Incríveis Aventuras em CASTELOBRUXO

Rumo ao Porto de Vila Verde embarcar no Boto Maroto


O Almoço fora tranquilo com tio Aroldo. Eles conversaram assuntos bruxos diversos, talvez na intenção de fazer Tião esquecer-se um pouco dessa história do lado da Família de seu pai, de ser um avarador, de seu próprio pai. Um dos assuntos que ele abordou foi qual tribo Tião possivelmente iria entrar. Grande parte dos Matoso foram para Curupira, mas houve uma pequena parcela que fora para Iara e Inhangá. Mas havia seu pai, que segundo seu tio lembrara-se de uma conversa no noivado de seus pais com o próprio, ele dissera que pertencera a Uiratatá. Enfim, gastaram grande parte da tarde no almoço, que já fora bem tardio. Almoçaram num restaurantezinho e casa de chá ali mesmo na Biela Amarela. Pareceu que bruxos adoram chá. Comeram creme de abóboras com carne de porco assada, além do típico arroz e feijão. Até bruxos se rendem a essa combinação.

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Ao fim do almoço, já beirando o fim da tarde, eles voltaram, pois a loja passara grande parte do dia aos cuidados de Natália. Tio Aroldo sabia que por mais atenciosa e dedicada que ela fosse, ela tinha certa propensão a acidentes catastróficos. Tião chegara e pedira permissão para subir e descansar um pouco o almoço, ele dormiu pouco a noite devido ao acontecido com Zulim e apesar de acostumado a acordar cedo, ele estava levemente sonolento. Tio Aroldo o aconselhou a descansar e ler um pouco seus livros, para tentar entender melhor sobre algumas coisas, sugeriu então historia da magia e ele o fez. Assim foi o fim de tarde e inicio de noite, folheando e lendo um pouco de cada livro que havia comprado na livraria do Valfreixo. Após escurecer, a Biela se iluminou com lamparinas penduradas em postes a cada dez metros de distância, intercalada nos lados da ruela sinuosa. O que aumentava o brilho do chão amarelo dourado. Seu Tio bateu a porta e o convidou a jantar.

Durante o Jantar não conversaram muito, mesmo com tantos assuntos possíveis. Ele questionara algumas coisas que lera nos livros da escola de magia e bruxaria de Castelobruxo e seu tio respondeu o que sabia. E assim foi o fim daquele dia cheio de coisas. Tião não teve dificuldade de dormir, estava cansado e dormiu rapidamente. Ao amanhecer, acordou com seu tio avô conversando com alguém. Era voz de mulher e em seguida, ouvira o bater de uma porta de alguém irritado. Tião levantara, ainda era cedo, mas ele dormira cedo, então, já estava descansado. Encontrou seu tio na cozinha e este preparava o café da manhã. Ovos mexidos, café, leite e torradas. A frigideira fritava os ovos sozinha com uma espátula a voar e mexê-los, enquanto o café se passava sozinho também, com um caneco a derramar água quente num coador de pano dentro de um bule desses de ferro fundido pintado com esmalte azul turquesa.

Tio Aroldo, apesar de lhe dar bom dia, com um sorriso no rosto, não estava muito falante como de costume e nem parecia bem humorado. Então dissera empolgado.

— Hoje é o dia especial então. Deveremos estar no porto de Vila Verde antes de meio dia, onde pegará a balsa do Boto Maroto. Está nervoso?

— Um pouco e empolgado também.

— Que bom – disse tio Aroldo finalmente sorrindo.

— Tio, não querendo pedir muito, mas gostaria de ligar para vó Quita antes de irmos. Seria possível?

— Claro meu querido. Mas eu nem tenho telefone trouxa, afinal a companhia de telefonia trouxa não entra aqui na biela – disse ele rindo – mas na casa de chá da Tia Rosa tem um, aquele restaurantezinho ao qual entramos para entrar em Biela Amarela. Pode ir lá se quiser, todos aqui o usam quando necessário, basta dizer que é meu sobrinho neto e eles permitirão sem problemas.

— Tudo bem então – o disse feliz em poder falar com sua avó, então se recordou do espelho que dava acesso a Biela – mas eu não sei as palavras mágicas que fazem o espelho funcionar.

— Ow meu querido, não precisa dizê-las – disse ele sorrindo – basta tocar com a varinha.

— Mas o senhor disse, não disse?

— Sim, eu disse, mas é algo que acostumei a fazer – disse ele risonho.

— Tudo bem então.

Tomaram o café da manhã e assim que terminou, Tião se ofereceu a lavar as louças, mas tio Aroldo disse que não precisava, pois havia um feitiço para isso. Tião fora até o quarto e pegou sua varinha, tio Aroldo o aconselhou a colocar um casaco, mesmo que sem frio, para guardar a varinha enquanto usava o telefone da casa de chá. Tião fora e observara a sinaleta sobre ele, estava dizendo “liberado”. Tocara o espelho com sua varinha e esse magicamente ficou transparente e ele o atravessou, com a mesma sensação de ar úmido. Abriu a porta do banheiro e perguntara ao senhor do balcão sobre o telefone, disse ser sobrinho neto de Aroldo Matoso e esse o mostrou o aparelho. Tião ligou para casa de sua avó e após alguns toques, ela o atendeu.

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— Vó?

— Tião? Oh meu filho, que saudades de você menino.

— Vó, eu viajei ontem de manhã.

—Sim eu sei, mas já estou morrendo de saudades.

— Tudo bem com a senhora?

— Tudo ótimo meu miúdo. Sabe sua tia avó, Noca? Se muda pra cá esse final de semana já, com Chico.

— Que bom vó. Fico mais tranquilo em saber. Mas olhe, vai ter de jogar duro com Chico, ele realmente é muito molenga.

— Eu sei meu querido, não se preocupe – riu ela.

— E Zulim vó?

E sua avó fez alguns segundo de silêncio.

— Tá aqui. Na verdade tá mais pra mata que por aqui, acho que ele sente a sua falta.

— Também sinto a dele e da senhora. Mas fala pra ele... Espera! ele entende o que a gente fala né?

— Entende meu filho, saci é uma criatura muito inteligente.

— Então diga pra ele que logo eu retorno e daí, agora sabendo o que ele é de verdade, a gente vai se embrenhar na mata mais fundo e ir finalmente no tal cachoeirão.

— Eu não deixaria nunca vocês irem até o cachoeirão, mas tudo bem meu querido, digo sim. Talvez isso anime ele um pouco. Então, que horas vocês vão, você sabe, fazer aquela coisa até a cidade no Amazonas?

— Segundo tio Aroldo, sairemos as onze horas. Devemos estar no porto da cidade de Vila Verde meio dia para a balsa.

— Tudo bem então. Queria falar com você meu querido, mas meu leite está no fogo e vai ferver. Então, boa viagem e bons estudos. Seu avô e sua mãe estariam bem orgulhosos de você hoje, tenha certeza meu querido. E eu também estou.

— Obrigado vó. Fica bem e se precisa, liga pra tio Aroldo que ele te ajuda e me avisa e vou correndo te ver.

— Não se preocupe. Mandarei cartas para você. Te amo.

— Também vó.

E desligaram o telefone. Tião ficara mais aliviado ao falar com sua avó e saber que estava bem e que a partir do final de semana ela teria companhia em casa. Agradeceu ao senhor do balcão, retornou ao banheiro, tocou com a varinha e o espelho mais uma vez ficou transparente e ele o atravessou para a biela e voltou para a loja de seu tio. Lá, ele ficara com seu tio o resto da manhã aprendendo sobre ervas, pós, líquidos mágicos, pelos, raspas de unhas, chifres e penas de animais mágicos. O que fez a manhã passar bem rápido. Quando às onze horas se aproximavam, chegara uma encomenda para seu tio. No fundo da loja, ficava a cozinha e nos fundos da cozinha um quintal, cheio de plantas e com uma mesinha de chá e lá nos fundos, uma estufa, onde seu tio mantinha plantas e ervas, entre mágicas e comuns e um pequeno deposito. Um velho bruxo aparatou ao fundo do quintal e junto a ele um grande caixa de madeira. Seu tio pediu a ele que ficasse na loja enquanto ele recebia a encomenda. Alguns minutos depois, seu tio retornara um tanto quanto nervoso.

— Aconteceu alguma coisa Tio Aroldo?

— A entrega das mandrágoras chegou, porém, deveria ter vindo um mês antes.

— E qual o problema disso?

— Você não tem ideia do que seja uma mandrágora meu querido. Mandrágoras são Herbocriaturas Mágicas muito perigosas. Quando retiradas do chão, onde estão enterradas com somente as folhas para fora, elas gritam um grito agonizante e este pode te ensurdecer, enlouquecer ou ate matar quem o houve.

— Caramba. Bem perigosas então.

— E elas já estão na época do acasalamento. Estão querendo sair dos vasos para procurar as do outro sexo. E por isso é perigoso deixa-las sozinhas agora.

— Caramba.

— Com isso não poderei te levar até o porto para Castelobruxo.

— Tio, se for possível, eu vou sozinho. Se for igual à vinda para cá, já sei o que devo fazer.

— Não meu garoto, não será como a vinda da casa de sua avó para cá. Será bem mais fácil. Existe a dispensa para isso. Mas você não pode usá-la sem um bruxo responsável. Eu espelharia Natália, mas ela me disse que hoje não poderia vir.

Disse Tio Aroldo preocupado com toda a situação. Então Tião teve uma ideia.

— Tio Aroldo. A mãe do Nicko, o garoto de ontem, irá leva-lo para o porto de Vila Verde hoje também. Ela não poderia me levar também, certo?

— Mãe D’Água meu querido! Você é brilhante. Vá até lá e pergunte a ela se ela poderia nos fazer esse imenso favor. Assim eu não precisaria fechar a loja e correr o risco dessas diabinhas fugirem e fazerem um caos na Biela. Mas rápido, antes que eles partam sem você.

— Sem problemas.

Tião saiu correndo feito louco até o acampamento de tendas dos bruxos ciganos e lá chegando, encontrara o acampamento já quase vazio, mas por sorte, avistou Nicko em meio a algumas pessoas. Tião o gritou e esse o ouviu e respondeu.

— Fala meu amigo, pronto para ir para Castelobruxo?

— Na verdade, tivemos alguns problemas. Meu tio não poderá me acompanhar e dai vim perguntar se posso ir com você, já que preciso ser acompanhado por um bruxo responsável.

— Verdade, você é do primeiro ano, não pode viajar sozinho. Venha, vamos falar com minha mãe, tenho certeza que ela não se importará.

Os dois foram até dona Amapola, que estava gritando com vários bruxos ciganos para que carregassem as coisas de um lugar para o outro e aparentemente, gritava com os irmãos de Nicko.

— Tayrone, deixe de ser preguiçoso e desfaça a tenda de sua tia Lucinda.

E as tendas se desfaziam com apontar de varinha. Toda a tenda se recolhia, encolhia e dobrava de forma mágica e virava um embrulho de lona facilmente carregável.

— Mãe – disse Nicko – Lembra-se de Tião certo?

— Sim, Sebastião. O bruxinho da mala roubada, como esqueceria. Seu tio está bem? Está pronto para viajar para Castelobruxo?

— Esse é o problema. Tivemos um contratempo. Chegou uma entrega importante e perigosa, acho, umas tais de maldrogadas e ele não poderá me acompanhar. Ele até iria, mas ele falou que elas são bem perigosas e podem até matar. Então eu disse que a senhora iria ter de levar o Nickolai, daí...

— Mandrágoras você quis dizer. Elas são bem perigosas. Eu entendo. Sem problemas meu querido, mas estamos de partida. Apresse-se e pegue suas coisas e venha rápido, partiremos logo.

— Mãe, eu posso ir com ele? Minhas coisas estão todas prontas e queria ver as Mandrágoras.

— Você enlouqueceu Nickolai? – e bateu em sua nuca como fazia sempre que ele falava algo que a desagradava – Mandrágoras são perigosas e se me recordo bem, o inicio do outono bruxo aqui no hemisfério sul é o fim do inverno no hemisfério norte, elas devem estar prestes a se acasalar.

— Tá bom. Eu não vou ver elas, apenas ajudar ele. Temos pouco tempo.

— Minha mala já está pronta Madame Amapola. É só buscar para irmos – disse Tião um tanto quanto melindroso.

— Claro meu querido. Nicko vá com ele e ajude-o se preciso, mas não mexam com as mandrágoras. Acredito que senhor Aroldo não deixaria vocês fazerem essa besteira. Mas vão com um pé e voltem com o outro.

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E os dois saíram correndo feito loucos, afinal já passara das onze horas da manhã e ele teriam de estar no porto meio dia em ponto.

Chegando Tio Aroldo estava com luvas, avental de couro, tampões de ouvido e a varinha em mãos. Os dois entraram na loja correndo e Tião disse.

— Ela aceitou tio, mas devemos ir correndo – disse Tião subindo apressado para o quarto.

— Ótimo meu querido. Vá rápido, pegue sua mala e não perca a viagem.

Os dois subiram. A mala de Tião estava pronta sobre a cama e ela a pegou correndo e os dois desceram rapidamente. Ele se despediu de seu tio.

— Tio, estou indo. Obrigado por tudo e te mandarei notícias assim que puder.

— Claro meu querido – abriu ele os braços esperando um abraço e o menino correndo o abraçou, então ele disse – vá lá e de muito orgulho para família Matoso mais uma vez. Que alegria esse dia – disse ele deixando correr uma lágrima – agora vão, rápido, já são onze e meia. Boa sorte meninos.

E os meninos saíram correndo de lá, mais apressados que nunca. No meio do caminho Tião reparou que não estava com seu anel desenrolalingua.

— Esqueci meu anel desenrolalingua.

— Caramba! Vamos buscar então.

— Acho que dá tempo.

— Claro que dá. Ta vendo aquele movimento grande ali próximo ao ABIGAS? São os alunos indo aparatar para o porto de Vila Verde. Tem muita gente, vai dar tempo.

— Então vamos logo.

Os dois retornaram correndo e ao chegar viram que a loja estava com cartaz de fechado e a porta trancada. Os dois bateram a porta e tocaram a campainha e nada.

— Ele não deve estar ouvindo. Ele estava com abafadores de ouvidos, lembra? – disse Tião.

— Então deixa, vamos sem o anel mesmo.

— Mas ele me deu de presente de aniversário. Foi feito pelo meu avô. Se eu deixar ai ele pode ficar chateado. Ele estava tão feliz e falou tanto desse anel ontem no almoço e jantar.

— Espere – disse Nicko retirando a varinha de dentro do colete e apontando para a fechadura da porta – Alohomora.

E um pequeno raio de luz dourado saiu e atingiu a fechadura, que destrancou.

— Caramba. Não esperava que a porta fosse abrir com o feitiço básico de trancas de trouxas.

— Talvez ele apenas tenha trancado por causa dos abafadores e não poderia atender clientes.

— Deve ser, então vamos, pegue logo o anel.

Os dois entraram e Tião foi direto ao quarto e pegaram o anel sobre a escrivaninha. Ao descer, viu Nicko parado com olhos arregalados nos pés da escada, olhava para os fundos, então Tião apressado desceu correndo e perguntado.

— Porque está parado ai assim, estamos atrasados.

Foi quando ele viu na porta da cozinha, que estava aberta. Um pequeno anão feito de bulbo de planta e cabelos de folhas, de um meio metro de altura. Esse olhava Nicko atentamente, mas ao ver Tião descer correndo, começou a gritar e os meninos taparam os ouvidos com as mãos, mas não resolveu muita coisa. Tio Aroldo veio dos fundos e estuporou a criatura. Mas era tarde. Os dois haviam ouvido a pequena mandrágora e desmaiaram.

Algum tempo depois, Tião sentira um cheiro forte, bem ruim e acordou assustado e com dor nos ouvidos, que zumbiam. Nicko estava sentado na cadeira próxima e senhora Amapola estava lá os aguardando.

— O que houve?

— Uma mandrágora escapou enquanto eu as replantava em vasos maiores aos pares. E vocês ouviram. Por sorte era uma bem pequena e jovem e seu grito só atordoou vocês. Está tudo bem com você? Pelo visto me ouve bem.

— Sim. Estou ouvindo um zumbido, mas bem. Caramba! Que horas são?

— Onze e quarenta e oito.

— Está bem Nicko?

Perguntou sua mãe e ele respondeu que sim com a cabeça, coçando os ouvidos.

— Então vamos se não vocês perderão a balsa. Seus irmãos já foram para o porto de Vila Verde e o acampamento já partiu para a Argentina para o aniversário de sua abuelita.

Todos saíram correndo sem se quer despedir-se novamente. Eles foram direto a uma estaçãozinha que mais parecia uma pequena lojinha. Lá, havia um balcão com uma senhora atrás de um vidro, um banco de espera em frente e no fim da loja duas portas. Uma a porta do banheiro e a outra porta. Senhora Amapola chegou esbaforida e disse.

— Esses dois precisam ir para Vila Verde embarcar para Castelobruxo.

— Seis nuques as aparatações dos três. Dois no máximo a cada aparatação – disse a senhora de óculos meia lua, coque e mascando chiclete.

Ela pagou e eles foram correndo para os Fundos, para a outra porta sem ser a do banheiro.

— Bem Nickolai, você vai primeiro que já conhece a viagem, que irei com Tião.

Nicko entrara numa salinha e fechara a porta. Então se ouviu um “Puft!” com o acender e apagar de lâmpadas dentro. Então eles abriram a porta, entraram e a senhora Amapola fechou a porta, disse “Porto de Vila Verde, Amazônia” e puxou uma cordinha que pendia da lâmpada velha do teto e “Zumpt”. Tudo apagou, ele sentiu tudo girar, menos que na chave de portal, mas logo sentiu tudo parar e então senhora Amapola abriu a porta do quartinho e eles estavam num pequeno corredor. Ao sair dali apressados, Tião vira Nicko esperando com sua mala em mãos no fim do corredor e lá chegando, ele viu que estava em um cais, a beira de um rio imenso, cercado de florestas. Haviam chegado ao Porto de Vila Verde, na Amazônia.

Correndo eles viram a Balsa atracada. Ela era verde clara, num tom parecido com o das vestes dos alunos de Castelobruxo com ramos de folhas pintadas de azul, vermelho, amarelo e verde circulando a mesma. E havia na lateral escrito em rosa “Boto Maroto”. Ela era consideravelmente pequena e havia meia dúzia de alunos na parte externa dela, mas ela era de andar duplo e tanto a parte de baixo quanto a parte de cima eram fechadas com janelinhas de vidro. Não parecia caber mais que cinquenta pessoas ali, então Tião imaginou que eram poucos alunos em Castelobruxo. Apenas um último aluno entrava na balsa correndo como eles. Então eles ouviram ali próximo certa gritaria.

— Vamos Ceci, a balsa está para sair. Se perder não conseguira entrar para o Colégio – disse a voz de homem bem alta – vá que depois dou um jeito de mandar Muquí para você.

— Eu só vou com a Muquí – disse a voz de uma garota e logo eles ouviram sons de macaco, que eram respondidos por outro macaco.

— Desculpem-me, Amarillo nunca fez isto antes - disse uma voz doce demenina pedindo desculpas.

A conversa vinha ali de trás do porto. Nesse caso, o porto era um cais, onde alguns barcos se atracavam. Beirando ele havia uma lojinha que aprecia ser um bar simples de cais e coberturas com cadeiras, provavelmente para espera de quem embarcaria. Havia um cheiro de peixe forte, pois uma área era reservada para pescadores pelo que deu a se entender. E atrás dali havia mais floresta e um pequeno vilarejo próximo.

Eles chegaram correndo e se prepararam pra entrar, quando um homem de roupas estranhas disse a eles.

— Rápido que o Boto Maroto já vai partir.

— Mas tem algumas pessoas ali atrás do porto que parecem que também vão embarcar - disse Tião.

— Desculpa, mas não podemos esperar. A balsa zarpa meio dia e cinco exatamente, não podemos adiar a sua saída.

— Mas eles vão perder a balsa. Parece que é uma garota e ela também vai embarcar.

— Não posso fazer nada - Disse o homem que gritou – última chamada para o embarque do Boto Maroto.

— Vamos garotos, entrem logo se não, não conseguirão entrar. A balsa zarpa sozinha magicamente - disse senhora Amapola.

Os dois estavam subindo quando de repente, Nicko ficou catatônico, revirou os olhos e Tião esbarrou nele de leve sem querer, ao final da rampa de acesso.

— Nicko, tudo bem?

— Ele está tendo uma visão. Isso não é hora para ter uma visão Nickolai – disse sua mãe nervosa.

Segundos depois ele retornou ao normal e sem dizer nada saiu correndo para os fundos do porto, em direção a onde as vozes vinham. Mal conseguiram fazer nada, ele já estava se distanciando enquanto sua mãe gritava.

— Nickolai Pollok, volte já aqui – indo correndo atrás dele.

Tião não sabia o que fazia, mas não podia os deixar perderem a balsa. Nessa hora a rampa começara a ser suspensa.

— Espere, eles irão perder a balsa.

— Não sou eu que estou suspendendo ela. Ela suspende magicamente.

E antes que essa suspendesse completamente, ele saltou dela para o cais, deixando sua mala e a mala de Nicko na balsa e fora correndo atrás dele e de sua mãe. Lá chegando, encontrou Nicko parado olhando um índio adulto, apesar de vestir roupas normais, nesse caso, bermudas e camiseta branca e usava adornos típicos de índio e duas garotas, uma era uma índia de aproximadamente onze anos, assim como eles, com cabelos negros abaixo dos ombros, com uma bela franja, usava um vestido laranja e simples, além de brinco e colares de penas azuis e a outra uma garota de cabelos loiros em duas tranças com um gorro de lã colorido, com dois pompons pendurados, usava umas roupas bem coloridas, uma saia longa e rodada e algo sobre a blusa que parecia feito de lã bem colorido, como um xale. Aparentemente as duas tinham a mesma idade deles e logo deveriam ser alunas do primeiro ano, assim como eles. A garota índia estava à beira de um guarda corpo de madeira esticando os braços e chamando um macaco, que estava sobre uma árvore, aparentemente assustado. Em baixo, um gato parecido com uma onça estava no colo da garota de tranças e gorro de lã.

Dona Amapola questionou então.

— O que aconteceu Nickolai?

— Eu vi uma onça pular sobre uma garota e dai vim correndo ver se podia ajudar.

— E essa onça seria aquele gato? – disse Dona Amapola irritada.

— Talvez, não vi direito.

E mais uma vez ela deu um tapa na nuca dela, de leve, mas de forma irritadiça. O barulho de uma buzina de barco soou e Tião disse.

— Perdemos a balsa.