Avatar: A Lenda de Kyoshi

VIII - A Fúria do Avatar


― Como eles nos acharam? ― Sukishi perguntou, amedrontada. Myoshi já sabia a resposta: Alguém havia exposto a Resistência.

― Não sei! ― Kyoshi respondeu. ― Só sei que temos que sair daqui, e depressa!

― Não sem o Bicudo.

― Desista Myoshi! Não temos tempo. O esconderijo está desmoronando.

Myoshi não podia negar sua irmã. A terra balançava por todos os cantos. Da direita à esquerda, de cima à baixo, com pedregulhos se desvincilhando do topo. Alguns maiores, outros menores.

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― Leve nossa mãe! ― Ordenou para a irmã gêmea. ― Eu levarei o Bicudo! Não desistirei dele ainda.

― Myoshi, não... ― Sua mãe tentou.

― Não vou ouvir! Bicudo não me abandonou um dia sequer, não irei abandoná-lo em troca!

Kyoshi acenou com a cabeça e começou a puxar a mãe correndo. Olhando para elas, temeu que uma rocha as esmagaria, mas Kyoshi parou a rocha bem a tempo e continuou a levar sua mãe para um lugar seguro.

O som do pequeno terremoto era um estrondo feito por impactos de inúmeros pés acima dela.

Myoshi agarrou Bicudo por um braço, e o animal ferido seguiu-a com dificuldades, mal encostando a perna quebrada no solo. Com sua dobra de terra, afastava os destroços do caminho e os impedia de cair em cima de ambos.

Logo começou a suar. O esforço feito carregando Bicudo com um braço e dobrando terra com o outro era estrondoso, mas de alguma forma, seu corpo não havia cedido.

Não sabia quanto tempo havia passado. Talvez segundos, talvez minutos, talvez uma hora. Afastavam-se aos poucos dos tremores, até Myoshi notar que não havia dobrador de terra algum acima deles, e a terra deixara de ser um perigo.

Soltou Bicudo e abriu um buraco no teto, e logo, ergueu ela e o animal para a superfície com a dobra de terra.

A fazenda destruída da família desconhecida estava em um estado ainda pior do que antes, e o cenário tranquilo e pacífico que encontrou na primeira vez que olhou para aquele poço, agora era um cenário de guerra e terror.

Dobradores de terra sem uniforme lutavam contra dobradores de terra com uniforme. Soldados brandiam lanças, espadas e machados um contra os outros, e os berros de dor e pavor ecoavam e logo sumiam, levados pelo vento.

― Fique aqui. ― Disse para Bicudo, colocando-o atrás de um arbusto, um tanto longe da batalha. ― Eu volto quando a batalha terminar.

Apesar de saber que a batalha terminaria hoje, tinha preocupantes dúvidas de quando a guerra terminaria.

Sem pensar duas vezes, correu para o calor da batalha, e logo começou a atacar soldados de uniforme. Derrubou um lanceiro, e logo, outro que utilizava um machado. Um espadachim tentou cortá-la, mas escapou saltando com a dobra de terra, e chutou a rocha relativamente grande no corpo do homem, com cuidado para não ser fatal.

Nunca havia matado uma pessoa, e não pretendia fazê-lo hoje.

Um dobrador de terra logo notou Myoshi, chamou dois amigos para acompanhá-lo a fim de enfrentá-la. Manteve sua posição, controlou a respiração e começou a atacá-los.

Seus punhos desferiam golpe atrás de golpe com velocidade, arremessando as rochas contra seus oponentes. Um deles foi atingido após escapar de duas, o outro, teve sua perna cortada do seu corpo por um soldado da Resistência, e o sangue regou a grama.

O mais habilidoso, no entanto, continuou a desviar das rochas e se aproximar cada vez mais. Quando ambos ficaram em posição de duelo, um na frente do outro, um som descomunal cortou o campo de batalha.

Era rouco. Um ruído forte e hediondo que atingiu o ouvido de todos ali presentes. Myoshi sentiu seus tímpanos vibrarem e as orelhas tremerem, e tão subitamente como começou, o berrante cessou seu sopro.

No meio do silêncio da batalha, um garoto barbudo apareceu dentro de um palanquim feito de ouro, ornamentado com pedras preciosas e carregado por uma vintena de mulheres, no topo de uma colina.

Ele ergueu a mão, e logo o exército invasor recuou para os lados do palanquim, inclusive o homem que estava prestes a lutar com Myoshi. Com essa organização, Myoshi pôde ver quem era da Resistência e quem não era, para encontrar sua irmã. Mas por onde olhava, Myoshi não a encontrava.

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O menino berrou, a fim de ser ouvido por todos:

― Queridos cidadãos do meu Reino da Terra! ― Ele começou. ― Eu sou o Grande Chin, o Conquistador. ― Seu exército soltou um rugido, todos unidos, como de um só animal imenso e intimidador. ― Vocês lutaram corajosamente hoje. Vocês resistiram corajosamente hoje. ― Repentinamente parou, e ergueu ainda mais a voz. ― Vocês morreram corajosamente hoje. ― Estendeu a mão em um gesto, indicando para os soldados mortos entre ele e a Reistência. ― Eu valorizo a coragem. E eu valorizo a lealdade. Vocês foram leais lutando pelo que acreditavam... Mas agora essa luta acabou. Jurem sua lealdade a mim, e todos serão perdoados e integrados no meu exército, e viverão vidas que Resistência alguma poderia lhes oferecerem.

― Nós nunca vamos nos render! ― Kyoshi gritou a distância, fazendo com que Myoshi reconhecesse sua voz.

― Ora então, que assim seja. ― E Chin ergueu o braço mais uma vez.

O berrante soou novamente, tão imponente quanto da última vez. E como uma onda no mar, um imenso exército apareceu atrás dele, se revelando nas colinas.

Myoshi correu para a irmã antes da batalha começar. Kyoshi percebeu seu movimento.

― Irmã! ― Ela disse, com lágrimas nos olhos. ― Que bom que você está bem.

― Sinto o mesmo por você, mas agora não é tempo de chorar por isso. ― Myoshi retrucou. ― Onde está nossa mãe?

Kyoshi não respondeu. Enquanto o exército de Chin descia a colina e gritava com excitação, o mundo pareceu parar. Nem um barulho foi escutado, nem um odor cheirado, nem a paisagem foi vista.

Foi um daqueles momentos de um segundo que duram uma eternidade.

― Onde? ― Myoshi perguntou.

― Não temos tempo. ― Kyoshi disse. ― Temos que fugir. Eles são muitos!

― ONDE? ― Questionou novamente. Kyoshi começou a levá-la de encontro para o exército de Chin, e ao mesmo tempo, longe.

Myoshi não pôde deixar de notar os inúmeros mortos. Homens com lanças no peito, pessoas com rostos desfigurados, pernas e braços decepados e sangrentos ao longo do gramado, miolos espalhados e úmidos, e o cheiro constante de sangue infestando o ar.

Kyoshi parou e apontou para um dos cadáveres, virando o rosto.

E lá estava ela. Sua mãe Sukishi. A melhor e mais inocente mulher que conheceu, com os olhos abertos e sem brilho, e com uma rocha esmagando mais da metade do seu corpo.

Myoshi se ajoelhou e encostou no rosto da mãe.

― VAMOS! ― Kyoshi disse, com desespero.

Mas Myoshi não escutava mais nada, a não ser vozes irreconhecíveis e conhecidas, distantes e próximas, altas e baixas.

Todos os seus sentidos estavam embaçados. Myoshi via apenas rajadas flamejantes e ouvia apenas as vozes:

― Acorde! ― Diziam. ― O mundo precisa de você. Acorde. Acorde. ACORDE!

E Myoshi acordou nos braços de Kyoshi, em um campo de batalha desolado pelas chamas.

Ainda desorientada, olhou para os lados esperando ver o exército de Chin... Mas não viu nada a não ser uma paisagem vazia e os poucos sobreviventes da Resistência ao seu redor.

Com sua visão retornando ao seu estado comum, Myoshi perguntou:

― O que aconteceu?

Kyoshi respondeu com um tom incrédulo, surpreso e orgulhoso:

― Você... Você é o Avatar.