Do outro lado da linha

Atendimento #135: Pretoconceito


Atendimento #135: Pretoconceito

Você se preocupa com a sua cor? Não? Tá certinho. Julgar as pessoas pelo nível de melanina na pele é algo tão idiota quanto tentar espremer um croissant de chocolate em cima de um bolo de morango, principalmente se a iguaria francesa estiver hipercarregada. Claro que Igor sabia disso, mas parece que na hora da fome o ser humano esquece de tudo o que é lógico.

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— Eu não devia ter feito isso...— Falou Igor olhando a calça suja de marrom na altura da virilha.

Ezequiel ergueu a orelha direita tal qual um cão ao ouvir o dono o chamando, andando de costas ele voltou-se ao corredor. Assim que seus olhos vislumbraram a cagada feita pelo ex-taxista começou a rir

— Como você conseguiu fazer essa proeza de se borrar na parte da frente? — Nosso herói segurava na parte de baixo do colete enquanto se contorcia de tanto rir.

— Engraçadinho você... — Igor puxou o colete do garoto e o trouxe para junto de sí, falou rente ao ouvido. — Devia ter me avisado que você estava com caganeira antes de sentar em mim, teria evitado essa sujeira toda sabia?

Amanda silenciosamente deslizou a cadeira para o centro do corredor, com o olhos fixos em seu marido ela abriu um sorriso enquanto batia a palma da mão direita sobre a mão esquerda fechada na parte do dedão.

Igor pegou de sua mochila várias folhas de papel higiênico e colocou-as por cima da roupa.

— Só acontece comigo por que eu sou preto. — reclamou o ex supervisor. Seu colo parecia um estofado, quem o viu naquele estado o taxou de maluco, mas, mesmo estando completamente sujo de chocolate ele não deixou de comer seu bolo e o croissant.

Claro que não demorou muito para um cliente vir atormentar o lanche de Igor, porém este não se abalou e continuou comento enquanto o cliente esperava. Você já deve ter passado por isso; primeiro escuta a musiquinha por horas ai do nada tudo fica quieto. Quando isso acontecer saiba que você já está no telefone do atendente, só que ele ou está te ignorando, ou está comendo um bolo de chocolate com cobertura de chocolate de croissant.

Tirou do mute.

— Ela tá dançando e o pimpolho tá de olho.— Igor bateu as palmas da mão duas vezes.— Cuidado com a cabeça do pimpolho.

— Art popular, sério mesmo? — Indagou o cliente decepcionado. — Tá vou ser bem direto com você.

— NÃO! — Gritou Alastor se levantando. Todos olharam e perceberam os papeis grudados balançando com o vento do condicionador de ar. — Reipeite a cultura nacional e seja educado, aqui não é chamada acobrar mas diga seu nome e a cidade donde está falando.

— Vocês da elite branca são um saco.— Pois é o cliente achava que o atendente era branco, pobre infeliz. Mal sabia ele que a esposa de Igor era muito feliz. — Aqui é Jonathan do Amapá. Eu estou ligando só para pegar um protocolo, eu vou abrir um processo contra essa empresa racista e opressora.

Alastor tentava entender a razão para aquilo acontecer, afinal de contas ele mesmo nunca fora oprimido la dentro, pelo contrário, já esculachara muita gente que merecia.

— Você fala que nem aqueles adolescentes revoltados de rede social, parece até um pivete. — Estalou a lingua. — Beleza, qual foi a grande opressão?

— Eu uso meu computador tranquilamente a quase um ano e meio, nunca tinha colocado uma foto minha nele. Quando eu resolvo colocar ele bloqueia e não abre mais. Isso é racismo! Vocês bloquearam meu acesso ao verem que sou negro.

Igor era um homem moreno e odiava ver alguém se fazendo de vítima, principalmente quando o assunto é o racismo. Por essa razão que o cliente se condenou ao dizer que seu problema fora causado por simples racismo.

— Exatamente, ninguém aqui gosta de preto não chefe, alías o que eu to fazendo falando com tu? Eu só quero saber por que tu resolveu colocar foto no computador. Aqui os caras é assim chefe, nego aqui têm vez não. Colocou uma foto mais escura o computador bloqueia mesmo.— deixou espancar uma risada. — Deve até ter uma etiqueta ai em baixo dele dizendo "Este computador possui pretoconceito, não tire fotos com negros"

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— Você percebe o que está dizendo? — Jonathan sentia-se vitorioso, finalmente lhe deram uma razão que ele sabia que venceria em tribunal. — Está assumindo que sua empresa é opressora e racista.

— Pois é senhor, inclusive vou mandar uma foto minha agora pro seu numero provando o quão opressor eu sou. — Igor realmente sacou o celular do bolso e usando o numero do cliente registrado no sistema ele enviou uma foto de suas partes.— Pois é senhor é assim que funciona.

O cliente aguardou atento para qualquer notificação, entretanto, após quase um minuto sem sinal de foto ele retomou a chamada.

— Acabou a coragem né, seu racista opressor?

— Não senhor, só tenho o bom senso de enviar o nude para sua esposa e não para você.—Respondeu Igor marotamente.

Naquele mesmo instante a esposa do cliente passou ao seu lado com uma expressão mais alegre que o normal.