Malú

Capítulo 36


Thiago e Aline estão parados próximos ao carro esperando impacientes por Vera para seguirem viagem até a última cidade da caravana. O candidato olha para seu relógio de pulso mais uma vez, irritado:

— Nós estamos muito atrasados – resmunga —Desse jeito teremos de adiar o discurso de hoje.

— Será que aconteceu alguma coisa com ela? – pergunta Aline, preocupada — Ela é sempre a primeira a chegar aqui.

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—Vamos entrar e pedir para a recepção ligar para o quarto – propõe Thiago.

Aline acena concordando e os dois caminham de volta para o hotel até chegar à recepção, sendo atendidos por um rapaz:

— Bom dia – cumprimenta o recepcionista — Em que posso ajudá–los?

— Bom dia, poderia telefonar para o quarto 202, onde está minha relações públicas, Vera Lúcia, e informar que a equipe já a está aguardando. – pede Thiago.

— Quarto 202? – questiona o recepcionista olhando para seu monitor — A pessoa que estava no quarto 202 já realizou o check – out ontem à tarde.

— Como é? – pergunta Aline, chocada — Deve haver algum engano, a Vera está com a nossa equipe, estamos em campanha... Você pode verificar mais uma vez.

— Claro que sim, senhora – responde o recepcionista — É isso mesmo, ela encerrou o quarto ontem à tarde.

— Por que ela faria isso?– pergunta Thiago pegando o celular —Ligarei para ela e esclarecer essa história.

Thiago disca o telefone de Vera que após quatro chamadas, finalmente atende:

Oi , Thiago.

—Vera , onde você está? – pergunta Thiago, nervoso —Acabamos de saber que você já foi embora...

Sim... Desculpe–me por não avisar,mas recebi uma notícia ontem...avassaladora da morte da minha tia querida...

— Tia? Que tia , Vera? – pergunta Thiago, desconfiado. Durante todos os anos em que esteve com Graziela , nunca tinha visto qualquer parente próximo a elas.

A tia... Viridiana, que cuidou de mim e de Graziela quando nosso pai morreu.

—Pensei que você a odiasse – questiona Thiago.

Pois pensou errado. Ela era rígida sim, mas no fundo tinha um bom coração. Enfim, tive de viajar as pressas...

— E a Grazi? – pergunta Thiago.

O que tem a Graziela?

— Ela foi também,certo? – questiona Thiago.

Oh não, a Graziela está em um retiro por conta do término de vocês. Não quero piorar ainda mais seu estado contando a respeito da morte de nossa tia.

—Eu sinto muito pela sua perda. Tome o tempo que precisar e saiba que todos nós sentimos sua ausência e estamos torcendo por você.

Obrigada pela compreensão, Thiago. Vemo–nos em Curitiba. Tenho certeza que está bem amparado por toda equipe. Além de ter uma arma poderosa ao seu lado.

— Meus pêsames. Até breve – despede–se Thiago desligando o telefone sob o olhar preocupado de Aline — A tia da Vera morreu e por isso ela foi embora. Mas disse que irá nos encontrar em Curitiba, quando retornarmos.

—Nossa, que triste – comenta Aline — Você tem alguma ideia de onde essa tia da Vera mora? Acho que poderíamos mandar umas flores em solidariedade.

— Não, até me esqueci de perguntar. Mas enfim, onde quer que a Vera esteja, disse que tem o nosso apoio – comenta Thiago. — Vamos?

— Bom, onde quer que ela esteja, espero que fique bem. – comenta Aline andando ao lado de Thiago.

***

São José dos Campos, São Paulo.

Vera desliga o telefone e então termina sua xícara de café devolvendo a empregada. Ela se levanta e observa atentamente a luxuosa sala de estar da família Buarque de Melo, admirando as fotografias de família espelhadas por todo o cômodo. Uma delas chama sua atenção e Vera a retira do topo da estante com certa dificuldade: O retrato oficial da família Buarque de Melo, com Aline sentada ao lado da mãe de vestido vinho, seu pai e irmão de pé logo atrás delas de terno preto.

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— A família perfeita – comenta Vera para si mesma tocando no rosto de Aline.

—Sim, nós éramos – afirma a voz do telefone atrás de Vera que derruba o porta–retratos no carpete vinho — Ou sabíamos fingir muito bem.

Vera se vira, encontrando uma senhora de cabelos compridos, desgrenhados, grisalhos com o tom castanho apenas nas pontas ressecadas que caem até a cintura do vestido preto que usa. Seu rosto composto por rugas, olheiras profundas e uma expressão amargurada. E mesmo assim , lembra muito Aline.

— Você deve ser a Vera – conclui a senhora encarando a loira.

— Sim – confirma Vera estendendo sua mão na direção dela — E a senhora é...

—Regina Buarque de Melo, mãe da Aline – completa Regina ignorando a mão de Vera — Sente–se, por favor.

—Obrigada – agradece Vera sentando de frente para a mulher que a observa — Como expliqueia senhora ao telefone,acredito que a nossa conversa renderia melhores frutos se ocorresse pessoalmente. Eu sou a chefe de campanha e gostaria que soubesse que a acusação que a senhora fez me surpreendeu, ainda mais se tratando da Aline, uma figura muito importante para todos nós.

— Não foi uma mera acusação. Aline é uma assassina e a imagem dela irá prejudicar a campanha de vocês – explode Regina. Ela respira fundo, ajeitando os cabelos e continua — Você acha que é fácil para uma mãe acusar a própria filha, sangue do seu sangue, de algo assim?

—Não, creio que não. – responde Vera, intimidada com a postura de Regina — Só é difícil de acreditar...

— E tudo fica mais difícil de acreditar quando sua própria filha foi capaz de matar o irmão – revela Regina, deixando Vera chocada — Eu nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer em minha família... Ela parecia gostar do irmão. Mas... No fundo, bem lá no fundo eu sabia que Aline era... Diferente.

—Diferente? – repete Vera, curiosa.

— Aline foi uma surpresa em nossas vidas... O Eduardo já tinha quase oito anos, quando ela nasceu. Enquanto o Eduardo era um menino de comportamento exemplar, ótimas notas e medalhas... Eu era visita constante na sala da psicóloga da escola. Aline era briguenta, altiva e sem papas na língua. Nunca se comportou como deveria e meu marido incentivava muito esse lado selvagem dela. Eu fiz de tudo para que a Aline fosse uma moça de respeito. Mas ela acabou crescendo sem limites... Cortava o cabelo e pintava toda semana, aquelas músicas demoníacas,as roupas pretas , só andava com meninos e vivíamos brigando.

Mas minha casa se tornou um verdadeiro pé de guerra, quando Eduardo terminou a faculdade de medicina. Ele retornou para casa e a relação dele com a irmã mudou drasticamente. Um dia, eles estavam brigando muito no quarto de Aline e eu fui intervir ... Abri a porta e dei de cara com Aline e um saquinho com um pó branco. Na hora eu descobri o motivo de tanta briga: Aline estava se drogando. Revirei o quarto de Aline sob protestos dela e encontrei uma caixa com seringas, maconha e tudo quanto era drogas. Eu a questionei e ela tentou negar, mas Aline era uma viciada.

Internamos a Aline várias vezes, mesmo Eduardo sendo contra, ele sempre arranjava desculpas para o comportamento da irmã... Sempre com o bom coração... Ele era o único que conseguia conversar com ela. A clínica sempre a liberava dizendo que ela estava limpa e pronta para a sociedade, mas eu sempre a encontrava com drogas. Nós não sabíamos mais o que fazer... Então o Eduardo se casou e em um passe de mágica, Aline mudou. Decidiu focar nos estudos, até parecia outra pessoa, dizia que seguiria os passos do pai. Até namorou o amigo de trabalho do meu filho, Lucas. Estava tudo se encaminhando como deveria ser... Até aquela noite.

Eduardo estava de plantão junto com o Lucas e então receberam uma ligação de Aline. Ela estava do outro lado da cidade... Teve uma recaída. Eduardo não pensou duas vezes e foi atrás da irmã... Eles discutiram sobre a recaída dela... Ela pegou o carro dele , mas ele conseguiu entrar no banco do carona. Aline começou a correr muito com o carro, drogada... Então... Ela bateu o carro em um muro... E foi assim que meu filho morreu. Foi assim que ela matou o irmão, o meu tesouro.

—Mas os laudos que saíram provaram que o seu filho estava sozinho dentro do carro – comenta Vera.

— Manipulamos os laudos – confessa Regina aos prantos — Não queríamos que descobrissem essa coisa horrível e prendessem a Aline. Então pagamos pelos laudos. Nos laudos verdadeiros, os dois estavam... Ela estava com a marca da injeção no braço esquerdo, a seringa estava embaixo do banco e tinha papelotes de cocaína também no veículo. Depois disso, internamos a Aline mais uma vez... Só que ela fugiu. Meu marido não suportou tanta dor e cometeu suicídio, dois anos depois. E eu não tive mais notícias da minha filha ... Até que minha ex–nora , viúva do meu filho, me mandou uma foto dela aparecendo na televisão feliz... Como se nós não existíssemos, como se a nossa dor não fosse nada. Ela destruiu a nossa família e agora está por ai vivendo como se nada tivesse acontecido.

— E a senhora tem esses laudos verdadeiros? – pergunta Vera — Será que eu posso levá–los para mostrar ao candidato?

— Claro que sim. Guardei todos esses anos... – responde Regina se levantando. Ela vai até a estante e pega uma pasta preta, entregando para a Vera — Aqui estão.

— Essa história que me contou é trágica e saiba que tem o meu apoio – garante Vera segurando a pasta.

— Estou fazendo isso para que vocês não compactuem este assassinato – explica Regina ─ Quero que a Aline entenda que o que ela fez não será esquecido.

Vera abre a pasta e lá estão todas as provas de que precisa contra a Aline. Finalmente a sorte está ao seu favor.