Wildest Dreams

P.O.V Judy

—Será que sou uma boba por te amar? Por que sinto essa vergonha em pensar que você é o cara certo para ter o meu coração?

O que havia de errado comigo?

Estava tão feliz hoje de manhã com a formatura do Nick. E nervosa , tipo, com borboletas no estômago com o meu discurso. Mesmo tendo revisado milhares de vezes achava que ainda não estava bom o bastante para ditar em voz alta para toda a academia. Mas quando vi Nick tirar aqueles óculos de sol e piscar para mim sorrindo , valeu a pena todo o trabalho de colocar em palavras tudo o que havíamos passado com as uivantes.

E toda a bicharada erguendo seus quepes no ar, foi uma vitória .Um fim de uma longa jornada sem o Nick. Meu escolhido como parceiro .

Por dois longos anos tive que pedir ajuda dele no Zoozap quando não estava ocupado na aula , estudando à matéria ou fazendo um exercício de treinamento.

Sempre solicito em me ajudar. Calmo. E com boas respostas.

A festa havia passado tão devagar. Milhares de pessoas que não conhecíamos vieram nos cumprimentar. E nos lembrando com respeito o nosso primeiro caso de desaparecimento juntos.

Eu notei o desespero do olhar do Nick em querer falar comigo a sós.

E quando a festa acabou ... e saímos juntos para conversarmos não imaginei que tanto desespero era para ... para confessar os seus sentimentos por mim.

Seus olhos ficaram mais vivos e expansivos quando dançamos embaixo da grande árvore da vida , sua voz adquiriu um tom rouco e sensual e o cheiro da camisa dele ficou impregnado em meu nariz.

Até agora.

Ainda me lembrava o modo como nossos corpos haviam se encaixado naquele abraço depois que terminamos de dançar. O modo como a sua boca explorou a minha. E o jeito em que fiquei acariciando o seu peito quente e maciço .

Lá fora está chovendo confundindo com o meu olhar.

Nesse instante estou sentada na minha mesa, em meu cubículo apertado que só cabe uma cama de solteiro e essa droga de mesa chorando baixinho igual à uma adolescente de dezesseis anos . Que não quer que seus pais descubram que você caiu no chão.

Ouvindo os vizinhos barulhentos discutindo entre si.

E ouvindo Grand Piano da Nicki Minaj no Nq3 pela décima vez seguida. Essa música parece exprimir em palavras o que poderia acontecer se... se...

Minha Coelha do Céu ...

Todos os animais irão criticar . Sem decência . Não irão entender o que levou Nick e eu perdermos a cabeça desse jeito .

Chego a sentir teu corpo nos meus braços , mas quando eu abro meus olhos chorosos você não está aqui.

Só saudade dos momentos que passamos .

Nossa já fazia uns bons tempos em que quando cheguei na cidade virei uma guarda de transito , e na primeira vez que eu botei os meus olhos no raposo malandro sabia que viria um clone do Gideon Gray.

Como eu fui boba , ignorante e preconceituosa naquela época .

Aquele era apenas um lado que Nick sabia usar para se defender dos bichos maiores do que ele. No fundo ele era uma raposa solitária .

Ele me pegou bonito.

E o que os meus pais dirão?

Falei cedo demais neles.

Meu celular apitou . A foto dos dois juntos aparece na tela com duas opções: Atender . Não atender.

A segunda opção era a mais obvia no momento.

Mas eu enxugo as minhas lágrimas . Uso a minha máscara de sorriso e aperto o botão de atender.

—Oi ! Vocês estão bem , aí?!

—Oi filhinha. – E minha mãe vira à tela aonde está o meu pai.

—Oi coelhona. Como foi a formatura do seu parceiro policial?

— Muito legal , pai. Estou muito orgulhosa do Nick. Ele se saiu muito bem e ... e ...

De repente um dos meus irmãos recém –nascidos berrou alto pela casa querendo atenção . Minha mãe saiu correndo e deixou o telefone com ele.

—Filha... – disse num tom mais baixo. – Desculpe em te perguntar mas que anel de flor é esse no seu dedo?

Como é que ele nota essas coisas?

Senti meu rosto pegar fogo, a garganta se fechar. Eu mau conseguia engolir a bile.

Queria cavar um buraco e enfiar minha cabeça lá.

—É do Nick, filhota?

Eu só consegui acenar com a cabeça confirmando a verdade que queria esconder de todos.

—Filha ... quando é a sua folga?

—Domingo, pai. Por que?

— Eu e sua mãe conversamos e queremos conhecer o ... Nick. E eu quero conhecê-lo para ver que intenções que ele tem com você.

— Está bem , pai. Vou conversar com ele . E iremos nos ver no domingo, ok?

—Ok , meu amor. Não esqueça que nós amamos muito você. Beijos.

E a tela do meu celular se apagou.

A primeira semana com o Nick como parceiro passou despercebida. Na sexta-feira pedi para o Chefe Bogo nos dar folga no domingo.

E fui com Nick em seu apartamento que era no lado mais sombrio da cidade de Zootopia.

Ao chegarmos no quarto 82 , Nick tira a chave do bolso da calça e do corredor ouço a chave rodar a fechadura.

O apartamento dele era simples. Tinha sala de estar com um sofá verde claro e uma teve plana , uma cozinha pequena e um quarto com banheiro.

—Você toma um banho enquanto eu cozinho.

Saio do banho quente , faço a curva para entrar na cozinha e então percebo no ar um cheiro de de cenoura, molho de tomate e macarrão.

Lanço um sorriso discreto.

—Judy, minha cenourinha , estou preocupado com você a semana inteirinha. O quê tá rolando?

Dou de ombros. Resolvo usar o silêncio como minha fonte de proteção. Eu não podia dizer ao Nick que meu pai descobriu tudo.

—Não costumávamos contar coisas um do outro, chuchuzinho?! – Ele ergue meu pescoço , me obrigando olhar para ele.

Os olhos dele brilham.

—É porque seu pai descobriu o anel? – pergunta.

—Eu não sei como ele descobriu sobre o anel, Nick.-digo a ele. É um alivio poder admitir isso pelo menos.

E então conto a ele sobre a ligação dos meus pais . Nick fica quieto e quando digo que meu pai quer conhecer ele , sua cara de assustado revela o medo.

Ele respira fundo.

Eu espero alguma reação de raiva dele, mas ela não vem. E a pergunta que não quer calar surge.

— E agora, Nick?

Ele dá uma fungada no ar. O cheiro do molho se espalhou no apartamento todo.

—Agora vamos comer. E vamos ver seus pais, meu bem.