Jones

Jones


HESTIA

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Talvez fosse culpa da posição dos astros no momento de seu nascimento. Talvez fosse culpa da quantidade absurda de romances de época melosos que lia. Talvez fosse simplesmente um traço defeituoso e irritante de sua personalidade. O motivo importa? O fato é que Hestia Jones era uma hipérbole ambulante. A perfeita definição do exagero. A personificação do oito ou oitenta. Para a menina tudo era intenso e em um segundo ia de extremo ao outro. Não sabia fazer nada pela metade, o que a tornava um caldeirão de emoções, transbordando diariamente.

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A moça, no entanto, poderia parecer estável e inofensiva à primeira vista. Com os longos cabelos negros sempre presos em tranças, as bochechas coradas e os grandes e curiosos olhos castanhos, se assemelhava a mais inocente das criaturas. Um sonho adolescente, que em um instante poderia se transformar em pesadelo. Havia momentos em que ela desejava ser diferente. As pessoas ao seu redor poderiam considerá-la histérica, ou se irritar com seus rompantes. Ainda assim, era Hestia quem mais sofria com a própria personalidade.

Seu mundo era um caos. Não havia meio termos. E a mais singela das ações poderia desencadear uma guerra. Sua maldição era sentir. Sentir da forma mais exacerbada e intensa possível. Sentir a ponto de sufocar e enlouquecer. Seus sentimentos eram como labaredas de fogo que surgiam repentinamente e a consumiam por inteiro. Labaredas de fogo, que mesmo quando se apagavam, deixavam cinzas, das quais a menina não conseguia se libertar. Não havia como fugir. Estava condenada.

Seu maior algoz, no entanto, sempre foi a paixão. Sentimento que se apossava de si em um rompante e sugava toda sua sanidade e capacidade de agir racionalmente. Veja bem, além de exagerada, Hestia Jones era uma patética garota romântica e imprudente. Do tipo que acredita que vale tudo quando se trata de amor e se entrega por completo. Do tipo que ama por inteiro, de uma forma tão absurda que abandona a si mesma para se devotar ao outro. É doentio, sádico e desesperador.

A paixão lhe surge como uma corrente, a algema, maltrata e escraviza. A coloca de joelhos e cospe em sua alma, algo que aceita de bom grado, como uma refém após desenvolver Síndrome de Estocolmo. Há, contudo, momentos de lucidez. Escassos, mas que estão ali para mostrar que não está totalmente perdida. Instantes raros que a fazem questionar o que diabos está fazendo, mas que se dissipam como fumaça, deixando um leve incomodo. Sabe que precisa se libertar, mas não consegue. É como se fosse uma viciada. Sua droga, no entanto, é amar demais.

E quando o romance acaba, o que eventualmente acontece, a menina se vê em pedaços, porque, como tudo em sua vida, o sofrimento é intenso e desolador. É como se seu mundo houvesse desabado e seu coração fosse literalmente arrancado de seu peito. O choro pode durar semanas, mas passa no instante em que ela encontra uma nova obsessão. Porque simplesmente não consegue ficar sozinha. Está tão presa àquele jogo doentio e perturbador que acredita fielmente precisar de um rapaz ao seu lado para se sentir completa. Então, segue-se o ciclo de dar tudo a quem não lhe dá nada em troca e acabar sozinha e despedaçada.

Algo deprimente de tantas maneiras que não se traduz em palavras.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.