Do outro lado da linha

Atendimento #145: Culinária


Atendimento #145: Culinária

Já ouviu falar de conquistar alguém pelo estômago? Então, muitos casamentos promissores se valem disso. Nosso querido Alastor é a prova disso, sua mulher a principio não gostava dele, mas isso mudou quando ela viu o que ele poderia fazer na cozinha. O curioso é que Igor só queria dar o famoso “pega”, por tanto não duraria muito, mas depois que experimentou a salada temperada de Azeite dela…

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— Ô cacthura eu tô no fazendo a missão, posso fica atendendo não.— Igor quicava uma bolinha de ping pong presa por uma linha em uma raquete cujas faces eram vermelho e cinza.— Deu alguma treta ai em casa?

— Não meu cathurrinho, eu to só preparando o bolo da festa de debutante da Valéria. — A esposa de Igor falava de maneira fina e infantil, o famoso estilo babytalk (ou vozinha). — Eu to com saudade meu queijinho.

— Fio tu sabe que eu vou voltar, não precisa ficar com saudades. Então para de ficar dando papo enquanto tô em missão, tamos entendidos?. — Igor amava sua esposa e logo sentiu que fora duro de mais com ela. — Eu levo chantili pra nossa brincadeira. — Falou ele tentando esconder o fetiche de todos a sua volta.

E a bolinha quicou na parte vermelha da raquete.

— Então até de noite, seu gostoso! — Exclamou a mulher desligando a chamada com um beijo estalado.

Igor revirou os olhos, ele poderia se fazer de forte, malandro e até de bixeiro soltador de pipa com cerol, mas a grande verdade era que ele possuía um amor muito intenso por Paula.

— Obrigado por esperar aê doutor. Mulher grávida, enjoo, vontade de comer sabonete de aveia. Você deve ter passado por isso. — Mentiu o Ex supervisor descaradamente ao retornar para a chamada no telefone do trabalho. — Patrão deixa eu ver seu eu saquei o que rola. Tudo é um cara que a vida toda só fez programar, depois de alguma intervenção divina tu deu a louca e agora que virar a nova Maria Braga, é isso?

O cliente Pitácio era aquele velho estereótipo de programador; quieto, ouvinte assíduo de podcasts e amante de café. Eu sei disso por que ele contou tudo para o Igor antes de a mulher dele o interromper. Desde como perdeu a virgindade até como ele tinha sido traído pela mulher no dia anterior, tudo fora contado entre sorrisos e lágrimas. Mas o mais engraçado de sua história é que, mesmo após vários anos pedindo comida chinesa pelo telefone, o cliente nunca esquecera a vontade de se tornar chefe de cozinha.

— É bem isso ai amigo, o que acontece é o seguinte. Eu montei a minha cozinha inteira com produtos de vocês, sempre soube que eles seriam competentes. Mas depois que eu comecei a fazer a comida de casa notei minha mulher.— Parou ainda magoado.— Ficou mais magra. Ela passou a comer bem pouco.

— Foi nessa parte que ela resolveu que tinha ficado gostosa e por isso te largou?— Igor interferiu com sorriso sarcástico na voz. — Tô de sacanagem com tu chefe.

— Mas foi isso mesmo. — Concordou o cliente ao contrário do que Igor imaginava.— Mas isso não se significa que não vou mandar sua empresa e você para o tribunal.

Igor franziu o cenho, para ele não fazia muito sentido o que acabara de ouvir. Primeiro a conversa anterior não parecia se desenhar para uma revolta súbita do cliente, segundo por que o tom que o mesmo falava era mais para o famoso “Eu sou um corno infeliz que não pode pagar uma psicóloga para desabafar, pode me escutar?” do que o emblemático “Eu vou acabar com essa porcaria de empresa e quero mais é que se lasque os motivos”

E a bolinha quicou freneticamente na face vermelha enquanto a linha esticou até quase o limite.

— Chefia, desculpa aê mas eu não peguei o motivo. Talvez eu tenha ficado entretido demais lendo os atendimentos anteriores ou olhando o preço do chantili, pode me dizer por que me levar pra marca do pênalti? — Igor se sentira como muitos atendentes que pegam clientes cujo o humor é completamente louco, quase como o clima dos estados do Brasil.

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— Oras pensei que tivesse claro. Quando eu resolvi cozinhar tinha intensão de fazer minha esposa se aproximar mais de mim. Por isso eu comprei todas aquelas coisas e comecei a fazer comidas a torto e direita.— Igor aquela altura fazia um bico de pato, ele já entendera tudo mas ainda se recusava a acreditar. — Ao invés dela me amar mais foi se engraçar com o meu irmão.

— E o que os produtos da cozinha têm haver? Não, sério? Diz pro pai. — Igor tremia de vontade de falar tudo o que pensava. Como ele não ficaria muito mais tempo largou-se completamente.— Tá querendo dizer a culpa é nossa você ter espantado tua mina com a comida? Cara pelo que tu tá falando até urubu teria receio de comer um estrogonofe seu! Tiozão, eu to ligado que gente que nem, tu é atulhada de grana, por que você não usou isso para fazer coisa mais românticas, frufru e tal? Se você vai cozinhar uma parada que é pior que o rato assado da porta do maracanã nem faz parceiro!

Igor, perdendo a paciência rebateu a bolinha com toda a força mandando-a de maneira certeira em uma das lâmpadas do teto. O objeto luminoso desprendeu-se de sua base fixa e caiu sobre a cabeça de três operadores do setor ao lado.

— Quer me processar por besteira tiozão?— Indagou Alastor sentando-se rapídamente em sua cadeira. — Quando eu derrubar uma lâmpada na tua cabeça ai você pode dizer algo tranquilo?