Do outro lado da linha

Atendimento #132: Defensor


Atendimento #132: Defensor

Não se engane, os atendentes não são demônios desalmados que só querem consumir

suas forças. Claro que não é sempre, mas em algumas situações o operador se sensibiliza com a situação do cliente e toma suas dores para sí. Quando isso acontece, pode ter certeza, é muito provável que seu problema seja solucionado.

Com a vaga de supervisor aberta treinamentos foram instituídos a todos, um dos operadores tornaria-se o próximo encarregado e nosso herói se esforçava para ser ele.

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— Ei mocinha. — Igor chamou o backup.

Sobre a roupa de nosso herói repousava um colete laranja, o adereço servia para identificá-lo como backup mas o deixava ligeiramente parecido com um guarda de trânsito. Ezequiel não usaria aquilo não fosse necessário, mas como o treinamento para supervisão exigia.

— Você pode enfiar a sua multa bem no seu orifício anual!— Falou o ex supervisor quando Ezequiel aproximou-se dele. — Sim é anual mesmo!— Igor complementou olhando para você.

— Do que você está falando? — Ezequiel ajustou o colete o invertendo, a cor na parte de dentro era cinzenta e muito menos chamativa.

— Eu sempre me cocei pra mandar uma dessas pra cima de um guardinha, você sanou um fetiche meu.— Deslizou um pouco o corpo sobre a cadeira, entrelaçou os dedos. — E como tá a convivência com o supervisor temporário?

Nosso guerreiro das chamadas engoliu seco, desviou o olhar levemente para a mesa da supervisão e logo passou a encarar o chão forrado por carpete.

— Tá tudo beleza. só não consigo falar "querifinho" normalmente...

— Ainda bem que eu só vou ficar uma mês, imagina se ele ficasse como supervisor? — Igor percebeu que sua pausa tinha se esgotado, colocou-se disponível a atender. A alta de clientes era tanta que assim que voltou atendeu. Ergueu o indicador para Ezequiel que entendeu que deveria deixá-lo quieto. — Descobri que te amo de mais. Descobri em você minha paz... — Cantarolou ele ao pressionar o mute iniciando a chamada. — Aqui é Igor e como tá?

— A, bem... — A cliente gaguejava sem entender se realmente ligara para o lugar certo.

— Sim aqui é a central de suporte.— Sacou do bolso meia duzia de balas de iogurte e começou a a abri-las. — Pode falar que eu vou tentar resolver

— Oi moço, meu nome é Patricia e eu tô com um problema sério faz muito tempo. É um projetor que não foi reparado por falta de peças. — A cliente pensou que o atendente a interromperia, mas não aconteceu. — Olhe eu sei que o produto não é novo, mas como vocês são os fabricantes acho que com um pouco de esforço vocês conseguem.

— Então meu amor, — A voz carregava a entonação e o sotaque forçado da barra da tijuca. — Eu to verificando aqui é já foi oferecido diversos produtos para o titular em forma de acordo, aliás ele está por ai pra eu levar um papo com ele?

A garota ficou quieta por um momento, o celular que segurava foi deixado de lado.

— Senhora? — Igor aumentou o volume da chamada e concentrou-se para ouvir o que se passava. — A senhora está chorando?

— O titular era meu pai, ele morreu antes de vocês conseguirem reparar o produto dele. Ele adorava por que esse projetor foi um dos primeiros presentes que eu dei a ele depois que comecei a trabalhar, mas o analista do setor de troca nunca nos ajudou.

O sorriso alegre e sarcástico estampado na face de Igor se foi em um segundo, seus olhos se apertaram, estralou o pescoço. A mulher realmente precisava de ajuda, não era como a maioria dos cliente malucos que apareciam.

— Já volto. — Falou sério dando um salto da cadeira. Ele vira quem era o responsável pelo caso.

Com os punhos cerrados e pronto para fazer qualquer um implorar pela vida, isso é claro depois de dançar um break, ele foi até o setor de analise. No corredor viu um homem diminuto abaixado arrumando uma CPU e ao seu lado estava o analista.

— Sai do meio ô hobbit da lapa. — Ergueu o homem que balançou as pernas curtas no ar e o colocou a uma mesa de distância. — Iae chefe, quero falar com tu.

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O analista era o mesmo dos atendimentos #074 e #077. Xavier virou-se para Igor com tranquilidade, acabara de organizar seus lápis em linha reta e equidistantes.

— O que é — Deixou o ar pesado escapar de maneira pesada. — seja breve odeio o seu setor. — Completou ajustando o terno.

— Vou ser... — E ao dizer isso Igor segurou a gravata azul marinho do homem e começou a puxá-lo. Sem conseguir respirar totalmente Xavier buscava se segurar em qualquer lugar, mas não conseguia. Quem o observava tinha a impressão de ver os reféns de filmes de possessão onde a vítima estira a língua e revira os olhos. — Não se preocupe com a ideia de pedir a minha justa causa, eu já estou caindo fora desse lugar maldito.

Setor por setor ele o arrastou até chegar em sua mesa, os olhares curiosos seguiam-nos com bastante interesse.

Mute pressionado, ligação reestabelecida.

— Senhora, achei o culpado. — Jogou o analista sobre a mesa. — Ele tá aqui para resolver.

— Eu não... — Igor sacou do bolso um lápis novo sem ponta alguma.

— Eu fiquei sabendo que seus orifícios são bons apontadores. — Sorriu malignamente enquanto Ezequiel batia uma foto com o celular. — Como vai ser? Vai resolver ou eu vou ter de pegar a minha coleção de mil e duzentas cores aquareladas da Faber Castel?