Sentimento Incompleto

Respostas que não satisfazem


Len POV

Olhei o celular pela... tinha perdido a conta. Eram umas sete e pouco.

O tempo não passava e eu não ligava muito: continuava meu "nadismo" deitado na cama e olhando as estrelinhas coladas no teto, formavam a constelação de gêmeos. Era preguiça demais para procurar algo para fazer.

Tinha dormido mal na noite anterior, acordei por um pesadelo com Rin e não dormi mais.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela e Miku tinham ido até uma loja de conveniência que tem há uns três ou quatro quarteirões daqui. As duas até me chamaram, mas acabei ficando com a trabalhosa missão de tentar dormir pelo menos até o jantar.

Lembrei de novo do pesadelo, onde Rin estava, outra vez, no hospital. Via-me desesperado porque ninguém se acalmava para me contar o que tinha acontecido.

Eu devia ter ido com elas.

Peguei meu celular na mão outra vez e no mesmo instante ele tocou. Coincidência ou não, olhei de quem era com uma ponta de receio.

"Rinny ♥"

Mundo, para com isso. Não basta sermos gêmeos, um casal e ainda temos essas esquisitices?

— Oi, R-

— Len – era a voz de Miku, agitada –, a Rin desmaiou.

Isso, na lata. Me mata do coração mesmo.

— Onde vocês estão?!

Levantei na hora, ouvindo Miku falar alguma coisa com alguém do outro lado enquanto eu colocava uma roupa menos largada. Provavelmente acabaríamos no hospital.

— Aqui na farmácia. – Ouvi uma sirene. – Já chamaram uma ambulância.

Passei pelo corredor, desci a escada pelo corrimão.

— Tô indo.

— Vem logo!

— Já tô na sala.

Desligamos juntos, Miku não era a mais indicada para essas situações, se desesperava fácil. Chamei Luka e ela foi tão rápida quanto eu. Desde a ligação até sairmos, foram no máximo uns cinco minutos.

Não foi mais do que isso até chegarmos na farmácia. Miku nos esperava inquieta em frente ao estabelecimento, a cara dela evitava uma aglomeração de pessoas facilmente, o que era bom e assustador. Rin ainda recebia os primeiros socorros dentro da ambulância. Respirei fundo, finalmente me "acalmando", se ainda não tinham a levado, era porque não foi nada grave.

— Só você pode ir por enquanto – Miku falava rápido, tentando não mostrar a agitação. – Liga pra gente depois ou se precisar de algo.

Confirmei sem tirar os olhos do movimento em torno de Rin. Duas pessoas por todos os lados do pequeno espaço e outra bem em frente dificultando minha visão dela na maca, era só o que via, não soube o que estavam fazendo.

— Então foi a pressão dela que baixou? – Luka perguntou.

— Acho que sim – respondi. – Mas ela não acordou até agora...

Dito isso, uma das presentes no atendimento me olhou e chamou, supondo que seria eu pela semelhança, sempre acontece. Acabei me despedindo e deixando as duas para trás com uma cara que a minha mãe fazia quando ficávamos doentes por qualquer besteira, tipo esquecer o casaco ou o guarda-chuva. Contudo, simplesmente não podíamos evitar coisas assim.

...

Acabei precisando chamar minha tia e Asami, já eram mais de dez horas e Rin ainda não tinha acordado, provavelmente iria passar a noite no hospital com ela e não me deixariam ficar sem a permissão de algum responsável. Havia chamado minha tia, Asami eu só liguei e ela insistiu em vir, não neguei.

— Tem quanto tempo essa gripe? – Minha tia quis saber.

— Desde segunda.

Não tinham nos deixado visitá-la ainda, estavam atrás de exames o tempo todo e toda informação que recebíamos era de terceiros. Nós três nos isolamos em um canto da cafeteria, praticamente vazia devido ao horário. Felizmente, sem aglomerações ainda.

— E ela não fez nada demais nesse tempo? – Asami também queria.

— Não saiu de casa até hoje. – Encurtei a resposta de novo, sentia um nó na garganta, não queria conversar. – Disse que estava melhor, e parecia.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Até então nos informaram apenas que a causa do desmaio foi mesmo por uma queda brusca na pressão, falta de glicose, calor e coisas do gênero. Só depois que talvez Rin não acordasse pelo resto da noite, pois a falta de ar era o que a deixava inconsciente e o corpo dela pedia por um descanso. Fora isso, estava "tudo bem", não era para nos preocuparmos. Disseram isso mesmo sem ter todos os exames prontos.

Já tinha acontecido algo assim antes, mesmo assim dessa vez eu estava muito mais preocupado. Tinha muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e pouco espaço para raciocinar direito.

Foram mais umas duas horas de conversa sobre a saúde de Rin ou a minha (típica conversa de hospital) e tínhamos parado para comer alguma coisa, ou eu iria acabar na mesma situação. Foi uma eternidade durante esse tempo até finalmente permitirem a visita. Só eu e Ágata.

Um silêncio chato reinava dentro do quarto como se perturbá-la fosse o pior erro do mundo, ou talvez minha tia só estivesse tão tensa quanto eu. Tomei a plena liberdade de segurar a mão de Rin e a ideia de encontrá-la fria me deixou receoso por uns segundos, até perceber uma temperatura mais normal.

Alguém bateu na porta, quebrando o clima tenso que tinha ficado. Minha tia olhou para a porta.

— Asami, leva essa criatura pra casa e faz ela ter cuidado – ela começou, me encarando um tanto brava –, ou daqui a pouco aparece aqui numa maca também. Eu vou ficar aqui.

Eu nunca tinha visto ela com tanta seriedade para alguma coisa antes. Ia reclamar, mas achei melhor obedecer.

— Amanhã de manhã você volta, nem precisa ir nos ensaios se não quiser – Asami confortou. – Len, eu sei que você deve estar surtando por dentro, mas, por favor, só dessa vez.

Olhei para Rin preocupado, minhas mãos tremiam, soltei a dela com aquele medo de perturbar de novo. Desviei para minha tia, que permanecia firme, por último fitei Asami, carregada com um olhar triste.

Estava em uma cadeira qualquer do quarto, bem ao lado de Rin, e levantei. Sabia que eu esquecia de mim quando se tratava dela, só que eu não iria ficar doente tão fácil. Tinha coisa aí e mesmo assim me rendi.

Saí do quarto e, para minha surpresa, um dos nossos seguranças estava lá também. Pelo jeito, a informação já tinha se espalhado e formou-se um certo tumulto na entrada e saída principal, suficiente para os pacientes e funcionários reclamarem, só não era das maiores pois já estava bem tarde e não era uma situação rara da nossa parte. Foi preciso dar uma volta por dentro do hospital até o estacionamento, por onde sairíamos e onde estava mais tranquilo.

Asami evitou mais perguntas no caminho até em casa, porém, também evitou a resposta quando eu perguntei o que tanto queria falar com minha tia. Isso era mais do que suficiente para me deixar ansioso pelo resto da noite.

Em casa, Miku e Luka ainda estavam acordadas "nos" esperando na sala, só eu voltei. Expliquei tudo e as duas acharam melhor não tirar conclusões precipitadas ou que não devia ser algo envolvendo Rin e sim nós dois, para ajudar essa sugestão foi da Luka. Eu achava, ao menos, que já sabia o bastante da minha própria vida. Achava.

Foi difícil dormir e no dia seguinte realmente já estava para sair de novo pela manhã, não era nem onze horas quando minha tia veio me buscar. Felizmente, a primeira notícia foi boa, Rin tinha acordado normalmente pela manhã.

De novo, não houveram perguntas no caminho, nem respostas. Quando chegamos, minha tia parou o carro e não desceu.

— Len – chamou, fez uma pausa. Sorriu. – Está tudo bem, você só teria ficado estressado se continuasse aqui e por isso te mandei embora. – Eu não estava satisfeito com a resposta, nem de longe. Esperei silenciosamente por mais alguma informação. – Desculpe se preocupamos você.

— O que aconteceu com ela?

— Nada – afirmou apressada, mal esperou eu terminar. – Eu e a Asami só precisávamos conversar, era urgente.

— Sobre?

Minha tia bateu os dedos sobre o volante, expeliu um ar que parecia estar preso nos pulmões há um tempo.

— Por enquanto, tenham paciência.

Ela destrancou a porta e saiu, o que me forçou a encerrar o assunto e sair também.

Assim que cheguei no quarto e abri a porta, o sorriso de Rin quando entrei bastou para fazer tudo voltar ao lugar.

Quase.

Tinha uma pessoa que não deveria estar ali. Minha tia também pareceu surpresa, o que significava que ele tinha chegado enquanto nós dois voltávamos até aqui. Asami tinha saído.

Certo, talvez fosse grosseria minha pensar assim, mas que era inesperado encontrar meu pai ali, era.

Não deu nenhuma justificativa, não comentou da minha mãe em nenhum momento. Apenas nos cumprimentou, visivelmente feliz, e mandou termos mais cuidado, pois ficou sabendo que estas situações estavam ficando comuns. Felizmente, fora isso, os assuntos fluíam bem, mesmo que todos fossem puxados do nada. Deu para matar uma saudade que na verdade, nem sabia que existia e virou uma pequena culpa pela ausência.

Foi pouquíssimo tempo. Não conversamos muito porque Rin pegou alta logo e quis voltar para casa o mais rápido possível. As conversas não saiam do nosso "novo" dia a dia, não muito diferente das vezes em que nos ligava. No entanto, ainda não fazia sentido, por que ele estaria ali sozinho tão de repente?

E não ocorreu nada além disso. Como se tudo já estivesse feito antes da minha chegada.