Atendimento #172: Técnico

Atendimento #172: Técnico

Quem nunca precisou que fosse feito um serviço que somente um técnico poderia realizar? Bom...alguns realmente não precisaram, mas geralmente esses eram justamente os técnicos que aprenderam e resolveram seus problemas na raça.

Kauã era do tipo que resolvia seus problemas colocando a mão na massa, ou em outras coisas mais duras no caso de sua promoção para supervisor.

No dia em questão este não estava na sua mesa e por essa razão tinha colocado Alana como backup, essa aliás nunca tinha ficado responsável pela operação.

— Tá tudo em por ai?

Ela passava de mesa em mesa perguntando com seus olhos arregalados e as unhas roídas. Alguns se assustavam com uma garota em estado quase psicótico vindo de minuto em minuto falando:

— Tá tudo bem por aí?

— Tá sim mano. — Amanda franzia o cenho e encolhia os ombros com medo do que a garota poderia fazer caso surtasse.

— Tá tudo bem por aí?

A garota foi para a mesa de Ezequiel e ficou o encarando a uma distância realmente incômoda, mas ao invés de ter ciúmes, Amanda apenas achou engraçado a garota quase espumando pela boca.

— Só um momento senhora Catalina. — Ezequiel virou-se para a backup com um bico estampado na cara. Aquele que o olhasse veria a figura perfeita de um pato de cabelos dourados e pele clara. — Fia vem… — Ele a puxou, tremendo de medo que ela pirasse de vez devido ao tarja preta. — Pronto senta ai...se alguém precisar você se levanta e vai ajudar a pessoa. — Falou colocando-a sentada na mesa do supervisor.

O supervisor havia saído para tratar de um assunto de uma assistência, claro que ele levou o “companheiro” junto.

— To ficando de saco cheio desse chupa saco aí.— Retornou a chamada.— Senhora obrigado por aguardar.

— Olha eu vou abrir a cortina se eu vir eu vou chamar a policia.

— Calma, vamos só ter certeza que é isso mesmo tá bom?

Ezequiel tentava, já havia algum tempo, acalmar a mulher que dizia que um técnico da empresa a espionava do alto de uma escada apoiada no poste. De acordo com a cliente Catalina o homem a encarava como se dissesse “eu to de olho em você sua delicia da natureza moderna”

Casos de pessoas incomodadas com técnicos bisbilhotando suas intimidades não são tão raros de acontecer. Alguns dias antes do caso da senhora Catalina um rapaz resolveu passar todas as suas roupas, inclusive a que usava no corpo, e acabou deixando a janela aberta. Não demorou e ele ligou para a central reclamando que uma técnica estava em sua janela babando pelo seu ferro de passar ultra luxuoso enquanto ele tentava passar a roupa completamente nú.

— Senhora. — Ezequiel conferiu em seu sistema e um técnico realmente estava na rua da cliente. — Ele é um técnico nosso realmente.

— Certo, não vou chamar a policia então. Pensei que fosse uma pessoa aleatória, mas mesmo assim não quero ficar sendo observado por um cara bizarro.

— Não se preocupe senhora eu vou ligar para ele agora. — Ezequiel rapidamente procurou pelo contato do técnico de campo.

— Alô?— O técnico pendurado na escada encarava a janela da cliente do outro lado da rua que estava coberta por persianas.

— Para com isso agora. — Anunciou nosso heroi sem mais delongas

— Quem tá falando.

— Aqui é da central seu animal, para de espionar a mulher do outro lado da rua agora! — Esbravejou furioso enquanto se levantou da cadeira sem nem perceber. — Você não acha que é um pouco errado fazer isso?

Alana se aproximou do atendente sem que ele percebesse.

— Tá tudo bem por aí?

Ezequiel quase desferiu um soco na cara da garota devido ao susto.

— Tá sim… — Sentou-se segurando o peito palpitante. Voltou o foco para a chamada — Cara você já conseguiu ver a cara da mulher?

— Claro que sim. — Falou o técnico empolgado.

— Espero que você tenha percebido que a cliente Catalina têm setenta e três anos…

A cliente abriu as persianas para conferir se o homem já tinha descido da escada. Enquanto a mulher de cabelos brancos e encaracolados encarava o homem um silêncio se estabeleceu na chamada entre Ezequiel e o técnico.

— Tô nem aí pra idade dela. — Respondeu o técnico enquanto acenava para a idosa.