Do outro lado da linha

Atendimento #089: Futum


Atendimento #089: Futum

As vezes deixar tudo bem esclarecido é o melhor caminho para se evitar confusão, as vezes não, as vezes mentir é o melhor caminho, vide o atendimento anterior. Alguns clientes são tão gente boa que os atendentes fazem coisas que não deveriam para ajudá-lo, na maioria das vezes isso é um erro, pois para a empresa tanto faz se o cliente está feliz ou não, o que importa é que ele compre mais.

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— Eu não acredito que tenham dito uma coisas dessas. “Vai aprender a usar a mão pra outra coisa além de bater mandioca.” é ago meio pesado para se dizer para um freguês, não? — Ezequiel não era adepto a todas as politicas da empresa e sempre que podia dava uma escapada delas para ajudar o ferrado do outro lado da linha.

— Mais disseram colega, disseram tudo isso de mim na cara. E sabe o que é pior? — Robério falava do Maranhão, mas seu sotaque era bem sutil, provavelmente não era natural daquele estado. — Eles falaram isso na minha presença.

— Ué? Na cara não têm de ser obrigatoriamente na presença? — Pensou o atendente. — Bom senhor Robério eu custo a acreditar que a autorizada tenha dito tudo isso mesmo, mas vou fazer o seguinte. — Nosso herói abaixou o volume da chamada e da voz. — Eu vou ligar na assistência pra conferir com eles o que aconteceu exatamente.

O cliente entrou em contato com a central de suporte para informar a empresa que uma de suas autorizadas recusou-se a atendê-lo. Teoricamente isso não pode acontecer e caso a mesma o faça está fadada a tomar uma encarcada tão forte, mais tão forte que no final do processo o dono dela estaria vendendo pastel de feira.

Ezequiel puxou a segunda linha de seu telefone e começou a entrar em contato com a autorizada.

— Senhor vou colocar tudo em panos limpos, o senhor vai escutar exatamente tudo que for conversado com a autorizada mas não conseguira ser ouvido, está bem?

— Adorei a ideia. Pode ligar.

Apertando o conference as duas linhas tornaram-se uma só e o cliente não mais era ouvido pelos dois.

— Autorizada Maranhão você fala com Djavan, diga aí.

— Oi eu sou Ezequiel da central de suporte, tudo bom?

Com exceção da autorizada da prima de nosso herói todas as demais possuíam um respeito ou um certo cagaço ao atender alguém do suporte. Sim, impressionante não? Se colocássemos em uma escala de hierarquia o mais baixo seria o cliente, depois a autorizada, suporte e lá no topo, depois de gestores, coordenadores e toda a trupe do chaves estava Catherine com seus produtos de marcas poderosas.

— Oi meu querido como estão as coisas por aí? Têm recebido boas noticias da nossa autorizada?

O cliente mesmo no mudo riu com a atitude do representante.

— Ai que tá meu amigo, eu estou com um cliente em linha aqui que estava reclamando justamente do serviço de vocês. Só um instantinho eu vou falar o nome dele. Robério Catalunha tiburcio. Se recorda de alguém com esse nome?

— Poxa acabei de lembrar. — Ele mentia muito mal, chegava a dar vergonha de tão escancarado que era a farsa, a empolgação era igual a de quem encontra o melhor amigo, mas a verdade era que ele não fazia ideia de quem era o corno. — Só um segundo que eu vou conferir aqui os dados dele. — Demorou um pouco e retornou.— A sim, ele veio aqui hoje. — Já tinha a voz séria ao se recordar do individuo.

— E ai o que tem a dizer?

— Então amigo, esse infeliz vem aqui na loja fedendo mais que gambá cagado só pra fazer festa. Já dissemos que não tem o que fazer por ele e nada de ele meter isso naquela cabeça.

— O cliente têm direito ao reparo, Djavan. Não importa se o cara cheira a rosas ou a bafo de vômito em balada, você tem de prestar o suporte para o malandro.

— Amigo você não tá entendendo o futum é tão gigantesco que os outros clientes saem da autorizada na hora que ele chega. Uma das atendentes se demitiu depois que ele tocou na roupa dela. Queimamos o tapete que ele limpava o pé, trocamos o filtro do arcondicionado e ainda lavamos a loja três vezes para aquela carniça que ele deixou, desaparecesse por completo.

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Sentindo o cheiro das próprias axilas o atendente deu graças a deus por telefone não passar odores. Mas antes que se aliviasse lembrou-se de um detalhe.

— Djavan.

— Amigo, eu sei que vocês aí são os caras, mas vem aqui pra linha de frente passar cinco minutos com essa carcaça que anda pra você ver.

— Djavan. — o atendente chamou o representante da autorizada.

— O que foi cara?

— O cliente tá te ouvindo.