Os Cinco Selos

Monmog e Manmog



Camille estava sentada em seu trono. Estava equipada com sua armadura dourada completa, exceto pelo braço direito nu. Aiken havia dito que tinha grandes chances de demônios invadirem a cidade enquanto estivessem fora. Sem duvidar da capacidade de um Selo, ela extraiu todos seus moradores tento todos seus soldados escoltando-os, com a exceção de seus Guerreiros Sagrados.

Perguntava-se agora se devia tê-los extraído também. Camille nunca teve filhos, mas adotou e cuidou de cada um deles como se fossem. Seu coração ainda doía muito pela recém morte de Barek, e a dor só aumentava conforme pensava nos rostos dos vários outros guerreiros que morreram. Não queria que mais mortes acontecessem. Porém ela sabia que iriam se recusar a deixá-la. O que tinham de teimosia tinham de força. Teria que confiar na capacidade deles. Deu um longo suspiro e esboçou um sorriso.

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— Crescem tão rápido... — Seu sorriso esvaiu para uma expressão séria tomar conta. — Está na hora.

Camille levantou-se do trono e desceu os degraus. Em cima da extensa mesa, pegou sua Relíquia de Guerra, calçou-a em sua mão e puxou até cobrir todo seu braço direito.

Relíquia de Guerra: ativar.

Das fissuras da manopla dourada, a energia roxa começou a emanar fortemente.

A Rainha de Arcádia caminhou pelo salões e corredores de seu castelo, todos vazios. Passou pela ponte que intercalava o castelo com o pátio frontal do castelo e parou, aguardando seu inimigo.

Os dois demônios entraram no campo de visão da humana. As aparências de ambos eram iguais: pequenos, seus rostos pareciam ser iguais a de uma criança, manchas negras no mesmo lugar, cabelos negros curtos e, é claro, olhos negros e pele avermelhada. Porém haviam coisas que os diferenciavam. A única asa, chifre e olho — ambos negros — ficavam no lado direito do corpo de Monmog, enquanto em Manmog ficavam em seu lado esquerdo. Além disso, Monmog empunhava um machado de um gume em sua mão direita e Manmog em sua mão esquerda.

— Mais gêmeos não, puta que pariu — resmungou Camille para si. Depois de suspirar, voltou a encarar seriamente os demônios. — Vocês ousaram adentrar em meu reino, agora só sairão daqui mortos, demônios.

Os demônios gêmeos penderam a cabeça para o lado e depois entreolharam-se.

— Monmog, aquela humana está tentando nos ameaçar?

— Sim, Manmog. Aquela humana acha que nos amedronta.

— Monmog, o que iremos fazer com ela, então?

— É obvio, Manmog. Iremos matá-la.

Ao término de suas palavras, Monmog avançou voando em direção a rainha de arcádia desferindo um golpe com o machado. A manopla de Camille converteu sua mana em uma espada de energia roxa, que brandiu contra o machado. O impacto resultou em uma forte ventania. Manmog investiu contra o flanco direito, mas Camille saltou para cima, e o machado cortou o ar.

A espada transformou-se em cinco esferas de energia. No ar, Camille gesticulou seus dedos da mão direita e as esferas responderam ao movimento. Uma delas desceu e acertou Manmog em cheio nas costas, afundando-o no chão. Uma segunda investiu contra Monmog, que se defendeu com o machado, mas fora jogado para trás. A Rainha de Arcádia chegou ao chão, seus dedos se mexiam sem parar. As esferas confrontavam os demônios, fazendo-os recuar e ficar em posição defensiva, bloqueando com machado e esquivando.

Irritando-se com a situação que estava, Monmog conseguiu passar por entre as três esferas e lançar-se em direção a humana, acertando-a com uma forte ombrada. Camille fora projetada para trás, rolando. Erguendo-se, observou o mesmo demônio continuando o ataque, porém, desta vez, com o machado. As esferas desmancharam-se e foram convertidas em energia novamente, transformando-se em um escudo roxo, bloqueando o pesado golpe do machado. Em resposta, Camille desferiu um forte soco de esquerda no rosto de Monmog, arremessando-o até Manmog.

— Monmog, aquela humana é mais forte do que o normal?

— Sim, Manmog. — Monmog cuspiu sangue. — Ela é.

Camille gargalhou.

— Vocês invadem o último reino dos humanos e ainda subestimam a Rainha? — Ela os fintou. — Para demônios tão evoluídos, ainda são bem burrinhos.

Os demônios não se expressavam, mas Camille notou um rápido franzir de cenho dos dois. Sorriu ao perceber que conseguiu ofendê-los.

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— Monmog, o que iremos fazer?

— Não economizar forças, Manmog. E fazer ela virar pedacinhos.

Sincronicamente, os gêmeos demônios emanaram sua energia vermelha e começaram a atirá-la em forma de corte com o machado em direção a Rainha. O escudo de energia transformou-se nas esferas roxas, que começaram a circular o corpo de Camille em elevada velocidade. A energia vermelha confrontava as esferas, todavia era dissipada, deixando Camille imaculada. Os dois começaram a levar a luta a sério, pensava, tenho que acabar com pelo menos um deles logo, se não vou começar a ficar em desvantagem.

Pacientemente, Camille aguardou para encontrar o momento certo para avançar, observando os golpes brandirem contra sua defesa. Quando ela achou uma brecha no padrão de ataque, avançou. As esferas converteram-se em energia, envolveram o antebraço direito de Camille e tomaram forma de um grande punho. Ela atingiu em cheio o Monmog com o poderoso punho, jogando-o violentamente a metros dali com a explosão de energia roxa, destruindo o que estivesse no caminho. Manmog não se assustou e atacou com o machado, atingindo-a na costela, contudo a armadura da humana absorveu bem o impacto. Camille tentou golpear com a direita, mas o poderoso punho deixava sua movimentação lenta, o que deu tempo suficiente para o demônio saltar para trás.

Camille empunhou a espada de energia roxa e estocou. Manmog gingou seu corpo para o lado e teve apenas o peito rasgado pela lâmina. O demônio girou o corpo e desferiu um golpe com o machado, mas a Rainha moveu sua espada rápida o suficiente para conseguir aparar o golpe.

Percebendo a nítida desvantagem em um combate direto mano-a-mano, Manmog começou a voar.

A espada de Camille transformou-se em um machado de um gume, que fora atirado em Manmog. O demônio teve sua asa cortada pelo machado e caiu diretamente na mão esquerda da Rainha, que se fechou em seu pescoço. Camille afundou Manmog contra o chão e esticou sua mão direta. Quando o machado recaiu sobre sua mão, ela fechou os dedos e abaixou o braço com tanta força que, no momento que o machado se encrustou na cabeça de Manmog, houve um alto estalo do crânio rachando-se e o solo fragmentou.

Camille se levantou, pisou no peito do demônio e descravou o machado da cabeça dele. Sangue esguichou e miolos saíram do crânio entreaberto. Ela cuspiu no demônio, nem um pouco enjoada com a cena.

— Uma imundice a menos.

Monmog se aproximou novamente do pátio frontal do castelo. Seu olho arregalou-se ao ver o corpo morto de seu irmão com a humana por cima.

— Man...mog?

Inesperadamente, o braço esquerdo de Monmog tornou-se grande e musculoso, e com o direito o mesmo logo após. Seu torso se expandiu, assim como suas pernas. O chifre, olho e asa que faltavam em seu lado esquerdo do corpo cresceram. Em questão de segundos, o pequeno demônio tornou-se em uma monstruosidade musculosa de mais de quatro metros.

Sem precisar pensar duas vezes, Camille recuou uma boa distância.

Manmog...

O poder dos gêmeos era mais ardiloso e traiçoeiro do que alguém possa prever. Se algum dos adversários conseguisse matar um deles, o que sobrevivesse teria seu poder aumentado muitas vezes pelo desejo de vingar seu irmão morto. Caso conseguisse saciar este desejo por sangue — que já dizimou muitas cidades —, o corpo dele iria dividir-se novamente e voltar ao normal, assim seriam dois novamente.

— A situação ficou ainda pior — analisou Camille. — Modo de Ataque: alvos múltiplos.

As cinco esferas de energia roxa pairaram sobre Camille. Com a movimentações dos dedos, as esferas responderam avançando em direção ao demônio. Monmog simplesmente moveu seu braço, e as esferas foram completamente obliteradas. Tão forte quanto pensei que seria, porém lento, pensou Camille.

Modo de Ataque: alvo único. — A espada de energia roxa formou-se na mão de Camille e a energia roxa começou a emanar por todo seu corpo.

A Rainha de Arcádia avançou frontalmente com o demônio. Monmog começou a mover seu lento e pesado braço para atacar, mas a humana redirecionou o avanço para flanqueá-lo, obrigando-o a mudar o curso de seu ataque. Observando o demônio mover o pesado corpo, Camille parou repentinamente e jogou-se para trás, voltando para sua posição anterior de ataque frontal. Monmog não conseguiu acompanhar as rápidas alterações de curso, e teve um rasgo aberto em sua perna direta. Camille se afastou após seu ataque. Não estava satisfeita. O seu golpe deveria ter arrancado a perna dele fora, mas os músculos eram rígidos demais.

Monmog pareceu nem mesmo sentir aquele corte. Ele virou-se para a Rainha, pegou uma pedra do chão e atirou nela com muita força. Camille arregalou os olhos, sua espada virou um escudo para protegê-la da pedra. O impacto fora tão forte que ela foi arremessada metros dali, caindo direto nos escombros onde ela mesma havia atirado o demônio minutos antes. Camille gemou de dor ao levantar, mas conseguiu manter-se firme. Observou o demônio aproximar-se com mais pedras na mão.

Ela inspirou e expirou.

Camille levantou sua perna esquerda, equilibrando-se sobre a perna direita. Moveu sua mão esquerda para frente, enquanto ergueu a mão direta acima da cabeça.

Modo de Ataque: dança da morte.

Uma lança de energia roxa materializou-se na mão direita dela, com a lâmina apontada para o demônio. A energia roxa começou a entrelaçar pela sua armadura dourada como se fossem fitas.

Monmog disparou a pedra. O pé esquerdo de Camille tocou o chão e ela girou, fazendo a lâmina da lança cortar a pedra ao meio. Então a humana avançou, e o demônio continuou atirando pedras contra. Ela desviava e cortava as pedras com movimentos extravagantes com seu corpo, como se fosse uma graciosa dança. Quando, enfim, a lança de haste longa conseguiu alcance o suficiente para atingir o demônio, Camille saltou, rodopiou no ar e, de baixo para cima, sua lâmina da lança rasgou a monstruosidade da cintura até o olho direito. Monmog grunhiu de dor e desferiu um golpe com sua mão direita, contudo a Rainha saltou para longe, e o punho errou seu alvo, abrindo uma cratera no chão.

Voltando a sua posição inicial sobre sua perna direita, Camille inspirou e expirou, dispersando seu medo e adrenalina em seu corpo, deixando seus músculos menos tensos.

Monmog, sentindo seu corpo latejar, observou o sangue escorrer em direção ao chão, gotejando. Ele fintou a humana com seu, agora, único olho negro.

Humana... mais... forte que... eu já.... enfrentei — admitiu o demônio, sem tirar seu profundo olhar negro sem sobre a humana.

— E farei de tudo para que eu seja a última a te enfrentar, demônio — replicou Camille, com seus olhos roxos intensos e severos.

Após mais poucos segundos de calmaria e tensão elevada, a Rainha de Arcádia foi a primeira a avançar. Monmog bateu o pé no chão, fragmentando o solo em direção a humana. Camille saltou e, novamente, rodopiou no ar e abriu outro corte no torso do demônio, porém, desta vez, de baixo para cima. Monmog tentou mais uma vez golpear com seu punho. Camille, de cabeça para baixo, tocou o solo com a mão e, com sua energia roxa, impulsionou-se para cima, passando girando sobre a cabeça do demônio. Tendo as costas desprotegidas do demônio em seu alcance, ela rapidamente estocou, penetrando a lâmina da lança e rasgou-o de dentro para fora. Monmog novamente grunhiu de dor. Enfurecido, começou a girar seu pesado corpo. Camille agachou — a monstruosa mão passou centímetros de sua cabeça — e girou, abrindo mais um corte na perna. Porém, simplesmente por puro azar, o pé da Rainha prendeu-se em um sulco do solo fragmentado, fazendo-a perder totalmente seu equilíbrio. Aproveitando-se desse vacilo, Monmog agarrou-a com a mão e ergueu.

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Com um sorriso tão grotesco quanto sua risada, o demônio começou a aperta sua mão, e Camille começou a gritar de dor. Ela debatia seus braços para tentar desesperadamente libertar-se do intenso aperto, sua energia roxa começou a acumular-se em sua Relíquia de Guerra. Monmog, sabendo que aquela arma no braço dela era perigosa, agarrou o braço dela com a mão livre e desmembrou-a rudemente. Camille berrou de dor ao ter seu braço arrancado.

Mudando de ideia, Monmog jogou a humana fortemente contra o chão.

Humana... morrer... como Manmog.

Ele caminhou até o machado pequeno demais para sua grande mão, que outrora pertenceu a Manmog, e pegou-o.

Camille estava deitada sobre o chão. Sua mão esquerda apertava onde deveria estar seu braço direito. Seus dedos era a única parte do corpo que sentia quente, por causa do sangue fluindo de sua ferida. Se cabelo roxo estava empapado de suor e colado em seu rosto. Sua consciência vacilava. Seus olhos, cansados e sem forças, fintavam o céu azul sobre ela.

— Se realmente existir algum deus... por favor, me de forças para matar este demônio e salvar... — Lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos. Estranhamente, sua voz não oscilava, saia firme e forte. — Salvar minhas crianças.

Então, como se os deuses respondessem a suas suplicias, o céu azul tingiu-se de um intenso vermelho. Camille arregalou os olhos ao ver a cena, porém, o que ela não sabia, é que aquilo fora causado por um Selo.

— Seu desejo foi escutado em alto e bom som.

Monmog, que estava distraído com o céu vermelho, assustou-se com a nova voz. Ao seguir o som, uma espada cravou-se um pouco distante em sua frente. Percebeu que aquela lâmina com várias caveiras e runas em sua face emanava uma própria aura assassina.

Camille moveu sua cabeça em direção a nova voz e encontrou os olhos amarelos cintilante e intensos do Deus da Guerra sobre ela. Kleist agachou, retirou a mão dela de cima do ferimento e repousou cuidadosamente a própria mão sobre.

— Vai doer — avisou.

As chamas amarelas envolveram a mão, queimando a ferida, e Camille berrou de dor até desmaiar. Após cauterizar a ferida, Kleist pegou a Rainha nos braços e afastou-a até um lugar mais seguro, perto da ponte. Retirou seu casaco — deixando seu musculoso e definido torso nu — e cobriu a mulher que corria sérios riscos de vida.

Guerra caminhou calmamente até sua espada, repousou sua mão no cabo e ergueu a cabeça para encarar o demônio. Por sua vez, Monmog abaixou seu olhar para encarar o Selo inexpressivo.

Você... um Selo... — afirmou Monmog. — Mostre... toda... força.

— Não — negou Kleist. — Irei mostrar metade, e só por um segundo.

Sentindo-se subestimado, Monmog ergueu seu grande e pesado braço direito. A energia vermelha começou a acumular-se abundantemente no membro, com tanta pressão que o vento ao redor sibilava fortemente e sentia-se leves tremores. Quando o demônio fez que ia abaixar o braço, Kleist disse:

— Despertar: Deus da Guerra.

As chamas amarelas explodiram subitamente, engolidos os dois seres. Um segundo depois, as chamas dissiparam-se no ar. Kleist já estava de volta em sua forma humana, com a espada erguida em direção aos céus. O demônio continuava com seu braço erguido, mas não demorou muito para seu corpo, dividido em dois, recair morto e impotente no chão.

Você estava enganado, Guerra”, sussurrou Odin. “Um terço de sua força já era o suficiente”.

— De fato — concordou o Selo. — Isso foi mais do que decepcionante.

Continua ♥ :p