Do outro lado da linha

Atendimento #088: Verdade


Atendimento #088: Verdade

Você já imaginou se o atendente diz tudo o que ele pensa? Pois é, nossos heróis, por mais soltos que sejam não falam tudo. Poderia citar uma centena e meia de razões, mas para facilitar vou falar apenas uma. Eles precisam de seus empregos.

Não provoque um atendente, se ele perder o controle é bem capaz que ele seja demitido. Claro que as chances disso acontecer vão a quase zero se o atendente tiver tomado um suquinho de caju, mas ainda assim, vamos ajudar o pobre lascado.

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Antônio já vira alguns descontroles em atendentes de outros setores, quando isso acontecia rapidamente seguranças eram acionados e a chamada encerrada. Houve uma situação certa vez que a policia foi chamada para conter o descontrolado que, por alguma razão tentou engolir o mouse,

— Certo senhor vamos lá. Este é um novo atendimento, sem nenhum vinculo com o anterior, vamos manter o nível e eu o ajudarei. — O atendente per-fei-to acabara de receber uma chamada de um cliente alterado, entretanto como sua paciência era infinita ele nada temia.

— Vai então, verifica esse protocolo pra mim antes que eu me irrite de vez. — O cliente disse os dez números que compunham o código de referência. — Conseguiu copiar esse lixo?

O atendente, calmo como uma vela derretendo, localizou o registro. O cliente entrara em contato pela ultima vez havia um mês e meio. A ira dele parecia caracteristica de quem acaba de ter um péssimo serviço,mas isso não poderia ser a resposta, ao menos não pelo suporte.

— Senhor eu verifiquei que o seu ultimo contato conosco foi a um mês, por acaso o problema voltou a aparecer?

— Quem me dera ele tivesse sido resolvido alguma vez. Eu liguei para vocês e ninguém veio aqui arrumar a minha linha telefônica. Quando eu fui falar com o setor responsável eles me disseram que VOCÊS não autorizaram.

Intrigado com a ênfase na afirmativa do cliente, Antônio foi verificar qual de seus colegas realizara o atendimento. Com uma rápida consulta ele vira que fora Fabiana quem prestara o suporte para o coitado.

— Só um momento. — O atendente colocou a chamada no mute e foi até a mesa da pupila de Ezequiel. — Oi Fabi, você pode me explicar uma coisa por obséquio?

A garota girou a cadeira em 180 graus o fitando nos olhos, sua expressão era de desdém e sono. Sua chamada ja batera os quarenta e cinco minutos e o cliente só estava começando.

— Senhor aguarde um instante enquanto eu falo com um colega de setor que é marica. — Colocou no mudo e retirou o head, o cliente ficara reclamando, mas ela não estava nem aí. — Que foi abirobado, por que você veio aqui?

— Então minha estimada

— Fala direito, — A garota armou o soco e já se posicionou para acertá-lo no meio das pernas. — meu ouvido não é microfone para ficar ouvindo palavras cantadas.

— Desculpe é força do hábito. — O atendente forçou-se a falar normalmente, o que era difícil para ele. — Eu tenho um cliente que disse que nós não autorizamos o reparo da linha dele.

— Espera, acho que sei quem é esse. — A garota puxou do fundo da memória o caso que ocorrera com ela logo quando começou a atender. — Esse não foi o cara que eu atendi quando ainda estava de escuta? Atendimento #027 se eu não me engano.

— Isso mesmo, ele disse que ninguém foi resolver o problema dele lá.

— Faz um favor — Ela já o empurrava para longe. — vai pra tua mesa e lê que eu escrevi para o cliente.

Ezequiel mesmo sem querer ouvia a conversa a se desenrolar ao seu lado, sua aprendiz a muito já ficara craque em atender, mas aparentemente um erro de seu passado estava para ressurgir.

Enquanto Antônio voltava para seu lugar nosso heroi foi até a mesa da colega.

— Ei. — cutucou-a no braço. — Você se lembra do que você escreveu naquele protocolo?

Fabiana parou por um momento e tentou se recordar. Sua mente só se lembrava que o cliente era um louco paranoico que achava que a empresa teria derrubado uma árvore em sua rua só para ele ter o serviço interrompido. Na mesa do colega ela conseguiu ouvir.

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“Cliente é um retardado maniaco que acha que nó contrataríamos uma equipe de poda de árvores apenas para fazê-lo ficar sem seus serviços por um breve período de tempo. Informei que ele deveria procurar um sanatório por que sua maluquisse está passando dos limites. ”

A voz era de seu colega que lia exatamente as verdades que a garota escrevera em seu primeiro protocolo.

“ Enrolem para arrumar essa porcaria o máximo que der, ele merece por ser tão”

Fabiana correra desesperada arrastando fios derrubando cadeiras apenas para derrubar a chamada de Antônio.

— Já entendi, nunca deixar vestígios da minha opinião.