Vovô Bernie morreu em uma cadeira confortável enquanto fazia hemodiálise, sem dor. Os médicos tentaram revivê-lo, mas ele teve um AVC e partiu tão rápido quanto adormecia assistindo à novela das 9.

Sua única neta, Sara, foi a que mais sofreu a sua morte, ela nunca se conformou por não ter tido a chance de se despedir e dizer o quanto ele fora especial na sua vida. Afinal, fora o vovô Bernie que lhe deu o primeiro banho, que lhe presenteou com a primeira bicicleta e nomeou o seu primeiro cachorro, Whisky.

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Ela sentia falta de ter o avô por perto, gostava de quando sentava na rede com ele e passavam a tarde se balançando na varanda enquanto ele cantava músicas antigas de viajantes ou contava histórias de sua vida em auto-mar, vovô Bernie era marinheiro. Ele era o comandante de grandes navios rebocadores durante a Segunda Guerra Mundial e tinha sempre histórias interessantes pra contar, algumas bem tristes, outras deixavam-na com um sorriso no rosto pelo resto do dia.

Hoje é aniversário de nove anos de Sara e ela se sentia triste por não ter o avô por perto.

— Deveria estar feliz por ele. – disse o seu pai – O vovô estava cansado de sua doença e agora ele está no céu, navegando nos oceanos lá de cima.

— Quer dizer no paraíso de Adão e Eva?

— É por aí. — seu pai respondeu com um sorriso.

— Se lá não tem nenhuma doença ou tristeza, essa lei deveria existir aqui na terra também, não é pai?

Carl sorriu respeitando sua inocência, mas nada respondeu. Observou com orgulho a sua filha que agora observava serena a sua própria festa, de repente sua expressão se iluminou como se acabasse de ter descoberto a cura do câncer.

— Tenho uma ideia. — ela admitiu num sussurro, como se fosse um segredo.

Então correu pelo parque até o vendedor de balões e comprou um com trinta centavos de suas economias. Era um balão escarlate preenchido com gás hélio e flutuava bem alto atrás dela.

Ao chegar em casa no final da tarde, ela ignorou o convite para abrir os presentes e foi para o seu quarto. Espalhou suas canetinhas de giz pelo chão e escreveu uma carta multicolorida.

— É para o vovô — respondeu quando fora questionada na manhã seguinte pelos seus pais — Já que ele não pode me visitar e você não me deixam vê-lo, vou mandar uma carta.

Seus pais não tiveram coragem de dizer não. E com lágrimas nos olhos assistiram o balão vermelho de Bernie subir e desaparecer entre as árvores do jardim e o céu azul claro.

Eles moravam em uma cidadezinha nublada, mas naquele dia não haviam muitas nuvens no céu. Como se estivesse aberto para receber as últimas palavras e agradecimentos de Sara ao seu avô.

♠ ♠ ♠

Há alguns quilômetros dali, um senhor chamado Aaron Pierce alimentava o seu gado quando avistou de longe um chamativo balão vermelho preso entre as ervas daninhas que esquecera de arrancar.

O senhor já havia servido ao seu país em algumas guerras e missões genocidas, por isso, vive atormentado por suas próprias lembranças. Ele hesitou, pensando que aquele borrão vermelho poderia ser uma bomba moderna. Depois, culpou-se por ser tão estúpido e se aproximou.

Encontrou a carta de Sara e a leu, aquelas palavras fizeram-no chorar e refletir suas decisões na vida por vários dias. Até que contratou um detetive particular para encontrar o endereço da menina que não morava muito distante dali e escreveu uma nova carta como resposta.

"Sara,

Vovô Bernie leu a sua carta, ele ficou emocionado com suas palavras e achou o máximo. Ele me pediu para te dizer que também sente saudades, mas que está muito feliz lá em cima e pede que você também seja muito feliz. Ele me disse que Whisky está em algum lugar só para cachorros perseguindo alguns esquilos, e também quer que você continue as aulas de dança, não se importe com o que as outras pensam de você. Elas não sabem o que dizem.

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Infelizmente, ele não pôde ficar com o seu balão. Onde ele está as pessoas não guardam nada material, apenas lembranças e sentimentos bons. Amor, Sara.

E lembre-se, sempre que se sentir sozinha ou com saudades, saiba que o vovô Bernie estará sempre com você. Torcendo por ti, como na sua primeira apresentação teatral da escola, ele não pôde ir, mas estava em casa te aplaudindo e lhe transmitindo ondas de energia, amor e tranquilidade. Pode senti-lo em seu coraçãozinho agora? É ele o tocando, dizendo o quanto fostes especial para ele.

P.S: O oceano no céu é infinito.

Aaron Pierce (também um vovô)"

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.