A garota estava repartida ao meio... Não literalmente é claro. Dividida em dúvidas e uma fome monstruosa que tomava conta de seu ser, porém, Kagura achava muito trabalhoso levantar do futon só para ir até a cozinha. Pois, uma parte dela era fome e a outra preguiça.

Encarava o teto como se este fosse lhe dar as respostas que tanto ansiava. Qual seria o sentido das coisas? Existe vida após a morte? E a última questão - sendo essa a que mais lhe atormentava -, por quê recentemente sentia uma vontade incontestável de passar mais tempo com Sougo? Mas seja lá qual fosse a chave desse quebra-cabeça não resolvido, poderia esperar outra hora para ser descoberta, no momento o que a preocupava era conseguir enfim descansar.

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O inconveniente era que nos últimos dias, seu sono estava sendo roubado por esses maldosos pensamentos, levando Kagura a ter insônia na maioria das noites.

''Dormir sempre foi uma missão tão difícil? É o boss final?'' Questionou-se.

Virou-se e revirou-se no futon, numa expectativa frustrada de encontrar uma posição melhor, se concentrou em dormir e deixou um relógio por perto, já que tinha trabalho cedo no outro dia.

Acordou e sentiu o corpo pesado, como se tivesse sido espancada e o motivo disso era simples. Quando procurou pelo relógio notou que não tinha dormido nem por duas horas. A indignação foi tanta que fez ela tomar coragem e ir até a cozinha saciar seu apetite nada modesto.

Em passos silenciosos chegou no cômodo desejado. Tudo o que fez foi abrir a geladeira e ficar admirando os produtos que tinham nela, itens que se contados não dariam nem 10, resumindo, não havia nada. Apesar da situação desanimadora, uma parte dela não se surpreendeu e a outra parte tinha se alimentado sim, só que de esperanças em achar algo mais sofisticado.

''Me pergunto o que aquele sádico está fazendo agora.. Deve estar dormindo.'' Pensou sorrindo e fechou a geladeira.

— Ah! Esqueci de pegar o que eu queria - abriu de novo o eletrodoméstico e pegou uma caixa de leite de morango. - Gin-chan vai ficar bravo comigo amanhã - ponderou. -, mas é culpa dele mesmo por comprar uma caixinha só! - pretendia voltar para o quarto, mas a varanda lhe pareceu mais atraente.

Se apoiou na sacada enquanto tomava o iogurte, e ficou apreciando a lua cheia que cintilava no céu.

— É tão bonita. - não podia negar que a lua era deslumbrante e que naquela noite em específica, de tirar o fôlego.

Uma parte dela se encontrava maravilhada, encantada com tanto brilho, já a outra parte estava totalmente entediada. Entretanto, o contemplar daquele céu extremamente belo fora interrompido por uma cena que chamou sua atenção.

Dois gatos no cio cruzando. Miavam alto o suficiente, que até o Shogun no seu enorme palácio escutaria caso fizesse esforço.

Kagura em toda sua inocência e curiosidade, encarou os animais por um longo período, contudo a escuridão em nada ajudava e eles estavam longe o bastante para tornar sua observação exaustiva.

— Melhor voltar para o quarto... - refazia seus passos até a sala, quando repentinamente se pegou pensando em Okita outra vez. Fechou os olhos por um breve momento, mas não breve o suficiente para evitar que ela desse de cara com o chão.

— Auch! - exclamou de dor, ignorando quem estivesse dormindo na casa, seja Sadaharu ou Gintoki, e falando no samurai quando a ruiva olhou para os pés, notou que o culpado de sua queda era uma pilha de Jump's amontoadas ao lado do sofá.

Uma grande parte de Kagura teve vontade de queimar todas aquelas revistas, e a outra parte - bem menor - somente amaldiçoou Gintoki, a Shonen Jump e nem mesmo o capitão da primeira divisão do Shinsengumi passou despercebido por seus xingamentos chulos.

Reconheceu um gosto familiar quando passou a língua sobre os lábios, levou a mão até a boca só para ter certeza do que já suspeitava e quando a afastou viu uma pequena mancha de sangue.

— Tch, que saco, - queixou-se, balbuciando outros palavrões enquanto se levantava e ia até o banheiro para verificar o machucado.

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Chegando lá, pegou um maço de papel higiênico numa quantidade desnecessária para o minúsculo corte que tinha na boca, e pressionou o papel no ferimento até achar que surtiu algum efeito para jogá-lo fora logo em seguida.

Kagura certamente se achava uma garota bonita. Não andava desleixada nem nada, mas nunca foi de dar muita importância para a aparência ao ponto de gastar horrores com isso, porém, quando se olhou no espelho, por mais imperceptível que fosse o machucado em sua boca, sentiu-se incomodada com aquilo.

E então uma ideia típica de quem não tem nada para fazer na madrugada invadiu a mente da yato. Na falta de acessórios como maquiagem, ou joias decidiu que talvez um penteado bem exagerado, pudesse disfarçar o quase invisível corte.

Uma parte de Kagura pretendia desistir da ideia, mas a outra parte a que falou mais alto, acreditava que a noite era realmente muito curta. Tinha que aproveitar.

Ciente do horário e de que ninguém além dela mesma iria ver os resultados de sua maluquice inusitada - uma pena -, extrapolou nas tranças, chiquinhas e de tudo mais que tinha direito. Acabou se esquecendo do motivo inicial pelo qual tinha começado a fazer os penteados.

Era comum e estranho ao mesmo tempo ver que nesses mesmos últimos dias em que Kagura era vitima assídua de insônia, notar que ela perdia mais tempo que o usual para se arrumar, principalmente quando se tratava de ir até o Shinsengumi.

Ah, nesses dias, sempre tentava inovar na aparência, nem que fosse algo pequeno, como por exemplo um detalhe no vestido, ou variar entre sua bota e sapatilha.

Não tinha qualquer malícia sobre suas atitudes e muito menos percebia de fato que as estava fazendo, mas o mesmo não podia ser dito para Shinpachi e Gintoki, que a cada dia, tinham mais e mais receio de que suas suposições estivessem corretas.

Para ambos das duas uma; ou Kagura tinha virado "mocinha", ou a temível primavera - florescendo assim novos sentimentos - havia finalmente chegado para a garota, de qualquer forma eram coisas quase interligadas, ou seja, um beco sem saída.

Quando enfim havia se cansado de tanto enrolar, embolar e amassar suas madeixas, soltou seu cabelo de um coque mal feito e deu uma ultima mirada no espelho. Com os fios soltos caindo sobre seus ombros, pensou que se sua juba - assim descrito por ela - fosse como é a noite, não usaria com tanta frequência os costumeiros prendedores e depois dessa conclusão filosófica Kagura decidiu que estava pronta para dormir.

Deitada no futon novamente, agora com fé de que definitivamente cairia no sono, olhou para o relógio e praguejou por serem 5 horas da manhã, acordaria mole no outro dia - se acordasse -, e em seguida direcionou os olhos para o teto, como fizera no começo dessa mesma madrugada.

Ainda não tinha as respostas para suas perguntas.

E pela milésima vez naquele dia, lembrou-se de Okita e do tempo que passava com ele. Quase que imediatamente um sentimento estranho invadiu seu peito, interpretou tal sensação de modo engraçado. O que se passava em sua cabeça, era que aquilo não era nada além de que: Okita Sougo assustava seu coração.

Respirou fundo esperando que aquela explosão de sensações que desconhecia sumisse. E então sentiu que as coisas aliviaram um pouco. Fechou os olhos e inspirou o máximo de ar que conseguiu, para que em seguida o soltasse.

Kagura a noite inteira se dividia em duas, se perdia em suas duvidas e novidades para com seu corpo e mente. A yato diria até que a noite foi conturbada, mas isso não era num todo verdade.

E com aquela sensação inquietante no peito adormeceu, demorou mas conseguiu. Mas se fosse possível mergulhar nos sonhos mais profundos da ruiva - (in)felizmente só se fosse possível -, imergir naquelas contradições de conceitos e ideias, veria que as partes divergentes de seus pensamentos haviam de concordar com uma coisa, e isto seria que uma parte dela tem medo desses sentimentos e das mudanças que isso poderia acarretar no seu relacionamento perturbado com Sougo, e que a outra parte... Também se sente assim.