Do outro lado da linha

Atendimento #229: Alfa-beto


Atendimento #229: Alfa-beto

Você que não acha que aquelas aulas não são relevantes no currículo, você que pensa: “tudo bem ficar assim do jeito que eu estou, já sei o suficiente” saiba que as vezes você pode está sabotando um futuro suporte que você venha a precisar.

— Olha eu já tentei, ele fica mandando cantada, mandando indiretinhas a cada frase que eu falo.— Alana batia o pé repetidamente, se tinha uma coisa que aquela mulher odiava era ficar recebendo cantadas baratas de pessoas idiotas.

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— Isso é verdade, — Amanda se levantou.

— Você não ia ficar em casa a partir de hoje mulher?

— Não tive vontade, enfim. — virou-se para a colega ignorando totalmente o marido a reclamar da falta de responsabilidade dela. — Esse babaca estava comigo também em ligação e não estava conseguindo nem falar o nome das coisas direitinho, só fica mandando cantada idiota. — Apontou para Ezequiel, espera aí que ele vai resolver.

Nosso herói notou que a esposa estava particularmente mais agressiva naquele dia, obviamente ele nem cogitou a hipótese de pegar a barra de chocolate, afinal de contas a tpm não era possível.

— Oxe fala direito rapá, — a garota que ele encarava abaixou-se e da bolsa retirou um chicote preto. Ezequiel se levantou e foi ajudar a subordinada. — Só vou porque é meu trabalho, viu?

— O produto dele é um TV. — Alana entregou-lhe o headphone e em seguida ingeriu o placebo que ela acreditava ser calmante. — Tenta resolver com ele, por que com mulher ele não consegue falar, ele se acha o macho alfa.

— Senhor Beto.

— Opa! — o cliente respondeu como quem acorda bruscamente na cama.— Quem é que fala?

— O senhor fala com o supervisor da operação, meu nome é Ezequiel; porque o senhor não para de frescura e simplesmente faz os procedimentos?

O cliente percebeu que a central não era uma coisa isolada, ele descobriu da pior maneira que os atendentes se comunicam entre sí e avisam dos casos dos clientes babacas, assim como ele.

— A, bem, veja bem.

— Veja bem né? — Nosso herói não estava de gracinhas. — Você vai fazer essa parada comigo beleza? Então tá. — Emendou sem dar espaço ao cliente. — Fala aí exatamente o modelo do seu televisor.

— A...er..

— Bora irmão eu to com saco para você não. — bixo bruto! Mas vai o cara ficou falando um monte de cantada para a mulher dele, fora que essa o estava ameaçando com um chicote caso não resolvesse.— Soletra isso aí letra por letra, senhor Alfa-Beto.

— Tá bom é “T” de tatu, “E” de igreja, L de laranja.

— Pera, pera, para. — Nosso supervisor submisso não era de ficar corrigindo erros gramaticais, mas aquilo era necessário para a continuidade da chamada.— Como assim E de igreja senhor?

— Isso ué, você não sabe ler por acaso?

— Como assim senhor? Você por acaso não percebe que igreja é com a letra “I”?

— Amigo acho que o equivocado é você, — O cliente respirou pesado, estava nítido a decepção que ele tinha com o supervisor. — Falar com mulher rende uma conversa tão mais esperta e gostosa viu…

— Amigo, se o “E” é de igreja, qual é a letra que inicia a palavra ESCOLA?

Fez se um minuto de silêncio.

— A letra “I” ué, I de escola.

— Não acredito, — O headset foi largado na mesa.— Alguém combinou isso aqui não é possível! — Retornou a chamada. — Tá senhor vai falando do jeito que o senhor acha que ta certo que eu traduzo para o português entendível.

— Tá bom então.— O cliente pigarreou.— “GUÊ” de gato…

— Aff —Ezequiel desligou a chamada na cara do cliente.