Atendimento #210: Gaguês bilingue

Atendimento #210: Gaguês bilingue

Ser gago é um problema sério principalmente quando se trabalha com o público, claro que isso não impede que você, sendo um gago que trava mais que um intel celeron, trabalhe em uma grande empresa de rádio ou televisão.

— Pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau-pau.

Mas convenhamos que fica meio que complicado você tentar buscar suporte estando com uma crise né?

Ezequiel observava a chamada de Alana com as mãos nas têmporas, o cliente não parava de travar e ele não sabia se a garota tinha conseguido ou não resolver o problema dele.

— Pau-pau-paulista é uma raça desgraçada mesmo.

— Senhor eu sou paulista tá ? — Dava nitidamente para ouvir a garota mastigando capsulas de comprimido na boca.— Não ligo se o senhor for gago, seu eu tiver que ficar ouvindo insultos xenofóbicos eu juro que eu desligo.

Ezequiel observava o requisitos que a chamada da garota deveria ter e tudo corria perfeitamente bem para ela, bastava apenas conseguir resolver o problema dele, se assim fosse possível, sem chamar a mãe dele de leiteira.

— Eu-eu-eu-eu-eu-eu peço descu-descu

— Eu entendi, não precisa se desculpar, quanto menos o senhor falar melhor para nós dois, assim não ficamos dois anos para terminar essa ligação.

— Graças a Deus.— Comemorou Ezequiel que continuava a ouvir a chamada gravada de dois dias anteriores.— Também não estou afim de ficar aqui até amanhã não.

— Tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra-tra

— Agora virou o homem metralhadora. — Falou Ezequiel começando a abrir seu almoço na mesa mesmo, afinal ele percebeu que demoraria mais do que ele poderia esperar.

— Senhor, eu não sei quem o senhor está tentando aniquilar com essa metralhadora, mas eu vou fazer diferente, eu vou perguntando e o senhora via respondendo sim ou não, certo?

— Tá. — O cliente parou, tirou o telefone da orelha e começou a falar com uma pessoa ao seu lado. — Hi sir, please wait here, i need one minute only.

Naquele instante ambos ficaram assustados, a atendente e o supervisor que a monitorava. Sim o susto de Alana foi tamanho que a mesma deu um pigarrear que teria tirado até entidades sobrenaturais de seus pulmões.

— Como assim cara? — A funcionária pensou ter enlouquecido.— Senhor, que falou em inglês foi o senhor?

— Sim moça, eu-eu-eu-eu-eu-eu tra-tra-tra-trabalho para um grin-gringrin-go quye perdeu o notebook para um pau-pau-pau-lis-lista. Ele quer saber se-se-se têm como ras-ras-rastrear.

— Tá entendi. — A atendente passou a registrar o caso do cliente no sistema. Ela sabia que o cliente não poderia ter o produto de volta pois não existe nenhum tipo de rastreador, mas Alana considerava divertido fazer os clientes acharem que ainda possuem alguma esperança.— Então senhor, o seu cliente perdeu mesmo, o paulista que levouy o produto não era trouxa e sabia que não teria como rastrear ele, então, em outras palavras mais simples, rodou.

— Sé-sé-sé-sé-sério mesmo? — E atendente prontamente confirmou a informação. — Eu vou passar a informação para meu cliente. — O gago colocou o telefone de lado deixando a chamada mais baixa para Alana.— Lord they claim it will not be possible to recover, according to them your notebook does not have a GPS

Ezequiel, que tinha um pedaço de bife na boca, engasgou ao perceber que realmente aqauilo que ele estava pensado acontecia.

— Um gago bilíngue! Essa é ótima! — Ezequiel tentava engolir a comida com suco de caju.

— Senhor, eu posso fazer uma pergunta antes de finalizar? O senhor percebe que quando fala inglês sua gagueira desaparece?

— Se-se-se-se-serio? Dei-dei-dei-dei-dei-deixa eu ver. — Entoou a voz. — I speak English quietly and naturally — Surpreso, o homem confirmou. — Ver-ver-ver-ver-verdade.

Enquanto Alana passava o protocolo Ezequiel precisava de ajuda para se desentalar com a comida que ficou presa enquanto ele ria.