Guerra dos Lobos

Capítulo 18


Perdi a noção do tempo encarando o casal a minha frente. Uma confusão de sentimentos percorriam meus pensamentos. De alguma forma o Dedo-da-guardiã tinha me levado ao passado, mas eu me sentia leve, como em um sonho. Eu só não entendia o porquê dele está me levando pra esse exato momento, eu já sabia que meus pais estavam apaixonados, certo?

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— O inverno do Sul é bonito – fala a princesa e futura rainha Léia.

— Mas nada se compara a primavera – o jovem príncipe fala, seus olhos ficam reflexivos – Podemos casar nela, o reino fica completamente colorido com as flores – ele completa.

— Você precisa desistir dessa ideia, Ken – Léia, minha mãe, fala com um sorriso desacreditado – Lucius nunca deixaria nós casarmos...

— Eu posso convencer ele! – meu pai falou convencido. A princesa gargalha.

— Lucius não lhe escutaria – ela rebate – Desde que meu pai morreu e ele se tornou Rei, ele só pensa em aumentar seu poder para que seu reinado nunca seja esquecido – ela fala com um pouco de ressentimento – Sinto saudades do meu pai,

— Sinto muito – meu pai fala, ele passa os dedos gentilmente sobre o seu rosto – Não deixarei que nada nos separe, Léia, não deixarei – a princesa o abraça com força e algo muda dentro de mim...

As imagens começam a tremer ao meu redor, sinto algo me arrastar e tudo se torna escuro, outra cena surge na minha frente.

Estou em local aberto, é um jardim, o céu está aberto e a Princesa Léia está sentada na grama. Não estamos no Sul. Uma mulher em um vestido completamente negro e elegante se aproxima.

— Eu falei com Lucius – a mulher fala, seu rosto é sério e nada simpático. Léia ergue o olhar para a mulher e nota-se que ela não é mais aquela garota na sacada, agora ela é uma mulher linda, quantos anos haviam se passado?

— O que ele decidiu? – ela pergunta, percebo que seu rosto é inseguro, parece que mulher lhe impõe medo .

— Ela concordou, mas pra ele se trata apenas de uma forma em que ele irá ampliar seu poder.

— Eu não quero casar com Ken por interesse! – Léia rebate chateada.

— Então não se casará com ele...

— Isso não é justo! Porque eu tenho que ...

— Não comece com a suas teimosias – a mulher fala de forma ríspida – Esse é o acordo, se não concorda, não casará – Léia esmorece, sinto pena dela – Você é minha única filha mulher, espero que não me decepcione! – a mulher fala quase de forma assassina.

Era certo sentir pena dela? Que tipo de mãe é tão dura com a filha? Lucius fez ela se casar já esperando sua traição no futuro? Essas visões deveriam me fazer entender o passado, mas só estavam me deixando mais confusa.

Sou transportada mais uma vez, agora estou em quarto enorme, uma lareira esbanja calor e ilumina o cômodo.

A rainha Léia balança calmamente um bebê nos braços, não ouso dá um passo para frente, sei muito bem quem é aquele bebê.

— Logo nós seremos muito feliz – a rainha murmurou com um sorriso – Eu e você cuidaremos de tudo! Vamos provar do que somos capazes – seu sorriso ainda é o mesmo, mas há algo diferente no seu olhar, há uma certa ganância – Eu e você ...

— Nós! – fala o Rei surgindo inesperadamente no cômodo, o olhar da Rainha muda para um olhar sério, ele sorri e pega a bebê nos braços, aparentemente ele não escutou nada que ela falou.

— Ela está cada vez mais linda – o rei fala, a bebê dá uma gargalhada espontânea, isso só faz a cara feia da Rainha aumentar – Sentimos sua falta na reunião hoje.

— Eu preferi ficar aqui com Aika – ela rebate. O rei continua a brincar com a bebê com um enorme sorriso no rosto, meu coração se enche de ternura, meu pai me ama! Passa-se um longo momento até que o Rei volte a falar.

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— Naila cuidará de Aika agora...

— Não há necessidade disso – a rainha falou exasperada, ela me arranca dos braços do meu pai e me coloca no berço.

— Será apenas quando você precisar participar de reuniões e eventos, não preciso dizer que você tem obrigação como Rainha.

— Eu sei das minhas obrigações, Ken! – ela fala sem paciência, o berço balança calmamente, mas é possível ver a tensão entre os dois. O que aconteceu com o casal de jovens apaixonados? O rei se aproxima dela e coloca as mãos sobre os seus ombros.

— Eu não quero lhe causar estresse, Léia, mas nós precisamos cuidar da Aika e do reino, somos Rei e Rainha agora. Naila é a única pessoa que confio para isso e acredito que você também – a rainha suspira e coloca o rosto sobre o peito do rei.

— Desculpa, eu entendo que tenho as minhas obrigações, eu só amo Aika demais e não gosto de me afastar dela... Mas por você, deixarei Naila cuidar dela, quando precisar participar de algo– o rei abre um sorriso.

— Obrigada – ele beija a testa da rainha – Podemos jantar juntos?

— Claro – ela responde com um sorriso – Colocarei Aika para dormir e depois lhe encontro na sala de jantar – o rei assenti feliz e se abaixou para beijar o bebê no berço, Léia fica mais uma vez sozinha com o bebê – Seu pai é uma boa pessoa, Aika – ela fala – Mas eu escolhi você...

Meu coração dói, como assim ela me escolheu? Ela precisava escolher entre nós? Por que ela não escolheu nós dois e não nos traiu? O que passava na cabeça dela?

Sou transportada mais uma vez, agora estou em sala de reuniões muito parecido com a Toca. Só que mais espaçoso, a mesa no centro está entulhada de papéis, meu pai está sentado na mesa, ele ler um dos papéis com bastante atenção, agora ele está mais velho, não é mais um jovem príncipe.

Uma pessoa entra na sala, é Nana! Ela está vestindo um vestido verde, o que é estranho pra mim, mas seu rosto é o mesmo, ela sempre foi linda! Ando em sua direção e a chamo:

— Nana! – ela passa por mim sem nem notar minha presença, é claro! Ela não podia me ver! Abraço meus braços tentando me consolar. Nana senta relaxadamente em uma das cadeiras próximas a do Rei Ken, o rei levanta os olhos para encará-la mas logo volta aos papéis.

— Onde estão os nossos pais? Não os vejo há dias – ele pergunta. Nana brinca com os dedos, mas não responde a pergunta.

— Com o que você anda tão preocupado? – ela pergunta.

— Eu não estou preocupado! – ele rebate.

— Por favor, Ken — ela fala sem paciência — O que tem de errado no Reino? — o rei suspira meio sem paciência e deixa os papéis de lado.

— Estou notando números diferentes nas nossas contagens, elas raramente batem — ele fala — É como se alguém estivesse embaralhando propositadamente.

— Você sabe o porquê disso — Nana fala calmamente.

— Os homens do Oeste não tem nada a ver com isso!.

— Como não? — Nana pergunta incrédula — Existem mais soldados do Oeste em Lúpus do que cidadãos do Sul! — o rei bufa mais uma vez.

— Ela pediu que eles viessem — ele diz por fim — Ela diz que nossa filha precisa ter contato com as duas culturas — seu rosto está sério, aparenta está preocupado com algo.

— Você sabe que algo está acontecendo... — Nana fala em tom de alerta.

— O que eu posso fazer, Naila?! — o Rei explode. Nana se levanta e começa a sair do cômodo, mas antes de fechar a porta fala:

— Nos salvar... — As imagens começam a tremeluzir ao meu redor e a última imagem que vejo é meu pai com uma cara de derrota olhando por uma janela.

Tudo foi premeditado, os soldados só estavam esperando o momento da traição para nos render, nós éramos presas esperando o momento da armadilha. A Rainha tinha planejado tudo? Ou Lucius? Todo o ódio que me preenchia não ardia tanto agora...

Uma nova imagem surge na minha frente, era o meu quarto, olho em direção ao berço e me vejo sentada, não sou mais uma recém-nascida, sou uma criança com enormes olhos claros analisando o cômodo. A porta explode com a entrada de três pessoas, é meu pai acompanhado de Nana e Kedon.

— Temos que aproveitar o momento, Ken! – Nana fala séria.

— Isso não pode ser verdade! – Meu pai fala com o rosto triste.

— Você sabe que é Ken! Você notou que ela está diferente! Ela não a mesma pessoa com quem você casou... – os três ficam em silêncio, meu pai me encara no berço. Pergunto-me onde está Léia.

— Você tem certeza dessa informação, Kedon? – meu pai pergunta.

— Sim Senhor, segundo a nossa frota marítima, muitos navios estão vindo parar o nosso reino, todos do Oeste, provavelmente lotados de soldados- responde Kedon. Meu pai encara a criança no berço e reflete por um longo momento.

— Eles não devem nos atacar agora, ela vai garantir primeiro a segurança da Aika – ele reflete – Tragam Thiberius e os conselheiros aqui, precisamos pensar em uma ofensiva antes que eles estejam em maior número.

— Já tem muitos soldados do Oeste em nosso reino – Nana comentou pensativa – Você acha que iremos conseguir reagir?

— Tentaremos – o rei responde. Nana e Kedon saem do quarto e o rei completa – ou morreremos tentando – esse não era o plano... Não era isso que tinha me levado até ali, caso eles atacassem, o que aconteceria comigo? Ou com Nana?

— Todos irão morrer – falou em voz alta, o rei que até agora encarava a criança no berço, vira bruscamente em minha direção.

— Quem é você?! – ele pergunta. Meu corpo estremece, ele estava me vendo?!

— Eu-eu – gaguejo, eu não podia contar quem sou eu, isso o assustaria.

— LÉIA MANDOU VOCÊ ME ESPIONAR?! – Ele explode.

— Não! Eu não sou do Oeste! – falo nervosa – Eu fui enviada por Khosmos! – falo, o que não era mentira...

— Khosmos?! Ele enviou você?! – ele perguntou desconfiado.

— Sim, ele tem uma mensagem pra você! – falo sem pensar. Ele se acalma, mas me encara desconfiado – Olha para o meu rosto? Com quem eu pareço? Eu sou genuinamente do Sul! – falo com firmeza – Eu não trairia meu povo!

— Você realmente parece do sul – ele fala consentindo, graças a Khosmos ele não enxergava a semelhança nas nossas fisionomias – E também você não parece desse mundo – ele indica minha roupa. Só agora noto que estou vestindo um vestido completamente branco, muito parecido com o da Guardiã – O que Khosmos precisa me dizer? Porque ele não me contou dessa maldita traição!

— Você não pode planejar uma ofensiva – começo a falar – Isso colocará em risco sua vida e de todos os seus companheiros – ele continua em silêncio, encarando a criança – E no fim, Aika seria criada por ela! Deixando o Sul sem qualquer esperança...

— Não posso deixá-la tomar Aika de mim – ele fala com raiva – Nem meu reino!

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— Entendo sua raiva – falo com uma pontada de ironia, eu não estava agindo assim o tempo todo? – Mas você tem que manter a esperança do povo.

— Como? Se eu não lutar, quem lutará? – ele pergunta. Olho para mim, uma criança tão inocente, não sabia o que a aguardava.

— Ela – respondo, ele me olha descrente – Em alguns anos, ela salvará seu reino das garras do Oeste, ela será a esperança do seu povo!

— Não posso jogar esse fardo em minha filha – ele fala – Ela não merece pagar pelos meus erros...

— Ela não merece, mas ela fará isso por você e pelo reino – falo encarando a criança – Você sabe quem cuidará bem dela e quem a transformará em uma boa pessoa – digo com um sorriso – Ela pode parecer indefesa agora, mas logo será uma guerreira do Sul, Khosmos fará o sangue do lobo despertar nela – o encaro, ele parece maravilhado com as minhas palavras, mas ainda indeciso.

— Não sei se consigo – ele fala derrotado.

— Você precisa confiar nela – digo confiante – E também em mim – seu rosto se mantém neutro, ele pega a criança-Aika e a encara. Depois de um longo momento em silêncio, ele fala:

— Eu confiarei em você, Aika – ele beija gentilmente o rosto da criança e lágrimas escorrem dos seus olhos. Sinto algo mudar em mim, era como um sopro apagando uma vela, todo o meu ódio foi apagado e substituído por algo bom. Aquele gesto era o suficiente para eu enfrentar quantas guerras fossem necessárias – E em você... – ele olha ao redor a minha procura, não me enxergava mais– guardiã?

Ele pensa que sou uma guardiã? Se ele soubesse quem eu realmente era e como eu estava grata por ter participado desse momento.

— Está chamando alguém? – Nana perguntou entrando no cômodo, seguida de Kedon, Thiberius e mais uma dúzia de pessoas. Ele entrega a criança para ela e limpa as lagrimas no rosto.

— Vamos mudar os nossos planos – o rei fala, a sala toda fica em silêncio – Khosmos me concedeu uma visão, nossa meta agora é manter nossa esperança viva e nossa esperança é Aika – todos olham para a criança nos braços de Nana. Tudo que consigo fazer é sussurrar um “obrigado” entre as lágrimas.