Do outro lado da linha

Atendimento #107: Possessão


Atendimento #107: Possessão

Você acredita em coisas sobrenaturais? Fantasmas, lobisomens, vampiros, demônios, anjos; independente do nome que damos eles são apenas seres, ou espécies, diferentes de nós. Como não existem evidências claras da existência de nenhum deles apenas ficamos com seus “sinais”, alguns veêm sinais em sonhos, outros em coisas escritas e têm alguns poucos que recebem os sinais por meio de cascas de pão mofado, sim é tenso…

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— Socorro! Preciso de ajuda, meu computador tá possuido. — A cliente estava a ponto de chorar, seu pavor era semelhante aos personagens de filmes de terror.

Ezequiel não era um cara muito corajoso nem muito valente, na maior parte do tempo sua pose se mantinha equilibrada, mas era só colocar qualquer assunto relacionado a pós vida e sobrenatural que as calças dele se sujavam.

— Mas, mas é...como é que eu posso dizer...a senhor têm algum envolvimento com macumba e essas coisas?

— Claro que não meu filho, sou devota a nosso senhor Jesus Cristo.

— Tá certo… — O clima do dia era quente tal qual o sol do Rio de janeiro, porém com aquilo, um calafrio subiu pela espinha de Ezequiel. — Qual é o comportamento do computador da senhora?

— Ele tá fazendo uns barulhos estranhos desde ontem, eu tava dormindo e ele ligou sozinho.

— Eita.

— Pois é moço, eu só não quebrei ele por que custou mais de três mil. — A mulher quase deixou o telefone fixo escapar das mãos. — Ó Ó ele tá fazendo de novo.

A mulher tremia, suas unhas batiam na estrutura de plástico duro do telefone fazendo o som chegar a nosso herói o deixando ainda mais aflito. Vagarosamente o som do aparelho chegou aos ouvidos do nosso protagonista.

“Ô, ô,ô”

— Ouviu isso? — A pobre cliente se afastou do aparelho como o diabo que foge da cruz. — Me ajuda moço eu não quero mais esse produto aqui não.

— Ouvi senhora, ouvi e não consigo acreditar…

— O que você acha que é?

— Olha, possuído realmente está, só que.

A mulher largou o telefone e foi chorando em busca de sua estante de orações, de lá a mesma trouxe, sal, açúcar, água benta. Sabe se lá de onde ela tirara conhecimento para tais procedimentos, mas a mesma fez um circulo de sal, símbolos de açúcar e besuntou o aparelho com água benta.

— Senhora? — Chamou o atendente, mas ela não retomou o telefone nas mãos.

Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica…

As palavras em latim não eram de conhecimento de Ezequiel, na realidade ele não sabia nem se eram palavras ou se apenas barulhos semelhantes a palavras, mas a medida que a mulher falava mais ele se assustava.

— Senhora, o que você tá fazendo com o computador…

Enquanto isso os alto-falantes do aparelho elevavam os esbravejares de ruídos estranhos e macabros.

— ‘á, a, o,a,á,a o a” “ á, a, o a, e, i, a.”

— Eu vou conseguir, eu vou conseguir livrar esse aparelho. — A mulher pegou mais uma porção da água santa e jogou no computador e enquanto ele pipocava faíscas ela continuou. — Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt… Ab insidis diaboli, libera nos, domine. Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos.

Ezequiel chamou alguns colegas para ouvir o que a cliente dizia ao telefone, não por que o ritual da mulher estivesse dando certo, muito menos por ele acreditar em demônios, mas sim pelo medo que tinha de ficar ouvindo aquilo e acabar vendo seu juízo escapulir do corpo como se fosse fumaça negra. Se isso acontecesse, ele ao menos não estaria só.

— Gosto dessas coisa não. — Falou Igor assim que constatou o que acontecia.

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— Mas demônios não existem, então que ela tá exorcizando? — Amanda ficara realmente intrigada com o desespero da mulher que continuava a repetir as palavras.

— Senhora. — Ezequiel ainda relutava a interferir, mas era necessário. — Pode esperar um momento por gentileza?

omnis immundus… A o que houve? Você acha que já o suficiente pra purificar esse computador?

Nosso atendente meneou a cabeça em negativa.

— o que a senhora tá tentando exorcizar não é um demônio…

Ao fundo o dispositivo soou novamente a voz macabra em meio a faíscas.

“Ilarilarilariê, ô...ô...ô”