>>o Ponto de vista: Jessica
— Pronto. - Josh parou o carro em frente a casa do Richard com um sorriso no rosto.
— Obrigada pela carona.
— Foi um prazer. - e lá estava ele dando o sorriso à la Josh. Saí rapidamente do carro, antes que eu perdesse a cabeça por um momento, de novo.
Assim que abri a porta, vi minha mãe e Richard rindo no sofá com cara de apaixonados. Era uma cena bonita de se ver e por algum motivo me dava esperança.
— Ei, Jessica. - falou minha mãe com um sorriso.
— Olá.
— Você tinha dinheiro pro táxi? - perguntou Richard.
— Na verdade, o Josh me trouxe.
— Você estava com o Josh? - e da escada a voz do Will era um misto de surpresa com algo que não consegui identificar. Eu me permiti ficar sem graça, mas não olhei pra ele.
— Estava.
— Vocês ficaram juntos a tarde toda? - levantei a cabeça e o encarei. Will me olhava com raiva e recriminação o que me deixou com raiva.
— Que diferença isso faz? - a pergunta pegou ele de surpresa.
— Bom, não faz, mas ainda sim...
— Eu quero te lembrar que foi você que terminou comigo. - falei e ele desceu as escadas para ficar da minha altura.
— O que não te dá o direito de correr atrás do meu melhor amigo.
— Da próxima vez lembre-se disso antes de terminar o namoro com a pessoa que ama. - foi a vez dele de ficar sem graça.
— Vou me lembrar. - respirei fundo e arrisquei um olhar para minha mãe que encarava Richard com um rosto preocupado. Minha raiva foi embora tão rápido quanto veio.
— Vou tomar um banho, mas desço pra jantar.
Passei pelo Will sem olhar pra ele. Eu não queria ter falado com ele desse jeito, mas de alguma forma ver o ciúme estampado no rosto dele me fez ficar com raiva. Claro, era porque foi o Josh, mas mesmo assim, ele que tinha terminado comigo, droga.
Prendi o cabelo e liguei a música, eu precisava de um banho de banheira. Queria acalmar minha mente e relaxar sem toda essa história com o Will e o Josh rodando na minha cabeça. Antes que eu pudesse entrar, meu celular tocou.
— Alô?
— Oi, Jessie.
— Oi, Charlie. Como vai?
— Estou ótima. Amanhã é o primeiro jogo do Austin pela universidade e ele está uma pilha o que me deixa uma pilha, conclusão: estamos fazendo mais sexo do que é recomendável.— não pude deixar de rir.
— Isso é uma reclamação?
— Com certeza não. Como você está?
— Estou entrando na banheira. Me sinto tão cansada.
— De?
— Do Will, do Josh, da vida. - eu podia imaginá-la revirando os olhos.
— Sabe que eu não aguento seu drama, querida. Pra começar, o seu grande problema é escolher entre um gato de cabelos claros e olhos de cor indefinida ou um gato ruivo de olhos verdes. Sinceramente, Jessica, eu consigo pensar em um milhão de garotas que matariam para estar no seu lugar.
— Eu sei, é só que... eu beijei o Josh hoje.
— Você o quê?
— Pois é, foi sem querer. Quando eu percebi estávamos perto de mais um do outro e ele falou com aquela voz rouca, eu... perdi a cabeça por um momento.
— Sem querer? Ah, e como vocês chegaram tão perto um do outro? Ele abriu aquele sorriso de arrancar calcinha?— soltei uma risada alta sem conseguir me conter.
— Exatamente esse sorriso.
— Compreensível. Bom, e como foi?
— Incrível, simplesmente maravilhoso. O que não ajuda em nada.
— Ajudar não ajuda, mas faz um bem danado.
— Você está adorando me fazer rir hoje, né?
— Claro que sim, ninguém merece ficar triste.
— Com certeza. Eu só sei que agora eu vou dar um tempo pro meu coração se acostumar com a ideia de sossegar. Sabe?
— E essa ideia veio antes ou depois de beijar o Josh?
— Antes, mas agora estou determinada de verdade. É só que preciso de um tempo, entende?
— Claro que sim. Desde os 15 anos que o seu coração não tem um tempo de paz. Primeiro foi aquela paixão arrebatadora pelo Nathan, depois pelo Will e agora pelo Josh. Seu coração merece um tempo de calma.
— Você está certa. Eu vou acalmar meu coração e esperar. Não quero ter pressa pra nada e se por acaso eu não ficar com o Will...
— Você tem o Josh. - soltei outra risada.
— Não era isso que eu ia dizer. Eu ia dizer que se eu não ficasse com o Will só me restaria superar.
— Ah sim, também tem essa opção.
— Mas falar é mais fácil do que fazer. Eu queria tanto, mais tanto sair dessa banheira agora e entrar no quarto do Will arrancando a roupa dele.
— Eu entendo, querida. Perfeitamente compreensível com um homem daquele dormindo no final do corredor.— suspirei.
— Nós discutimos hoje quando eu cheguei.
— O que aconteceu?
— Ele soube que eu cheguei com o Josh e bom, deduziu que eu estava com ele e já teve milhõe de ideias...
— Tenta entender o lado dele...
— Mas foi ele que terminou comigo, Charlie.
— Porque você não o amava.
— Odeio quando está certa.
— Devia estar acostumada. Agora outra verdade. Você tem que conversar com ele.
— Conversar?
— Sim, conversar. O clima dentro da sua casa deve estar horrível e os pais de vocês vão se casar, ou seja, querida a coisa está mais séria que antes. Toma uma atitude, se não por você, pela sua mãe.
— Ah, por que você não para de falar verdades na minha cara.
— Sinto muito, estou incontrolável.
— Tudo bem... Eu vou relaxar mais um pouquinho e depois converso com ele. Okay?
— Ótimo. Amanhã eu te ligo pra saber como foi.
— Sim, e contar sobre o jogo do Austin.
— Pode deixar. Estou com saudades e amo você.
— Também e também.
— Adiós.
— Adiós.
Odiava quando a Charlotte estava certa, mas eu precisava conversar com o Will. A minha mãe merecia isso e Richard também, ele sempre foi tão legal comigo e seria idiotice da minha parte acabar com a felicidade deles.
Contrariando meu bom senso, saí da banheira e fui me vestir. Tinha que conversar com o Will antes de perder a coragem. Bati na porta do seu quarto, mas ele não estava lá. Enquanto decidia se esperava ou não ele apareceu no corredor com um pote de sorvete na mão.
— Oi. - falou meio sem graça, eu também estava.
— Oi.
— Estava me procurando?
— Estava. Queria conversar.
— Claro. Sorvete? - sorri.
— Com prazer.
— Bom, eu só peguei uma colher, se quiser ir lá embaixo pegar outra. - abri meu melhor sorriso irônico.
— Dividirei a colher com você, mas não se anime porque não gosto de trocar saliva com estranhos. - a risada que ele soltou me fez lembrar dos velhos tempos (que eram bem recentes).
— Entra aí.
Levei um choque quando entrei, o quarto do Will sempre foi irritantemente organizado e agora tudo estava uma zona. A cama estava desarrumada, tinha roupa jogada na poltrona, os jogos do video game estavam espalhados pelo chão, parecia até um quarto de um típico adolescente.
— O que aconteceu aqui? - perguntei e ele ficou um pouco vermelho.
— Eu não... é... eu não me preocupei muito de arrumar. - fiquei muito sem graça por ter perguntado e o clima no quarto ficou estranho, o que me irritou.
— Isso tem que parar. - falei.
— O que?
— Esse constrangimento, esse climão. Sei que as coisas não estão fáceis, acredite pra mim também não, mas nossos pais não merecem isso.
— Eu sei. Não é de propósito.
— Claro que não, é que... bom, terminamos tem apenas um dia. - essa frase ficou no ar. Um dia. Já tinha se passado um dia.
— Quer me ajudar a arrumar? - sorri.
— Com certeza.
Ele apoiou o sorvete na mesa (provavelmente, ele iria derreter) e começamos a arrumar o quarto. Comecei pela cama, ajeitei os lençóis e ele jogou fora todo o lixo que estava espalhado. Enquanto ele guardava as roupas jogadas pelo chão e pela poltrona, arrumei os jogos de video game na estante. Assim que terminamos peguei o sorvete e sentei na sua cama, encostando as costas na cabeceira e ele me seguiu.
— Acho que fizemos um bom trabalho. - falou.
— Concordo, até consigo achar seu quarto antigo agora.
— Obrigado.
— Não por isso. - foram apenas alguns segundos de silêncio, mas pareceram horas.
— Jessica, eu sei que não tenho o direito, mas o que você estava fazendo com o Josh? - respirei fundo.
— Bom, eu saí com a minha mãe para ver o vestido de noiva e depois me encontrei com o Josh numa cafeteria. Eu queria conversar com ele e deixar as coisas bem claras.
— Que coisas? - me virei para olhá-lo nos olhos.
— Will, o que quer saber exatamente?
— Vocês se beijaram? - pensei em mentir, pensei mesmo, mas não ia adiantar nada.
— Sim. - ele não falou nada, apenas pegou uma colher enorme de sorvete e me deu para que eu fizesse o mesmo.
— Obrigado por falar a verdade.
— Creio que era inútil mentir.
— Vocês vão... hum...
— O que? Namorar?
— Não, eu quis dizer... - ele parecia que ia engasgar e então eu entendi.
— Você sabe que eu não faria sexo com ele. Não sou assim.
— Mas você escolheu ele? - respirei fundo e o fiz olhar pra mim.
— Não estou escolhendo ninguém. Nem você, nem o Josh, pela primeira vez desde muito tempo estou escolhendo a Jessica.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que eu vou dar um tempo pro meu coração saber como é não gostar de alguém. Ele precisa respirar e eu também.
— Isso quer dizer que não gosta mais de mim?
— Não, Will. Quer dizer que eu gosto de mais pra conseguir pensar e gosto de mais do Josh para ser irracional, o que significa que eu preciso de um tempo de vocês dois.
Mais uma vez, Will não respondeu, apenas pegou uma colher de sorvete. Ficamos muito tempo assim, comendo sorvete e olhando para a parede de vidro do seu quarto.
— Desculpa se eu me irritei com você quando chegou é que eu estava tomado pelo ciúme.
— Tudo bem, eu entendo. - ele abriu um sorriso.
— E por acaso, você poderia me explicar o que somos um para o outro agora?
— Como assim?
— Bom, você é minha ex-namorada? Minha irmã? Minha amiga?
— Sou a Jessica Lowe. E você é William Corrigan.
— Certos, estranhos então... - por algum motivo isso me fez rir muito. Ficamos bastante tempo assim, tendo crises de riso, rindo igual dois idiotas.
— Você acha que isso vai dar certo? - perguntei depois que nos acalmamos e ele deu de ombros.
— Nós, assim?
— Isso.
— Espero que sim. Acho que meu pai e sua mãe merecem isso, sabe? Ainda mais agora que vão casar.
— Pois é, concordo. Hoje quando fomos escolher o vestido de noiva ela estava tão radiante. Fazia tempo que eu não a via assim.
— Meu pai estava no telefone resolvendo as coisas da lua de mel e parecia uma criança esperando o Natal.
— Acho que eles merecessem ser felizes, já sofreram muito para uma vida inteira.
— Nem me fale.
— Ainda lembro do choro da minha mãe toda noite antes de dormir. - me virei para olhar para o Will que me encarava com compreensão.
— Quando minha mãe morreu, meu pai cozinhava o tempo todo. Ele fazia milhões de doces e tortas, tudo porque acho que de alguma forma o fazia se sentir mais perto da minha mãe.
— Ela cozinhava? - ele sorriu.
— Na verdade não. Meu pai sempre cozinhou pra ela, acho que foi por isso que ele ficou na cozinha. Era pra ela.
— Como você estava?
— Quando minha mãe morreu? - assenti. - Me tranquei no quarto.
— Por quanto tempo?
— Uma semana. Ficava o tempo todo sentado aqui sem fazer nada, apenas esperando o tempo passar, ou não sei talvez eu tivesse esperança de que fosse mentira.
— Sei como é. Depois que meu pai morreu, eu ia todo dia na porta de casa no horário que ele chegava do trabalho. Comecei a assistir todos os programas que ele assistia pra contar pra ele depois o que tinha acontecido, foi doentio.
— Não é doença, é esperança.
Eu estava chorando bastante, mais do que eu gostaria, só que era um alívio chorar pelo meu pai com saudade e não com tristeza. Will colocou o sorvete na mesa de cabeceira e me abraçou.
— Mesmo depois de tudo, Jessie, ainda secarei suas lágrimas. - isso só me fez agarrar mais a sua camisa. Nós deitamos na cama ainda abraçados e ficamos assim por um tempo, só se ouvia meus soluços e a batida do seu coração.
— Obrigada por ser o William Corrigan.
— Obrigado você, por ser a Jessica Lowe.

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