Filhos do Império - Chapeuzinho Vermelho(Livro Um)

Capítulo Cinquenta e Três – “Magia”


Charlotte queria mudar de assunto ou simplesmente despejar o que lhe ocorrera de uma única vez, mas sabia que não poderia fazer isso.

Harry a viu fechar os olhos e respirar fundo algumas vezes. Foram longos meses separados e muitas coisas aconteceram, ele sabia disso, mas se questionava o quão difícil foi para a menina, já que ela parecia pesar tanto as palavras e ela nunca fora assim com ele e Nanda.

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Char não tinha ideia de por onde iniciar e fazer as coisas serem claras. Não era todos os dias que alguém falava para seus irmãos mais velho que era uma Feiticeira extremamente poderosa e estava no topo da hierarquia mágica do mundo.

-Vocês lembram quando éramos crianças e meu pai nos contava sobre os deuses antigos e os grandes Feiticeiros? –Ela questionou, ainda de olhos fechados, mas parecia um bom começo.

-O que tem? –Harry questionou em retorno.

-Lembram que eu dizia que Feiticeiros eram histórias bobas para assustar as crianças e os idiotas?

-Você nunca acreditou em nada com poderes, não coisas boas. –Nanda comentou com um pequeno riso na voz.

-Sempre acreditou em coisas que destroem, mas dizia que os Feiticeiros não podiam existir. –Harry concordou com a irmã. –Não aqueles que fizessem algo bom.

Mark notou o problema que Charlotte estava tendo em dar seguimento a sua história. A garota abriu os olhos verdes e encarou diretamente a Harry.

Harry percebeu a diferença da cor dos olhos dela. Não saberia dizer como, mas estavam mais claros.

-Acho que Kate estava certa, eu tinha uma visão muito limitada de mundo.

-Como? –Foi Fernanda a perguntar.

-E se eu disser que mudei de ideia? Que agora acredito que existe mais do que podemos ver e que nem tudo é ruim?

—Seja direta. –Harry pediu.

Char recordou do tempo de crianças, eles correndo por Ventanis, Christopher contando histórias, Katherine subindo em árvores para comer frutinhas com ela. Recordou a adolescência também, invadindo a Taverna do Ollie, tomando banho na cachoeira, correndo pela Floresta, flertando com os rapazes mais interessantes de Ventanis e ganhando a atenção que desejava.

Charlotte sorriu levemente, perdida nos pensamentos, aquelas memórias lhe pareceram estar em um lugar tão distante e feliz, tão longe que chegavam a ser quase intocáveis. A recordação de Katherine a fez lembrar que Kate e Alfred eram amigos na época e isso quase a faz sorrir outra vez. Quem diria que ela acabaria tendo algo com o amigo da irmã? Há alguns meses a ideia iria lhe fazer rir.

-Realmente existem Feiticeiros. –Ela falou de uma vez.

Harry a encarou atentamente, buscando brechas na expressão dela, tentando decifrar a brincadeira, mas não havia nada, Charlotte falava a verdade.

-Você tá dizendo que... Existem pessoas, seres humanos, capazes de... Sei lá... –Fernanda estava confusa. –Fazer frutas crescerem mais rápido?

-Não. –Char não sabia como explicar direito, então mordeu o lábio inferior e encarou Mark atrás de ajuda.

Mark viu o pedido silencioso de socorro nos olhos da menina e assentiu, encarando Fernanda.

-Não apenas isso. –Ele esclareceu, ganhando atenção de Harry e Fernanda. –Existem diversos tipos de Feiticeiros, em escalas diferentes. –Mark explicou. –Existem alguns, mais fracos, que conseguem falar com animais, outros controlam animais e plantas. –O ruivo encarou Harry. –Alguns Feiticeiros são capazes de mexer com sua cabeça a tal nível que você fará tudo que eles desejarem, lhe revelará seus segredos mais íntimos e vergonhosos.

-Tudo? –Fernanda estava chocada, mas Harry apenas absorvia o que era dito.

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-Tudo. –Mark foi firme. –Entre muitos níveis, existe o topo da hierarquia dos Feiticeiros, até mesmo do que podemos chamar de “magia”. –Ele falou, não gostava muito do termo, mas era o mais simples de compreender. –Aqueles mais poderosos, os chamados Anciãos.

-E o que os Anciãos fazem? –Harry quis saber.

-Eles controlam todos os níveis, dos mais baixos a mais altos, de feitiço e podem chegar a controlar os elementos. –Os olhos azuis de Harry desviaram para Char.

-Qual dessas pessoas você conheceu? –Ele não sabia se ficava curioso ou preocupado.

-Todas. –Ela falou após um momento de silêncio. –Do nível mais baixo ao mais alto da hierarquia.

-Você estava convivendo com essas pessoas, é isso?

Charlotte notou que Harry já estava vendo bem a frente, não somente acompanhava a conversa que estavam tendo, como sabia o que viria a seguir, levando o diálogo para exatamente o lugar que deveria. Harry sempre soube fazer Charlotte falar, não seria diferente em um assunto tão importante.

-Alfred, eu e mais um senhor que vocês não conheceram, –Informou. –sobrevivemos aos saqueadores que atacaram a Caravana quando sai de viagem. Tivemos que andar pela Floresta, faltando alguns poucos dias para a Lua Cheia. –Ela abriu e fechou a mão, fazendo a madeira da fogueira estalar e os olhos azuis de Harry seguirem o fogo, antes de retornar ao rosto pálido da menina. –Acabamos, depois de muito andar e não conseguir chegar a lugar algum, achando uma caverna para nos escondermos...

-Uma caverna para deter um Lobo? –Harry estava incrédulo.

-Você se surpreenderia com algumas cavernas, Harry. –Ela comentou, encarando o rapaz, que suspirou e fez sinal para ela prosseguir. –Bem, a questão é que devido a alguns incidentes, eu acabei adormecendo...

-Que? –Harry e Nanda questionaram juntos, mais preocupados do que deveriam, já que toda a situação passara.

-Não importa como, mas acabamos nos perdendo uns dos outros...

-Você estava sozinha na noite de Lua Cheia? –Harry parecia apavorado com a hipótese.

Charlotte sentiu o ruivo a encarando e desviou os olhos pra ele, ele estava lhe dizendo silenciosamente que ela estava no caminho certo.

-No meio de tudo o que ocorreu, fiquei inconsciente e fui encontrada pelas pessoas do Vale Vermelho. –Char não contaria tudo, Harry e Fernanda não estavam preparados para saberem dos pormenores.

-Eles a salvaram. –Fernanda constatou e Char sorriu.

-É um ponto de vista. –Todos notaram a irritação na voz dela.

Harry viu o fogo refletir nos olhos dela, havia um perigo inominável ali dentro, uma ira que ele sempre vira adormecida na irmã, mas que agora parecia bem desperta.

-Como vocês se reencontraram? –Harry indicou Alfred.

Alfred já havia notado que Charlotte estava contando somente o necessário e deixando as revelações sobre Lobos de lado.

-Eu já vivo no Vale Vermelho há alguns anos, então decidi voltar e pedir ajuda para alguns amigos e retornar para a Floresta e procurar por ela. –Ele indicou Char. –Contudo, assim que cheguei, a encontrei.

-Tivemos sorte. –Ela o encarava com um pequeno e cínico sorriso.

-Acho que não. –Mark brincou. –Reencontrar Alfred não é sinal de boa sorte, pelo contrário.

-Mark tem um bom ponto de vista. –Char concluí e fez todos sorrirem.

-Por que não nos avisou antes?

Char notou o ressentimento no irmão e deu algo próximo a um sorriso, notou Harry. Seja o que ela ainda não estivesse contando, parecia difícil falar no assunto e por hora ele respeitaria esse segredo.

-Porque o Vale Vermelho é um lugar muito privativo. –Foi Alfred a dizer, chamando atenção. –As pessoas não a conheciam, então não queriam que ela revelasse a ninguém onde se encontrava.

-O povo do Vale Vermelho leva essa coisa de sigilo muito a sério. –Mark bufou.

-Sinto muito por isso. –Ela falou honestamente, encarando aos irmãos.

-Tenho mais uma pergunta. –Harry disse, os olhos fixos nela.

-Eu sei que tem e sei qual é.

Harry sorriu gentilmente e assentiu.

Alfred estava preocupado, Charlotte parecia quase adoentada enquanto revelava parte do que lhe acontecera. Seja o que fosse a estar passando por sua cabeça, não eram somente os dias no Vale Vermelhou ou Vilarejo.

-Em que categoria... magica? –Ele fez careta, sem achar as palavras certas. –Como essa história de Feiticeiros se encaixa?

Charlotte mordeu o lábio inferior.

-Se encaixa a partir do momento que eu descobri ser uma Feiticeira... –Ela falou não muito alto, como se com medo daquela revelação. –Quando descobri ser uma Anciã.