Os sentimentos da Princesa Guerreira

Capítulo 24 — Apenas um recomeço (Final)


A embaixada de Themyscira ficava na ilha de Manhattan, era uma bela casa de quatro andares com mais de cem anos de idade, construída pela famosa arquiteta grega Jocasta Papadaki. A faixada da casa possuía duas janelas de vidro imponentes e uma porta branca com duas colunas gregas. O hall de entrada se estendia até uma sala de estar, onde diversas obras de arte grega estavam expostas.

O primeiro andar ainda possuía uma cozinha bem arejada e com vários armários e um fogão industrial, com eletrodomésticos recém comprados, de última ponta. Nos fundos, um jardim com uma fonte em homenagem à deusa Afrodite, não era um quintal grandioso no tamanho, mas possuía verdadeiras obras de arte feitas a partir de plantas. Nos andares superiores, quartos e banheiros dividiam um espaço que poderia receber uma boa quantidade de hóspedes.

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Diana viveu nesta casa por algumas semanas, logo que ela foi inaugurada nos anos oitenta, ainda no século vinte. Depois disso, deixou que a embaixada ficasse aos cuidados de representantes gregas da confiança de sua mãe, a Rainha Hipólita, enquanto ela participava de várias missões da Liga da Justiça pelo mundo, e também em outros planetas.

E agora a amazona retornava ao seu verdadeiro lar na cidade grande. Ela recebeu o posto de Consulesa Geral na Embaixada de Themyscira, desvinculando os serviços com a Embaixada grega. Agora, a Ilha de Themyscira era membro da ONU.

Diana possuía uma colaboradora para ajudar a montar sua nova equipe de trabalho. Estava ansiosa para voltar a sua posição como representante na embaixada, de maneira oficial. Mesmo que as reuniões fossem cansativas e tivesse que encarar protestos e mensagens violentas. Diana sentia que estava pronta para voltar ao trabalho permanentemente.

Ela contratou Jasmine para o serviço de assistente. Diana também possuía muitas tarefas para serem realizadas e estava com projetos que iam de palestras em escolas, até visitas guiadas na própria embaixada. Queria abrir as portas para acolher quem precisasse de ajuda, ou então apenas para sanar a curiosidade das pessoas.

Shayera, sentia-se festeira com aquela mudança e conseguiu convencer Diana a realizar uma festa de reinauguração da Embaixada. A Mulher Gavião se ofereceu para preparar os convites e tudo o que fosse preciso em um tempo recorde que deixou Diana realmente admirada com a boa vontade e habilidade da amiga.

Assim, conforme prometido, Shayera cumpriu exatamente tudo o que disse que faria. Os convites foram enviados e o dia da festa havia chegado rápido.

Em sua suíte, Diana terminava de colocar os brincos. O quarto possuía uma decoração simples, conforme ela havia imaginado. Até porque, não havia motivos para reformar toda a casa e comprar mais móveis, senão, repor os que estavam obsoletos.

Ao se olhar no espelho, ela concluiu que estava pronta. Em todos os sentidos.

A porta abriu e Diana supôs que fosse Jasmine, para avisar que os convidados já estavam chegando, entretanto, quando ela se virou, encontrou uma outra pessoa parada no meio do quarto.

— Damian? O que faz aqui? — Ela perguntou, ajeitando os braceletes dourados nos pulsos, o último toque que faltava para complementar o visual que consistia em um vestido longo branco e com decote nas costas.

— Recebemos um convite para a festa. — Damian enfiou a mão no bolso da calça. Ele vestia um terno preto de bom gosto e elegante, com uma grava azul marinho sobre uma camisa branca. Estava com um olhar desinteressado, fazendo uma pose de garoto rebelde.

— Oh! Sim, é claro. Eu enviei os convites. — Diana sorriu. — Quis dizer o que faz aqui em meu quarto.

— Eu queria conversar com a senhora. — O menino andou até a porta e a fechou, sem pedir permissão para fazê-lo. Embora Diana não fosse negar uma conversa com o rapaz. — Quero falar longe das outras pessoas, é um assunto pessoal.

— Por favor, Damian, não precisa me chamar de senhora.

— Vossa Alteza? — Ele perguntou irônico.

— Também não é necessária tanta formalidade. — Diana chamou-o para sentar-se nas poltronas aos pés da cama de casal. — Estamos a sós, então eu permito que me chame apenas de Diana, fico mais a vontade assim.

— Certo, Diana. Mas na frente do Alfred eu vou ter que usar o ‘alteza’, ou ele vai acabar tendo um ataque cardíaco com minha falta de educação para com a família real.

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— Se isso for tão importante para ele, então tudo bem.

Eles estavam ali, em um momento silencioso, sem constrangimento ou alfinetadas. Damian parecia mesmo à vontade, embora sua postura fosse sempre em alerta e vigilante. Diana estava curiosa em saber sobre o que ele queria conversar, embora tivesse um palpite. Na última conversa que tivera com Batman, ele falou que o menino havia sido levado pela mãe. E se ele estava ali, talvez seja porque o próprio garoto tenha decidido ficar com o pai por mais tempo.

— Eu vim com o Dick e a Bárbara. Meu pai não quis vir, estava ocupado com o trabalho, se é que me entende. Eu também não queria vir, disse que poderia ajudar, mas fui obrigado a estar aqui. — Ele começou a falar, e às vezes agia como uma criança que era. Com vontades e irritações que toda criança contrariada poderia sentir.

— Sinto muito por você ter sido obrigado a isso. — Diana respirou fundo. — Mas estou feliz que esteja aqui, temos uma sala só com armas de Themyscira, talvez você goste.

— É, pode ser. — Damian olhou para Diana, ele balançou a perna que estava em cima da outra, parecendo ansioso. — Meu pai me matriculou na mesma escola que ele foi obrigado a frequentar quando tinha minha idade. Tem uma aula de história, o professor curte essas coisas antigas. Semana passada tivemos que visitar o Museu de Metrópolis.

— E você gostou do passeio?

— Na verdade, não muito. Eu já vi coisas muito mais interessantes com a Liga dos Assassinos. Uma múmia não é nada em comparação à uma mumificação verdadeira, sabe. Além do mais, o trato que fiz com meu pai foi bem rigoroso. Se eu quiser fazer aquela coisa que eu gosto de fazer, preciso seguir algumas regras. Como ir para a escola, por exemplo. Entre outras coisas ridículas. — Damian bufou.

— E se você não seguir as regras? O que acontece?

— Volto para a casa da minha mãe. — Ele falou sem muita emoção. — Não é que eu não goste de viver com ela... — A intensidade de sua voz foi diminuindo. — Eu só acho que está na hora de fazer algo diferente.

Diana sentiu naquele instante que a criança ao qual observava minutos atrás havia desaparecido ao citar suas origens, e logo depois ele renascia como o garoto que era e precisava viver uma vida de verdade.

— Se você quiser, pode levar alguma coisa da nossa coleção para mostrar na sua escola. Mas só se me prometer trazer de volta.

— Certo, eu prometo. — Damian ficou de pé, seu olhar ainda era um pouco arrogante, o nariz sempre erguido e ele possuía uma confiança e espirito forte. Diana o achava um garoto incrível, mas não tinha ainda abertura para dizer aquilo.

— Vamos descer? — Ela perguntou.

— Vamos.

Antes de abrir a porta, Diana olhou para o garoto e perguntou: — Você queria dizer algo pessoal, lembra-se? O que era?

Hmm não era nada demais. — Ele abriu a porta e saiu do quarto. Diana sentiu que sua voz havia mudado levemente um tom, mas a última coisa que deveria fazer naquele momento, era pressionar o filho de Bruce Wayne.

Damian desceu as escadas e sumiu por entre os convidados, Diana não pode correr atrás dele para mostrar a sala de armas, pois Jasmine a interceptou no meio do caminho para que cumprimentasse os convidados que chegavam.

Clark Kent estava presente para cobrir o evento, ao seu lado, Kara filmava tudo com sua nova câmera.

— Quero que você seja a primeira pessoa a me conceder uma entrevista. — A adolescente falou. — O meu site está quase pronto, vou escrever textos de incentivo, tutoriais, autoajuda, e vídeos com os maiores super-heróis da Terra, e fora dela, isso se o John conseguir uma entrevista com algum outro Lanterna Verde. — Kara se calou, pensativa. — Quais as chances dele conseguir uma exclusiva com um Lanterna vermelho?

— Está seguindo os mesmos passos do seu primo? — Diana olhou ao redor e encontrou uma pessoa bem conhecida que gostaria de apresentar a Kara. — Às vezes, os heróis estão mais perto do que a gente pensa. São pessoas comuns que fazem trabalhos importantes dentro da nossa sociedade. — Kara acompanhou Diana, filmando tudo com sua câmera. — Quero que conheça a melhor advogada de Gotham City, Katherine Spencer.

— Olá, muito prazer. — Kate estendeu a mão e apertou a de Kara, as duas começaram a conversar e Diana viu que havia feito um bom encontro ali.

Observando a atitude de Diana, Clark se aproximou dela, ajeitando seus óculos sobre o nariz. Ele vestia uma combinação duvidosa de blazer cinza e calças pretas. Diana achava uma graça que nem sempre Clark se vestia assim para despistar sua verdadeira identidade, era realmente sua forma.

— Você é um grande exemplo para ela. — Clark falou baixinho. — É um exemplo para muitas mulheres.

— Obrigada, meu amigo. Mas, na verdade, elas que são meu verdadeiro exemplo. Cada uma dessas mulheres formam um pedacinho do que eu sou.

— Então está explicado o porquê do seu nome. — Clark decidiu compartilhar a agradável companhia de Diana com os outros convidados.

A festa era animada por uma banda ao vivo e alguns pares dançavam na sala de estar. O Caçador de Marte, em sua forma humana, convidou Diana para uma dança. Ela ficou surpresa em saber que o marciano possuía ritmo.

— Jessica tem sido uma boa professora. — Ele revelou.

— Jessica Cruz? — Diana perguntou curiosa com a novidade. — Bom para você, meu amigo. Ela é uma grande mulher.

Assim que a música terminou, Wally West se ofereceu para conduzir Diana em uma dança. Ele estava a par de todos os acontecimentos da Torre da Liga e em meros três minutos Diana também já estava.

— Depois a gente combina um jantar, eu cozinho. — Ele prometeu à Diana. E logo em seguida, Clark Kent convidou-a para uma dança, dando para Kara algumas fotografias excelentes para seu site.

Assim que terminou a dança, Diana afastou-se discretamente do centro da festa e entrou em uma sala, a que ela havia sugerido para Damian. E lá ela o encontrou. O garoto estava acompanhado de Bárbara Gordon e Dick Grayson. Eles discutiam sobre um artefato preso na parede e sua origem.

— Essa é a harpa de Flabela. — A amazona pôs um fim na discussão do trio, contando o mito em seguida. — Ela era uma amazona doce e gentil, não possuía intimidade com armas ou lutas. Estava sempre no rochedo da praia tocando sua harpa. Um dia, foi obrigada a ir para a guerra, coisa que mais temia, então ela correu para aquele rochedo e pulou lá de cima, acreditava que os pássaros iriam levá-la para um lugar de paz, sem que ninguém fosse obrigado a fazer guerra.

Damian olhava com atenção para Diana, enquanto ela contava o mito.

— O que aconteceu com ela? — O garoto perguntou curioso.

— Ela afundou no mar. Triste, por não ter sido acolhida pelos pássaros, ela preferiu ser levada para as profundezas do oceano. — Diana pegou a harpa que se encontrava na parede e entregou para Damian. — Então Poseidon, sentindo as lágrimas de Flabela espalhar pelo mar, pediu para Àrtemis levá-la para uma de suas caçadas. A deusa a transformou em um pássaro e seu canto é igual ao som de uma harpa.

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— Uau. — Damian abriu a boca e fechou em seguida. — Achei que seria uma história cheia de sangue, incesto e essas coisas estranhas grega. Nada contra a Flabela, mas...

— Foi uma história incrível, Diana. — Bárbara pegou a harpa, tocando nas cordas. O som era melodioso e muito sensível. — Esses garotos não conseguem ver beleza nisso.

— Precisamos ir embora. — Dick Grayson olhou a hora no celular, enquanto Damian e Bárbara protestavam. — Sério, gente, estamos de carro, não dá para viajar tão tarde. Desculpe, Diana. A festa está ótima, eu comi muito salgadinhos e aqueles patês estranhos, mas estava muito bom.

Bárbara deu um cutucão em Dick e depois abraçou Diana, dando dois beijos em seu rosto. Dick, um pouco atrapalhado, apertou a mão da amazona e depois a beijava no rosto, constrangido.

Damian olhava a harpa.

— Por que a Flabela não quis ir para a guerra? — Ele perguntou, ainda encarando o instrumento. — Ela poderia ter aprendido a se defender e proteger as pessoas. Assim alcançaria a paz ao vencer a guerra.

Diana entregou a harpa nas mãos de Damian, como havia prometido que ele poderia levar o que quisesse.

— Nós não precisamos lutar com armas para obter a paz. Podemos fazer isso com uma harpa. Nossas atitudes são muito mais importantes do que os instrumentos que usamos. As armas são instrumentos de atalho, utilizadas quando é necessário, mas elas não são verdadeiramente a solução para a paz.

Diana segurou o rosto de Damian, dando-lhe um beijo na testa. O garoto ficou um pouco envergonhado e então despediu-se da amazona.

Quando a festa terminou, Diana retornou para seu quarto, ela removeu toda a maquiagem e tomou um banho, vestiu apenas uma calcinha e camiseta. Deitou na cama e espreguiçou-se lentamente, aconchegando-se no conforto do colchão e os travesseiros. Ela olhou para o lado, em sua mesa de cabeceira, e encontrou um livro que não estava ali antes. Quando o pegou, reconheceu a capa e todas as marcações feitas nas páginas. Era o mesmo livro sobre as amazonas que havia encontrado no quarto de Bruce, em sua mansão.

Diana folheou o livro calmamente, lendo cada uma das anotações feitas por ele à caneta. Chegando ao final do livro, havia um risco de caneta vermelha sobre uma frase ao qual associava as guerreiras amazonas a violência. E a anotação de Bruce vinha ao lado: As armas são instrumentos de atalho, utilizadas quando é necessário, mas elas não são verdadeiramente a solução para a paz.

Diana apertou os lábios, escorregando o corpo pelo colchão, ela abraçou o livro e agradeceu baixinho pelo presente que Bruce lhe trouxera.

Naquele momento, Diana não sentia dúvidas ou solidão, estava em paz com seu corpo e espírito.

Era um recomeço.