Equinócio

A Caverna


Eu corri desesperadamente, como no sonho, sem saber para onde. Eu costumava ir à campina do meu pai, mas seria muito obvio ir para lá agora, eu precisava ficar sozinha, eu precisava de um tempo que fosse só meu. Eu não tinha muitas alternativas, então segui até o “campo de basebol” que minha família costumava jogar, na verdade eu estava proibida de ir até lá sozinha, aquele lugar havia sido marcado por muitas coisas desagradáveis, mas minha intenção não era ficar ali. Procurei ao redor daquela região, algum lugar onde eu pudesse me acolher. E nos picos rochosos de uma montanha, encontrei uma caverna, não era convidativa, mas eu queria parar de correr logo.

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Era naturalmente fria e úmida, não escura o suficiente para os meus olhos, eu me sentei no chão, encostando as costas quentes na parede rochosa e gelada. Os pensamentos vinham de forma desordenada, eu comecei a chorar repentinamente, enquanto tentava organizar as coisas, perguntas e imagens.

Pra começar, porque todos resolveram caçar no mesmo final de semana? Deixando apenas Jacob e eu para trás? Isso não fazia o menor sentido. Todos eles? Isso ainda não era o que mais me deixava preocupada, tantas coisas teriam acontecido em uma noite apenas. O meu pesadelo me fez perceber o quando Jacob era crucial em minha vida, me fez concluir a que ponto eu chegaria para protegê-lo. Eu daria minha vida por ele, não como faria ao meu pai ou a minha mãe, Eu daria meu coração a Jacob se o dele parasse de bater. Ele precisava viver, ele teria seu imprinting um dia, o que significa que para ele era possível sobreviver sem mim. Mas eu jamais conseguiria, eu não teria forças suficientes, que fossem capazes de me manter em pé em um mundo onde não existisse Jacob.

A reação dele me confundiu, e eu senti mais do que nunca que estávamos próximos de um fim, talvez eu já soubesse, talvez no fundo ele também. Nós não sabíamos como lidar. Talvez ele já tivesse tido o imprinting. Pode ter sido com aquela loira ridícula, mas eu não reclamaria, eu já tinha prometido a mim mesma, que o que me importava era a felicidade de Jacob. Mas eu não podia negar que havia descoberto uma nova vontade em mim. Um novo tipo de sentimento em relação ao Jacob.

Naquela manhã eu não tinha o visto como meu melhor amigo, como meu irmão, como uma babá, como um sol, como o companheiro que ele era. A imagem estava levemente distorcida, mas era uma distorção significativa, e eu sentia que ela arruinaria minha vida a partir daquela hora. Com certeza tudo seria imensamente mais difícil agora, que eu havia visto Jacob com outros olhos. Agora que o ciúmes que eu sentia não era mais fraternal, agora que a inveja que me consumia era quase doentia.

Precisava ser assim? Eu e Jacob nos conhecíamos de um jeito que ninguém, jamais no mundo, se permitiu antes. Nós éramos exatamente como duas metades que se encaixavam perfeitamente, se completando. Cada qual com seus respectivos opostos, atraindo-se de uma maneira quase impossível. Era a gravidade que nos atraia assim. Eu não queria lutar contra essa força, eu não queria me afastar. Eu queria mais, mais calor, mais Jacob, mais aproximação. O que eu não daria por um abraço de Jacob agora? O que ele estaria fazendo? No que será que estava pensando?

A escuridão começou a me cansar, e aquele frio não era o tipo de frio que eu gostava de sentir, como o frio que emanava de minha família. A única coisa para qual ele prestou foi a de afastar a lembrança do calor de Jacob na minha mente. Mas eu não queria ir embora, eu não sabia o que esperar quando chegasse em casa, eu não tinha sono, e sequer vestia alguma roupa decente para ir á algum lugar.

Na verdade eu queria que Jacob tivesse me seguido e me encontrado. Que ele entrasse naquela caverna e me pegasse no seu abraço de urso, quente e esmagador. Por que essa necessidade dele tão intensa agora? Alias, eu tinha resposta para isso. Era culpa dos meus pais e do próprio Jacob, eles que sempre aceitavam sua presença, quando ele insistia em ficar perto de mim. Ele nunca teve consciência das conseqüências que isso podia trazer? Ele que sempre me tratou da melhor maneira possível, achava que podia vir agora me machucar, e dizer simplesmente que sairia da minha vida, me mandando ir ficar com Thomas? O que ele sabia sobre Thomas? O garoto não passava de um amigo, ele era bonito e atraente, mas eu não me interessava por ele. Antes eu achava natural, agora eu começava a pensar que sempre preferi Jacob, sendo que só agora eu havia me permitido perceber isso. No momento em que percebi que perdê-lo era mesmo possível.

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Eu sempre pensava no dia em que eu o perderia, mas eu tentava encaixar as coisas na minha cabeça, de maneira que não fosse tão doloroso, porque no fim, eu queria acreditar que ele nunca me deixaria, que ele não me negaria nenhum pedido, nem o pedido de ficar comigo, mesmo que seu destino fosse partir.

Onde eu errei? Quando foi que aconteceu? Eu precisava de ajuda, eu precisava de respostas, eu perdi o fôlego, soluçando de tanto chorar. Começou a chover, o chão logo ficou lamacento. Eu não queria levantar, talvez eu pudesse ficar ali mais um pouco, encolhida no chão, em posição fetal, esperando que a caverna se fechasse, que a terra me engolisse. Tudo o que eu precisava era parar de pensar.