A Sombra do Pistoleiro

Ajuda em Boa Hora


Após quase três dias de viagem, Enrico parou em Mason, a segunda cidade depois da fronteira do Colorado com Utah.

Brave City estava bem perto agora.

Só gostaria de tomar um trago para tirar da garganta ressecada o gosto da poeira do caminho. Como acontecia sempre em todo saloon que passava, foi reconhecido. Três tipos provocaram-no e tentaram matá-lo. Viu-se obrigado a usar os Colts para defender sua vida. Divisando os três homens caídos dentro de uma enorme e conjunta poça de sangue, o xerife, furioso, decidiu prender Enrico, parecendo ignorar que ele estava em desvantagem numérica e que venceu o trio de arruaceiros por meio de um duelo limpo.

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No mesmo instante em que nosso heroi era trancafiado em uma cela da xerifatura, três forasteiros chegavam a Mason. Pelo modo como suas roupas estavam cobertas de pó, com certeza o trio vinha de muito longe, viajando diversas milhas nos cascos de seus cavalos para chegar até ali. Evidentemente tinham um bom motivo para isso, porque Mason era muita pequena e sem atrativos para forasteiros. Um lugar realmente indigno de uma viagem como aquela, a menos que se tivesse um objetivo importante.

Refrearam seus cavalos suados diante do saloon e se entreolharam. A noite se avizinhava silenciosa e rapidamente. O céu tingido de vermelho-sangue aos poucos se tornava negro. Algumas estrelas começaram a pontilhar timidamente o firmamento que se enlutava. Os três recém-chegados desmontaram de seus animais e os amarraram na grade da velha varanda que cercava a frente do saloon.

O primeiro cavaleiro era alto, forte e jovem, mas tinha cara de poucos amigos; parecia estar ali contra sua vontade. Era loiro e possuía olhos incrivelmente azuis. Indubitavelmente um filho da América. Os cabelos dourados eram lisos e curtos. O rosto fora meticulosamente barbeado.

O segundo cavaleiro se assimilava ao anterior, embora fosse um pouco mais velho. Sua expressão era serena, os olhos eram azuis e bondosos e trazia um ligeiro sorriso nos lábios. Usava os cabelos cor de palha um pouco menos curtos que seu companheiro de sela, e seu rosto anguloso estava coberto por uma barba que não deveria ver navalha há pelo menos dez dias.

E o terceiro, na verdade, não era um cavaleiro. Tratava-se de uma amazona ruiva, perfeita, de cintilantes olhos verdes; talvez a mulher mais bela que já houvesse pisado naquelas bandas.

Olharam em volta, examinando as ruas mal iluminadas e praticamente desertas de Brave City. Depois, entraram no saloon.

Quando era perto de meia-noite, a bela ruiva discretamente (tanto quanto fosse possível, dados sua beleza e postura singulares naquelas cercanias) deixou o estabelecimento e se afastou, puxando os cavalos pelas rédeas, cujas pontas ela tinha entrelaçado habilidosamente.

Havia um canal que cortava transversalmente a cidade, consideravelmente fundo. Para atravessá-lo fora construída uma pequena ponte de madeira. Mas era época de seca extrema, e o leito estava totalmente árido, sem o menor sinal de água, parecendo uma rua. A misteriosa e linda amazona dos cabelos cor de fogo deixou os cavalos escondidos sob a ponte, nesse canal. No alforje de sua própria montaria apanhou algumas bananas de dinamite. A jovem usava roupas de couro próprias para cavalgar, bem como a maioria dos vaqueiros. Portanto, nas sombras da noite, poderia perfeitamente ser confundida com um homem. Protegida pelas trevas, ela se esgueirou pelos becos e ruelas desertas de Mason, levando consigo uma boa carga de explosivos.

Enquanto isso, o jovem loiro e carrancudo deixava o saloon. Numa esquina escura, examinou a carga de seus Colts. Amarrou um lenço no rosto, de modo que só seus olhos ficassem visíveis sob a aba do chapéu, a qual ele fez questão de abaixar. Daí aproximou-se cautelosamente do Banco da cidade. De armas em punho, rendeu o sonolento guarda na porta, que se viu apanhado de surpresa. O vigia recebeu uma violenta coronhada na cabeça e tombou sem sentidos. Então, o assaltante esperou na escuridão.

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O outro loiro, o de sorriso leve nos lábios, deixou o saloon e rumou para a estrebaria. Também teve de nocautear o vigia, um velho magro que cochilava sentado numa cadeira. Segurando o homem desacordado pelas axilas, o robusto atacante o arrastou para bem longe do estábulo. Deixou-o deitado em um canto escuro, nos fundos da barbearia. Voltou para o estábulo e localizou Muchacho. Teve algum trabalho para selar o alazão e levá-lo pelas rédeas até embaixo da ponte, onde a exuberante ruiva deixara os três cavalos pouco tempo antes. Cumprida essa tarefa, regressou ao estábulo. Acendeu duas tochas que apanhara nos alforjes dos animais sob a ponte e lançou-as vigorosamente contra o telhado do galpão. Esperou que chamas maiores se espalhassem pela estrutura de madeira e depois saiu correndo pelas ruas enquanto gritava a plenos pulmões:

— Incêndio no estábulo municipal! Fogo!

Assim que os moradores saíram à rua para averiguar o que se passava, o incendiário correu para junto dos cavalos e esperou. Gritos de pessoas alarmadas se misturavam aos relinchos dos animais nas baias do local em chamas. Um rolo negro de fumaça subia para o céu escuro. Os cidadãos correram para chamar o xerife, que surgiu na rua de pijamas. Nesse ínterim, tiros soaram, aumentando ainda mais a confusão. Alguém berrou:

— O Banco! Estão assaltando o Banco!

O xerife, que reunia um grupo para ir tentar apagar o incêndio, deixou seu auxiliar responsável por isso. Os homens corriam para libertar os animais e apagar as labaredas. O representante da lei apanhou sua arma antes de partir rapidamente em busca do assaltante do Banco. Com isso, a xerifatura ficou desguarnecida.

Enrico estava sentado em seu leito, na cela. Ouvia a confusão de gritos e passos vindos da rua. O luar invadia a cela através de uma janela retangular e lacrada por grades, construída no alto da parede voltada para a rua. O prisioneiro solitário olhava para cima quando divisou um rosto familiar na janela, encarando-o por detrás das barras de ferro. Era uma face feminina, muito bela por sinal.

— Lauren! – Enrico quase gritou, perplexo – O que faz aqui?

— Vim tirar você dessa jaula. – disse ela exibindo um lindo sorriso e, com uma piscadela marota, completou:

— Aliás, é o que vivo fazendo ultimamente. Certo, cowboy?

— Maluca! Está sozinha?

— Não; meu irmão e um amigo vieram também.

— Que barulheira dos diabos é essa aí fora?

— São os rapazes distraindo o xerife e seu auxiliar para que você possa dar o fora. Agora, é melhor se afastar da parede, bonitão.

— Sua louca! Que vai fazer?

Dessa vez, Lauren não respondeu. Já havia descido do lombo do seu cavalo, no qual subira para alcançar a janela. Na primeira vez que se dirigira à xerifatura, estava a pé. Mas, tão logo os rapazes iniciaram a confusão no Banco e no estábulo municipal, ela pode ir buscar seu cavalo sob a ponte sem ser notada, tendo o som das patas de seu animal abafado pela gritaria e crepitar de chamas devorando madeira com avidez.

Apesar do ruído de vozes alteradas trazido pelo vento, Enrico foi capaz de ouvir o chiado peculiar de pavios sendo acessos junto à parede, do lado de fora. Arregalando os olhos, exclamou:

— Santo Deus!!!

Num instante compreendeu tudo.

Com a agilidade que tantas vezes antes lhe salvara a vida, Enrico deu um mergulho para o lado e se afastou voando da parede, indo cair o mais longe possível, do lado oposto da cela. Aterrissou de bruços e protegeu a cabeça com as mãos uma fração de segundo antes de a parede da xerifatura explodir ruidosamente atrás de si. A detonação sacudiu violentamente o prédio e seu som infernal atravessou a cidadela em polvorosa.

Vendo-se a salvo, Enrico De La Cruz se pôs de pé. Depois de bater o pó das roupas, atravessou uma densa e escura nuvem de poeira e pólvora para ver-se na rua, já que metade da cela deixara de existir após a explosão. Uma lufada de ar frio da noite atingiu seu corpo suado e tenso. Piscou algumas vezes devido a fumaça e conseguiu enxergar Lauren Sanders se aproximando montada em um belíssimo garanhão de pelo cor de chocolate.

— Está bem, querido? – perguntou ela num misto de ironia e preocupação.

— Estou, mas por milagre. – rosnou ele de volta, mal humorado.

— Ora, não seja resmungão. Agora é um homem livre. Acredito que isto seja seu, certo?

Enrico apanhou no ar o cinturão que a moça lançara. Era o seu. Ajustou-o ao redor do peito e conferiu rapidamente se o seu precioso par de Colts estava no lugar. Estava.

Pendurou nas costas pela alça o seu Winchester 73, o qual ela acabara de lhe passar. Então pousou seus olhos em Lauren e bradou:

— Vamos sair desse inferno, boneca!

Enrico então deu um salto espantoso e subiu para a garupa da sela, segurando com firmeza a cintura enlouquecedora daquela ruiva bela e mortal. Tão logo Lauren esporeou seu animal, ouviram disparos.

Uma bala roçou o ombro de Enrico antes de perder-se na escuridão da noite. O xerife e seu auxiliar tinham descoberto o truque e agora, de armas em punho, os perseguiam. Por sorte o cavalo de Lauren era ligeiro como o vento e, por isso, em pouquíssimo tempo chegaram ao canal, onde os esperavam dois cavaleiros.

Enrico desceu do cavalo de Lauren, deu três passos rápidos e, apoiando o pé no estribo, voou para o alto de Muchacho. Então, os quatro forasteiros fugiram em disparada. Num galope desenfreado, subiram a rua principal de Mason, em direção à saída da cidade. Como os tiros soavam sem parar, os fugitivos tiveram de se inclinar para frente e deitar nas selas. As balas passavam zunindo rente seus corpos ou voavam perigosamente pouco acima de suas cabeças, perdendo-se na noite cerrada.

Apesar de ser uma situação realmente complicada, a sorte os ajudou sobremaneira, e eles conseguiram escapar ilesos nos cascos velozes de seus formidáveis cavalos. Com aquela confusão dos diabos causada pelo incêndio no estábulo municipal, seria extremamente complicado para o xerife e seu auxiliar obterem montarias com as quais pudessem perseguir os audaciosos fugitivos. Minutos mais tarde, Mason havia sido deixada para trás, perdida na distância, na poeira e nas trevas noturnas.

Os quatro cavalgaram em silêncio pelo deserto durante certo tempo. De repente Lauren deteve seu animal resfolegante e os demais a imitaram.

— É aqui onde devemos nos separar. – falou a moça firmemente. A seguir, fitando o par de cavaleiros que a acompanhava desde o início daquela aventura, completou:

— Poderiam nos dar um minuto a sós, por favor? – e fez um gesto com a cabeça, indicando Enrico com o lindo e delicado queixo.

Mike Sanders e o cavaleiro misterioso esporearam seus cavalos, indo esperar mais adiante.

Quando Enrico desmontou de Muchacho, ergueu os olhos e viu diante de si a linda Lauren Sanders. O cheiro de flores silvestres que emanava do corpo e do cabelo dela imediatamente o extasiou. Os olhos verdes de pantera dela brilhavam no escuro. Enrico começou a abrir a boca para agradecer, mas uma sonora bofetada no rosto o calou violentamente.

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— Seu ordinário! – rugiu a garota. Seu belo rosto estava afogueado, vermelho de indignação.

— Que está havendo, menina?

— Você é um patife, Enrico! Como ousa me dar um beijo daquele, e depois sumir no mapa, sem ao menos se despedir? Acha que sou mulher de engolir um desaforo como esse? Devia matá-lo aqui mesmo, cowboy!

— Acalme-se, belezura. É a segunda vez que me bate, garota. Se você fosse um homem, eu já teria te dado uma lição!

Pareciam furiosos um com o outro, muito embora, na verdade, não estivessem. Abraçaram-se ternamente, rindo. Enrico então, com as mãos nos ombros dela, afastou-se um pouco para olhá-la nos olhos:

— Fico contente que tenha viajado tanto para vir me dar esse tapa.

Ela riu divertida, antes de replicar:

— Sim, e deu trabalho, porque precisei bolar um plano e ajudá-lo a escapar para poder te bater.

— O plano todo foi ideia sua?

— Praticamente. Admito que os rapazes deram uma ou outra ideia.

— Sério, Lauren. Nem sei como agradecer.

— Eu sei, e é bem simples: volte para Santa Fé conosco, case-se comigo e me faça uma mulher feliz.

— Realmente adoraria, mas não posso.

— E por que não? Sua missão?

— Sim. E também por outro motivo.

— Qual seria?

— Amo outra garota. Perdoe-me.

Vendo-a desapontada, Enrico tentou se explicar:

— Nem eu esperava por isso, me apaixonar era algo que definitivamente não estava nos meus planos. Porém, não mandamos em nosso coração. Imagino que saiba disso melhor que eu.

— E como sei. – suspirou ela – Tendo aos meus pés os filhos de rancheiros mais cobiçados e prósperos de Santa Fé, não foi nada fácil admitir para mim mesma que estava apaixonada por um forasteiro petulante, o qual me roubou um beijo na frente de todos, quebrou o nariz do meu único irmão e foi embora tão rápido quanto chegou. Nunca ninguém me esnobou dessa maneira, sabia?

— Sinto muito, Lauren... — gaguejou ele ruborizando, sem saber o que dizer.

— Tudo bem. Vamos devolver isso ao passado.

— Minha missão agora consiste em eliminar Francisco Herrera e resgatar o pai de Catherine.

— Quer dizer que está rejeitando a chance de se casar comigo para arriscar a vida por uma mulher que mal conhece, e a quem já diz amar?

— Mais ou menos isso. – concordou ele dando de ombros, como se tentasse se desculpar e dissesse “Ora, quem pode entender o amor, não é mesmo?”.

— Certo. – disse Lauren, claramente despeitada – E tudo por essa Catherine? É esse o nome dela?

— Sim, é. Precisa conhecê-la, é linda.

— Mais do que eu? — desafiou a ruiva.

— Pergunta difícil essa – respondeu Enrico, sorrindo ao perceber o ataque de ciúmes da jovem – No entanto, acho que nenhuma mulher é mais linda do que você, senhorita Sanders.

— Você é um mentiroso, Enrico De La Cruz. Se eu fosse linda assim como você diz, ficaria comigo.

— A questão é que amo mesmo você, Lauren. E também amo Catherine. O amor que sinto por ambas é o mesmo; os modos de amar é que são diferentes. A você, amo como uma irmã querida que nunca tive. A ela, amo como a mulher com quem desejo passar o resto da vida. Se é que existe essa coisa de “resto da vida” para homens perdidos como eu.

Lauren sentiu que ele estava sendo sincero. O próprio rapaz se enterneceu com suas palavras, e por se lembrar de padre Emanuel, seu pai de criação. Era ele quem sempre ensinava a Enrico sobre o amor e sua verdadeira essência. Sentindo os olhos ligeiramente úmidos, o jovem pistoleiro fitou a linda face de Lauren, que para sua surpresa, lhe sorria:

— E aquele beijo que me roubou? Não vá dizer quer foi um beijo de irmãos!

Comicamente embaraçado, gaguejando, o rapaz conseguiu finalmente explicar:

— Aquele beijo foi uma forma de se vingar do seu irmão, e também serviu para massagear meu ego. Perdoe-me, sei que fui um canalha. Sinto vergonha do que fiz. Gostaria que soubesse que, na época, eu ainda não conhecia Catherine.

— Não se desculpe, garotão. De qualquer modo, eu gostei daquele beijo, confesso. No início, me senti muito humilhada e quis ver você morto. Depois entendi que meu ódio significava que na verdade eu gostei do beijo roubado. Gostei da sua atitude, da sua coragem, e até da sua ousadia. Nenhum homem em Santa Fé, em sã consciência, teria feito o que você fez. Afinal, eu sou a filha do prefeito de lá.

—Foi loucura. – concordou ele, esboçando um sorriso travesso.

— Bem, agora deve ir. Já o atrasei demais, rapaz. Desejo que se saia bem em sua missão. Cuide-se.

— Obrigado. Seja feliz. – foi só o que ele soube responder.

Ela se inclinou para que Enrico a beijasse.

E ele realmente o fez. Não na boca, como Lauren esperava, e sim na testa. Um beijo que significava respeito e carinho. Um símbolo universal de amor fraterno.

Montando mais uma vez em seus animais, se aproximaram da dupla de cavaleiros. Enrico olhou para o rapaz carrancudo e sorriu:

— Obrigado pela ajuda, Mike.

— Não me agradeça, mexicano. É para minha irmã que deve expressar sua gratidão, só estou aqui porque ela insistiu muito. Não sei o que Lauren pode ter visto num tipo como você. Se dependesse de mim, você iria mofar na cela, esperar por um julgamento e ser enforcado. Ouça bem, forasteiro: caso volte por onde veio, é melhor não passar por Santa Fé. Se cruzar meu caminho novamente, a despeito dos protestos mais inflamados da minha irmã, encho sua carcaça de balas!

Enricou soltou uma risadinha irônica. Disse:

— Entendo sua raiva. Mike?

— O que é?

— Tenho apenas mais uma pergunta.

— Qual?

— Seu nariz está melhor?

Mike Sanders soltou um palavrão e fechou a cara mais ainda. Enrico deu uma risada e então se voltou para o misterioso cavaleiro, o qual permanecera calado durante todo o tempo.

— E quanto a você, camarada? Preciso saber seu nome, para agradecer o que fez por mim.

Quando o homem finalmente abriu a boca, o jovem mexicano sofreu um baque. Essas foram as espantosas primeiras palavras do desconhecido:

— O que houve com você, que agora anda esquecendo o nome dos amigos, Enrico De La Cruz?

Perplexo, ele balbuciou:

— Peter Davis? É você mesmo?

— O próprio.

Feliz, Enrico apertou com vigor a mão do seu grande e velho amigo.

— Davis! Que faz aqui, homem?

— Vim ajudá-lo em sua missão. Devo minha vida a você, parceiro. Assim que partiu, decidi mandar tudo às favas, peguei meu cavalo e comecei a seguir seus passos de longe. Conheci muitos amigos seus, inclusive Lauren e Mike. Ah, Enrico; a propósito, seu amigo Hector Gonzáles pediu que eu te entregasse isso. – do alto de Muchacho, o jovem De La Cruz esticou o braço a fim de apanhar no ar a encomenda que Davis lhe atirara. Abrindo o alforje, retirou dele um grosso maço de cédulas. Contou quatro mil dólares em notas de cem rapidamente. Separou mil e oitocentos para si e enfiou no bolso da calça. Guardou o restante no alforje, fechou-o e fitou Lauren:

— Ainda quer conhecer Catherine?

— Claro. Por que não?

— Preciso pagar um dinheiro que devo a ela, então é a sua oportunidade. Pode entregar-lhe?

— Sim.

Enrico jogou para a ruiva o alforje com o dinheiro e explicou:

— Você vai encontrá-la em Denver, no Only Hope Hotel. Quarto nº 28. Senhorita Catherine Summers. Lauren, vai se lembrar disso tudo?

— Pode apostar que sim, muchacho. E tem mais – ela lançou-lhe um olhar desafiador, seus olhos verdes de pantera brilhando assustadoramente – É bom rezar para que eu simpatize com sua amiguinha, Enrico. Ou então, quando você voltar, vai saber que fiz picadinho dela.

Sorrindo, ele assegurou:

— Vai gostar dela, é uma boa moça.

Subitamente séria, Lauren Sanders apontou uma direção e rosnou secamente:

— Brave City é para lá, rapaz. Boa sorte a você e Davis. Se falhar, levarei flores ao seu túmulo quando for visitá-lo. Depois contarei a todos sua história, a saga de Enrico De La Cruz, o idiota que morreu encarando inutilmente uma bala, quando poderia ter vivido e sido feliz.

— Agradeço a gentileza. – devolveu Enrico, a voz suave agora sinistra, baixa e rascante, como se reagisse ao tom frio da jovem.

Sem dizer mais nada, ela simplesmente girou seu cavalo e começou a fazer seu caminho de volta, sendo imediatamente imitada por seu irmão Mike. Vendo-os se afastarem, Peter e Enrico se entreolharam.

— Diabo! Quem entende as mulheres? – indignou-se Enrico, fungando irritado.

Peter Davis deu de ombros e soltou uma gargalhada, que logo contagiou o jovem mexicano. Em seguida, colocaram suas montarias em movimento e galoparam na direção que Lauren indicara momentos antes.

Aquele era só o começo do fim.