Linhas Vermelhas
Prólogo
Como toda criança de dez anos em um parque de diversão, Bruno corria de um lado ao outro, de brinquedo à brinquedo, deixando seus pais sempre alguns passos atrás. Sua irmã Jéssica, dois anos mais velha, tentava parecer uma “mocinha” e evitava desatinar em correria, mesmo assim vez ou outra lhe escapavam os modos.
O pequeno estava agora encantado com o carrinho bate-bate, não aguentando esperar as outras crianças terem seu instante.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Vamos, saiam! Saiam! — Insistia que todos parassem e passassem a vez.
— Jéssica! — Exasperou. — Corre! Já vai ser a gente!
— Se acalma. — Respondeu sem alterar o passo. Não queria fazer feio, usava pela primeira vez um salto plataforma e queria impressionar quem estivesse olhando.
O garoto estava impaciente, tinha passado as férias toda esperando ir ao parque. Queria experimentar todos os brinquedos, mas o tempo parecia correr por causa das outras centenas de crianças que também esperaram ansiosamente ir ao parque e lógico, brincar em todos os brinquedos.
Quando o moço fez sinal para quem estive brincando saísse Jéssica já encontrava-se na fila, um pouco atrás do irmão, fazendo com que os dois fossem na mesma vez. Chance perfeita para Bruno bater muito no carrinho da irmã, fazendo-a perder a calma e tentar revidar de maneira atrapalhada. Foram vários CLAC, PUFF, BOOM até que Jéssica foi empurrada, batendo a parte de trás do carrinho em outra pessoa. Tal pessoa entrou na brincadeira e os três continuaram se trombando até que o tempo acabou.
Saindo do brinquedo o menor olhava a irmã com graça, segurando fortemente o riso.
— O que foi?
— Nada. — Respondeu Bruno, rindo no final como se lembrasse de uma boa piada.
— O que foi? É o meu cabelo? Ele tá zuado, é isso? — Bruno nada respondeu, apenas ria ao olhar a irmã.
— Fala moleque! Quer perder os dentes? — Ameaçou, puxando-o pelo braço e deixando toda a educação de lado.
Logo atrás dela apareceu o terceiro integrante do trio bate-bate, meio envergonhando por começar uma conversa enquanto os dois brigavam.
— Er, oi? — Disse.
Jéssica sentiu um arrepio percorrer seu corpo, “De todos os momentos para um menino vir falar comigo, por que esse Deus?”, largou o irmão e virou com um belo sorriso como se nada tivesse acontecido.
— Oi... — Puxou os cabelos para detrás da orelha. Já havia reparado no menino antes, parecia uns dois anos mais velho que ela e era lindo, simplesmente lindo. Olhos verdes enormes, com cílios que dariam inveja a qualquer menina, era mais alto do que a mesma e o cabelo grande na última moda. Jéssica estava derretida, mal acreditava que o garoto veio falar com ela mesmo a vendo brincar naquele brinquedo de criança.
— Será que eu posso andar com vocês? Eu vim só com os meus pais e brincar sozinho é um saco.
— Ah, claro! — Disse, animada com a possibilidade de ficar próxima a um garoto mais velho bonito que não fosse da família.
— Então, vocês já foram na montanha russa?
Bruno respondeu animado que ainda não havia ido, Jéssica sentiu medo só de pensar em ir, mas se conteve para não afastar o garoto. Depois ocorreu uma sucessão de ida a brinquedos que faziam Jéssica arrepiar, até chegarem na casa assombrada.
— Não, nesse eu vou ter que deixar vocês irem sozinhos. Não rola. — Falou decidida a esperar em frente ao local, sentada em um banquinho.
— Vamos, vai ser legal! — Respondeu Bruno puxando a roupa da irmã.
— Não mesmo, de jeito nenhum! — Disse colando sua bunda ao banco.
O garoto mais velho acabou resolvendo o problema, sugeriu ao menos comprar um sorvete, dando seu próprio dinheiro para acalmar a situação. Depois sentou ao lado da garota, perguntando se estava tudo bem.
— Sim, é só que eu não curto essas coisas apavorantes.
— Sem problemas. — Sorriu, mas logo ficou um tanto envergonhado. — Hum, eu tava meio curioso... Bom, qual é o seu nome?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Ah, é Jéssica! Desculpa, esqueci de me apresentar.
— Bom, eu também esqueci. – Riu.
— E você? Como se chama?
— Filippe, prazer.
A conversa continuou até que Bruno chegasse rindo, e falasse sem pensar duas vezes:
— Tão namorando, tão namorando.
Os dois ficaram roxos de vergonha e Jéssica deu um pito no irmão que correu atrás dos pais que estavam sentados um pouco mais à frente. Eles tinham a intenção de deixar seus filhos bem à vontade, porém observavam tudo a uma distância segura.
— O que foi menino? — Dona Martha perguntou.
— A Jéssica vai namorar aquele garoto! — Apontou.
— Jéssica o que? — Olhou assustada.
— Vai namorar mãe! Eles tem aquela linha que junta!
— Que linha Bruno?
— Aquela mãe! Essa que você tem! — Apontou para a mão da mãe. — Mas a dela vai até a mão do garoto! É diferente!
— Ai Deus, você vai voltar a falar dessa linha? Eu já não disse que é feio mentir? — Disse Enzo irritado, já estava cansado das besteiras do filho.
— Não seja assim amor, ele é apenas uma criança.
— De dez anos e continua fantasiando essas coisas. Você que fica mimando demais, por isso não toma jeito.
Bruno não gostava que o pai falasse assim com ele e logo teve que segurar o choro.
— Mas... eu... vi...
— O querido, não fica assim. — Abraçou o pequeno e depois lançou um olhar de reprovação para o marido. — Vai lá brincar, tá? Daqui a pouco a gente vai para casa e você não vai ter conseguido ir em todos os brinquedos.
Bruno passou a mão em seus olhos e dispersou as poucas lágrimas. Odiava que os pais não acreditassem nele. “ Eram cegos? Estava tão clara a linha! Como não viam? ”
Depois correu, precisava ser rápido, afinal de jeito nenhum ele ia embora sem ir em todos os brinquedos.
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