Coisas Quebradas
Melisandre de Asshai
Coisas Quebradas
Adriana Swan
MELISANDRE
Justin Massey andava de um lado para o outro do navio quando Melisandre subiu a bordo. O mar era agitado e ela quase precisou se segurar para cruzar o convés. Poderia falar com o homem depois. Primeiro, cruzou o convés para ter uma melhor visão do Porto de Atalaieste além do navio que capitaneava sua nova frota: mais de quarenta navios trazendo as tropas mercenárias do Rei Stannis que acabaram de aportar chegando de Braavos sob tempo relativamente bom. O mar era perigoso naquela época, mas ela, Lady Melisandre, queimara dois infiéis no Castelo Negro para ter certeza que o caminho das tropas de seu Rei estava livre.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Lady Melisandre, perdoe-me não ter ido recebê-la em terra como manda a etiqueta, é que ainda estamos contabilizando quanto de nossa carga chegou em perfeito estado e essa pode ser uma tarefa dos infernos quando quase ninguém a bordo sabe ler para fazer as listas. – O jovem falou exasperado. Sor Justin era um homem jovem e bonito, com o cabelo numa cor de loiro um tanto sem graça, o nome de uma Casa antiga, empobrecida e muitos sonhos pela frente. – Queira entrar aqui na cabine comigo, Milady. Está aquecida.
Melisandre sorriu a ele e aos outros homens que pararam seus afazeres no convés para olhá-la. Homens de várias raças e credos, de várias cores. Alguns com cabelos estranhos, outros com peles tão escurecidas quanto a noite, alguns com o olhar de lince, alguns parecendo indecisos, como tantos que ela se acostumara a ver do outro lado do mar. Mas nada disso era importante. O importante é que agora todos lutavam sob a bandeira de seu Rei e seu Rei era a bandeira de seu deus vermelho.
A cabine do capitão estava quente, montes de papéis espalhados por todos os cantos e mapas por sobre uma mesa. Se esse era o local que Justin estava usando para organizar sua frota não era de se admirar que estivesse com problemas. Melisandre duvidava que ele fosse capaz de achar sequer uma pena e um tinteiro em meio a tantos pergaminhos e livros de notas.
— Eu lamento tanto pelo que aconteceu com a Rainha – ele começou a falar apressado, empurrando montes de cartas de cima de uma cadeira confortável e a arrastando para a sacerdotisa se sentar. – Soube do que aconteceu no Castelo Negro. A princesa está bem? Deve estar arrasada.
— Shireen entende que essa era a vontade de R'ollor – ela falou sentando-se enquanto ele procurava um canto onde ele próprio pudesse sentar. Não achou. – A princesa superará isso, seu sangue e seu coração são fortes.
— É, mas mesmo assim, a pobrezinha já sofreu tanto! – Apesar das belas palavras o cavaleiro parecia mais preocupado em revirar os montes de papéis em busca de algo do que com os sofrimentos da princesa. Um escudeiro entrou trazendo dois grandes e pesados livros. – Hey, menina, deixe esses livros de contas sobre a cama e me ajude a encontrar a procuração do Rei Stannis.
O escudeiro, que na verdade era menina, colocou os livros de qualquer jeito sobre uma pilha de outros que estavam em um móvel que dificilmente pareceria uma cama no estado que estava.
— Procuração? – Melisandre ergueu as sobrancelhas, um tanto curiosa.
— Sim, milady. Rei Stannis me deu plenos poderes para agir em seu nome em Braavos e trazer-lhe um exército mercenário – Justin respondeu em tom importante.
A mulher vermelha cruzou as mãos sobre seu colo paciente. Era óbvio que Stannis havia concedido-lhe tais poderes, uma vez que ele já estava ali com tais tropas. O fogo ensinara-lhe a ser paciente e nada daquilo a surpreendia realmente porque há muito tempo a mulher havia visto aqueles sinais nos fogos.
— Achei que o Rei o tivesse mandado trazer mais uma coisa para a Muralha – a sacerdotisa falou – Achei que você traria para mim Lady Arya Stark.
Justin que estava revirando uma pilha de rolos de pergaminhos junto com a serviçal se atrapalhou e derrubou todo o monte na pressa de tirar os papéis das mãos da menina. Pareceu extremamente surpreso com as palavras da sacerdotisa.
— Como milady soube? – ele exclamou se ajoelhando para apanhar tudo com a garota.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Os fogos nunca mentem – a mulher falou com a certeza que só aqueles que podem prever o futuro possuem.
— Eu... ah, perdoe-me, Lady Melisandre, a culpa é minha. – O cavaleiro falou embaraçado como uma criança pega em uma travessura. – Rei Stannis me deu a ordem de trazer Lady Arya para a Muralha... mas a garota havia ferido as costelas na fuga de Winterfell e achei que seria perigoso. Convencemos a todos que ela não devia montar a cavalo por um tempo e saímos á deixando para trás. Achei que todos acreditariam que estava preocupado com o bem estar dela, mas... acho que não posso enganar aos fogos.
— Os fogos sempre sabem Sor Justin Massey – Melisandre concordou, embora não soubesse essa última parte. Ler os fogos era muito mais difícil do que parecia a primeira vista.
— Não me leve a mal, não é que eu seja covarde, eu não tenho nenhum pouco de medo dele— Justin falou se erguendo com os braços cheios de pergaminhos. – Mas imagino como seria chegar a Muralha com o cadáver da irmã do Lord Comandante Snow em minhas mãos.
— Se ele não o culpasse, algum outro nortenho com certeza o faria – Melisandre concordou bondosa. Não achava que Sor Justin fosse covarde e queria ajudar o homem. No fim, seus motivos foram dignos.
— A última esperança da Casa Stark morta em meus braços. Duvido muito que essa possibilidade trouxesse alguma luz à causa de meu Rei, milady. – Ele falou jogando todos os rolos sobre o que um dia fora uma cama e dando um suspiro cansado. – Notícias do Rei? Vi boatos de que estaria morto.
— Mentiras de seus inimigos – ela respondeu. Os mesmos boatos que chegara há Castelo Negro há semanas e que os fogos mostravam como falsos. – Vi no fogo que nosso Rei está vivo.
— Achei, Sor, - a menina falou entregando a Justin um rolinho amassado com uma marca de cera vermelha onde um dia fora posto o coração flamejante de Stannis.
— Ah, obrigado Beth, - Justin pegou o rolo e desenrolou olhando mais uma vez seu conteúdo antes de passá-lo a Melisandre. – Conforme lhe falei, milady.
A mulher vermelha pegou o papel amassado, suas longas e delicadas unhas vermelhas o segurando com cuidado. Não quis olhar para o papel para não parecer que precisasse daquela informação para confirmar o que ele já havia lhe dito. Tudo que ela precisava era do fogo. Olhou para a serviçal para distraí-lo.
— Não sabia que traziam meninas em navios de guerra – falou olhando o cavaleiro em vez do papel.
— Estava tendo problemas para contratar os nomes em Braavos. Abri vagas para quem soubesse ler e falasse a língua deles e a nossa. Pouca gente se candidatou. – Ele respondeu dando de ombros.
— Não tem família, menina? – Melisandre perguntou a garota.
— Ela morava em Braavos e é órfã. Trabalha bem. – Justin respondeu finalmente livrando uma cadeira de montes de papéis onde pudesse sentar. – É verdade o que dizem sobre o bastardo, Milady? Que traiu seus irmãos? Que desertou?
— Não – ela respondeu com um sorriso.
— Ah, me falaram que tinha marchado para o Sul com um exército de selvagens – indagou desconfiado.
Melisandre hesitou um instante o olhando.
— Lord Snow abandonou a Patrulha da Noite e marchou para o Sul com um exército de dez mil selvagens, - falou deixando bem claro o que isso significava. – Ele não desertou, ele foi lutar pela causa de nosso Rei Stannis e tomar Winterfell que pertence ao sangue dos lobos desde antes da Muralha existir. Um desertor é um homem que abandona seu posto e seus ideais; Jon Snow luta pelo seu reino.
O loiro pareceu constrangido diante das palavras da sacerdotisa, mas ela não pareceu se importar. Levantou-se da cadeira com elegância e fez uma referência cortês, á qual o homem retribuiu com um leve aceno de cabeça. A mulher saiu sem esperar que ele a acompanhasse, aparentemente tinha muitos problemas para lidar ali, problemas com os quais ela não se importava.
Só no convés Melisandre reparou que ainda segurava a carta de seu Rei e o olhou, sua atenção se detendo na assinatura com certo carinho. Stannis Baratheon.
Seu Stannis Baratheon, ela poderia dizer.
Virou-se para voltar á cabine, mas então ela viu a pequena serviçal de Sor Justin á espiando pela fresta da porta e a chamou com o dedo. E menina foi até ela parecendo desconfiada. Agora a vendo de perto, nem parecia tão menina. Apesar de um tanto baixa, seus trajes mostravam sinais de seios, denunciando que talvez até já fosse moça florida. Os cabelos eram desalinhados e curtos, os olhos eram cinza e tinha o aspecto duro de mocinha pobre, embora se vestisse mais como um escudeiro que como uma serviçal.
— Quero que entregue este pergaminho nas mãos de Sor Justin – falou, entregando a ela antes de se virar para descer do navio. – Tudo que fazemos é a serviço de R'ollor. Qual o seu nome?
— Ninguém.
Fale com o autor