Carousel

Mr. Houdini and the Clown


Amar Stan é como andar de carrosel.

Dando voltas e voltas, mas permanecendo no mesmo lugar, sem nunca alcançar o fim.

Kyle detestava metáforas. São apenas maneiras de tentar tornar as coisas suaves, o que, em sua opinião, é ridículo. É apenas um jeito de implicitar coisas simples. Tsc, humanos tem uma mania de querer dificultar tudo.

Mas essa metáfora combina com a situação atual.

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Apenas girando, preso em um ciclo vicioso.

Tudo era diversão e jogos entre os dois amigos até que um deles eventualmente se apaixonasse pelo outro. Em algum momento, todo aquele prazer de criança foi substituído por um sentimento desprezado por muitos e adorado por outros. Kyle não nega que esteja apaixonado pelo seu – super – melhor amigo, mas seus sentimentos estão longe daquilo descrito nos livros que tanto aprecia.

Não sentia o coração absurdamente descompassado a ponto de provocar dor no peito, ansiedade exagerada ou respiração curta quando estava perto de Stan. A realidade é diferente do que aqueles sintomas excessivos descritos.

Aparentemente, amor é a nova arritmia.

Ainda que houvesse ironia nos pensamentos de Kyle, se apaixonar por Stan é tão ruim quanto experimentar a vertigem proporcionada pelo amor – ou seria infarto?

Sua analogia poderia ser interpretada de várias maneiras, as quais se encaixam perfeitamente nas situações atuais. Era apenas um escape de diversão cheio de voltas para o moreno durante suas brigas com Wendy. Voltas essas que se transformam em toques inocentes e deste evoluem para beijos – muitas vezes lascivos – até o final da noite.

Mas todas as voltas ficam apenas para o carrossel.

Kyle é apenas um joguete comparado com a atração principal que sempre teria a atenção e a devoção de Stan.

Seu coração foi dado, mas não havia recebido outro em troca. E tampouco há devolução. Entre metáforas, sentia-se preso constantemente em um dos cavalos do carrossel. Incapaz de alcançar Stan, incapaz de fugir daquele círculo interminável.

Kyle detestava metáforas. Só não detestava mais do que o fato de estar grudado no carrossel, preso a Stan.

Tudo o lembrava vagamente de um circo, mas ele estava preso no maldito carrossel.

~*~

Garrafas espalhadas na mesinha de centro. Gotas de álcool pelo carpete e dois garotos de 14 anos sentados no chão completavam a decoração da sala escura. Stan dizia palavras desconexas e gesticulava besteiras. Kyle tentava se concentrar na mãos repousadas em seu próprio colo. Podia captar o nome da namorada - ou ex, ele não sabia ao certo – de seu melhor amigo no meio das sentenças confusas então sabia que era mais uma briga entre ambos.

A residência dos Marsh transitava entre a melancolia e a depressão. Kyle virou o rosto para o lado, ainda apoiando a cabeça no sofá, na direção da pequena iluminação vinda da janela da cozinha. A luz perdia para a escuridão. Detestava o cheiro das bebidas, detestava as sombras que pareciam sufocar-lhe e detestava tentar entender as frases confusas que Stan ditava. Sentindo a própria pulsação calma acompanhando o barulho fraco do relógio na parede, optava pelo silêncio.

Uma pequena perturbação na calmaria obrigou Kyle a olhar para o lado, encarando os olhos azuis de Stan. Estava perto demais, com um olhar ameaçador demais. Intensidade demasiada para o ruivo.

— Ky... — murmurou o moreno, passando os dedos na face do outro. Kyle instintivamente fechou os olhos momentaneamente com o movimento desengonçado do outro, absorvendo a sensação que o toque entre ambas as peles causava.

Continuava imóvel, apenas observando o maior se aproximar de si.

Perto demais. E ainda assim, nunca perto o suficiente.

Desejava que Shelly estivesse ali, e não na faculdade. Desejava que os pais de Stan estivessem ali, e não em alguma festa do departamento de Geologia.

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O toque entre os lábios apenas intensificou parte do desejo. Ainda assim, enlaçou seus braços instantaneamente ao redor do pescoço do outro, deixando que ele conduzisse o ato. As sensações do beijo não condiziam com que ele almejara.

Gosto de álcool, textura de mentiras e uma fragrância exalando ilusão.

Separaram-se silenciosos, ainda próximos. Olhares se cruzando, azul no verde. Kyle ouviria a frase que se repetiria por dois anos.

— Eu... Eu gosto de você, Ky.

Mas nunca ”eu te amo”.

Como resposta, colocou as mãos no rosto de Stan e o fitou por alguns segundos antes do maior o beijar novamente. As mãos frias tocando sua pele, deixando marcas que viriam anexas ao pedido de desculpas no dia seguinte.

Kyle nunca tomaria o lugar de Wendy.

Seu nome não seria o que causa um sorriso bobo no rosto de Stan sempre que ouve ou pensa na morena, ele não seria preferência nos compromissos.

Como Houdini, o moreno desaparecia nas horas mais oportunas, sem deixar rastros. Aparecer e desaparecer nas horas que lhe convinham, trazendo toda uma enxurrada de sentimentos consigo. Um verdadeiro truque de mágica.

Sua nova insulina chamava-se Stan. Frases fatídicas o lembravam de sua nova dependência.

Ás vezes sentia que estava preso em um espetáculo dos horrores e preferia ser apenas o palhaço, dando risadas e arrancando gargalhadas profundas de todos. Gostaria de poder enfrentar tudo com um sorriso enorme estampado no rosto, mas uma frase em sua cabeça o lembrava que ele era apenas um palhaço triste.

Queria que o sentimento fosse mútuo, mas Stan não parecia conhecer aquela palavra.

Estava preso em seu próprio carrossel. Em seu próprio círculo vicioso.

Um looping perfeito e contínuo. Não havia mais volta.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.