Do outro lado da linha

Atendimento #070: Treinador


Atendimento #070: Treinador

Conhecimento é poder, isso todo mundo sabe. Mas e a hora de usar a inteligência?

Aaaa, viu? Te peguei! Não adianta nada você ser um mega intelectual e ficar usando seu saber pra calcular ângulos de tacadas de bilhar, a menos é claro que você esteja no campeonato mundial de bilhar. Quando ligamos para um suporte, ou para uma central de telemarketing, ou o que seja, é por que não sabemos ou precisamos de ajuda. Devido a isso os atendente estão habituado a tratar com gente, digamos...burra. Mas as vezes, raramente, mas beeeeeeeeem raramente mesmo, acontece de alguém ser inteligente.

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— Ezequiel bom dia com quem eu falo? — O atendente acabara de sair de uma chamada de uma hora, o ultimo cliente fora tão leigo que dava até tontura no nosso heroi.

— Bom dia Ezequiel eu já tenho um registro ai com vocês, pode anotar meu CPF?

— Certo senhor. — Nosso atendente recolheu o dado do cliente e localizou seu registro. O atendente notou que o cadastro realmente existia, entretanto, por alguma razão obscura do destino o cliente nada tinha em seu nome. — Senhor eu estou vendo aqui que.

— Sim eu sei o que você está vendo. — Interferiu o cliente Willian. — Na sua tela tem alguns campos com nome, telefone e até endereço, mas no lugar onde teria a minha lista de produtos está vazia.

As informações que o cliente dissera estavam corretas, aquela bruxaria, como assim pensou nosso protagonista, era impressionante e assustadora. O atendente colocou a chamada no mute, iria chamar Igor para que o mesmo visualizasse o ocorrido, porém ante de erguer o braço o cliente o chamou.

— Não precisa erguer o braço, não têm nada de errado acontecendo.

Catatônico Ezequiel parou o movimento, olhou ao seu redor procurando alguma pessoa com o telefone na orelha, mas logo parou ao se lembrar que estava em uma central, ou seja, TODOS tinha telefones no ouvido.

— Eu sei o que está pensando; Como ele sabe que eu estava levantando o braço? — Willian riu calmamente. — Eu preciso só tirar algumas dúvidas meu colega, não precisa chamar o supervisor, você só iria tomar o tempo dele.

— Tá e quem é você então? — O atendente perdeu a formalidade naquele instante. Concluiu que o cliente não era apenas alguém comum. — O que você quer saber?

— Relaxa Ezequiel, eu só quero saber como estão as coisas por aí. Faz tempo que não vejo você. — O atendente franziu a testa criando rugar maiores que idosos de cem anos, estas, para infelicidade dele, nunca mais sairiam de sua face. — A empresa continua no segundo andar?

Com os olhos fixos na placa que dizia “Segundo andar” nosso herói concluiu que aquela pessoa só poderia ser um funcionário, ou um ex funcionário.

— Perdão senhor, eu não posso passar esses dados. — E realmente não podia, se a quela chamada fosse monitorada ele estaria lascado, pois não podia em hipótese alguma passar dados internos. — Eu adoraria confirmar sua dúvida, não que eu não esteja, é só que eu não posso dizer sim.

O cliente e ex atendente Willian notou o que o colega queria dizer com aquilo. A inteligência de Ezequiel fora usada para confirmar a dúvida do amigo sem dizer exatamente o sim.

— Entendi. — Anunciou o cliente. — Cara eu poderia até dizer que eu tenho saudades de atender, mas aí eu estaria mentindo muito. Por que você não se solta nessa chamada? — Willian gargalhou como se fosse a melhor piada do mundo. — Você ai do outro lado da linha e eu fingindo se o cliente chega a ser engraçado.— Silêncio. — Já que eu liguei vou fazer todo o jogo com você.

Ezequiel começava a reconhecer a voz daquele sujeito, lembrara ali que ele era o colega que lhe ensinara tudo no inicio, o seu treinador.

— Atendente eu estou com um problema no meu produto. — Willian mudou a entonação totalmente, de tão abrupto que foi o operador chegou a estranhar. — Meu celular não liga, o que pode ser?

Com uma expressão idêntica a de um peixe sendo frito, nosso herói resolveu embarcar na brincadeira. Afinal, melhor fingir uma chamada do que atender um cliente burro de verdade, não?

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— Bem senhor pode ser que o mesmo tenha descarregado, talvez seja por um uso constante. — Justificou-se.

— A...talvez seja por que eu fique vendo muito vídeo de sacanagem? — Willian indagou com uma inocência de um roceiro.

Ele era bom ator! Ninguém podia negar, mas aquilo fora o suficiente para balançar o operador e fazê-lo quase perder o controle e cair na risada.

— Talvez senhor, talvez o senhor deva dar uma maneirada no auto amor.

— Como assim? — Fingia-se muito bem de trouxa, mas queria apenas ver o atendente perder a linha e a mão na ligação, transformando uma chamada onde ele poderia sem bem avaliado em uma ligação perdida. — Como assim auto amor?

Balançou a cabeça, escapou uma risada leve.

— Descabelar o palhaço senhor, esfolar o boneco, desencapar uns fios, desbicar a pipa. — Ele não aguentou e caiu na risada. — Você não me treinou para isso seu infeliz!