Do outro lado da linha

Atendimento #006: Sábado


Atendimento #006: Sábado

Quem trabalha sábado sabe bem o quão chato é o expediente; pouco o que fazer, cliente mais lerdos do que o de costume, dia arrastado e ânimos no nível: “Meu Deus, quero morrer!” Na central que Ezequiel trabalha não era diferente, os dias de serviço iam desde a segunda ao sábado e nosso herói era escalado para cada um destes dias.

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— Moço? Tá me ouvindo? — A cliente chamava pelo atendente do outro lado da linha.

— Oi senhora Ana, só mais um momento. — Respondeu Ezequiel antes de colocar a chamada no mudo. O atendente voltou-se para a menina ao lado. — Essa aqui não têm marido, tá ligando sábado a essa hora pra reclamar. — Tirou do mudo. — Bom, senhora o que poderia estar fazendo no caso de seu produto é estar levando na autorizada.

— Ela tá enchendo o saco? — A garota mascava chiclete interessada na ligação alheia. Seu colega sinalizou positivo. — Se livra dela logo, manda ela ir arranjar um macho.

A cliente se queixada da qualidade do produto e não desejava levá-lo a assistência.

— Eu vou levar para um lugar que podem trocar as peças do meu produto? Acha que eu não sei vira e meche fazem isso? Nossos produtos voltam piores do que entraram. Os sites de reclamação estão cheios desses relatos. É isso mesmo que você quer que eu faça?

— É...— Respondeu Ezequiel balançando a cabeça em sinal de tédio e sono.— Exato.

— Olha aqui seu idiota.— Antes que ela iniciasse os insultos, o atendente a mutou.

— Ooooou — A garota balançava a mão como quem instiga uma briga. — Não deixava não, manhã de sábado e você está sendo xingado por uma velha.

A garota estava particularmente alegre naquele dia, provavelmente tinha virado a noite bebendo com os amigos. Isso certamente explicava os olhos vermelhos. Ezequiel tentava atender a cliente bem, mesmo quase caindo no sono. Porém o insulto o fez despertar.
— Idiota não senhora, estou cumprindo minha tarefa. A senhora falou todo o problema do seu aparelho e eu informei o procedimento, se quiser encaminhar eu passo o endereço, se não eu passo o protocolo. Sei que é difícil para senhora, mas vamos manter o nível aqui.

— Eu não quero mais esse produto eu quero a troca dele agora!

— Claro senhora é pra já, eu vou agora mesmo sair daqui e ir buscar o produto da senhora na sua casa está bem? — A resposta foi extremamente sarcástica. — Senhora Ana, entenda que de toda e qualquer forma esse produto tem de ir para autorizada. Ou a senhora acha que nós contratamos anjos para ir voando até a casa da senhora buscar o produto?

— Então passa logo o endereço dessa porcaria vai!— A cliente ficara estressada. O atendente informou os dados do lugar.— Tá e você acha que eu consigo sair com um produto novo de lá ainda hoje?— A cliente tinha perguntara com uma superioridade ridícula.

Amanda riu na cadeira ao lado, a crença de que o cliente conseguiria trocar seu produto de forma tão fácil era hilária para ela. Ezequiel também acreditava nisso, porém conteve-se.

— Coitada, tá se achando a rainha da Inglaterra.— A voz saiu em meio a gargalhada.

— Senhora eu acredito que não vai ser possível hoje, aliás tenho uma boa pista disso.

— É mesmo especialista, por que não me diz então? — Indagou a cliente venenosa.

— Por que hoje senhora é SÁ-BA-DO e as autorizadas estão fechadas!