Guerra dos Lobos

Capítulo 14


Já fazia 12 dias que treinávamos sem parar, apesar de Kedon sempre ter algo pra me mostrar ou alguém que eu precisava conhecer, consegui estabelecer um bom ritmo no treinamento. Todos os dias eu acordava com o raiar do sol, pra fazer uma caminhada com Zandor, depois ia para o treinamento e sofria nas mãos de Karol. Com poucos dias de treinamento eu peguei o jeito com a espada, em apenas uma semana eu consegui derrubar Karol, o que a deixou orgulhosa, apesar dela disfarçar bem isso.

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Luke era minha terceira sombra, ao lado de Zandor, eu sentia que podia confiar tudo pra ele. Na hora do jantar, eu e Kaio sempre conversávamos assuntos corriqueiros, mas o amontado de pessoas ao nosso redor sempre nos atrapalhava, o que me deixa um pouco chateada. Kedon me mantinha informada sobre tudo: o numero de soldados, como estava nossa artilharia, as plantações e assim por diante. Eu não sabia muito bem o que fazer com essas informações, mas sempre demonstrei todo o interesse possível. Todos os dias, Dinah tentava me enfiar dentro de um vestido, quando ela enfim desistia, eu era obrigada a aguentar ela me mimar de outras formas, depois de uma semana nós já estávamos acostumadas uma com a outra. Até agora não tínhamos recebido nenhuma notícia de Nana, meu coração ardia todos os dias, de saudade e ódio.

Não contei pra ninguém sobre o meu encontro com a Guardiã, duvido que acreditassem em mim, carregava o Dedo-da-Guardiã sempre comigo, para não correr o risco de alguém encontrar. Era o meu decimo terceiro dia de treinamento, Luke tentava lutar comigo de forma desengonçada.

— O que você está fazendo aqui? Seu lugar é no arco e flecha – falei.

— Eu já sei tudo sobre arco e flecha, acaba ficando chato – ele respondeu, Luke me rodeava atrás de uma abertura, ele tentou me atacar pela direita, rapidamente me defendi e fiz um movimento fazendo com que sua espada caísse – Eu estou treinando há anos, você chega aqui com uma semana já aprendeu tudo, isso é frustrante!

— Nana me treinou a vida toda – retorqui – aprendi a caçar com 12 anos, você esperava o que? – dei de ombros.

— Você não nega o sangue que tem, Aika – ele falou com um sorriso.

— E você é ridículo segurando essa espada – retorqui. Ele revirou os olhos e me atacou mais uma vez.

— Assim fica muito fácil pra você, Princesa Aika – Karol falou subitamente ao meu lado – Você precisa enfrentar alguém que saiba ao menos segurar uma espada – ela falou insatisfeita.

— Eu gostaria de lutar com ela – uma voz falou atrás de Karol, era um garoto, talvez não muito mais velho que eu, mas uma barba rala banhava seu rosto. Eu já tinha o visto algumas vezes na aldeia, ele sempre estava me observando, isso não me incomodava, em relação a mim as pessoas sempre eram curiosas.

— Você me assustou, Max – Karol falou, ele deu um sorriso fraco - Você será um bom desafio para, Aika – Max me encarou com expectativa.

— Por mim, tudo bem – seria bom enfrentar alguém novo e se eu perdesse, não tinha problema, eu estava ali para aprender. Max se animou, ele pegou a espada de Luke e me encarou. Karol deu as costas e saiu, sem nenhum comentário, já Luke me olhou apreensivo, eu dei de ombros e sussurrei um ‘o que foi?’.

— Eu estarei aqui, ao lado de Zandor – ele falou em um tom de voz alto. Max pareceu nem escutar, ele apenas ficou me encarando segurando a espada em uma posição relaxada. Fiquei na posição defensiva, esperando seu ataque, ele veio na minha direção e deferiu um ataque mais forte do que eu esperava, coloquei todas as minhas forças na minha espada pra não cair. Seus olhos encontraram os meus e o que vi foi um olhar de completa fúria.

— Deve ser muito bom ser a princesa de um reino – ele sussurrou – Não ter o que se preocupar como viver, se vai ter o que comer – ele cuspiu essas palavras na minha cara. Ele carregava ódio por mim? Ele deu um passo pra trás e desferiu outro golpe em mim, só que por baixo, fui mais rápida e escapei cambaleando para trás. Ele repetiu inúmeros ataques e eu consegui escapar de todos, eu podia sentir a sua fúria crescendo a cada defesa minha.

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O numero de pessoas aumentou ao nosso redor, todos estavam curiosos. Até que finalmente, eu consegui alcançar uma abertura e contra atacar, ele segurou meu golpe com um olhar de fúria.

— Espero não estar atrapalhando sua vida perfeita – ele resmungou, eu não podia julga-lo, eu carregava um ódio semelhante ao dele — Você é a IMPONENTE Princesa Aika, não é? – Zandor surgiu perto de nós, ele grunhia para Max, sentia que algo estava errado ali, sussurrei um “quieto” pra que ele não se envolvesse.

Eu o compreendia, ele pensava que por ser princesa, eu havia sido mimada a vida inteira, enquanto os demais sofriam; talvez eu merecesse todo esse ódio, apesar de não ter tido uma vida fácil, eu não deixava de ser prioridade na vida de todos naquela aldeia. Alguém da multidão disse “Já chega”, mas Max ignorou, continuou me atacando sem reservas. Infelizmente me desequilibrei, o que lhe deu uma ótima abertura, sua espada arrastou na minha testa.

Prendi os lábios entre os dentes pra não gemer de dor com o golpe, senti o sangue jorrando sobre o meu rosto, isso foi o suficiente para eu cair e perder noção da luta. Minha espada foi parar longe, eu estava completamente indefesa. Max se aproximou de mim com um olhar de deboche, ele finalmente tinha me vencido, mas pra minha surpresa a luta não tinha acabado pra ele, ele levantou a espada para o ultimo golpe, eu podia girar para o lado pra fugir, mas não consegui, aquele olhar de fúria me venceu, fechei os olhos e aceitei a derrota.

Um cintilar de espadas explodiu em cima de mim, abri os olhos e encontrei Kaio com uma espada, ele havia parado o golpe de Max.

— QUAL O SEU PROBLEMA? – Kaio gritou, eu continuei sem reação, cada vez mais o sangue escorria sobre o meu rosto. Max o encarou com uma fúria assassina, mas não respondeu. Fiquei em pé entre os dois, Zandor já estava ao meu lado.

— Está tudo bem – resmunguei. Kaio olhou pra mim com uma cara de completa indignação. Karol surgiu no meio da multidão, quando ela viu meu estado gritou:

— O QUE ACONTECEU AQUI?

— Está tudo bem – repeti, tentando apaziguar a situação, passei a mão no rosto, mais isso só me deixou mais ensopada de sangue.

— Tire ela daqui, Luke – Kaio falou voltando a encarar Max. Luke me pegou pelo braço, tentei relutar.

— Você precisa cuidar disso – Luke me alertou – Além do mais, tenho pena de quem for contra Kaio agora...

— Mais não foi nada – falei mais uma vez, Luke revirou os olhos e me arrastou para aldeia.

***

Luke me sentou em uma cadeira na entrada da sua cabana e pediu pra alguém chamar Dinah, quando ela me viu pensei que fosse desmaiar.

— Senhorita Aika, o que aconteceu? – ela perguntou assustada.

— Não foi nada, apenas um acidente no treinamento – eu respondi, Luke deu uma risada. Dinah fez uma cara feia pra ele.

— Isso não é engraçado, garoto – ela brigou – Vá buscar água para limpar o ferimento! Oh meu Khosmos, o senhor Kedon vai ficar enfurecido com isso! – ela falou ressentida.

— Eu não sou de vidro...

— Espero que não fique cicatriz! – ela continuou, me ignorando por completo – Esse rosto tão lindo! – revirei os olhos. Assim que Luke trouxe a água, ela começou a limpar o ferimento delicadamente – Continue limpando, vou buscar algo pra passar nisso.

— Ela sabe que você que vai pra guerra? – Luke perguntou com uma risada.

— Melhor não saber, com certeza ficaria devastada – respondi. Segurei o pano molhado sobre a testa pra estancar o sangue.

— Eu sabia que isso não ia dar certo, aquele cara é um dos revoltados – Luke falou.

— Eu percebi seu ódio...

— E mesmo assim você continuou? – ele perguntou indignado.

— Eu não posso evitar que as pessoas me odeiem – respondi. Dinah voltou com uma mistura de ervas.

— Isso vai ajudar na cura do ferimento – ela explicou. Dinah colocou uma porção generosa sobre o ferimento, o odor que subiu minhas narinas me fez querer vomitar. Zandor continuava me rodeando impaciente.

— Zandor, sente-se – o lobo me rodeou mais uma vez e sentou grudado em mim. Dinah se afastou e ficou olhando para o meu rosto com olhar de pesar – Como ficou? – perguntei.

— Está bem melhor – respondeu Luke – Você parece até uma garota agora – chutei sua perna, ele gargalhou, mas logo seu rosto voltou a ficar sério – Opa! Isso não vai ser bom... – ele falou olhando na outra direção, seguir seu olhar e encontrei Kaio vindo na nossa direção, ele ainda aparentava está enfurecido. Ele parou de antes de nós três e falou:

— Posso falar com você?

— Eu vou dá uma volta – Luke falou com um sorriso maroto. Dinah continuou parada como uma estatua ao meu lado.

— Dinah ... – comecei.

— Eu não vou deixar a senhorita sozinha estando ferida – sorri com sua atitude, ela parecia um soldado guardando um tesouro.

— Eu estou com fome – menti, ela percebeu meu golpe mais não resistiu.

— Vou buscar algo para senhorita comer – respondeu e saiu.

— Obrigada – agradeci. Levantei-me para ficar na altura de Kaio. Antes que pudesse falar, ele explodiu:

— Você ia deixar ele te matar? – falou indignado.

— Eu estava desarmada, não podia fazer...

— Ah, por favor, Aika! Eu já vi você lutando! Você podia ter fugido daquele ataque! – ele falou com segurança, ele deveria ter me estudado pra saber meus limites, por algum motivo, isso me deixou feliz.

— A questão não é essa, Kaio – recomecei – Ele estava com ódio e eu entendo o motivo – ele me olhou como se fosse uma louca.

— Todos nós odiamos a situação que estamos, mas descontar a raiva em você não é a solução – ele retorquiu.

— Talvez seja ... – falei num sussurro. Não era por causa de mim que todos estavam ali? O meu sangue tinha provocado aquela situação, o meu sangue carregava aquela culpa.

— Se descontar a raiva em você fosse à solução, nós teríamos enforcado você em plena praça pública no dia em que chegou aqui – ele falou sem paciência, ele estava realmente chateado comigo. Dei de ombros, talvez ele estivesse certo. Ele me encarou por um longo tempo, depois suspirou e se aproximou mais de mim, sua mão pousou levemente sobre o meu ombro, olhei ele nos olhos – Você pode achar que a culpa de tudo isso é sua, mas não foram suas escolhas que nos trouxeram até aqui – sua voz era calma agora, senti uma vontade de abraçá-lo – Você pode achar que morrer aliviaria a culpa, mas esse é seu destino?

Ele tinha razão, morrer aqui não ajudaria em nada. Eu tinha um destino traçado, assim como a Guardiã já havia me dito e assim como tinha prometido a Nana, se fosse pra morrer, que eu morresse em guerra, lutando pelo meu Reino. O ódio havia me atrapalhado mais uma vez.

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— Você está certo – disse por fim.

— Eu sei que estou – ele murmurou ainda sério – não se mate no próximo treinamento, ou vou ser obrigado a mandar Zandor arrancar a cabeça de alguém – peguei as patas de Zandor e o abracei como se fosse uma pessoa.

— Você pode tentar, mas ele só obedece a mim! – abracei o lobo com força, Kaio sorriu.

— Você é louca, Aika – dei de ombros e soltei Zandor. O clima entre nós agora estava leve, percebi que era um dos poucos momentos que tínhamos a sós. Kaio pegou meu queixo pra olhar o ferimento na testa, o que me fez arrepiar – Acho que não vai ficar cicatriz – ele falou encarando sério. Meu rosto esquentou com seu toque, tentei disfarçar, olhando para o outro lado.

— Não conte pra ninguém – falei.

— Vai ser bem dificil esconder um ferimento como esse...

— Não, não é isso – retorqui – Não conte pra ninguém que você venceu minha teimosia – respondi de braços cruzados, ele sorriu.

— Eu vou espalhar pra toda a aldeia – ele brincou.

— O que aconteceu com seu rosto? – Kedon falou subitamente do meu lado, sua cara era de completo pavor. Eu e Kaio levamos um susto, Kaio pareceu constrangido, mas apenas me deu uma piscadela e saiu.

— Não foi nada – falei para Kedon – Só um ferimento na testa.

— O que aconteceu, Aika? – ele falou ainda mais sério. Expliquei toda a história pra ele, o que o deixou mais aliviado.

— Max só não percebeu que odeio essa situação tanto quanto ele – disse por fim.

— Parece que quanto mais nos aproximamos da guerra, mas as pessoas estão nervosas – ele disse pensativo, a guerra estava enlouquecendo a todos, pensei sobre isso por um tempo e acabei tendo uma ideia.

— Porque não fazemos uma festa? – perguntei.

— Uma festa? - Kedon perguntou desconfiado.