Do outro lado da linha

Atendimento #037: Preguiça


Atendimento #037: Preguiça

Acordar cedo em um dia de inverno é tão ruim. Sair da cama quentinha, vestir uma roupa fria e a principio desconfortável, pegar trânsito, mesmo estando de moto e por fim chegar na sua mesa para trabalhar e uma bosta.

Amanda vestida de touca e cachecol já se preparava para atender quando seu colega “intimo” a alertou.

— Aé o manola, está com fila. — Ezequiel tinha uma cara de sono e olheiras fundas.

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Fila em atendimentos significa justamente isso que você está pensando. Mais pessoas ligando do que atendentes em linha, por isso quando você liga para sua operadora de telefone quem atende é a atendente eletrônica.

— Que inferno, jura mesmo? — O rapaz fez que sim com a cabeças. Ela Bufou amanda em desagrado. — Deixa eu ver… — Em seu telefone a garota colocou os códigos para ficar disponível para atender. No mesmo instante um cliente surgiu querendo atendimento. Fez um muxoxo.— Amanda bom dia, com quem eu falo?

— Aqui é Josicleyson. — O cliente anunciou-se de maneira lenta e arrastada. Se uma tartaruga é lenta, tente imaginar uma tartaruga em slowmotion e travando... Leeeento desse jeito.

— Certo senhor Josicleyson, e como eu posso ajudar? — Amanda nem se quer tinha se ajeitado na cadeira e já estava trabalhando.

— É… — O cliente parecia estar pensando a razão para ter ligado. — E…

Amanda colou o telefone no mudo e deu um soco no ombro de Ezequiel com toda sua força. Assustado o rapaz virou-se para ela com uma expressão confusa estampada como quem diz: “Tá maluca infeliz? Bate na tua mãe pra ver se ela curte!”

— Senhor ou você fala ou eu juro que vou desligar.

— Oxe menina, eu tô pensando… — O cliente ficou mais alguns segundos pensando no que diria. — Que cancêra, mas eu acho que era minha televisão que tava parada aqui.

— Graças Deus que você falou ein! — Agressiva e já morrendo de calor Amanda terminava de iniciar seu sistema. — Então tá, como é essa treta aí?

Ezequiel começou a nota as mãos da mulher pulsando como se estivesse preparando outro golpe. Por muitos anos ela treinara artes marciais, algumas delas foram o boxe, krav maga, jiu jitsu e taekwondo; por isso rapidamente ele foi até sua mochila.

— Assim fia, eu tava na minha aqui né. — O cliente parou de falar por um momento. Esse “momento” logo tornou-se um minuto inteiro.

— Senhor? — A garota se remoía por dentro para não xingá-lo. — O senhor está bem?

— Tô sim, só to cansado de mais. Espera eu respirar. — O cliente não parecia estar se movendo. — Assim eu tava assistindo meu programa aqui na boa, aquele soninho bommmm — Sua voz tornou-se “sono-lenta”, isso mesmo sonoooooooo e lentaaaaaaa.

Amanda estalou o pescoço pronta para matar o cliente se ele não lhe dissesse algo de verdadeiramente útil.

— Aí ela desligou e eu não consegui ligar de novo. A luz dela acende normal, mas eu não consigo ver nada.

— Certo… — Amanda respirou profundamente contando até o infinito duas vezes.— o senhor já tentou apertar o botão de ligar do seu controle remoto?

O cliente parou com sua respiração irritante próxima ao telefone. Pareceu se distânciar do aparelho celular.

— Pior que não ó...

— E por que não? — A atendente para não insultá-lo mudou a forma de falar para uma doce menina comportada. — Têm algum problema?

— É que tá muito longe da minha rede e eu to com preguiça…

Ezequiel ergueu no mesmo instante um objeto quadrado em frente ao rosto, sua esposa virou furiosa e socou a placa sólida com toda a força. O impacto foi suficiente para fazer a cadeira do atendente se deslocar alguns centimetros sobre as rodas.

— VOCÊ TÁ ME ZOANDO NÃO É CARA#$%? — A garota gritou na operação, seus colegas se levantaram das mesas e olharam curiosos. — E PRA CAGAR VOCÊ TÊM PREGUIÇA DE IR AO BANHEIRO TAMBÉM?

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Nosso herói abriu a embalagem do objeto quadrado revelando o que era. O bloco sólido era uma barra de chocolate de dois quilos que ele carregava para momentos emergenciais como aquele. Notou que o doce tinha sido partido em vários pedaços menores. E..sério mesmo, já concebeu a grossura de uma barra de dois quilos? É uma pedra! Então calcule a força da desgraçada!

— Eita. — Falou nosso herói quase de maneira inaudível.

Pegou um pedaço do chocolate e começou a comer. Assim que deu a primeira mordida a garota virou-se para ele com chamas nos olhos. Rapidamente ela colou seus lábios aos dele, porém não tinha nada de romântico ou mesmo terno naquilo, ela queria tomar-lhe o doce a todo custo da boca.

— Certo moço. — A garota retornou a chamada com a boca suja do marrom do chocolate ao leite. — Levanta essa bunda da cadeira agora e vai apertar o botão da televisão. Se ela não ligar me avisa.

— Nossa! — A voz do cliente soou funda, ele tinha deixado o celular na rede e ido ligar a televisão com a mão. Retornou. — Funcionou fia, acho que era só isso mesmo.

— Tranquilão senhor! — Amanda lambia os dedos de Ezequiel que estavam sujos do chocolate melado. — Se tiver mais alguma dúvida, antes tenta se levantar e fazer alguma coisa beleza?

Igor em sua mesa percebeu o alvoroço, entretanto não saiu de sua cadeira para avaliar o que acontecia, ao invés disso ligou na mesa de Ezequiel que logo atendeu.

— TPM? — Questionou ele em voz baixa.

Ezequiel apenas ergueu o polegar positivamente para seu supervisor.