Only You

No Time


Era uma bela tarde quando Madge veio me visitar. Já tinha se passado pouco mais de uma semana desde o baile e estranhei sua demora para vir.

Dália ainda se encontrava aqui. A tal carta que meu pai recebera era para ele estar novamente nas terras da Duquesa Coin. Eu não entendia muito bem, mas meu pai tinha um tipo de elo entre ela e o Lorde que governa a Capital. Então minha irmã me levaria junto de sua família para o condado Four e, assim eu ficaria em sua casa o tanto de tempo que meu pai passaria no condado Thirteen.

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— Mais chá, Madge? – ofereço a ela assim que termina sua segunda xícara.

— Não, muito obrigada.

— Então, você ainda não me disse porque foi embora tão de repente.

— Meu pai... – ela desvia os olhos para um canto qualquer e a conheço o suficiente para saber quando está me escondendo algo.

— O que tem seu pai? – a incentivo.

— Ele se irritou comigo. – fala com certo desespero e não consigo imaginar o que tenha acontecido.

— Mas, por que?

— Porque... – ela começa a mexer os dedos um nos outros de forma tensa – Porque o desobedeci ficando um pouco a mais fora de seu olhar.

Sempre que vamos a esses eventos temos de ficar perto de nossos responsáveis e claro cada um dão seu limite. Meu pai – por exemplo – ficou preocupado com meu repentino desaparecimento naquela noite do baile. Acredito que ele me observava enquanto dançava com Peeta e foi só me ver em sua companhia que não se preocupou tanto. Não tenho dúvida de que tenha cronometrado minha saída.

— Bem, nós duas tínhamos concordado em nos encontrar e isso não aconteceu.

— Me desculpe Katniss. Lembra do cavalheiro de que falei? – balanço a cabeça em confirmação, mesmo não me contando detalhes sobre ele – Então, ele me convidou para dançar e depois fomos até a sacada apreciar a noite, e depois até o jardim então... ele me beijou... – diz numa forma apaixonada.

— E, quem é ele? – pergunto.

— O comandante Hawthorne... – até então não tinha conhecimento de quem falava e na verdade me espanto com sua declaração. Ambas estávamos interessadas pela mesma pessoa?

— O comandante Hawthorne? – quase me engasgo ao falar.

— Sim, o mesmo que nos acompanhou na viagem até a costa sul. – então tudo o que me disse outro dia sobre ter se apaixonado pela primeira vez se referia a ele - Ah, ele me beijou de uma forma... – não deixo que continue falando.

— Você tem que ficar longe dele! – sentencio.

— Por que? – ela se espanta.

— Porque é um libertino e irá sujar sua imagem.

— Katniss, você não pode sair por aí julgando as pessoas! – esbraveja.

— Não estou julgando ninguém. Apenas estou te alertando. Ele...

— Pare! – ela se levanta – Por que está tão interessada em manchar a imagem dele? Por acaso está interessada nele também? Hã?

Puxo o ar preenchendo meus pulmões e o solto lentamente.

— Não, mas já estive. – falo sussurrando, mas ela escuta.

— Então quer dizer que minha melhor amiga está apaixonada pelo mesmo cavalheiro que eu? Isso no mínimo é uma traição. – me levanto e a encaro perplexa.

— Nunca traí nossa amizade Madge. Eu tive apenas uma admiração e não sabia que você tinha algum interesse, mas devo afirmar ele não é homem para nenhuma de nós duas.

— Não me diga! – pousa as mão em seus quadris – Vai me dizer que tirou suas conclusões após uma troca de olhar com ele?

— Quem me dera fosse só isso.

Vou em frente e conto a ela tudo o que aconteceu, emendo com o ocorrido seguinte do pedido de Peeta.

— Então você e Peeta estão noivos? – sinto meu estômago embrulhar.

— Não exatamente.

— Ele me parece uma ótima pessoa.

— Sim, ele é.

— Você não o ama, não é?

— Na verdade não, mas acredito que meu pai já tenha decidido tudo sobre nosso futuro.

— Pelo menos tenho certeza de que ele te amará para sempre e fará de tudo para que nada lhe falte.

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— Como poderia saber? – me perco em mil pensamentos.

— Vi como ele te olha. – como fico em silêncio ela prossegue – Bem, acho que já vou indo, mas devo dizer que mesmo com tudo que me disse não vou desistir dele Katniss. Ele me fez promessas sabe... das quais não sinto a mínima vontade de compartilhar com você. – a encaro sem acreditar no que acabou de dizer.

— O que isso significa? – pergunto num fio de voz.

— Significa que para mim basta. Estarei torcendo para que tudo dê certo entre você e o sargento, mas estou dando um tempo em nossa amizade.

— O que?

— É isso mesmo o que ouviu.

— Você não está sendo justa, Madge.

— E nem você, Katniss. Gale é diferente, eu sei, mas não desistirei dele. Não quero que me procure. Adeus. Passe bem Miss Everdeen. – não tenho tempo de dizer mais nada. Simplesmente fechou seu semblante que sempre fora dócil e gentil para comigo, girou o corpo e se foi.

Senti uma fisgada em meu peito. O que fiz de errado para merecer essa punição? Não quis destruir seja lá o que ela tenha planejado. Apenas quis alertá-la. As lágrimas caíram livremente pelo meu rosto sem ao menos perceber.

Não me lembro como consegui chegar até meu quarto, mas lembro de cada lágrima derramada sobre meu travesseiro. Na hora do jantar tentei não demostrar minha desanimação – o que foi bem difícil de esconder – e quando meu pai disse que tinha se encontrado com Peeta e que o mesmo lhe dissera que viria amanhã me ver, não sabia se ficava mais desanimada ou se tentava ver o lado bom nisso de que, com sua presença eu me distrairia.

(...)

Quando o mordomo anuncia a chegada de Peeta de alguma forma sinto meu coração se apertar e não tenho tempo para analisar isso, pois logo entra na sala onde estou.

— Boa tarde, Katniss. – pronuncia meu nome com doçura e vejo que na outra mão há um buque de flores – Essas flores, são para você. – diz estendendo.

— Boa tarde, Peeta. Muito obrigada elas são lindas. – digo aceitando o buque e logo cheiro as flores.

Como de costume toma minha mão direita e a leva até seus lábios e ali no dorso deposita um suave beijo.

— Queria convidá-la para uma caminhada pela propriedade. Você aceita? – há algo em seus olhos que não consigo decifrar.

— Sim, podemos caminhar um pouco. Realmente estou precisando. – antes de irmos peço para uma das arrumadeiras colocar as flores em um vaso com água.

Em uma de suas mãos ele segurava algo, como um livro. A outra mão estende para eu segurar e, faço isso. Logo estamos do lado de fora e ouço meus sobrinhos querendo vir com a gente, mas Dália não permite.

— Devo dizer que você está linda neste vestido. – sorrio sem graça, afinal, não coloquei nada especial apenas um dos meus vestidos preferidos. Seu tom verde claro me traz tranquilidade.

— Obrigada. – estamos caminhando rumo à campina.

Ele nos para de repente próximo a uma árvore e me encara.

— É sempre tão calada?

— Não. É só que...

— É só que... – me incentiva.

— Uma amiga... ela... – sei que preciso me desabafar com alguém, mas por que para mim é tão difícil?

— Suponho que seja aquela jovem que estava com você naquele dia em que compravam as fitas?

— Como você sabe que... – não sei como sabe que comprávamos fitas – Sim, ela mesma. Discutimos ontem e ela não quer me ver por enquanto...

Começo sentir as lágrimas se formarem. Fecho os olhos tentando impedir que caem, mas é tarde demais já escorreram por minhas bochechas. Sinto seu toque sobre meu rosto e quando abro os olhos ele está as enxugando. De certa forma isto é reconfortante.

— Não fique assim. É apenas um momento ruim. Vai passar, você vai ver.

Tento sorrir e continuamos nossa caminhada. Está uma tarde tranquila. Pouco vento, o sol brilha já não tão intenso e o verde da natureza se encontra mais vivido do que nunca. Paramos numa parte que adoro colher flores, mas não irei fazer isso hoje. Olho para ele e sento sobre a grama. Me lança um sorriso de lado e acaba por seguir meu gesto.

— Este é meu lugar favorito, sabia? – digo olhando para frente, mas sinto seu olhar sobre mim.

— Bem, não sabia que este era seu lugar favorito, mas agora sei.

Olho para meu colo e vejo uma pequena margarida silvestre que acabou de colher.

— Obrigada. Adoro colher flores por aqui. Sempre faço pequenos arranjos e levo junto de uma cesta com alimentos para algumas pessoas que não têm tanta condição.

— Comecei a te observar assim. – me assusto com sua afirmação e o encaro.

— Assim como? – pergunto curiosa.

— Depois de me tornar sargento sempre vinha resolver assuntos. Um dia vi você atravessar a praça principal sozinha, daí pensei: “Meu Deus, o que faz esta jovem por aqui? ” Foi aí que vi uma pequena garotinha lhe pedir algo e você lhe deu um pão.

— A família daquela garotinha havia perdido o pai há poucos meses e passavam fome. Eu não poderia deixar de dar atenção a isso. E no outro dia consegui achar a residência. Era uma pequena cabana na entrada da floresta. A mãe estava com um bebê de colo, e tinha mais cinco crianças. Nos dias seguintes acabei levando mais mantimentos e assim tem sido.

Nem sei como consegui dizer tudo, mas de qualquer forma me sinto bem.

— Você é incrível, sabia? – nossos olhos se encontram e sinto algo dentro de mim.

— O que é isto? – desvio sua atenção para o que carregava.

— Ah, isto? – balanço a cabeça em concordância – Isto é um livro que trouxe para você.

— Para mim?

— Sim. Encontrei-me com seu pai na cidade ontem e me disse que você irá viajar para o condado Four.

— Isso mesmo. Papai tem uma viagem, e ele não quer me deixar sozinha aqui. Então como faz tempo que não vou até lá, achou melhor assim.

Seu rosto parece triste, penso em dizer algo, mas não consigo.

— Admito que sentirei saudades. – diz ele.

— Será apenas por uma semana. – digo.

— Quem sabe eu não consiga te visitar? – fala num tom esperançoso.

— Acredito que meu cunhado e minha irmã não farão objeção alguma.

Ele pega minha mão e novamente leva até seus lábios e dessa vez a beija com mais fervor.

— Sendo assim farei de tudo para ir.

— E sobre o livro? – pergunto e ele volta sua atenção para o assunto inicial.

— É um livro de poemas e alguns contos. Quero que leve em sua viagem e depois me diga o que achou. Você gosta de ler?

— Sim, gosto muito.

Me estende o livro e na capa está escrito Sem Tempo.

— Espero que aprecie a leitura.

— Sem tempo? – aponto para o título.

— Você irá entender.

— Mais uma vez estou grata. Você irá jantar conosco, certo?

— Seu pai tinha me convidado e seria uma honra.

Me levanto rapidamente segurando o livro - que acabou de me dar – sobre o peito.

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— Então vamos! – começo a correr como uma criança – Quero ver se você me alcança. – grito a uma certa distância.

— Senhorita devo lembra-la que treinei muito quando era apenas um soldado e consigo facilmente alcança-la.

— Então venha!

Por um momento esqueci as coisas que estavam me deixando triste e pude sorrir com sinceridade.

Enquanto jantávamos uma forte chuva começou a cair e meu pai sugeriu que Peeta passasse a noite aqui.

— Não quero que se incomode comigo Mr. Everdeen.

— Não é incomodo algum Peeta. Um dos quartos de hóspedes está sendo preparado para você neste momento.

— Muito obrigado.

— Disponha. A propósito não ia querer te ver acamado por conta de alguma gripe forte.

— Peeta, ficaremos felizes em recebe-lo na nossa casa. Katniss passará alguns dias conosco. E como sua família mora na Capital de repente se você for visita-los dê uma passada na casa Odair.

— Ficarei honrado em aceitar ao convite.

Peeta é uma companhia agradável, na verdade fácil de se ter por perto. Ele é gentil, educado e todos o admiram. Sua postura honesta passa segurança a todos que o rodeiam.

— Katniss, está cedo para deitarmos, por que não leva Mr. Mellark para a sala de música e toque piano para nós?

Toda atenção é voltada a mim. Sorrio meio sem jeito.

— Claro.

Dulce leva as crianças para a cama e os demais vão para a sala de músicas. Dália sugere uma canção da página 35 do meu livro de músicas. Ela é tocada em Mi maior, de Chopin. A música é bem melodiosa e romântica. Com o tema de Nenhum outro Amor. Meus dedos começam suavemente pelas teclas e assim vai por três minutos e doze segundos.

Papai fica satisfeito e começa a dizer o quanto adorava ir aos meus recitais. Fico envergonhada, pois minha irmã o incentiva a falar ainda mais.

Todos sobem para seus aposentos. Peeta me acompanha até o corredor do meu quarto.

— Tenha uma boa noite e bons sonhos. – diz assim que chego à minha porta.

— Boa noite para você também, Peeta.

Seu sorriso se abre grandemente e não deixo de esboçar um também, claro que não tão grandioso como o seu.

Antes de dormir não aguentei a curiosidade e abri o livro e o primeiro poema era relacionado ao título “Sem Tempo”. Na contracapa havia uma dedicatória. Para minha doce Miss Everdeen, com carinho Mr. Mellark. Sorri por um momento e comecei a ler.

Envie seus sonhos

Para onde ninguém se esconde

Dê suas lágrimas

Para a maré

Sem tempo

Sem tempo

Não há fim

Não há adeus

Desaparecer

Com a noite

Sem tempo

Sem tempo

Li apenas até aqui. Sabia que se continuasse não iria mais parar. Ao deitar minha cabeça sobre o travesseiro vem à minha mente a tarde que passamos juntos. Posso dizer que pelo menos uma amizade cresce entre nós. Ainda é um pouco difícil pensar que terei de me casar com ele. Na verdade, é até assustador, mas acredito que ainda terei tempo de pensar em alguma alternativa.