Do outro lado da linha

Atendimento #028: Crise


Atendimento #028: Crise

Produtos inovadores são ótimos para facilitar nossas vidas, o que seria de nós sem energia elétrica, sem telefone, sem pornografia e outras coisas de importância vital?

Sabemos bem que a inovação trás muitos problemas para privacidade, principalmente se tratando de meios audio visuais onde a informação se propaga fácil, fácil. Se toda conversa que Ezequiel ouvisse fosse escrita, bem… esse livro seria apenas um em uma série gigantesca.

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— Ezequiel o meu produto e o ferro de passar elétrico modelo…

— Seu corno! — Um grito de mulher interferiu o cliente.

Ezequiel com seus olhos pesados despertou ao ouvir o grito. Ainda era inicio de dia e a preguiça juntamente com o frio da ar-condicionado o faziam atender devagar. Colocou a chamada no mudo.

— Certo, — deu um tapa na própria face. — um cafe da manhã e uma chamada que tem tudo para ser treta, mas que dia, que lindo dia! — Lamentou recordando-se da fala do filme que viu no dia anterior. Estralou os dedos, retirou do mudo. — Certo senhor Natanael qual o problema que acontece nele?

— Amigão eu estava tentando passar uma roupa e quando eu coloquei ele na tomada ele explodiu.

Na mente de Ezequiel vieram imagens dos ataques a bomba em países do oriente médio, depois disso seu foco se perdeu fazendo o lembrar de sua esposa em casa que tinha feito um pudim incrível.

A boca do atendente salivou. A fome e o sono o deixaram só um pouco “noiado”.

— Seu brocha! — Novamente a voz de uma mulher o fez voltar para a ligação. — Ta procurando ajuda pro negócio que eu quebrei?

— Senhor, posso fazer uma pergunta? — chamou o cliente.

— Sim Ezequiel eu sou bro.

— Não é isso amigo. — interferiu com um tom solidário. A central estava silênciosa, era cedo e nem mesmo Amanda ainda chegara. Ezequiel aproximou-se do telefone falando baixo.— É sua esposa que está furiosa né?

O cliente mudou de comodo, fechou uma porta fazendo o som dos gritos psicóticos de sua mulher diminuírem de volume. Com o produto na mão, ou o que restou dele, ajeitou-se na cadeira.

— Ela está passando por um período complicado da vida dela, não quero tratar muito disso. Vamos partir para o suporte ?

— É TPM senhor?

— É isso mesmo...— A confirmação do cliente fez o atendente estalar os dedos em comemoração. — Podemos partir para o suporte?

— Claro…

O atendente começou a explicar para o cliente os procedimentos necessários para substituição de seu aparelho, por que né...explodiu, então acho não teria mesmo como arrumar. Ao fundo a mulher esperneava como se sua vida dependesse disso, eventualmente ela batia na porta de madeira que os separavam. Sempre que isso acontecia o cliente respirava mais fundo, seu medo era que as dobradiças não aguentassem e a mulher invadisse o lugar.

— Vou arrumar outro macho! Você não serve para nada! — outro estilhaçar mais perto chegou ao ouvido de Ezequiel. — Você é pior que mulher na cama seu lixo!

— Senhor eu…

A mulher bateu com a cabeça na porta, o impacto foi o suficiente para deslocar as travas.

— Amigo fala o que eu faço com meu produto pelo amor de Deus. — O cliente suplicava como uma pessoa que está prestes a ser atacada por zumbis. Sua vergonha em ter de ouvir aquilo era suficiente para fazê-lo enterrar a cabeça na terra.

— Natanael larga esse produto em algum canto e procura alguma coisa para se defender! — Ezequiel tomou as dores de seu cliente. Se o mesmo não fizesse nada alguma coisa ruim aconteceria. — Doce… — Lembrou.

Desesperado Natanael procurou no comodo onde estava.

— Eu estou procurando, mas para que? — Seu desespero é nítido.

— Chocolate! Isso vai te salvar! Encontra chocolate.

A mulher buscou uma chave extra presa em algum lugar na casa. Abriu a porta. Tudo ficou silencioso, Ezequiel pensou que o pior tinha acontecido. De repente barulho de algo sendo mordido chegou até ele.

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— Funcionou… — aliviado o cliente respirava profundamente. — Ela tá comendo uma barra de chocolate.

— Nossa, foi por pouco. — o atendente ajeitou a posição na cadeira. Outro atendente chegou naquele momento. — Minha nossa senhora que mulher agressiva, ainda bem que minha esposa não é assim. —

A mulher do outro lado da linha parecia um leão faminto devorando o doce. Ainda irritada deu um tapa no marido.

— Eu não estou de TPM.

— Eu sei que não meu amor, eu sei que não. — Natanael estava claramente assustado com o que ela poderia fazer. — Eu sei que não por isso o ferro explodiu quando você jogou ele mim...por que você está tranquila.— Revelou a real razão do defeito.

Ezequiel colocou no mudo e parou por rum momento para conferir o endereço do cliente.

— Acho que vou chamar a policia, por que se ele não tiver mais chocolate em casa...