A Criação da Luz

A pior das despedidas


A sala enchia-se de solidão e de um silêncio trágico.

Luke Skywalker ajoelhava-se imóvel, vulto negro recortado pela luz ténue que se esbatia no ar parado, onde subsistia o cheiro desagradável da batalha titânica que aí se tinha desenrolado pelo futuro da galáxia e do próprio Universo. A pestilência da morte, do sofrimento e do horror.

Junto a si, a mulher a quem ele não largara ainda a mão e que tinha acabado de partir. Nem sequer lhe tinha dito adeus. Não conseguira ou simplesmente não quisera. Contemplou-a angustiado, recordando as suas derradeiras palavras que esclareciam tudo, que a definiam numa criatura ainda mais especial, admirável e extraordinária, fazendo-o estremecer com um calafrio que o tornava humilde perante aquela vitória, que fora inteiramente dela mas que lhe pertencia também, como uma oferenda sagrada que ela lhe tinha deixado com o seu sacrifício.

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Então, languidamente, como uma brisa cálida a passar pelas dunas de Tatooine, o corpo da mulher desvaneceu-se e só restou uma feia mancha escura no chão, provocada pelo sangue que aí secara. Não se misturou com a Força, nunca mais iria revê-la num futuro distante quando também ele se fundiria com a energia que unia o Cosmos. Ela não era feita da mesma matéria das criaturas do Universo e por isso não voltava à origem com a sua morte. O espírito de um cavaleiro Jedi que não o visitaria desde o mundo desconhecido do além, com quem nunca mais falaria. Iria ter sempre saudades dela, assumiu, apesar de, com a veemência que lhe era típica, ela ter afirmado que ele iria esquecê-la.

Levantou-se a tremer de mágoa.

Apanhou o seu sabre de luz, recuperou o sabre de luz dela.

Sabia que a iria perder. A Força não lhe mentira sobre o futuro e ele não fora suficientemente forte para contrariar o destino que o empurrava para o exílio da alma, que a empurrava para o desvanecimento. Ela também não colaborara. Não se tinha contido e fora em seu auxílio, contrariando as suas ordens. Abençoada rebeldia! Sem ela, admitia-o relutante e infeliz, não teria conseguido vencer O’Sen Kram. Agora, agradecido e vitorioso, padecia com a sua ausência.

O fim tinha chegado e devia regressar para junto dos seus amigos, família, um aconchego que o faria suportar melhor aquela angústia e aquele vazio. A Força dizia-lhe que a frota de Kram tinha sido destruída no sistema Hosniano, o Novo Senado em Coruscant dominara os usurpadores, celebrava-se a vitória. Han, Leia e Chewbacca exultavam em euforia, Threepio acompanhava-os nos festejos. Ali, na Cidade das Nuvens, Lando Calrissian recuperava o controlo administrativo da colónia mineira, o exército invasor neutralizado, Artoo estava com ele. E Iko, a criatura dos lagos Kendon, também.

Deteve-se a contemplar o sabre de luz que ela tinha construído, onde impregnara, naquele punho prateado, naquela lâmina luminosa, toda a sua personalidade difícil, os desejos de transformação, as ambições, os receios, os sonhos e os segredos. A necessidade de ser aquilo que não tinha nascido para ser. Estaria sempre com ela se mantivesse aquela relíquia junto a si, junto ao seu coração que se apertava com um sentimento forte e debilitante, diferente e incomparavelmente mais completo do que quando se julgara apaixonado por Leia. Apertou o punho do sabre de luz, esperando alcançá-la nesse abraço que fazia com os dedos.

Pediu mais tempo, queria que ela voltasse. Para levá-la outra vez à primeira lua de Luyta e vê-la mergulhar na lagoa. Sentir-lhe a felicidade e escutar-lhe o riso. Provocar-lhe as iras e os arrependimentos, a maneira desajeitada e sincera com que ela lhe pedia desculpas. Acariciar-lhe o rosto adormecido, escutá-la a agradecer-lhe por ter cuidado dela. Lutarem os dois com os sabres de luz verdes, como o céu do sítio onde ela se tinha treinado e amadurecido, onde se tornara naquela mulher fascinante, um Jedi único.

Pediu tempo… Apenas um instante fugidio. Passava-lhe a mão pelos cabelos e dizia-lhe aquilo que nunca fora capaz de lhe dizer.

— Amo-te… – murmurou.

Porém, ela não voltaria.

Nem estava ali para ouvi-lo.

E Luke Skywalker chorou.