Avatar: A Lenda de Kyoshi

XIII - Rainha Maru


― Todos de joelhos para sua alteza, Rainha Maru de Omashu, a Bela, Primeira Rainha, Protetora do Território e a mulher que derrotará Chin. ― Anunciou Handu.

Myoshi, sua irmã, Lee e muitos outros que nunca estiveram na presença da monarca ajoelharam-se perante ela.

― Ela que devia estar ajoelhando para você. ― Kyoshi confidenciou em um sussurro.

Porém, por mais que fosse o Avatar, Myoshi tinha suas dúvidas.
Vestindo suas roupas de camponesa e com tantos modos quanto um porco-galinha, não pôde deixar de se impressionar com a beleza e a classe da rainha.

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O seu corpo esbelto era coberto com um vestido longo e branco, com detalhes de um verde escurecido por todo o tecido. Por si só, o vestido devia valer mais que toda a antiga fazenda de seu pai.

Além de sua vestimenta, a rainha também utilizava brincos de ouro branco em seus lóbulos, com pingentes do símbolo do Reino da Terra. No topo e na lateral dos seus olhos, um tipo de tinta vermelha enfeitava ainda mais sua face.

Seu rosto era delicado, com os olhos ligeiramente puxados e o nariz fino. Sua boca, no entanto, não tinha toda a delicadeza do resto de seu corpo. Eram lábios carnudos, vermelhos e brilhantes.

O que mais impressionava, entretanto, eram seus cabelos. Tão longos, lisos e escuros quantos podiam ser, quase encostando os fios no chão. Para embelezá-la ainda mais, o rabo de cavalo mais enfeitado que já vira complementava sua beleza.

Era como uma estrela solitária e radiante em uma noite tão escura quanto a morte.

A rainha, sentada em seu trono de prata e cristais esverdeados, levantou-se de seu assento com graciosidade, e seus guardas a flanquearam quando ela se aproximou dos convidados.

― Bem-vindos à Omashu.― Sua voz, assim como tudo quando se tratava dela, era gentil e delicada. ― Todos que lutaram ao lado dos meus homens têm a minha gratidão. ― E sorriu. Até seu sorriso era diferenciado. ― Para comemorar nossas vitórias, hoje um grande banquete será oferecido para nossos convidados, em homenagem à Resistência, e é claro, à Avatar. Aliás, qual de vocês é a escolhida dos espíritos?

― Aquela. ― Apontou Handu. Myoshi se levantou.

― É um prazer conhecê-la. ― Rainha Maru segurou sua mão.

― Igualmente, vossa rainha.

― Ora, não precisa ser tão formal comigo Avatar...?

― Myoshi. Meu nome é Myoshi.

― Um belo nome. Com certeza um nome que será lembrado por muitos como uma Avatar amorosa e caridosa. ― E sorriu.

― Será como diz, majestade.

― Assim espero. E imagino que essa seja sua irmã. ― Disse, olhando para Kyoshi. ― Vocês são mais parecidas que rocha e pedra.

― Sim, ela é minha irmã gêmea, majestade. Kyoshi.

― É um prazer conhecê-la, Kyoshi.

― O prazer é meu. Porém, o maior prazer será ver Chin e seu exército destruído, se me permite dizer. ― A rainha sorriu.

― Admito que esse será meu maior prazer também. Com você e sua irmã do nosso lado, pode ter certeza que é exatamente o que veremos.

― Lembrarei dessa promessa.

― Agora, todos vocês, descansem da longa viagem. Durante a noite, enviarei guardas para buscá-los a fim de aproveitar o banquete. ― Ela chamou um guarda ao seu lado. ― Jorys, leve os nossos convidados e mais novos membros do nosso exército para os aposentos. Quanto à Avatar e sua irmã, levem-na para os aposentos bons. ― Jorys ficou confuso.

― E quanto aos aposentos ruins, vossa majestade?

― Não há aposentos ruins. ― Ela esboçou um riso, embaraçada. ― Os aposentos normais são para todos que não são a Avatar e sua irmã.

― Certo... E quanto aos animais?

― Eles ficam conosco. ― Myoshi respondeu, com frieza.

― Como desejar. ― Rainha Maru replicou.

Myoshi, sua irmã, Bicudo e Xudok foram escoltadas para um belíssimo aposento. Com paredes beges, uma janela para a cidade, cortinas esverdeadas e duas camas extremamente aconchegantes. A luminosidade era provida através de tochas, porém, ao redor das tochas, cristais verdes cobriam as chamas, e consequentemente, elas emanavam uma iluminação verde e acolhedora.

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― A Rainha Maru é muito...

― Bonita? ― Kyoshi perguntou.

― Não, idiota. Gentil. Pelo que Bonuk havia me contado, pensei que ela seria um monstro.

― Não confie tão facilmente. Aquele rosto bonito pode muito bem esconder um monstro, Myoshi. Veja eu, por exemplo.

― Você?

― Ué. Sou linda, maravilhosa e gentil. Mas tenho um monstro dentro de mim, só esperando a oportunidade de sair.

― Você? Gentil?

― Eu posso ser gentil sim.

― Você podia ser gentil, num passado distante. Agora não mais.

― É que hoje não sou por opção. Mas posso ser, se quiser.

― Duvido.

― Eu provo pra você, no banquete. Serei tão rainha quanto a sua bela Maru.

― Eu nunca disse que ela é bela! ― Falou, irritada.

― Há coisas que não precisam ser ditas para serem entendidas. ― Ela disse, provocando. ― E você está vermelha.

Demorou muito após o banho para que guardas vissem buscá-las. Myoshi ficou brincando com Xudok, que parecia crescer cada dia mais. Porém, como prometido, eles eventualmente vieram.

Deixaram comida e bebida para Bicudo e o alce-leão-dente-de-sabre antes de deixar os aposentos.

Fora uma longa caminhada até o banquete, e durante todo o caminho, Myoshi se sentia ameaçada e ansiosa ao mesmo tempo. Nunca gostou de lugares fechados, davam a impressão de que ficaria presa para sempre entre as paredes, sem nunca ver o céu novamente.

Fartura era o que podia dizer sobre o banquete. Desde couve-cenouras cozidas até um porco-frango assado com uma pêra-maçã na boca. Apenas os novos membros da Resistência, que não faziam parte do exército que deixou Omashu, e Myoshi e Kyoshi haviam sido convidados. Com exceção de Handu, que sentava ao lado direito da rainha. Ao lado dele, Lee sentava e comia.

― Myoshi, ― A voz de Maru correu por todas as pessoas. ― Venha, sente-se do meu lado.

Por alguma razão, o coração de Myoshi apertou quando ouviu seu nome dito pela rainha.

Como ordenado, Myoshi sentou ao lado esquerdo da rainha, e Kyoshi do seu.

― Este é um ótimo banquete. ― Elogiou.

― Em questão de comida, está ótimo mesmo. Mas em questão de companhia, só você salva.

Myoshi deixou um riso sair.

― Conte-me, Myoshi. Como foi chegar até Omashu? Handu me contou a versão dele, mas quero ouvir a sua também.

― Não foi nada fácil, vossa majestade.

― Por favor, ― Interrompeu. ― me chame de Maru.

― Certo, Maru... Quando fiquei mais velha, decidi que viajaria. Fiquei anos fora, e quando retornei, encontrei minha antiga fazendo destruída, meu pai morto e minha mãe e irmã desaparecidas. Eu senti a crueldade de Chin na pele.

― Que terrível. E você se juntou a Resistência...

― Graças à minha irmã. ― Apontou para Kyoshi, que comia feito uma condenada, aparentemente dias sem comer. ― Ela que me apresentou ao Handu, e todos da Resistência... Até que fomos atacados de surpresa.

― Um ataque surpresa com certeza é... Estranho. É como se Chin soubesse exatamente onde vocês estavam.

― Pode muito bem ter sido minha culpa, vossa majestade.

― O que quer dizer?

― Alguns soldados de Chin roubaram meu cavalo-avestruz. Eu e minha irmã fomos atrás deles, e bom, eles podem ter nos seguido até o esconderijo.

― Isso pode explicar. Assim como não pode.

― De qualquer forma, sinto muito.

― Não precise se amargurar pelo que você pode ou não ter feito para a Resistência ser encontrada.

― Eu preciso. Caso eles não tivessem nos encontrado... Talvez minha mãe, Sukishi, estaria conosco no banquete.

― Não fique assim. Você mais salvou vidas do que as perdeu. Eu entendi que foi você que salvou o exército do meu leal Handu da morte, não uma, mas duas vezes.

― Não sei quem fez isso. ― Disse, insegura. ― Só sei que não fui eu.

― O que quer dizer? O próprio Handu aqui disse que seu imenso poder derrotou o exército de Chin e uma alcatéia de monstros.

― O poder pode ter sido imenso, mas não fui eu quem o controlou. É como se alguém tomasse controle sobre meu corpo. Ou melhor, muitos alguéns. Mas, um deles acima de todos. Quando ele toma o controle, só sinto ódio e frustração, e me sinto mal por um tempo. Triste.

― As vidas passadas.

― Como disse?

― Essas pessoas que te controlam, Myoshi. São suas vidas passadas. Kuruk, por exemplo. Eles estão dentro de você.

― Como sabe disso?

― É conhecimento comum que os antigos avatares ajudam o Avatar atual. Você nunca falou com nenhum deles?

― Nunca.

― Uma pena. Esse poderia ser um poder muito útil contra Chin, caso você soubesse controlar.

― Se controlar for possível.

A conversa continuou por um certo tempo, e logo, o banquete virou mais uma bebedeira do que qualquer outra coisa. Por todo lado que olhava, via pessoas bebendo cerveja-vinho e saquê-rum. Para não ficar para trás, Myoshi acabou bebendo um pouco também.

Handu mal se movia de sua cadeira. Rainha Maru bailava e ria com maestria. Kyoshi parecia um cavalo-avestruz, dançando de forma tão desengonçada quanto Bicudo com dificuldades para andar. Porém, provou sua gentileza com os outros, sendo adorada por todas as pessoas que conversara, e até mesmo por um soldado que a beijara no canto da festa.

Myoshi não estava no clima para isso. Assim como Lee, que bebia quieto em seu canto. Juntou-se ao seu mestre ao vê-lo solitário.

― Sua felicidade é contagiante. ― Ele riu.

― Não será possível eu me divertir aqui, Myoshi.

― E por que não? Há bebidas, há mulheres, há música. Vá, dance, beba e arranje alguma nobre senhora para esquentar sua cama.

― Sim. Há bebidas, mulheres e música. Mas não há meu filho, Myoshi. Quanto mais eu penso nele e na situação que ele está, mais fico sem clima para esse banquete.

― Você nunca me contou muito sobre ele.

― Não há muito o que contar.

― Ou talvez você não queira. Como ele é? ― Ele bufou, e depois de um tempo, continuou a conversa.

― Ele é um bom garoto. Jovem, já com seus dezesseis anos. É gentil, humilde e muito confiante. Forte também, com muito mais talento do que eu para a dobra de fogo. Mas se torna uma outra pessoa quando se irrita ou... Bom, acho que eu e ele temos muito em comum em relação a isso.

― Ele vai ficar bem, Lee. Basta você não voltar para a Nação do Fogo, e tudo ficará bem.

― Voltar? ― Ele parou um tempo, para pensar. ― Claro, é só eu não voltar para casa que ninguém o machucará. Você tem razão.

Myoshi foi abraçá-lo, a fim de confortá-lo, mas ele se afastou.

― Tenha uma boa noite, Myoshi. Irei dormir.

E com isso, seu mestre deixou o salão com o copo inteiramente vazio. Myoshi ficou lá, parada e perdida, pensando em ir deitar ela mesma.

Ao tentar deixar o salão, uma mão segurou-a.

― Para onde pensa que vai? ― Rainha Maru questionou.

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― Dormir. ― Sorriu. ― Estou cansada, vossa majestade.

― Não, não irá dormir sem antes dançar comigo.

― Não estou querendo dançar.

Rainha Maru fez uma cara de decepcionada, o que de alguma forma fizera-a ainda mais bela.

― Vamos comigo para os meus jardins, então. Acho que não tive tempo suficiente com você nesta noite.

― Eu...

― Por favor? ― Seus olhos ligeiramente puxados imploravam, e Myoshi não poderia negar a súplica de uma rainha.

― Claro, mostre o caminho.

Enquanto Rainha Maru puxava Myoshi pelos braços, notou as vestimentas da rainha. Seu rabo de cavalo estava agora apertado e enrolado por um coque, sem segurar seu longo cabelo escuro de quase tocar os chãos. O vestido dessa vez era inteiramente azul, com detalhes brancos e de peles de animais que Myoshi não poderia começar a adivinhar quais eram.

― É um belo vestido, vossa majestade.

― Gostou? Estou usando em sua homenagem.

― Em minha homenagem?

― Em homenagem ao Avatar Kuruk. Você é ele, Myoshi.

Tinha dúvidas quanto a isso.

Enfim chegaram aos jardins na parte de trás do palácio. Era lindo.

Todos os tipos de flores de cores variadas enfeitavam o local, desde vermelho, roxo, azul e branco até rosa, verde, amarelo, inclusive flores de pétalas negras.

No centro, uma fonte de cerâmica, com uma toupeira-texugo cuspindo água para cima. E para embelezar ainda mais, velas iluminavam tudo de todos os cantos.

― É... Maravilhoso.

― Não é? Eu olhei a construção dos jardins bem de perto, para ficar belo. ― Ela levou-a até a fonte, e sentou-se no banco ao lado do chafariz. ― Tão bela quanto a Avatar que um dia me visitaria.

Myoshi ficou sem palavras.

― Não precisa ficar vermelha. ― Maru repreendeu. ― Não posso te elogiar, vossa Avatar?

― Claro que... Você também é... Não me chame de vossa Avatar. Sou só Myoshi.

― Não me chame de vossa majestade, então. Sou só Maru. E aqui, nesses jardins, nossos títulos pouco importam, Myoshi. O que realmente importa é que duas belas mulheres estão juntas e um dos lugares mais belos de Omashu.

― Eu...

― O que realmente importa, é isso.

Rainha Maru começou a se aproximar do seu rosto, com um sorriso oblíquo e fechando os olhos lentamente.

Seu coração palpitava ligeiro, e Myoshi deixou-se fechar os olhos também. A ansiedade terminou quando ambos os lábios se tocaram.

Foi um beijo que demorou segundos, mas durou uma eternidade. Nunca havia beijado ninguém antes, e nunca imaginaria que seria com uma mulher. Muito menos com uma rainha. Mas foi tão perfeito quanto imaginou que poderia ser. Os lábios carnudos de Maru encaixavam apaixonadamente nos lábios de Myoshi, e sentiu algo dentro de si que não sentira antes, um fogo diferente daquele que sentia quando treinava a dobra de fogo. Uma sensação que julgou ser incontrolável.

Até que Rainha Maru se afastou. Myoshi abriu os olhos, sorrindo, e viu-a chorando.

― Desculpe-me, Myoshi... ― Ela disse, com enorme pesar.

Olhou ao redor e viu Handu com duas dezenas de homens.

― Avatar Myoshi, você está presa por afronta a vossa majestade e sua autoridade.