Temos Coxinha
Se for cobrança você vai sozinho
— Estamos aqui com Alexandre Gomes e Rafaela Falda. Os escritores do Romance Saligia que está batendo recordes de vendas. - Diz Jô Soares em seu programa se referindo a um homem e uma mulher que se encontravam em seu sofá. - Primeiramente eu gostaria de parabenizá-los, eu li esse livro em um dia e meu primeiro pensamento ao acabar foi que eu deveria entrevistar vocês.
— Obrigado Jô. - Diz Alexandre.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— É um prazer estar aqui. - Rafaela completa.
— Eu posso chamar vocês de Ale e Rafa não é? – Indaga Jô rindo.
Claro. – Dizem os dois em coro rindo também.
— Então, vamos começar pela ideia, como surgiu? Um teve a ideia e chamou o outro para ajudar? - Indaga Jô folheando as páginas do livro.
— Na verdade não. - Responde Alexandre. - Gostamos de dizer que somos irmãos, pela conexão que temos. Ela me ligou um dia dizendo que estava com uma ideia e queria escrever comigo. Então quando me explicou o que havia pensado, eu disse-lhe que batia com umas coisas que tinha em mente a algum tempo, mas faltava algo, então casamos as ideias e deu muito certo. - Ele completou bebendo um pouco de água da famosa caneca do Jô.
— Deu muito certo mesmo. E vocês não são irmãos?
— Não, como da para ver, somos bem diferentes. - Responde Rafa rindo.
— Você é do Rio de Janeiro e ela de São Paulo?
— Isso. - Ale consentiu.
— E como vocês se conheceram?
— Foi pela internet. - Respondeu Rafa. - Ele criou um grupo sobre uma série que assistíamos na época, desde então viramos melhores amigos.
— Interessante. E o que vocês faziam antes de escreverem juntos?
— Eu já escrevia, mas só como hobby. Na época eu trabalhava na Marinha. - Respondeu Alexandre.
— E eu escrevia também mas com menos frequência que ele. Meu foco maior era design, eu fazia alguns trabalhos de freelancer. Responde Rafa.
— Bacana. E quais os planos agora? Saligia terá continuação?
— Na verdade não. - Responde Alexandre.
— Saligia foi pensado em um livro fechado, não teria como ter continuação. - Diz Rafa.
— Aaaah! - Suspira a plateia em negação.
— Acho que não sou o único a pensar que essa história merecia uma continuação. Mas vocês pretendem fazer o que agora?
— Eu ainda tenho alguns trabalhos como design.
— E eu contínuo escrevendo, mas ainda não tenho nada para publicar. Estamos curtindo o ápice de Saligia.
— Esperamos que consigam e caso mudem de ideia sobre Saligia, quero uma cópia o quanto antes. - Diz Jô rindo. - Eu conversei aqui com Alexandre Gomes e Rafaela Falda.
— Aaaah! Resmunga a platéia em coro.
— Eu sei, também gostei muito. Mas para quem quiser autógrafos eles estarão...
O som da TV começa a ficar mais baixo conforme vamos vendo o interior do apartamento onde o programa era assistido. Um homem moreno, rechonchudo e de barba se encontra deitado no sofá com o controle em mãos. Nesse momento, uma mulher de pele branca e cabelos negros passa pela sala carregando uma sacola de compras.
— Quantas vezes você vai ficar assistindo essas entrevistas Alexandre.
— Você não pode me criticar por sentir saudades Rafa. - Diz ele desligando a TV.
— Não estou te criticando. Mas você precisa parar de viver no passado. Já tem 10 anos essa entrevista, essa fase já passou. - Diz ela colocando as compras na bancada da cozinha.
— Quero entender como passamos dos Escritores favoritos do Jô Soares para dois Zés ninguém que ninguém se lembra.
— Bom, foi você que queria curtir o ápice de Saligia. Agora para de sofrer aí e vem me ajudar a guardar as compras.
— Pensei que esse ápice iria durar mais. - Ele se levanta e vai até a cozinha.
— Você achou que seríamos os próximas JK Rowling? - Rafa ri.
— Não idiota. Mas pensei que as coisas seriam um pouco mais fáceis. Pensei que pelo menos não teríamos problemas para pagar o aluguel por exemplo. - Diz ele pegando cartas de cima do balcão e jogando uma a uma na lixeira.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Não faça isso cara. - Rafa corre para pegar algumas contas do lixo enquanto Alexandre segura fixamente a última correspondência.
— Olha isso aqui! - Diz ele abrindo a carta. - É da Editora X. Eles querem falar conosco. - Alexandre sorri.
— Se for cobrança você vai sozinho.
— Não! Eles querem um livro novo!
— Lá vem, você sabe que esses contratos com Escritoras são furadas.
— Não seja pessimista Rafaela. Essa é nossa chance de sair do buraco. - Diz entusiasmado correndo para abraçá-la. Rafa apenas lhe empurra a cabeça.
— Nem vem. Vou te socar de novo. - Diz ela. - Eu até ajudo, porém se der algo errado, você vai arcar com os prejuízos.
— Prejuízo nenhum. Vamos sair do buraco. Venha! Temos que mudar de cenário.
Os dois descem de um táxi, Rafa com a mesma calça jeans e blusa branca e Ale usando um terno azul que parecia estar sendo usado pela primeira vez. Os dois entram na porta de um prédio alto com as laterais arredondadas e seguem para o vigésimo andar onde são recebidos por uma secretária que os encaminham até uma sala.
— Onde conseguiu esse terno. – Pergunta Rafa reparando o quanto ele está arrumado em comparação a ela.
— Departamento de figurino. Enfim, temos que causar boa impressão, somos escritores famosos.
— Éramos escritores famosos. – Enfatiza ela, quando um homem abre a porta para entrarmos em sua sala.
— Como estão meus escritores favoritos? - Diz o homem sentando-se atrás de sua enorme mesa.
Corta essa Ronald. Você nos chamou aqui por um motivo, vá direto ao ponto. – Diz Rafa enquanto sentava-se em uma das cadeiras.
— Como sempre apressada. Então, vamos aos negócios. Saligia flopou, vocês gastaram mais dinheiro com viagens e curtindo o ápice do livro, do que no marketing.
— Isso não é verdade. – Corta Ale com a boca cheia de doces que está pegando de uma mesa próxima.
— Já sabemos que deveríamos ter investido mais no livro e em uma continuação. Os nossos erros nós sabemos, mas onde você entra nessa história.
— Bom, o mundo ainda se lembra de vocês: “Os novatos escritores de fanfic que ganharam o mundo”. – Ronald se levanta enquanto fala. – Sendo assim, nós queremos financiar um novo livro de vocês. – Ele senta-se na mesa.
— Isso é interessante. – Alexandre engole rápido os doces e continua a falar fingindo desdém.
— E de quanto será nosso lucro? – Indaga Rafa. Ronald pega um pedaço de papel na mesa e o rabisca antes de entregar para Rafaela.
— Acho que estamos conversando. – Diz Rafa.
— Então, o que acham de voltar a escrever? – Diz ele estendendo a mão para Alexandre.
— Nem precisamos, já temos algo pronto. – Responde Ale enquanto aperta sua mão.
— Temos!? – Rafa se surpreende.
— Ótimo! Eu tenho uma reunião agora na Inglaterra. Volto em 9 dias. Podem me trazer um manuscrito e então fechamos negócio.
— Perfeito! – Diz Alexandre enquanto Ronald os conduz ao elevador. Ao fechar a porta Rafa da um soco no braço de Ale.
— Você ficou louco?
— Ai! Você poderia experimentar bater como uma menina.
— Você vai ver o quanto sou menina, quando eu arrebentar a sua cara!
— Isso não fez muito sentido. Relaxa, eu tenho tudo sobre controle, juntos conseguiremos escrever um novo livro em poucos minutos.
Cinco Horas depois, na casa de Alexandre e Rafaela...
— Que merda que eu fiz. Eu não consigo escrever nada! – Grita Alexandre sentado em frente a seu notebook com uma página em branco.
— Eu te avisei. – Diz Rafa na cozinha, quando repara Alexandre batendo com a cabeça na mesa.
— Burro! Burro! Burro! – Repete ele sem parar.
— Ei! – Rafa chega correndo e segura sua cabeça. – Não estrague seu cérebro, me deixe rica primeiro.
— Estamos perdidos!
— Estamos?
— O que vamos fazer se eu não consigo escrever nada!? – Diz ele baixando a cabeça.
— Por que você continua falando no plural? – Indaga ela rindo.
— Você não está ajudando! – Ele levanta a cabeça e a encara.
— Quem disse que eu queria ajudar? – Diz ela rindo enquanto ele baixa a cabeça novamente. Ok, vamos ver o que você tem até agora. – Ela olha a tela e só está escrito a palavra “tubarões”. – Você só pensou nisso?
— Sim. – Diz ele levantando a cabeça.
— Não pensou em mais nada?
— Pensei neles se matando afogados. – Diz ele rindo e então Rafa lhe da outro soco no braço. – Ai! Você precisa parar de me bater.
— Isso que você ganha por ser um idiota. Agora vamos tentar de novo. Pensou em um romance?
— Hum... – Diz ele pensativo. – E se uma menina tímida do colégio conhecer um cara popular e...
— Clichê. – Rafa o corta.
— Ok. E um de ação? Sobre feiticeiras e clarividência! – Diz ele empolgado.
— Você já escreveu isso. – Ela o corta novamente.
— E se for em um sonho lúcido?
— Você também já escreveu sobre isso. Pensa um pouco, nada lhe passa pela cabeça?
— Já sei! – Ele grita e então começa a digitar:
— Estamos aqui com Alexandre Gomes e Rafaela Falda. Os escritores do Romance Saligia que está batendo recordes de vendas. - Diz Jô Soares em seu programa se referindo a um homem e uma mulher que se encontravam em seu sofá. - Primeiramente eu gostaria de parabenizá-los, eu li esse livro em um dia e meu primeiro pensamento ao acabar foi que eu deveria entrevistar vocês.
— Não idiota. Foi assim que essa história aqui começou. – Diz Rafa ao apagar todo o texto que ele escrevia tão empolgado.
— Eu sou um inútil! - Grita ele chorando. – Vamos morrer de fome assim, e viver para sempre sozinhos nesse apartamento idiota.
— Eu tenho namorada. – Diz Rafaela baixo. Então ela segura-o pelos ombros e olha firme nos seus olhos. – Olha, você é a pessoa com mais imaginação que eu conheço, você vai conseguir. Então para de frescura e começa a escrever. – Nesse momento, um homem fardado e armado arrebenta a porta do apartamento.
— Parados, o prédio está cercado. – Diz ele entrando no apartamento com outros homens armados.
— Mas o quê...? – Diz Alexandre sem entender.
— FBI! Vocês estão presos por violação de direitos autorais.
— E desde quando o FBI cuida de violação de direitos autorais? – Diz Rafaela se levantando.
— Na verdade, nem precisava disso tudo. O autor dessa história que queria fazer uma grande cena. Vocês só precisam assinar esta intimação e comparecer amanhã ao fórum para responder algumas perguntas. – Diz o homem que agora estava usando um terno marrom barato e entregando um papel na mão de Rafaela que assina e devolve para ele. – Então é isso, amanhã às oito da manhã no fórum.
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