Linhas Vermelhas

Capítulo 6


Acordei cansado, vi pela janela que era cedo e que ainda estava meio escuro lá fora; nenhum movimento na rua.

— Caralho, nem dormir eu consigo mais? — Reclamei, choramingando.

Antes de você vir dizer " Poxa, palavrão já na hora que acorda? E ainda choraminga? Tem motivo para isso? "

Sim! Eu tenho motivos para estar reclamando! Eu levei um puta ponta pé! A minha querida linda perfeita ex namorada ligou para mim e, sem mais nada, terminou comigo.

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A princípio achei que era zuera. Vi uma sem noção fazendo isso com o namorado e gravando para postar na Internet. Vai que, sei lá por que, ela viu o mesmo vídeo e achou engraçado, depois decidiu me sacanear legal só porque sabe que o trouxa aqui iria voltar numa boa.
Acreditando nisso liguei para ela e tentei conferir. Mas olha que mágico! Ela não atendeu. Fiquei insistindo algum tempo, depois liguei para a casa dela, um tanto mais desesperado.

"Dá pra parar? Já deu. Eu to de saco cheio do nosso namoro e não quero mais saber de você!"

Foi o que ela disse quando finalmente atendeu.

Cocei meu olho. Já tinha passado várias horas do ocorrido e mesmo assim eu chorava como um bebê. Poxa, nós dois namorávamos a 4 meses, porém eu já gostava dela fazia tempão.
Entrei na academia só para ficar mais bonito e ter coragem de chama-la para sair. Para quê? Para ela me destruir? Vir na minha cara e dizer que está de saco cheio de mim?
Pior! Nem foi na cara, foi por telefone!

Levantei, pois da forma que estava não tinha como dormir. Fui até a cozinha atrás do sorvete que havia comprado e estava quase acabando. Era tão triste ele estar quase acabando... Nem o sorvete tinha pena de mim?

Olhei o celular, já contavam cinco horas e alguns minutos da manhã e o desgraçado do Bruno nem tinha visualizado. Aquele viado ia me pagar! Na próxima vez que ele viesse choramingando que o gato dele tinha estragado a camisa da Capitão América eu só diria: Há Há.

Procurei mais alguma coisa doce, pois eu ia me acabar nas drogas pesadas naquela manhã! Achei um leite condensado e o abri, peguei uma colher de sopa e a enfiei com vontade naquela coisa cheia de calorias que evitava a um bom tempo. E comi, comi leite condensado de colher (várias mulheres morrendo de inveja agora). Ora, eu andava me cuidando, indo para a academia e tudo mais e do que aquilo tinha adiantado? Nada!

Agora os doces que me aguardem!

Olhei o celular de novo, nada de Bruno, porém a Bia continuava online. Como sempre...

Aquilo sempre foi uma incógnita, afinal se ela estava sempre online, quando dormia? Ou será que deixava o celular com o Whats aberto só para fingir que estava ali, onisciente, dando medo nos pobres mortais?

Resolvi testar a teoria e mandar oi.

A resposta não tardou.

"Oi

Não consegue dormir?

Consigo. Só não posso :v

Ué. Pq?

To editando vídeo p amanhã.

Err... Hoje

E vc?

Remoendo as mágoas, devorando uma lata de leite condensado... Essas coisas :v

Tas acordado até agora? Tu geralmente dorme cedo o-o

Dormi uns minutos, mas n rolou muito

Tas bem?

Não muito

Conseguiu falar com o Bruno?

Nem :v Aquele viado me abandonou...

Quer vir aqui?

Quero -, -

Então vem... Mas não fala comigo até eu terminar de editar o vídeo!

Podexa!”

O desespero era muito grande mesmo para eu, Vitor Fernandes da Silva, sair de casa antes das 6h da manhã.

Rabisquei num papel um "Fui na Bia" e coloquei na porta da geladeira, com um imã de galinha que tinha ali. Troquei a camiseta amassada e lavei o rosto, depois sai e fui até a casa da Beatriz. Ou melhor, atravessei a rua.

O bom de ter amigos de longa data é que geralmente eles moram tudo perto.
Conhecia Bruno e Beatriz desde pequeno, dos tempos onde as crianças iam tudo para rua jogar bola e não sabiam o que era jogar online.

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Ela já estava no portão me esperando. Mostrei a lata de leite condensado e ganhei passagem pelo portão. E sim, eu tinha 60% de certeza que ela só tinha me convidado para comer o doce.

— Lembra do trato né? Sem nem uma palavra até eu terminar de editar o vídeo. — Disse, abrindo a porta da sala.

— E vai demorar muito?

— Shiiiiu! O que eu falei? Sem nenhuma palavra! — Já veio no jeitinho Beatriz de ser. — E não, acho que finalmente to terminando. Vai variar de meia hora a umas duas... por aí.

Perguntei "Tudo isso?" Em linguagem de sinais. Finalmente aquela aula extra da facul parecia útil.

Bem, seria útil se a outra parte também tivesse feito a tal aula e não apenas me olhasse com cara de retardada. Então, no final, valeu de nada.

— Tá. Vou na cozinha terminar isso aqui. — Levantei a lata.

— Deixa um pouquinho para mim!

Dei de ombros e fui.