Do outro lado da linha

Atendimento #190: Araya


Atendimento #190: Araya

Você acha que os telefones dos atendentes são os mesmos que você está acostumado a usar? Não, de forma nenhuma. Já vimos que esse aparelho construído por satanás para transmitir reclamações até a orelha dos atendes é muito mais complexo; mute, hold, conference, estes são são apenas algumas das funções que citamos aqui. Mas já imaginou ter um negocio desses em casa?

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— E aí galera eu tenho uma noticia maravilhosa!

Sempre que um supervisor grita essa frase só uma coisa pode ter acontecido. O sistema telefônico caiu…

— O sistema da Araya CAIU!

Ó lá, não falei?

Araya é o nome que os atendentes deram para o telefone que eles usam no trabalho. O apelido surgiu desde antes de Catherine aparecer na empresa e vender seus produtos, dizem que o nome foi em homenagem a arraia que é um bicho tranquilo, mas se você fizer alguma cagada ela usa o ferrão que têm no rabo para te matar.

— Isso só quer dizer uma coisa! — Ancelmo levantou a bola e apontou para Cássio para que esse completasse.

— PUTARIA! — O atendente tirou a camiseta de botões deixando o panceps a mostra, o curioso era que o atendente tinha estrelas adesivas coladas no peito. É...eu também não entendi direito o que ele estava fazendo antes de ir trabalhar, mas né.

— Não senhor, pode parar por aí. — Ezequiel interrompeu o colega empolgado antes que esse abaixasse as calças e saísse por aí bancando o bixo piruleta.— O sistema caiu mas têm gente atendendo ainda.

Geralmente quando o sistema das arayas cai, as ligações ficam mudas e os clientes acabam encerrando o contato, entretanto, por alguma razão obscura do destino, a chamada de Amanda continuava ali intacta com um cliente que estava no meio da balada.

— Aê, vambôra quero passa o telefone pra essa novinha aqui parça, quero saber o número do meu telefone.

— Serio mesmo cara? Olha pra hora! São dez da manhã de segunda feira! O que cacetes você está fazendo na balada a essa hora? E mais por que caralhas flamejantes você quer seu número seu animal! Liga pra o telefone da menina que ela vai anotar.

Amanda estava estão irritada por ser a única na operação inteira a atender que estava distribuindo coices gratuitamente.

— Mas você está ai para servir quem liga pra você menina! — O cliente parecia mais embriagado de sono do que pelo álcool. — Bora logo passa pra mim.

— Tá surdo mano? — Começou a elevar a voz.— Liga para a menina, eu tô sem sistema pra te passar cara, se quer tanto assim retorna o contato conosco amanhã que eu passo. Não sei nem como têm alguém na balada segunda de amanhã.— Como sabemos o contato do cliente sempre aparece no telefone dos atendentes, mas Amanda não queria e não iria passar.

O cliente passou o telefone para a garota com quem ele queria jogar peteca.

— Olha só, aqui é festa todos os dias, a culpa não é nossa se vocês são uns lascados que só podem ir para a balada no fim de semana como a maioria dos ferrados!

— Olha aqui sua-

Amanda foi impedida por Ezequiel que se aproximou e tomou-lhe o headphone.

— Relaxa, deixa comigo.— Tirou do mute. — Senhor no momento o nosso sistema não está funcionando, infelizmente não podemos passar a informação desejada, pedimos a compreensão, se não quiser compreender pau no seu C#

— Olha só a mulher teve de chamar um homem por que ela sozinha não dá conta!— respondeu a cliente rindo.

Infelizmente a garota estava próxima o suficiente para conseguir ouvir a provocação.

— Vagaba! — Amanda arrancou o telefone Araya e ameaçou jogá-lo no chão destruindo em mil pedaços.

— Ou pera, pera, pera! — Ezequiel segurou a mão da garota e repousou a cabeça da mesma sobre seu peito. — Esses telefones são caros, não precisa destruir a parada por causa de um cliente bosta.

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Todos observavam a maneira como ela tratava a garota. A chamada já tinha caído e agora todos só voltariam a atender quando o sistema fosse normalizado.

— É caro? Quanto é um telefone desses da araya? — Perguntou Amanda mais tranquila.

— Da ultima vez que eu chequei custava uns oitocentos e cinquenta dólares.

— Atá...— Amanda começou a tirar os cabos do telefone araya. O guardou em sua bolsa. — Bom saber...