou divertido para Ginny, que corou mais uma vez. Ele era desconcertante de tão lindo. E igual ao garoto franzino que ainda segurava sua mão. Apenas numa versão mais velha e medieval.

— Mas não é sobre isso que vinhemos falar.

E o clima no lugar mudou mais uma vez. O sorriso que estampava o rosto do homem se apagou, dando lugar à uma máscara de seriedade. Diana, que fora quem pronunciara tais palavras, parecia muito menos suave que segundos antes, assumindo uma pose quase defensiva. Era a hora de pôr as cartas na mesa e finalmente descobrirem o quê exatamente iria acontecer dali para frente.

— Vinhemos discutir sobre a guerra.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.