Tom: A história de Nick e Judy

No início, Homem criou Deus


Mais uma vez, de alguma forma, Tomazzo foi capaz de piorar as coisas. Se não tivesse interferido, talvez o pai de Judy não estivesse tão furioso com Nick. Se bem que a probabilidade das coisas correrem bem em primeiro lugar era pouca. Stu nem conseguiu encarar a própria filha depois de descobrir, e Bonnie, bem como os muitos irmãos de Judy, não estavam contentes.

"Eu falo com ele." Disse Tomazzo.

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"Por favor, Tom." Judy respondeu. "Não piores as coisas."

"Não pode correr ainda pior, pois não ? Eu resolvo. Da mesma maneira que resolvo sempre tudo."

Tomazzo dirigiu-se na direcção do Pai de Judy. Ele tinha ido, pelas suas palavras, 'apanhar ar', o que só podia significar que foi para o meio da horta por detrás da casa, com vontade esmagar as abóboras com um martelo. E ao olhar para trás, Tomazzo pôde ver Judy, Nick e Bonnie a obsevar, pela janela.

"A paisagem rural nunca foi a minha favorita." Afirmou Tomazzo, ao chegar ao lado de Stu.

"Tomazzo, eu não estou com disposição para falar agora."

"Não ? É uma pena. Tens visto TV ultimamente ?"

"Quase nunca. As notícias não param de falar num tal barão da máfia a legalizar ou algo assim."

"Oh, a doce, doce ignorância."

"Como assim ?"

"Vá lá, Stu. Consideras mesmo que a minha aparência é semelhante à de um gorila ?"

"Pensei que tinhas dito que sofrias de..."

"Tretas ! Está bem. Tretas."

"Então.....oh, não. "

"Oh, sim. Tomazzo Vicenti. Líder da maior rede de comércio 'legal' do planeta. E antes que penses em correr, Stu, a menos que consigas quebrar a barreira do som em 4 segundos, eu sugiro que me ouças. Neste momento, está em tua casa aquele que pode vir a ser o teu futuro genro."

"Eu nunca, nunca vou permitir isso !"

"Não, não, não. Tu não tens voto na matéria, entendido ? Não tens nenhum poder. Além disso, é assim tão mau ? Nem conheces o Nick."

"O amor entre espécies não existe ! Está na Bíblia !"

"Que se lixe isso ! Se eu quisesse ouvir histórias de há mil ano atrás que não aconteceram mesmo, eu fazia voluntariado no lar de idosos."

"Eu não vou permitir essa abominação na minha família !"

"Casamento interespecies ?"

"Não ! Não digas isso."

"Ei, uma coisa só, Stu. Se eu...eu não o vou fazer, não sou um monstro, mas se eu por acaso estruprasse a tua mulher, achas que deveria ir preso ?"

"Sim. O que tem isso a ver ?"

"De acordo com essa tal bíblia, se eu estruprar uma mulher, tenho o direito de a vender. Completamente dentro da lei."

"Mas..."

"Oh, e sabias que Deus tem um plano para todas as pessoas no mundo ? Porque não vens comigo em primeira classe até África, dizer aos miúdos que o plano para a sua vida é morrer de fome ?"

"Isso não...."

"E sabias, por acaso, que devias ir preso por cultivar cenouras num terreno que outrora plantou outra coisa qualquer ?"

"Isso são regras estúpidas !"

"Exatamente ! Leis estúpidas, criadas por homens estúpidos, com intenções estúpidas ! Se vais defender esses valores tradicionais com tanta convicção, eu sugiro que estejas minimamente informado sobre aquilo que te afeta pessoalmente. Afinal, é muito fácil julgar os outros, não ?"

"E quem és tu para falar ? Não devias estar no outro lado do mundo a detonar explosivos ?"

"Que raio é isso suposto dizer."

"Foste especificamente feito para lutar. Eu estou minimamente informado do trabalho no laboratório."

"Vocês, criaturas biológicas, existem simplesmentem para se reproduzir. Mas fazem mais coisas, não ?"

"Eu não quero saber. Não és digno de cidadania. És apenas uma versão aprimorada de um lança mísseis."

"São esses valores que me dão vontade de aniquilar esta vila do mapa ! Não te atrevas a enfurecer-me, velhote. Não tens qualquer prova de que eu sou incapaz de pensar por mim mesmo !"

"Eu acredito perfeitamente que nós, filhos de Deus, somos os herdeiros da Terra. Isso faz de ti Satanás em pessoa ! Eu acredito naquilo em que eu quiser acreditar !"

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"E desde quando a Realidade se importa com o que pensas !? Desde quando é que os teus desejos e opiniões afetam a realidade ? Desde quando é que as tuas opiniões correspondem à realidade na perfeição, velho ignorante ? Achas que eu gosto da realidade ? Pensas que eu escolhi acreditar naquilo em que acredito ? Julgas que eu não gostaria de acreditar que as nossas vidas todas têm significado ? Achas que eu não me sentiria melhor acreditando que um ser supremo dedicou o seu tempo a desenhar cada um dos meus detalhes, e deu atenção especial a todas as nossas vidas !? Por muito confortante que seja, Stu, o mundo não é um conto de fadas, em que tudo acaba bem, e todos os que descordam disso são idiotas ! E mais importante do que isso, se vais usar essas teorias absurdas escritas por pessoas absurdas, para julgar outras pessoas, como o Nick simplesmente por ser uma raposa, então, Stu, eu julgo-te a ti, como a escumalha da Terra. E eu estou neste momento, bastante perto de te esmagar o crânio contra o chão !"

"Eu não tenho medo de ti ! Segundo as leis da robótica, não podes magoar ninguém sem ordens. Estás a fazer bluff."

"Uau, sabes o que 'bluff' significa. Impressionado. E eu...não sou...um robô. Sou a fusão de Homem e máquina. Tenho todo o poder do fogo e metal, e toda a agressividade que vocês, critaturas biológicas, têm. Sou uma tempestade pronta a rebentar na tua cara !"

"Oh, pois. Não me metes medo. Dominamos máquinas há séculos ! Não fomos conquistados pelas carroças, nem pela máquina a vapor, e não vamos ser por ti !"

"Já chega !!!"

Sem auto controlo, Tomazzo pegou em Stu, que era bastante pequeno comparado a ele, e arremessou-o através da área que tinha percorrido da horta, e eventualmente embate no chão lamacento perto da pota das traseiras. E segundos mais tarde, Bonnie, Nick e Judy saiem, para intervir.

"Tom ! Então !?" Exclamou Nick.

"Certas pessoas, Nick, nao merecem o esforço." Respondeu Tomazzo. "Pensei que o podia fazer mudar de ideias, mas suponho que otários serão para sempre otários."

"Tom !" Exclamou Judy,

"Diz o meu nome quantas vezes quiseres, não deixa de ser verdade ! E honestamente, deviam ser vocês a falar com ele. Eu desisto. "

Tomazzo entrou em casa, para poder sair pela porta da frente.

"Sabes que mais ?" Anunciou Judy. "Ele tem razão."

"Não digas nada, menina." Ordenou Stu.

"Não sou uma menina ! E não podes dizer-me o que fazer. O Nick é muito mais que uma raposa ! É meio que um idiota às vezes, mas isso acontece com toda a gente ! E se não consegues aceitar a minha escolha, então...então não devias fazer parte da minha vida."

Essas últimas palavras foram como uma faca diretamente no coração de Stu. Sem mais nada a acrescentar, Judy saiu a correr. E, sabendo que nesse momento Stu devia estar a planear em matá-lo, Nick seguiu-a.

—Entretanto, na casa de férias de Tomazzo-

Tomazzo entrou em casa, para encontrar Claire na sala de estar.

"Como correu ?" Perguntou ela.

"Nada bem. O pai da Judy sacou da carta da religião muito mais cedo do que eu pensei."

"Calculei que isso acontecesse. E quanto ao FBI ?"

"Por favor. Ninguém em Zootopia tem a mínima ideia do onde este lugar fica. Mas, ei, já que estamos aqui, mais vale misturar com a cultura local. Por isso vou à loja local comprar uma enxada, arrancar os dentes da frente e definir o centro de fala do meu cérebro para sotaque sulista."

"Consegues fazer isso ?"

"Sim. Também tenho incorporado todas as línguas e sotaques do mundo. Uma vez fui ao Brazil, e falar com o seu sotaque foi a única maneira de evitar ser roubado. Da imenso jeito. Bem, eu vou ver se este sítio tem uma livraria. Quero comprar a nova edição do "Playbook". Volto depois."

Tomazzo saiu de casa, para ser encarado por um sol que torrava tudo o que estava exposto. Sim, era um clima mesmo típico. No momento em que olhou em volta, viu o pai de Judy, quase incapaz de conter as lágrimas, enquanto se sentava solitariamente no seu alpendre. Ainda consumido por fúria, Tomazzo decidiu terminar o argumento,

"Queres saber no que eu acredito, Stu ?" Tom disse, aproximando-se e captando logo a atenção do coelho. "Eu acredito que a nossa civilização passou por tempos difíceis. A maioria dos ateus considera os escritores da Bíblia como tolos. Não é verdade. Sem maneira de se evidenciar sobre a sua existência, essas pessoas tiraram proveito da sede de conhecimento das pessoas. Os escritores do chamado 'Livro sagrado', criaram essa criatura chamada Deus, e esconderam-na para além do espaço e do tempo, onde nunca ninguém poderia chegar, para provar a sua existência. Dessa forma, sempre teriam o benefício da dúvida. Deus nunca passou de um conceito usado por essas mesmas pessoas para propagar os seus próprios desejos egoístas. Ao infundir a sua personalidade de simples mortais, uma personalidade corrupta e distorcida, num ser que supostamente seria todo poderoso, completamente justo e inquestionável, eles podiam fazer as maiores atrocidades, e pensar em si mesmos como virtudes. E não só podiam usar Deus para fazer o que quisessem, como podiam acusar não crentes que a sua falta de fé vinha do facto de eles quererem fazer tudo o que quisessem. No fundo, os criadores de Deus não eram doidos. Não. Eram sádicos, criminosos. Génios. Génios que conseguiram criar a arma suprema, uma fuga para qualquer ataque lógico. E, quando pensas nisso, talvez ainda nenhum de nós esteja pronto para aceitar que descendemos de animais sujos e doentes, e não de um raio de luz brilhante e mágico. Que história de origem preferias ? Animal nojento, ou filho de Deus ? Assim, talvez Deus não passe daquele amigo imaginário que te segue para todo o lado, sendo tu incapaz de aceitar a dura realidade, que não está minimamente preocupada com os teus sentimentos, ou a tua ideia de que a vida não vale nada. E eu ? Eu creio que nós somos o nosso próprio Deus. Somos nós os reis deste mundo. Podes suportar as tuas crenças, Stu, ou podes aceitar pessoas diferentes, e olhar para elas com os olhos neutros que apenas vêem raposas, coelhos, alces, girafas, como irmãos. Todos filhos não de Deus, mas da Natureza. Se a realidade é assim tão dura para ti, pensa que cada átomo do teu corpo existe há biliões de anos. Pensa que estás eternamente ligado a tudo o que existiu, existe, e alguma vez existirá. E quando aceitares que nenhum ser supremo existe para te dar instruções específicas sobre o que fazer, o mundo espera-te. Cada escolha que fazes o altera. E essa escolha é unicamente tua. Pensa nisso um pouco, talvez seja capaz de manter o mínimo de respeito por ti. Mas mais importante, talvez a tua própria filha seja capaz de manter o mínimo de respeito por ti. Adeus, Stu."

Sem mais nada a acrescentar, Tomazzo retirou-se, deixando uma marca no cérebro de Stu que mudaria para sempre a forma como ele vê o mundo.

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