Cross The Line

Capítulo 1 - Cair de cabeça


Capítulo 1 – Cair de Cabeça

10 coisas para fazer antes de começar as aulas

1- Arrumar as malas.

Sério. Eu deveria pelo menos procurar meus livros e dobrar minhas vestes. Ou pelo menos limpar o meu malão, ele está cheirando a madeira velha e meias sujas.

2- Parar de brigar com Petunia.

Ok, esse item requer a colaboração das duas. Tudo bem que aparentemente eu sou a parte sã da família, mas ela bem que poderia parar de esbarrar em mim no corredor como se não me visse.

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3- Tentar ser legal com Vernon Dursley, o namorado salsichão de Petunia.

Eu sei que isso é como pedir a paz mundial. E tudo bem que eu só vi o cara duas vezes na minha vida. Mas tenho que ser legal com esse esquisitão de Oxford, porque se um dia a Tunia casar com ele, eu tenho que ao menos PARECER feliz no casamento deles. Se é que vou ser convidada. O que eu realmente não acho que vá acontecer, mas né... quem sabe um milagre aconteça.

4- Limpar a gaiola de Baboo.

Como eu sou uma dona desnaturada, meu Deus. Não me admira que quando ela sai para caçar demora séculos para voltar. Talvez eu deva colocar um agradinho para quando ela voltar. Um rato morto, talvez? (Eca, melhor não).

5- Enviar à Marlene uma lista detalhada das roupas que ela precisa levar para me emprestar.

A lista inclui e não se limita somente a:

a) o vestido florido de alças;

b) as botas de combate pretas;

c) a jaqueta de couro que me faz parecer pertencer a uma gangue e,

d) a blusa de seda preta que a mãe dela lhe deu e ela não usou nunca, nenhuminha vez (e eu já usei 3 vezes).

6- Comprar penas novas.

Elas estariam ótimas se eu não as gastasse no meu diário.

7- Costurar aquele rasgo na minha veste de inverno.

Ou então eu terei muito mais que uma bunda congelada em dezembro.

8- Pedir à Severus que pare de tentar entrar em contato comigo.

Eu sei que nos afastamos consideravelmente no último ano (e graças à Merlin, certo? Não preciso de gente preconceituosa e má na minha vida). Acho que muito se deve àquela briga que tivemos sim, mas não foi só isso. Não o reconheço mais. Como alguém pode ter mudado tanto em tão pouco tempo? Enfim, ele precisa parar de ficar colocando bilhetinhos embaixo do meu capacho, não nos comunicamos mais assim. Não tenho mais 12 anos de idade para ficar aturando as lorotas que ele fala.

9- Pintar o cabelo.

Sério. Ninguém gosta de ruivos. Eu não os culpo. Que graça tem, um gene recessivo assim? Eu queria ter puxado o cabelo loiro da mamãe, assim como Tunia puxou. Espera aí, estou desejando ter o cabelo de Petunia? Isso sim é loucura. Talvez eu só deva pintar de preto. Aí eu ia ser notada.

10- PARAR DE FAZER ESSAS MALDITAS LISTAS!

Sexta Feira, 29 de Agosto, Noite.

Meu quarto

Ok. Eu sou uma farsa.

Quando minha mãe entrou no quarto agora a pouco e perguntou se eu estava preparada para o último ano, eu disse que estava. Eu disse para ela que mal podia esperar para voltar para Hogwarts. Mas a questão é que não estou. Preparada, quero dizer.

Afinal, quem estaria?

Sinceramente, quem está preparado para ir para um lugar que foi como sua casa pela última vez? Quem está preparado para sofrer a pressão dos últimos exames antes de se formar? Quem está preparada para se despedir de pessoas com quem você conviveu pelos últimos sete anos? Marlene, Emme, Alice...até, arg, ouso dizer que sentirei falta dos marotos (sério, quem se denomina 'Maroto', afinal?).

Bom, convenhamos, eles estão um pouco melhores desde o ápice. Por "ápice" quero dizer o quinto ano. Foi esse ano que eu praticamente arranquei quase todos os fios de cabelos da minha cabeça.

Minhas noites de choro se intercalavam entre Severus e Potter – esse último era menos pior, confesso, mas isso não quer dizer que eu não me chateava. Ele era tão arrogante! Como alguém pode se achar tanto assim? E eu me sentia tão desrespeitada quando ele não levava a serio nada que eu falava e ficava com aquelas brincadeirinhas de me chamar para sair. Quer dizer, não se brinca com essas coisas, sabe? Isso abala a confiança de uma garota.

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E tudo bem, no ano passado ele melhorou um pouco...ok, não melhorou assim dizendo, mas pelo menos ficou mais na dele. Um pouco antes das férias de inverno, nós acabamos tendo uma discussão bem feia. Ele estava fazendo uns comentários sobre os comensais (foi assim que toda a escola começou a apelidar Severus e seus amigos e eu, bem, aderi à esse costume) e alguns estavam sendo até engraçados e tudo mais. Mas ele começou a falar coisas de Severus que não sei, não me pareceram certas. Veja bem, eu já não era mais amiga dele, mas ainda tinha dificuldade em aceitar que Snape realmente se tornaria um comensal saindo de Hogwarts. Quando chamei sua atenção, Potter ficou muito bravo. Como eu poderia defender um ser tão desprezível, ele perguntava. E eu dizia que não era questão de defender, era só por acreditar que algumas pessoas ainda podiam ser boas se tentassem mudar.

Eu deveria ter ficado é bem quietinha. Porque senhor, como as coisas mudaram a partir daí. James ficou muito irritado e disse que estávamos passando por um período de guerra e que eu não podia ser tão inocente achando que todo mundo era "bom". Sei lá, o modo como ele falou me fez chorar um pouquinho, mas eu tentei esconder. Olha, vou ser sincera que no final ele estava certo. Acabou que eu fiquei tão irritada/triste que acabei balbuciando qualquer coisa e subi. Ele deve ter percebido que eu estava chorando, porque no dia seguinte ele não conseguia olhar direito na minha cara. Sabe, daquele jeito sem graça que a gente fica quando vê alguém chorar e não sabe o que fazer. Depois disso as coisas mudaram um pouco, mas não muito. Ele parou de fazer a piada de me chamar para sair. Quando voltamos das férias de inverno, ele tinha começado a namorar uma menina da corvinal, então ela é quem tinha que aturar as piadinhas sem graça dele. Eu ainda ouvia ele soltando umas besteiras, mas isso ficou cada vez mais raro (e parece que ele começou a evitar falar essas coisas perto de mim. Ótimo).

Mas porque é que estou falando isso? Porque estou gastando tinta e páginas do meu diário com James Potter? Ele pode não ser mais o besta arrogante que era aos 15 anos, mas também não se tornou a minha pessoa preferida da vida da noite para o dia.

Bom, por mais que eu tente evita-los ao máximo, é difícil afastar Marlene deles. Dos marotos, quero dizer. Às vezes consigo arrancar um "eles são infantis" , mas é só isso. Eles são, ouso dizer, até que bons amigos. Pelo menos eu os ouvi combinando de praticar quadribol durante o verão antes de sairmos de férias. Eu credito essa boa convivência pelo fato deles jogarem quadribol juntos. Marlene, James e Sirius, quero dizer. Acho que jogar bolas na cabeça de um sonserino pode acabar unindo pessoas, sei lá. O fato é que toda vez que tento chamar atenção para o quão infantil James é, ela fica rebatendo com "é porque você não o conhece direito".

Pst! Como se eu desejasse conhece-lo melhor. Ah, faça me o favor né?

Ah! Estou gastando espaço com ele de novo!

Deixa eu mudar de assunto.

Hum...

Música. Vamos falar disso. Vi no Semanário das Bruxas (arg, que vergonha em dizer que anda recebo essa porcaria!) uma nota sobre os shows d'Os Trasgos Vesgos desse ano. Eles são a minha banda bruxa preferida, obviamente (só perdem para os Beatles, mas temos que entender que a chance deles fazerem show em propriedade bruxa é abaixo de zero). Parece que eles vão fazer dois shows em Hogsmeade. Tenho que implorar para a Profa. McGonagall nos liberar nessas datas para ir à Hogsmeade. Acho que ela ainda não formou a lista de datas, ou será que formou? Realmente não sei, é uma possibilidade já que ela é tão organizada... Bom, será que ela não abriria uma exceção para uma aluna exemplar como eu, que acabou de se tornar monitora ch...

AH!

ESQUECI DE CONTAR!

Por algum motivo que ainda precisa ser desvendado, Dumbleodore me enviou o distintivo de Monitora Chefe! Quer dizer, eu nem era uma monitora tão boa assim. Vamos ser sinceros que eu perdia quase todas as rondas e sempre tinha pena de realmente relatar algum aluno para a Mcgonagall. Talvez ele saiba que quero ser aurora e entenda o quanto isso valoriza o meu currículo para o estágio do ministério. Eu não poderia escrever "Monitora que dormia durante as rondas noturnas atrás da estátua da bruxa de um olho só", não é mesmo?

Mas na-na-ni-na-não. Esse ano será diferente. Esse ano eu serei um exemplo de pessoa. Eu só preciso descobrir quem é o Monitor Chefe, mas eu tenho quase certeza de que é...

...espera aí, que barulho é esse?

Ah, droga.

Sexta Feira, 29 de Agosto, Quase meia noite.

Trancada no meu banheiro.

Tudo bem, por mais que tenha sido incrivelmente desagradável, pelo menos eu me sinto um pouquinho vitoriosa. Quer dizer, Severus estava procurando isso quando veio me encher o saco, não é mesmo?

Acho que depois disso, não seremos mais amigos. Só digo que ele estava bem vermelho (mesmo com toda aquela pele pálida que ele tem) quando voltou marchando para a casa.

Eu acho sinceramente que ele estava esperando eu pular no pescoço dele e dizer que estava morrendo de saudades.

Pst, até parece.

O que aconteceu foi que eu estava aqui escrevendo enquanto admirava meu novo distintivo quando uma pedrinha voou janela adentro e quase destruiu minha escrivaninha. Olhei irritada para o local de onde viera e qual não foi minha surpresa ao ver aquela imagem melancólica de Severus usando roupas que obviamente não tinham intenção de serem vestidas por ele, já que estavam grandes e rasgadas. Ele levantou o rosto e o cabelo seboso quase nem se mexeu, depois acenou como se quisesse me avisar quem era. Tá, como se eu não tivesse percebido.

Respirei fundo e decidi que esse era o primeiro passo a ser tomado se eu quisesse ser uma nova Lily. E isso era algo que precisava ser feito.

Então eu fiz um sinal para ele esperar e desci as escadas sem a menor pressa. Eu tinha planejado pedir que ele se afastasse educadamente, mas assim que pisei no gramado, ele soltou rápido:

— Parabéns. Vi pela janela que você virou monitora chefe.

Parei no lugar (uns 10 passos antes do que eu planejava parar).

— Como é que você sabe? – perguntei com uma careta – Credo, você tem me espionado?

Ele olhou para o lado e não respondeu, o que ficou óbvio para mim que ele estava, sim, me espionando. Meu deus, que nojo profundo eu senti. Mas antes que eu vomitasse, falei rápido para não perder a coragem:

— Escuta Snape, é a última vez que peço pra você parar de tentar pedir desculpas. Não significa nada para mim e não faz sentido depois das coisas horrorosas que você fala ou deixa que outros falem.

Ele percebeu que usei "Snape" ao invés de Severus e retraiu os ombros. Quando me encarou, estava com um olhar opaco, o cenho franzido em irritação.

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— Como se você dissesse alguma coisa quando aqueles imbecis falam de mim.

— Não os meta nessa, Snape, isso é sobr...

E aí, pra minha surpresa, ele me cortou:

— Não acredito que você ainda defende Black e Potter!

Eu abri a boca em choque, porque não era isso que eu estava fazendo mesmo. Mas depois de um momento de consideração, eu pensei que era melhor ele achar que eu estava defendendo-os do que se a situação fosse o contrário. Quer dizer, eu ouvi no trem antes das férias do que Snape e seus amigos chamavam Mary McDougall. Pelo amor de Deus, não tenho nem coragem de repetir.

— Pelo menos eles não fazem juras de morte aos outros... – falei baixo, virando para ir embora.

— Não é isso, ok? Tem coisas que você não...você não entende. Você não poderia.

— Por que? Por que eu sou burra? Por que eu sou ignorante? Por que eu sou...sangue ruim? – apelei, eu sei, mas não dava pra sair sem falar isso.

Snape não respondeu, o que eu tomei como uma deixa para voltar para casa. Quando estava quase chegando, soltei um "Boa noite, Snape, não me procure por favor".

Quando eu olhei da janela, ele não estava mais lá. Então tá, oficialmente eu não estou nem aí para ele.

Agora estou trancada no meu banheiro porque ainda não confio completamente na minha janela. Quer dizer, eca! Vou ter que lançar um feitiço refletor aqui para deixar de ser espiada.

É isso, vou pegar minha varinha e...

...ah, deixa eu só admirar mais um pouquinho o meu distintivo...

Sábado, 30 de agosto, em algum horário de manhã

Meu quarto

Acordei com Rainbow, a coruja-da-torre de Marlene bicando o vidro da minha janela (que eu acabei esquecendo de lançar o feitiço refletor). Ele estava com um pergaminho na pata. Desenrolei feliz e o coloquei na gaiola (suja) de Baboo, que o recebeu com uma bicada carinhosa.

Marlene passou o verão inteiro na América do Sul, então fiquei feliz de ouvir notícias dela. Abri o pergaminho rapidamente e li:

Buenas Noches, Muchacha!

Como vai, dona Lily Evans? Sente falta da sua melhor amiga? Pois é, a melhor amiga sente sua falta! Como tem passado esses dois meses sem mim? Mal? Muito mal? Não se preocupe, em menos de um dia nos veremos de novo, aí tudo estará bem.

Por falar nisso, tem como você chegar mais cedo na segunda? É que minha mãe vai me deixar lá por volta das 9:30 am, e não quero ficar sozinha. Sabe como é, para o caso dos futuros comensais aparecerem.

Um super abraço e um beijo nas nádegas,

M.M.

PS: você NUNCA vai adivinhar o que aconteceu. Eu fui inocentemente comprar meu material ontem, lá no beco diagonal, e encontro quem? Martin Martow dos Trasgos Vesgos! Eles estão procurando um lugar no beco para a turnê bruxa deles desse ano. James e Sirius pediram um autógrafo, mas eu não tive coragem. De qualquer maneira, James me deixou duplicar o autografo para você, então tá no verso dessa carta.

Meu Deus!

Por que essas coisas nunca acontecem comigo, Deus? Quando eu fui comprar o material tudo que eu encontrei foi aquele menino do terceiro ano que nós flagramos comendo a própria meleca uma vez.

Epa...por que é que ela foi com Sirius Black e James Potter no beco diagonal? E por que ela não me chamou também? Hunf...preciso investigar isso aí.

Mas enfim, no geral acabei sorrindo ao ler a carta. Marlene sempre me pedia para ir mais cedo para a estação, mas a questão é que eu SEMPRE ia mais cedo, independente dela pedir ou não. Papai me levava até a estação, esperava eu entrar (já que ele não podia por ser trouxa) e ia trabalhar na cidade. Só que geralmente eu ficava lá esperando Lene chegar, sozinha, porque ela sempre chegava quando o trem tava quase saindo.

Procurei um papel de pergaminho e respondi rápido:

Cara Srta. MacKinnon,

É óbvio que senti sua falta. Assim como sei que sentiu a minha.

Prepare-se para me contar tudo sobre a América do Sul (aliás, não acredito que contou para James Potter antes de contar para mim. Estou profundamente ofendida que você tenha os convidado para ir ao beco diagonal e ESQUECEU DE MIM!), já que minhas férias foram entediantes e não tenho histórias o suficiente.

Ah, sim, estarei lá às 9:30 am (como eu faço todos os anos), e trate de não se atrasar, para, sabe como é, não sofrer com os futuros comensais.

Beijos e abraços,

L.E.

PS: Obrigada, obrigada, obrigada pelo autografo! Ainda não me caiu a ficha que você o viu mesmo. Porque você não foi lá dizer que ele vai ser meu marido um dia? Só que eu tive que apagar o "Para meu camarada James" do papel, porque né... não fazia muito sentido prender isso na parede. Mas eu adorei mesmo assim!

PS2: Anexado à carta você encontrará uma lista de roupas que precisam ser levadas pela sua pessoa para que a minha pessoa utilize.

Esperei Rainbow beber a água da gaiola e amarrei o pergaminho em sua perna. Levei-o até a janela e ele logo alçou vôo. Fiquei olhando-o voar fazendo sombra na lua por um tempo, até que fez uma curva para a direita e sumiu de vista.

Fechei a janela, porque planejava voltar para cama e dormir por mais umas três horas. Mas acontece que quando eu fui fechar a cortina, tinha certeza que vi uma sombra escura (com cabelos oleosos) me espiar da janela da casa do lado.

Fiquei irritada por ter esquecido de colocar o feitiço de novo, então eu simplesmente mostrei o dedo do meio para a janela vizinha.

Muita classe, eu sei.