Me diz algo sobre você

Dis moi quelque chose sur toi


Marinette não teve que esperar mais que 5 minutos para que Chat Noir batesse na portinhola da varanda. Tinha pensado na possibilidade de deixá-lo entrar em seu quarto novamente, mas achou mais prudente ficar do lado de fora, ainda a temperatura marcasse 10°C. Pegando dois de seus cobertores mais quentes e deixando o prato de cookies na mesa, Mari abriu a passagem que levava à parte favorita de seu quarto.

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Chat estava apoiado na grande, brincando distraidamente com as folhas de uma de suas plantas. Com uma risadinha, Marinette atraiu a atenção do gato, que estampou um olhar malicioso que fez os pelos da nuca dela se eriçarem.

— Não sei se seu traje te protege do frio, mas trouxe cobertas. — ela disse, estendendo uma das mantas para ele.

— Protege, mas não esquenta. — ele respondeu, aceitando a coberta e enrolando-a em torno de si. Marinette se sentou em sua cadeira e Chat no balcão com plantas, um de frente para o outro.

— Vamos deixar os cookies esfriando mais um pouquinho, já já eu busco, pode ser?

Mari tinha decidido que aquela seria a última vez que convidaria Chat para passar um tempo com ela, por maior a vontade que tinha de que não fosse. Durante os dois dias desde a última visita dele, seu lado racional a lembrou que conhecer detalhes sobre o menino por trás da máscara poderia levá-la a reconhecê-lo em sua forma civil. Por isso, ela tinha tomado certas decisões.

1ª: como ela não podia desconvidá-lo e não poderia aproveitar mais de sua companhia, Marinette iria aproveitar a última visita para conhecer tudo que tinha colocado na lista sobre ele. Era a concessão que tinha feito consigo mesma entre a racionalidade e o prazer.

2ª: não convidaria ele novamente.

Terminar a visita com os cookies seria como fechar com chave de ouro. Era a coisa certa a se fazer.

— Por mim está perfeito, princesa. — revirou os olhos pelo apelido, fixando-os no garoto à sua frente logo depois.

Vamos lá, Dupain-Cheng, você tem uma lista para completar.

— Por que você tá olhando pra mim desse jeito? — Chat perguntou, inclinando a cabeça para o lado com um sorriso de meia-lua. — Já ouvi dizer que minha beleza é tão ofuscante que se você olhar diretamente para mim por muito tempo, pode queimar a vista.

— Como se você fosse o sol? — ela respondeu, sarcástica.

— Que maneira elegante de me chamar de centro do seu universo.

— O sol é o centro do sistema solar, gatinho. — os dois se olharam intensamente, e Marinette tentou processar a conversa que acabara de acontecer.

Sentiu como se estivesse ficando maluca. Ela não tinha exatamente flertado com ele, mas também não havia não-flertado. Falar com Chat como Marinette é bem diferente, ela pensou.

Eles devem ter passado um minuto em silêncio, apenas se observando e pensando, até que ela disse, num sussurro, como se não estivessem sozinhos num varanda à metros do chão:

— Me fale algo sobre você.

Chat se inclinou levemente para trás, com uma pequena expressão de lividez marcando seu rosto, para então voltar a se aproximar aos poucos, como se estivesse se contendo. Sob as luzes de Paris e o olhar profundo do garoto à sua frente, Marinette se sentiu estremecer.

— O que você quer saber? — ela repassou sua lista na mente, abrindo um sorriso ao escolher a pergunta.

— Qual foi a última vez que você subiu em uma árvore? — pôde ver o toque de surpresa no rosto dele, como se não esperasse por algo tão trivial, para então uma expressão de serenidade assumir suas feições.

— Faz muito tempo, acho. Provavelmente quando eu tinha uns seis anos. Minha mãe sempre gostou de natureza, caminhadas e essas coisas, e me levava para acampar pelo menos uma vez por mês. Mas meu pai não é muito disso.

— Mas por que desde os seus seis anos você não... — uma onda de entendimento a atingiu, juntamente com o corado em suas bochechas. — Sinto muito, Chat. Desculpa por ter tocado no assunto. — ele dispensou as desculpas com um aceno.

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— Você não tinha como saber. Foi a pergunta mais neutra possível.

Hesitante, Marinette levantou de seu lugar e se sentou ao lado dele no balcão, afastando algumas plantas. Se ele se sentiu incomodado com a proximidade, não demonstrou, apenas virando o corpo para ficar de frente com ela.

— Tem um milhão de coisas que eu quero saber sobre você. — Mari disse, baixinho, e ele olhou para ela como se ela fosse feita de pó de estrela.

— Tem um milhão de coisas que eu quero saber sobre você também. — pausa. — Mas existem coisas que eu não posso...

— Eu entendo. — Marinette se apressou em dizer. — Se eu fizer alguma pergunta ou chegar perto de algum assunto fora dos seus limites, é só me dizer.

Chat sorriu e assentiu. Inclinando-se ligeiramente na direção dela, ele disse:

— Me conte uma coisa sobre você.

— O que você quer saber? — Chat considerou a pergunta dela, e ela não não parou de observá-lo enquanto ele corria o olhar pela varanda dela.

— Você gosta de jardinagem? — Marinette tocou as folhas de uma de suas plantas, cuidadosamente plantada num vaso de cerâmica artesanal decorado por ela mesma.

— É um dos meus muitos hobbies. — ela disse, pegando o vaso nas mãos. — Minha mãe me ensinou a cuidar de plantas, e nós usamos as ervas que plantamos na padaria.

— Quais são seus outros hobbies, então? — ele disse, genuinamente curioso.

— Meu pai me ensinou a cozinhar, mas eu gosto principalmente de confeitaria e decoração de doces. Ajudo ele sempre que posso. Além disso, gosto de fazer artesanato com minha melhor amiga, Alya, nas nossas festas do pijama, mas não é nada sério. — ela disse, indicando os desenhos no vaso. — Acho que meu maior hobbie é desenhar, principalmente desenho de moda.

— Sério? — Chat questionou, incentivando-a a falar.

— Sim. — Marinette confirmou, tímida, desviando o olhar dele. — Eu desenho desde que tinha quatro anos, acho, e faço design de moda desde os cinco. Minha mãe percebeu e me ensinou o básico de costura, e acabei aprendendo o resto que sei pela internet. — ela pausou a fala para voltar a olhar para ele, para transmitir certeza. — É o que eu quero fazer, sabe, da vida. É o que eu sempre quis.

— É um sonho muito bonito. — ele disse. Ela fitou o céu sem estrelas, desejando estar num acampamento com o garoto ao seu lado, escalando árvores. — Seus pais ficaram chateados? Por você não tocar o negócio, quero dizer.

— Acho que não? Ah, talvez no início, mas eles nunca me disseram nada, nem deixaram transparecer. Eles me encorajam muito, na verdade.

Chat não respondeu, apenas assentindo às palavras dela. Decidindo riscar outro item de sua lista, ela disse:

— Quais são seus vícios?

O super-heróis voltou o olhar para ela, sorrindo.

— Assistir anime, tomar chá de erva-doce, jogar video-game, ler "O Guia dos Mochileiros das Galáxias", andar pelos telhados de paris e, recentemente descoberto, seus cookies.

— Ah, meu Deus, os cookies! Já volto! — Marinette exclamou, levantando-se e descendo pela portinhola até seu quarto. Pegou o prato de cookies, deixando dois na mesa para Tikki, e subiu novamente. — Então quer dizer que você é um grande nerd? — ela disse, colocando o prato entre os dois no balcão e se enrolando novamente no cobertor. Chat riu e deu os ombros.

— Podemos dizer que sim.

Marinette observou apreensiva enquanto ele pegava um cookie com sua mão enluvada.

— Eu fiz eles assim que cheguei em casa, e deixei esfriando para que ficassem crocantes. — Marinette começou, pegando um cookie e partindo no meio com um satisfatório "crack". Chat imitou o gesto, colocando um dos pedaços na boca logo depois. Marinette começou a balançar a perna em nervosismo, incapaz de ler a expressão dele. — Eu pessoalmente prefiro cookies crocantes a quentinhos, mas, se você quiser, na próxima...

Deixou a frase morrer na metade, dando um tapa mental em si mesma por deixar escapar a palavra "próxima".

Aqui estou eu, deixando meu subconsciente tomar as rédeas dos meus atos falhos, Marinette pensou.

Chat não deixou de perceber a falha na voz dela ao mencionar a próxima vez, mas, provavelmente julgando que ela tivera vergonha de convidá-lo mais uma vez, ele sorriu e terminou de saborear o cookie.

— Pode apostar que eu vou voltar por mais dessas belezinhas. — ele a olhou e pausou, para então continuar: — Se você quiser.

Era sua chance de consertar tudo. De ser racional. De ser uma super heroína. Tudo que Marinette precisava era dizer que achava melhor que ele não voltasse mais. "Na verdade, Chat, acho meio perigoso ser associada com um super-herói..." estava na ponta da língua.

— Claro, — ela abriu um sorriso, tímido, mas um sorriso de qualquer forma. — acho que você vai adorar os macaroons do meu pai.