Mira

Eu só percebi que tudo tinha caído em cima de mim, quando eu senti a minha perna doer. Fora isso, tudo parecia normal, apesar de estar presa, e em um completo breu, eu me senti abraçada por todos aqueles escombros. Era como se eu estivesse dentro de um casulo de energia, quente e familiar. Me deu até vontade de dormir. Eu agarrei minhas próprias pernas e bocejei. Dormir agora seria tão bom. Eu estou tão cansada. Mas, a dor me tirou daquele transe, daquela falsa sensação de segurança. Eu imagino que Aang se sentiu assim, quando ficou preso naquele iceberg.

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Mas, eu não podia ficar como ele, eu não podia ficar presa e desaparecer.

Eu tinha que sair dali. Porém, eu não conseguia me mexer. Minha posição não me permitia usar as mãos e nem os pés, para eu dobrar o ar. E não havia água perto. Eu me sentia incapaz.

Quando Suni me disse que eu tinha que sentir a terra, eu ainda não havia entendido muito bem, diferente de sentir a água, na qual é possível localizá-la como uma espécie de radar, eu não conseguia fazer o mesmo com a terra. Porém naquele momento, eu entendi o que a Suni quis dizer. Ficar envolvida por todos esses escombros e me sentir como parte dele, era assustador, mas também era estimulante. Eu podia sentir a movimentação acima de mim, como se tudo aquilo fosse uma extenção do meu próprio corpo. E eu também podia ouvir choros e pedidos de socorro. Era uma sinfonia assustadora.

Eu pensei naquelas pedras como parte de mim. Eu me senti grande e poderosa. Assim eu consegui me mover. Era pesado, era como arrastar um móvel gigante, e isso me cansava ainda mais, mas, tinha resultado, eu estava conseguindo abrir caminho para cima. Depois de um tempo, escalando tudo aquilo com o máximo cuidado, eu finalmente pude ver as frestas de luz, assim eu resolvi-me impulcionar, com os pés e a dobra de ar, eu me fiz ser lançada para cima. O que eu vi era pior do que qualquer coisa que eu já havia presenciado.

O palácio presidencial afundou-se em suas próprias estruturas, ele cedeu para baixo arrastando tudo para uma enorme cratera. O prédio, que exalava poder e imponência tinha sido reduzido a nada.

Agora sob os meu pé eu ouvia os gritos de socorro, e isso me deixou em pânico. Assim , mesmo com a perna machucada eu me ajoelhei e comecei a cavar com as mãos. Tentava tivar o máximo possível de pedras e ferragens, mas, era inútil. Eu não conseguiria salvar ninguém assim.

— Mira!

Eu ouvi alguém me chamar ao longe, uma voz familiar, que me fez parar de cavar. Eu olhei para trás e vi Suni.

Eu nunca havia ficado tão feliz. Um sentimento de abandono que me rondava desde que eu havia sido levada, foi embora. Eu me levantei e corri até ela.

Ela me abraçou com força. E eu retribui na mesma intensidade.

— Você está aqui! – Eu disse com animação.

Eu olhei para ela, e vi seus olhos verdes vermelhos. Ela choramingava e fungava.

— Nós conseguimos!Te encontramos!

— Nós?

Foi ai que eu percebi que estávamos cercadas por pessoas. Meelo, Fei e pessoas que eu nunca havia visto.

Fei se aproximou de mim.

— Você está ferida? – Ele perguntou.

Olhei para mim mesma.

— Minha perna dói um pouco, mas, não é nada preocupante.

Ele se abaixou e tocou na minha perna. Eu me retrai por causa da dor.

— É só uma luxação. Mas, não podemos deixar isso assim.

Ele estava com um recipiente que eu não havia notado. Igual ao de Kiha, eu não consegui sentir a água. Assim ele dobrou a água para fora e envolveu o meu joelho. Eu senti a água fria esquentar e aos poucos a dor foi sumindo.

— Você é um dobrador medicinal? Eu suspeitei disso! – Eu perguntei curiosa.

— Não oficialmente, mas eu sei me virar.

Isso me fez ficar mais impressionada com aquele rapaz.

— Você é cheio de surpresas.

Ele se levantou.

— Você nem imagina,linda.

Fei sorriu. Porém seu sorriso se desfez em poucos segundos.

Uma mulher que eu nunca havia visto de aproximou.

— Você viu o Kitten?

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Kitten? Quem era Kitten?

Ficou claro que eu não tinha ideia de quem era esse, assim a mulher se afastou de mim. Ela parecia muito abalada.

— Mira, o meu pai. Você o viu? -- Foi Meelo quem me perguntou e isso me deixou com raiva.

Eu me lembrei, o que o pai dele havia feito comigo. Havia me entregado de mão beijada para o Haru, haviam me traído, ele e Jinora. Mas, a raiva estava menor. Alguma coisa que Korra havia dito, me fez pensar melhor nas atitudes deles, porém eu ainda me sentia brava.

— Eu não sei. – Eu disse um pouco seca.

Ele percebeu a minha atitude e se retraiu um pouco.

— Me desculpe. Por tudo o que minha família fez com você.

Ele era sincero. Das pessoas afetadas por isso, ele, junto comigo, éramos o que mais sofremos.

— Não podemos perder tempo com toda essa ladainha. Kitten ainda está embaixo de tudo isso. Temos que salvá-lo. – A moça disse impaciente.

— Sohee, temos que prosseguir com calma. E ajudar todos que conseguirmos. – Fei disse para ela.

Suni se abaixou e colocou a mão no chão destruído.

— Duas pessoas. Abaixo de nós. Ainda respiram. – Ela disse.

Eu a imitei. E senti. Como se eu quase pudesse tocar nas pessoas.

Suni percebeu o que eu fiz e sorriu.

— Você finalmente entendeu.

Eu apenas acenei positivamente. E assim começamos os trabalhos.

Dobrar a terra era o mais cansativo dos três. Requiria uma força que eu não usava nas outras duas dobras. O ar era o mais leve, e mais intuitivo. A água o mais moldável e volátil, e a terra o mais pesado e preciso.

Ver Suni erguer todo aquele entulho com tanta facilidade me fazia sentir inveja. Mesmo sendo rápida, ela fazia tudo com muita delizadeza. Haviam outro dobradores de terra naquele grupo. Apesar de serem muito mais bruscos, eles eram eficientes. No fim todo mundo estava tentando socorrer alguém.

Conseguimos resgatar muitas pessoas com vida. Algumas com pequenos ferimentos e outras em um estado mais grave. Fei havia conseguido ligar para a emergência, e eles já estavam a caminho.

Quando encontramos o primeiro morto, aquilo me fez ficar tonta. Eu nunca havia visto alguém morrer daquela forma. Meu coração se apertou. Mesmo sendo um soldado, eu pensei em sua família, em todos os seus amigos e todas aquelas pessoas que sentiriam a sua falta. E isso me fez ficar culpada. Será que eu poderia ter evitado isso? Será que seu eu não fosse tão egoísta, eu poderia tê-lo salvo?

Eu suspirei. E continuei.

Os bombeiros demoraram mais de uma hora para chegar, as ambulâncias levaram o dobro de tempo, parecia que o toque de recolher ainda estava valendo.

— Mira! -Suni me chamou.

Ela estava perto de uma montanha de ferro retorcido. E perto dela estava Sina. Ele não parecia gravemente machucado. E isso me deixou aliviada, porém o que ele estava fazendo ali?

— Riku, ele ainda está lá embaixo! – Ele disse tentando manter sua calma habitual.

— Riku? O que ele estava fazendo aqui? – Eu perguntei contendo as lágrimas que ameaçavam se formar.

Sina colocou a mão na cabeça, tentando tirar um pouco da poeira do seu cabelo.

— Haru , o pegou.

Me senti em uma montanha russa de emoções. Raiva e tristeza se mesclaram e me fizeram conter um grito.

— Mira. Preste atenção. –Suni me disse fazendo um gesto de silêncio.

Eu a obedeci e senti.

Riku. Uma pequena mina prestes a explodir estava embaixo da gente. Ele estava vivo, disso eu tinha certeza.

Trabalhamos rápido. Eu e Suni.

— Ele está aqui! – Sina disse alto, tentando ajudar como pode.

Finalmente conseguimos tirar Riku dos esccombros, ele parecia abatido, mas estava bem. Sabia muito mais que eu o que estava acontecendo. Mas, mesmo assim perguntou o que havia acontecido. Sina prontamente respondeu.

— Quantos mortos já foram contabilizados? – Riku perguntou.

— Cerca de 30, porém há pelo menos 80 pessoas desaparecidas embaixo de todo esse desastre.

Sina respondeu e eu fiquei surpresa. Eu não tive coragem de contar, eram tantos mortos que eu não consegui nem olhar. Riku poderia ser um deles, mas graças a Raava, ele estava bem. Ele ainda não havia me percebido, mas, eu o abracei. Ele pareceu surpreso e até se debateu um pouco no inicio, mas aceitou.

— Estou tão feliz que você está bem! — Eu disse.

— Sim. Sim. — Ele disse sem jeito.

Eu o soltei e ele olhou fixamente para mim.

— Não faça mais isso.

— Fazer o que? – Eu perguntei em um tom de brincadeira.

— Isso. Eu não gosto de me sentir confuso.

Confuso? Sim, esse era Riku. Apesar de estar bem melhor hoje em dia, ainda tinha um fundo de loucura em tudo o que ele dizia e fazia. Desde quando um abraço pode deixar alguém confuso?

Ele se levantou. Haviam pequeno arranhões e cortes nos seus braços e rosto.

— Eu não posso ajudar. Eu só consigo, destruir. E imagino que uma fagulha nesse lugar, pode não ser uma boa ideia.

Ele tinha razão. Deve haver uma tubulação de gás rompida embaixo de tudo isso. Já existe destruição demais, não podemos correr o risco de uma explosão.

— Então, vá fazer um curativo nessas feridas. – Eu disse apontando para uma das ambulâncias.

— Não. Eu não pre... – Ele ia terminar de falar, mas Sina o pegou pelo braço.

— Vamos logo.

E eles foram. Mesmo contra a vontade do Riku.

Assim, depois disso ajudamos mais algumas pessoas. Soldados, civis, dobradores, não importava quem era, não estávamos fazendo distinção, ou escolhendo lados, todos mereciam uma chance.

Eu olhei para tudo e notei que havia muitas pessoas ajudando. Entre bombeiros, médicos e enfermeiros, pessoas da vizinhança e as próprias vítimas, todos tentavam salvar o maior número de pessoas.

Eu andei um pouco até sentir alguém que precisava de ajuda. Primeiro foi um choro, depois eu senti alguém gemer de dor. Alguém muito ferido estava embaixo de mim. Tentei ter cuidado , tentei imita a Suni, e assim eu fui tirando todas as pedras e ferragens. Depois de um tempo eu finalmente estava perto de ajudar aquela pessoa.

Tive a sensação que tudo estava desabando novamente. Que eu estava de volta naquele buraco, coberta por todo aquele concreto, só que dessa vez, sem nenhuma proteção. Eu reconheci aquele braço. E a fina pulseira dourada que estava em seu pulso. Eu tremi com a constatação. Eu sabia quem era, e isso me fez cair de joelhos.

— Hina! – Eu gritei em desespero.

Eu tentei cavar com as mãos novamente. Cavei e cavei, até conseguir colocar o seu braço todo para fora. Meus dedos ficaram em carne viva.

— Socorro. – Eu gritei para alguém.

Um homem vestido de bombeiro veio me ajudar. Com uma pá, ele me ajudou a colocá-la para fora do buraco.

Lágrimas quentes já escorriam dos meus olhos. Ela não reagia. Seu cabelo claro estava cheio de poeira e sangue. Seus olhos estavam fechados, e sua respiração desrregulada.

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— Isso é minha culpa. Eu fiz isso com ela! – Eu disse contendo o meu choro.

— Precisamos de um médico agora. – O bombeiro disse.

— Hina! Eu estou aqui! Eu vou te ajudar! – Eu disse baixo.

Foi Fei que veio ao nosso pedido.

— O que temos aqui. - Ele disse antes de tirar o pulso de Hina. – A pulsação está fraca.

Depois ele tocou em seus braços e pernas e por último levantou a sua blusa.

Havia uma mancha escura na sua barriga.

— Ela está com uma hemorragia interna.

Ele pegou um pouco de água e envolveu a mancha.

— Isso não vai adiantar muito. Minha cura só vai servir para aliviar a dor

— O que podemos fazer?? -- Eu disse desesperada.

Eu conheço um olhar de pena quando eu vejo um. Eu sei quando alguém hesita. Mas, naquele momento eu não queria saber. Eu queria me agarrar a qualquer vestígio de esperança.

Fei suspira.

— Fora a hemorragia interna, também temos que cogitar um traumatismo craniano, não podemos movê-la daqui, senão vamos piorar a sua condição.

— O que podemos fazer? – Eu repeti.

— Sinto muito querida.

O que ele disse me quebrou totalmente, eu cai em prantos, eu me debrucei sobre Hina e chorei.

Isso era minha culpa. Seu eu tivesse voltado, seu eu não tivesse brigado com ela, ela estaria bem. Eu a teria salvo.

— Hina?

Eu olho para cima e percebo Sina. Às vezes eu esqueço que eles são irmãos. São tão diferentes, mas ao mesmo tempo, tão parecidos

Ele se abaixa e fica olhando para Hina fixamente. Ele parece confuso e não parece acreditar do que vê.

— O que aconteceu? – Ele pergunta baixo.

Mas, não tenho coragem de responder. Não tenho coragem de dizer que isso poderia ter sido evitado, que se eu tivesse voltado, nós duas estaríamos bem.

— Ela está muito ferida. Movê-la daqui seria como declarar a sua morte. – Fei disse.

Sina o fuzilou com os olhos.

— E quem é você? Você é um médico? Cadê o seu equipamento?

Fei não se abalou.

— Não, eu não sou um médico licenciado. Porém, eu já vi e tratei muitas pessoas no estado dela. E eu sei quando não há mais nada o que fazer.

— Não. Eu disse para minha mãe que eu iria levá-la de volta.

Ele passou a mão pelo rosto dela.

— Hina. Mamãe quer que você volte. Papai, Lina, Vina e Pina estão te esperando para tomar café da manhã.

Minha dor, não se compara a dele. Meu laço com Hina, que eu achei que era forte, não chega aos pés da relação dela com o irmão. Eu me sinto pequena frente a Sina.

Hina morreu 10 minutos depois. Nem um minuto a mais, nem a menos. Sina e eu não saímos do lado dela. E quando Fei constatou a sua morte, eu não acreditei. Sina não disse mais nada. Apenas ficou quieto cuidando do corpo da irmã. Eu nunca pensei que o veria chorar. Mas, o rapaz que nunca demonstra nenhum sentimento e que tem a alma fria com o gelo, estava desabando na minha frente.

Eu tenho um grande problema quanto a tristeza, ela sempre se transforma em raiva. E ela estava se transformando pouco a pouco. Eu tinha raiva de mim. Muita na verdade, mas o verdadeiro culpado de tudo aquilo, era Haru. Ele havia nos trago aqui, ele havia criado esse caos em Republic City, ele havia matado Hina. E o medo que eu sentia por ele, não existia mais. Só ódio.

Esse caos de sentimento, não me fez perceber a presença dele. Mas, ele estava ali, nos observando de longe, como um animal faminto a espera da sua presa.

Com calma eu me levantei.

— Sina. Leve o corpo de Hina daqui.

Ele me encarou com descrença.

— Haru, está aqui.

Assim ele me compreendeu, e acenou positivamente.

Korra me disse que eu não estou preparada. Que eu tenho que fugir e treinar. Que eu sou fraca. Mas, isso não importa. Nada mais importa. Eu não consigo me segurar. Eu tenho que me vingar. Eu tenho que vingar Hina e todas essas pessoas que morreram nessa tragédia.

Eu sinto o meu corpo se aquecer, eu sinto um poder inebriante passar em todo o meu corpo. Eu sinto que estou entrando em estado avatar, e a minha raiva é o combustível.

Haru estava perto de algumas pessoas, como um dos resgatados. Ele não tira o seus olhos de mim, e sabe o que está prestes a acontecer. Assim ele caminha em direção a mim. Com um sorriso no rosto.

— Vejo que você finalmente aprendeu a dobrar terra. – Ele me diz com alegria.

A quanto tempo ele está me observando? Isso não importa mais. Nada importa mais. O calor toma o meu corpo, e minha mente se distancia de tudo aquilo.

Haru

Eu fiquei quieto. Observando tudo o que acontecia. Estava tentando me concentrar. Não deixar que ele tomasse todo o controle do meu corpo. Mas, era difícil não ir até ela. Ver ela dobrando terra para ajudar pessoas, era realmente estimulante. Ela havia aprendido e isso me deixava orgulhoso. No fim apesar de tudo, eu gostava dela. Era como se tivéssemos mais de uma conexão, que ia além da minha dependência do seu poder, era uma ligação que estava acima de tudo.

Eu senti quando a sua alma se quebrou. Hina acabou falecendo em decorrência dos ferimentos, o que era realmente uma pena, ela havia me ajudado tanto, era tão prestativa. Mas, foi burra o suficiente para morrer dessa forma.

Todos eles eram idiotas, seres inferiores. Dobradores e não dobradores, no fim todos são apenas humanos.

Ela se levantou, e se virou para mim. Finalmente havia percebido a minha presença. O seu ódio emanava dos seus olhos dourados e quando ele começaram a brilhar, eu sabia o que estava prestes a acontecer. Não havia mais como adiar isso.

Tudo havia mudado. Eu não conseguia mais dobrar nenhum elemento. Tentei dobrar o ar, nada aconteceu, a terra nem se moveu , muito menos produzi fogo. Vaatu havia me dito, que as coisa seriam diferentes agora. E eram. Uma nova energia corria dentro de mim. Uma energia escura e sombria. Mas, ela era forte, e me cercava por todos os lados.

Vi que eu ainda tinha uma estranha conexão com algumas pessoas. Eu podia ver a linha negra que me ligava a elas. Dois dobradores que me auxiliaram na luta contra o Riku, se aproximaram devagar, como leais soldados, porém, eu não precisaria deles. Eles não teriam chances contra a Mira, a única pessoa que poderia enfrentá-la, era eu.

Um sombra negra apareceu no canto da minha visão, ela se aproximou até estar de frente para mim. Notei que apenas eu a vi.

— Não se controle, deixe meu poder fluir por você.

E eu deixei. Senti a energia tomar o meu corpo, e minha mente. De toda a forma, eu também entrei em estado de avatar, mesmo que não seja da maneira correta.

Riku

Eu aguardei. Eu não costumo fazer isso. Mas, eu me controlei. Ver tudo aqui me fez lembrar de coisas a muito tempo esquecidas. Ver toda aquela morte e destruição, me trouxe uma familiariadade mórbida.

Mira estava bem, e isso me alivia muito mais do que deveria. Ela é uma pessoa estranha, afinal ela é a Avatar, mas não é só isso que me atrai nela. Ela é intensa de uma maneira certa, ela é audaciosa na medida correta , ela é tudo aqui que eu deveria ser, mas não sou. Seja por causa dos estabilizadores ou por causa da bagunça que é a minha mente. No fim eu só tenho inveja dela.

Assim, quando eles começaram a lutar, aquilo me fez ficar ainda mais estranho. Normalmente eu me meteria na briga, eu me jogaria para cima dos dois e queimaria tudo em volta, mas pela primeira vez em muito tempo, eu senti medo. Medo é um sentimento estranho, uma coisa que corroi o coração e me faz ficar parado, inútil, deixando tudo aquilo acontecer.

Haru e Mira, os dois estavam cobertos por uma camada de energia. Eu já vi Mira nesse estado, duas vezes pelo o que me lembro, uma vez quando fomos sequestrados pela união do fogo, e outra depois da minha luta com Haru. Por isso não fui surpreendido, já Haru, sua energia é negra, como uma coisa errada, que constrasta com tudo a sua volta e isso é a coisa assustadora. Eles não têm conciência do que acontece em volta. Há muitos feridos aqui ,mas isso não importa para os dois, eles estão concentrados um no outro, o que faz isso ser perigoso para todo o resto.

Quando o vento começou a soprar forte, e pedaços da estrutura do prédio começaram a dançar, eu senti que aquilo seria um prelúdio para algo pior. Desta forma, eu me levantei e tentei tirar aquelas pessoas dali o quanto antes.

Eu encontrei Sina com uma garota nos braços. Eu já a tinha visto antes, porém Sina não parecia a mesma pessoa.

— Ela está morta. – Ele disse para mim com um olhar abatido.

Eu não sabia o que responder.

— Eu sinto muito. – Eu finalmente consegui dizer.

Ele suspirou.

— Mira, pediu para tirá-la daqui.

— Certo, e para onde vamos?

— Para qualquer lugar, temos que sair dessa cidade.

Mira

Movi meus braços para frente, o peso da terra não importava mais, ela apenas me obedecia, fazia o que era necessário. Fiz um pedaço de concreto fundido com ferragens voar até ele. E ele não desviou, apenas esperou o impacto.

Quando ele foi atingido, o seu corpo foi arrastado para trás, quando a poeira baixou, não havia nenhum ferimento.

Pequenos fios negros corriam por sua pele, sua íris ficando cada vez mais escura, estava cada vez mais dominado por Vaatu.

Uma corrente de ar me fez flutuar, assim Haru me acompanhou para o céu. E foi ai que ele atacou.

Eu esperei ele dobrar alguma coisa, porém uma sombra escura saiu das suas mãos, como um raio, mas mais expesso, quase sólido. Ele mirou em mim e eu consegui desviar. Quando eu olhei para trás, aquela coisa se expandiu e voltou para trás, fui atingida no ombro, aquela coisa grudou em mim, me fazendo perder o controle ainda mais.

Eu senti o meu poder ficar mais forte, se intensificou tanto que quase perdi os meus sentidos.

— Você é fraca. Você não é pareo para mim. Você vai cair como todos os outros, inclusive como a sua amiga.

Alguem falou comigo, olhei em volta procurando o rosto por trás daquela voz sombria, mas percebi que eu a escutei do fundo da minha mente

— Não. – Eu gritei.

Haru pareceu entender o que estava acontecendo, ele sorriu.

— Você o escuta também? Vaatu sabe incomodar quando quer.

Vaatu? Sim, eu tive certeza que era ele. Ele estava tentando me contaminar. Eu tinha que ficar longe daquela sombra. Meu corpo estava tentando se livrar da sua influencia por isso eu estava perdendo o pouco controle que eu tinha.

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Pedras voavam entre nós dois, eu sentia que tudo seria puxado para cima alguma hora, como se fossemos imãs.

Haru tentou me atacar novamente, fios negros agora se desprendiam dos seus dedos. Era muito mais difícil escapar, fui atingida algumas vezes e com aquilo, a voz de Vaatu ficava mais intensa.

— Você perderá o controle logo, criança. Você é fraca, não consegue controlar tanto poder.

Eu consigo.

A voz riu.

— Vamos ver por quanto tempo.

Estava cada vez mais difícil. Haru só esperava, ele queria me ver perder totalmente o controle. E eu perdi.

Suni

Aquilo não era a Mira. Eu já a vi perder o controle antes, eu quase morri por causa disso, mas dessa vez, aquilo não era ela.

Haru e Mira, voavam acima de nós. Tudo ao nosso redor era atraído por eles. Eu até tentei controlar um pouco as pedras que voavam, mas a força exercida sobre elas era muito forte, até para mim.

Haru esperava, atacava ocasionalmente e isso fazia com que Mira o atacasse com mais afinco. Ela parecia uma besta enlouquecida por tanto poder.

E eu sabia que essa era uma batalha ganha. Haru estava esperando por isso, quando o poder a dominasse por completo, ela iria cair. É assim que sempre acontece.

Conseguimos evacuar a maioria das pessoas. Os prédios próximos tremiam, era só uma questão de tempo, eu e Meelo estávamos preparados, quando Mira caísse, nós a salvaríamos e a levaríamos para longe.

Haru

Eu já entrei em estado de avatar, eu sei como Mira está se sentindo. Eu quase morri várias vezes assim. Quando faziam aquelas experiências comigo, eu fui até o limite, da mesma forma que eu estou levando a Mira. É quase como uma sentença de morte. Uma morte definitiva. Se o avatar morrer nesse estado, o ciclo será quebrado, e ele não reencarnará novamente.

Eu não consigo pensar diferente dele. Ele influencia todos os meus pensamentos, e eu não ligo, isso é satisfatório. Desde que eu despertei, eu nunca havia me sentido tão inteiro, tão forte. E para isso durar eu tenho que matá-la, mesmo que no fundo, eu não queira que isso aconteça.

— Prioridades. – Eu repito junto com a voz na minha cabeça.

Já está na hora de acabar com isso.

Ela está prestes a cair, o seu corpo não aguenta mais tanto poder. E assim eu estou preparado. Mas, alguma coisa agarra um dos meus pés, é uma corrente de ferro que me puxa para baixo Olho ao redor procurando algum dobrador de metal e eu vejo a filha do Mansur. Ela é forte, muito forte para o meu gosto. Ela me puxa como um verdadeiro integrante do clã do metal. Como eles não a descobriram? Eu não sei, e isso não importa. Eu preciso fazê-la parar.

Porém uma parede de fogo azul me impede de continuar.

Vejo quando Mira cai, ela desliza pelo vento, como uma folha de uma árvore. E é socorrida, pelo dobrador de ar. Qual era mesmo o nome dele? Meelo, como o cretido do seu pai.

A dobradora de metal não desiste, a corrente de ferro se entrelaça na minha perna, me trazendo cada vez mais para baixo.
Por que eu não revido? Por que eu não faço nada? O que acontece com o meu corpo?

Lá está ela. Mais uma integrante da minha galeria de traidores. Kiha. Ela está ferida, porém a sua dobra de sangue nunca esteve tão forte.

— Rápido levem-na daqui. – Eu a ouço gritar para os seus ex-alunos.

E eles a obedecem fielmente.

Ela me prende até que todos eles, tenham sumido de vista.

— Eu vou encontra-la , Kiha, não importa quanto tempo você consiga me manter preso.

Ela ri.

— Isso não importa, Haru. Só precisamos de tempo. Mesmo que seja pouco.

— Por que? -- Eu pergunto

— Eu não sei. Mas, no fim das contas, todos que se envolvem com Vaatu têm o mesmo fim. Assim como o meu avô, eu tive escolhas, quase escolhi a errada, mas acho que ainda da tempo de fazer a coisa certa.

— Avô? Seu avô era Unalaq?

Isso me faz sorri.

— Infelizmente.

—Unalaq, quase conseguiu fazer algo útil. Porém ele não era o Avatar. Eu sou.

E assim eu consigo me soltar do domínio dela. E imediatamente eu a faço se calar. No seu último suspiro, eu consigo ver Unalaq através de Vaatu. Realmente eles são parentes, o mesmo olhar torto do homem que tentou ser o Avatar Negro e não conseguiu.

Agora eu tenho um trabalho, reconstruir esse país de novo. E o mais importante de tudo, eu preciso encontrar a Mira, para continuar da onde paramos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.