Indômitos

Capítulo Único




As bandeiras da Grifinória flamulavam a metros de distância das cabeças dos alunos, que dividiam o último café da manhã antes que o Expresso de Hogwarts os levasse embora. Tudo era vermelho e dourado, com o indomado leão de Gryffindor, rugindo em sua glória. Da mesa da Lufa-Lufa, Edward Tonks remexia os ovos já mexidos e ignorava os colegas de casa, que comentavam sobre as futuras profissões que teriam. O seu último ano encerraria em algumas horas e tudo o que tinha em mente era a bela jovem sentada à mesa próxima da entrada do Salão Principal.

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Os cachos castanhos estavam devidamente arrumados, com uma tiara prendendo os fios que costumavam cair em sua face. Seu semblante permanecia imperturbável, diferente dos colegas de casa, casmurros graças à derrota. As reclamações eram muitas, mas Andrômeda Black não os escutava. A irmã mais nova, Narcissa, aguentava os protestos de seu namorado, Lucius, fingindo interesse.

Por um instante, o olhar de Edward cruzou com o de Andrômeda e ambos sentiram a tristeza da partida se intensificar. A jovem, sempre guiada pela boa educação, terminou de comer para só então se levantar. Ninguém prestou atenção, à exceção da irmã.

— Aonde pensa que vai? — Narcissa a segurou pelo punho, impedindo-a de deixar o Salão.

— Eu sou a irmã mais velha, Cissy, não você — respondeu, soltando-se.

— Espero que não vá encontrar aquele... — As palavras não saíram, mas o olhar direcionado a Edward foi o suficiente para terminar a frase. — Se papai souber que anda confabulando com sangues-ruins, seu nome será apagado de nossa árvore genealógica como traidora — sibilou, temendo que alguém a ouvisse.

— Então mantenha essa boca fechada! — Por um instante, o autoritarismo dos Black destilou em suas palavras, como se a própria irmã mais velha tivesse falado por ela.

Na mesma hora, arrependeu-se e Narcissa deixou que o espanto transbordasse em seu semblante. Nunca vira a irmã tão transtornada a ponto de falar daquela maneira. Até mesmo Lucius dignou uma olhadela na direção da cunhada, antes de voltar a conversar com os amigos. A caçula desviou o olhar, magoada, mas Andrômeda tinha certeza que ela não contaria nada a ninguém.

Ainda surpresa com a própria reação, deixou o Salão sob o olhar preocupado de Edward.

— Ei Tonks, aonde você vai? — Um dos colegas perguntou, mas o rapaz deixou o local tão rápido que só não notou o motivo quem não quis.

Encontrou-a sentada em um banco, com os cotovelos apoiados nas coxas e rosto escondido atrás das mãos. Edward sentou ao seu lado, permanecendo calado. Ele a ouviu respirar fundo antes de olhá-lo; aqueles olhos sempre sonolentos e gentis. Andrômeda encostou as costas contra o espaldar e continuou observando-o por alguns segundos.

— Essa escola não será a mesma sem você aqui — disse ela, fazendo-o sorrir.

Não, não havia felicidade naquele sorriso, mas o rapaz sabia que naquelas palavras residia uma verdadeira declaração de amor. Andrômeda não era dada a demonstrações efusivas de afeto. Introvertida, um simples segurar de mãos era motivo de exultação para Edward. Tudo começou no quinto ano, quando a viu passar com uma pilha de livros nos braços e se ofereceu para ajudá-la, afinal, tinha que pegar alguns que ajudariam nos trabalhos de Herbologia; sua matéria favorita.

Mesmo um pouco arredia a princípio, logo deixou o jeito monossilábico de lado para interagir de forma carismática com o rapaz de cabelos claros, voz suave e piadas sem graça. Andrômeda era longilínea e elegante, sempre bem alinhada e amável demais para uma sonserina. Quando começou a reparar de verdade na menina, notou seu afastamento em relação aos colegas de casa e isso foi o mais surpreendente. Ainda assim, não fora nada fácil para ele se declarar; não quando a reciprocidade de sentimentos era tão misteriosa. Mas conseguiu, apesar dos pesares que acompanhavam o relacionamento.

— Um ano, Dromeda, um ano. — Ela desviou o olhar, cansada de ouvir a mesma história.

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Com Edward sendo um ano mais velho, sabia muito bem que ficariam separados, mas não conseguira se acostumar à ideia. Precisava aguentar as férias sem ele, com o pai insistindo para que namorasse um brilhante rapaz da Sonserina. “Não importa qual, apenas faça”, dizia ele, já desconfiando do envolvimento da filha do meio com um sangue-ruim, porém, orgulhoso demais para admitir.

— Arranjarei um emprego no Ministério da Magia e juntarei dinheiro para nós dois — continuou, tomando a mão da namorada nas suas, soando sonhadoramente feliz. — Teremos uma casa e ninguém da sua família irá se meter na nossa vida. Estarei esperando assim que desembarcar de seu último ano em Hogwarts.

Andrômeda, enfim, deu um sorriso e deitou a cabeça no ombro dele. Quando produziu Amortentia pela primeira vez, foi o perfume de Edward que sentiu. Manteve isso para si, pois não havia novidade alguma sobre seus sentimentos em relação ao rapaz, tanto que estava disposta a ser riscada da família Black por ele. Tudo bem, talvez não só por Edward, mas pelo o que também representava; um ato de extrema bravura ao se libertar de séculos de tradição, em busca da própria liberdade. Sentia-se agraciada por ter alguém como Ted ao seu lado quando, finalmente, conquistasse o que queria.

— Terá que usar roupas finas no Ministério. Não combinam com você — brincou ela, fazendo-o rir.

— Posso cuidar da limpeza. — Edward deu de ombros. — A senhorita não se importa de ter um marido faxineiro, certo? Acho que o uniforme cairá bem em mim. Sem contar que minhas notas no N.I.E.M.s não foram muito boas, então vai se preparando.

— Você sempre foi muito bom com limpeza — disse Andrômeda, olhando-o com carinho. — Será o melhor faxineiro do Ministério.

— Ah sim, meu nome será mencionado para sempre na história da magia e bruxaria. O indômito faxineiro Edward “Ted” Tonks, marido da magistral Andrômeda Tonks.

— Pai da imbatível Ninfadora Tonks — completou a jovem e ganhou um olhar fulminante.

— Não mesmo. Nossa filha não terá esse nome e ponto final.

Andrômeda riu e deu um beijo na ponta do nariz de Edward, antes de descansar — novamente — a cabeça em seu ombro e ali ficar, prometendo a si que aquele seria o último momento de despedida entre ambos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.