Lembre-se

Capítulo vinte e dois


Foram as batidas na porta que cortaram o silêncio da madrugada, as mesmas que acordaram Hermione, fazendo-a buscar a varinha no criado-mudo ao lado da cama. Ainda estava sozinha, e por isso, enrolou-se no robe e desceu a escada sem se preocupar com o barulho que faria. Abriu a porta com a varinha apontada para o visitante noturno, mas baixou assim que entendeu o que se passava.

Blásio e Theo carregavam Draco adormecido e fedendo à bebida.

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— Desculpe trazê-lo assim. — Fora Theodore quem se pronunciara primeiro, e, parecia o menos bêbado dos três. Blásio riu baixinho e tentou cobrir os lábios com a mão de Draco. — Podemos entrar?

Hermione tinha o punho fechado, os nós dos dedos tornaram-se brancos diante da força que usara. Percebeu que não respondera e apenas sinalizou com a cabeça para dentro, depois apenas apontou para o sofá. Não o queria em sua cama, não daquele jeito.

— Desculpe te acordar. — Theodore insistiu depois que Blásio tropeçou na poltrona e disse que esperaria do lado de fora, ainda ria.

— Não precisa, Theo. — Cortou-o com um gesto da mão que segurava a varinha. — Obrigada por tê-lo trazido. Boa noite!

Fechou a porta sem esperar uma resposta.

Naquele segundo queria fazer tantas coisas com o marido. Acordá-lo com um jato de água, deixa-lo dormindo ali mesmo, azará-lo com um feitiço ou acertá-lo com um bom soco. Qualquer coisa que ajudasse a liberar a raiva.

Subiu as escadas e deixou-o caído de qualquer jeito no sofá, seu peito subia e descia irregularmente, e precisou segurar-se para não voltar até a sala e xingá-lo de todos os nomes terríveis conhecidos pela humanidade. Era tudo por causa das férias que não poderia tirar, Draco estava sendo infantil e isso, depois de tudo o que passaram, era a última coisa que esperava dele.

Estava decepcionada.

Depois de acordar, ignorou-o completamente. Não tinha mais forças para entrar numa discussão sobre comportamento com Draco, ele era adulto e sabia o que fazia, portanto, resolveu que não diria absolutamente nada sobre o assunto. E não precisou, ele apenas pediu um minuto e explicou-se:

— Eu tive um daquelas crises de “não sou um bom marido” e resolvi sair com Theodore e Blás, precisava pensar, bebi demais e o resto você sabe. Mas eu estou tentando melhorar e tento a todo o momento ser o homem que você casou, mas é difícil. — Ele analisou-a, para ver se era seguro continuar. — Caramba, Hermione, parece que você vai me azarar a qualquer momento!

Ela levantou-se e esfregou as mãos no rosto.

— Ontem tive a impressão de estar casada com um adolescente inconsequente. Entende o quanto isso é frustrante? — Perguntou. — Sei que ainda está tentando se lembrar de tudo, mas não precisa, você é meu marido. Com ou sem memória. Entendeu?

Assentiu. Devia ter imaginado que para Hermione não fazia diferença, já não fazia há algum tempo, mas assim mesmo, sentia-se idiota por ter perdido a memória e fazê-la passar por aquilo tudo.

— Acontece que eu não me sinto a vontade com isso. — Precisava que ela soubesse. — Eu não sou o mesmo com quem se casou e você merece aquele Draco, não alguém pela metade. Sei que não se importa com nada disso, cuidou de mim durante semanas e fez seu melhor até quando eu não merecia.

— O que está tentando me dizer?

Direto ao ponto. Quis sorrir, mas se recompôs e levantou-se para encará-la de frente e talvez assim, conseguisse mostrar o que realmente estava querendo dizer com aquilo. Mas Hermione baixou o rosto e não deixou-o continuar.

— Logo que você saiu do hospital eu pedi para que se algum dia você descobrisse que não podia mais continuar, me dissesse. É isso? — Draco não suportou a mágoa na expressão de Hermione e rapidamente negou. Não era isso que queria dizer. — Então o que é, Draco? Há alguns dias você pediu para que eu nunca mais saísse daquela cama, e hoje parece que é você quem quer deixa-la.

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— Quanto foi que tudo ficou tão complicado? — Murmurou para si, mas ganhou uma resposta.

— Quando você começou com essa conversa estúpida! — Replicou furiosamente por não estar conseguindo entrar numa linha mais racional daquela discussão.

— Certo, pare por um segundo e me escute. — Gesticulou para o banco, mas Hermione não sentou-se. — Por que sempre complicado tudo? Não responda!

Hermione mordeu os lábios com força e não suavizou nem mesmo quando sentiu gosto de sangue. Estava furiosa com Draco por ter voltado bêbado para casa, e estava querendo mata-lo por ter começado com aquela discussão, mas sabia que usava a irritação exacerbada para controlar a magoa e incerteza que cresciam em seu peito.

— Eu não consigo me lembrar de nada sobre nosso casamento, não sei como estava vestida e isso me frustra, porque tenho certeza de que foi a visão mais espetacular que já tive na vida. E eu quero saber! — Sentou-se e muito embora Hermione continuasse de pé, já havia suavizado a expressão de raiva no rosto. — Sei que não se importa com isso, mas eu sim, e como médibruxo preciso aceitar o fato de que jamais vou recobrar a memória. Sabe que estou certo. — Tratou de dizer quando percebeu que ela tentaria negar.

Hermione apoiou-se na bancada e sentou-se, não estava gostando do rumo daquela conversa e não conseguia mais manter-se de pé.

— Nós tentamos começar de novo, e percebi que sempre vou amá-la, lembrando ou não. — Esticou a mão, na esperança de que Hermione a segurasse. — Quero me casar com você de novo, ou renovar os votos, seja lá o que for.

Um tremor passou pelos lábios de Hermione, possivelmente um sorriso.

— Você merece aquele Draco de dois anos atrás, mas ele perdeu a chance. — Riu da piada brincadeira boba ao vê-la sorrir. — Agora é a minha vez de tê-la, se disser "sim".

Hermione passou a mão por cima da bancada e segurou a de Draco, entrelaçando os dedos lentamente como se finalmente tivesse entendido tudo.

— Queria que tivesse sido diferente. — Riu da própria falta de sorte, tinha planejado pedi-la em casamento numa situação diferente, com uma aliança nova, mas voltar para casa carregado pelos amigos estragara suas chances. — Hermione Granger Malfoy, quer se casar comigo?

Estavam separados pelo balcão, somente suas mãos os conectavam fisicamente naquele momento.

— Há dois anos você me fez uma pergunta parecida e eu respondi que não importava quantas vezes a repetisse, a resposta seria sempre a mesma! — Draco soltou a respiração e beijou-lhe o nó dos dedos carinhosamente. — Eu me caso com você, Draco, quantas vezes você quiser.

Ele apenas sorriu e jogou a cabeça para trás.

— Você foi comemorar com Blás e Theodore, não é? — Arqueou a sobrancelha e riu quando Draco concordou. — Você nem sabia se eu aceitaria. Já pensou se eu dissesse que não e pedisse o divórcio?

Draco levantou-se e segurou-a nos braços para coloca-la sobre o balcão.

— Se negasse eu provavelmente teria que persuadi-la. — Encaixou-se entre as pernas dela, baixando o tom da voz. — O que acha da primavera?

Hermione olhou-o com surpresa.

— Bem, não teremos muito tempo para planejar as coisas, mas...

Draco a calou com um beijo casto nos lábios e passou os braços por suas costas, até que conseguisse juntar seus corpos, minimizando todo o espaço que os separava.

— Fale com a Weasley, peça ajuda para os preparativos. Quero me casar com você o mais rápido possível! — Disse ao separar-se dela. — Construiremos uma família.

Hermione o afastou, espalmando as mãos em seu peito.

— Uma família?

Sempre quisera construir uma família, sua carreira tinha prioridades e foi deixando os planos de lado, Draco nunca tocara no assunto e depois daquela noite assustadora no hospital decidiu que não perguntaria até que estivessem realmente bem um com o outro. Ouvir aquilo a surpreendia de muitas maneiras diferentes e não conseguia decidir o que estava sentindo com aquela declaração.

— Sim, bebês chorões e algum animal de estimação que coma nossos sapatos ou urine no tapete! — Deu de ombros e riu quando Hermione o abraçou. — Afinal de contas, quem vai manter o pequeno Potter na linha quando for para Hogwarts?

Não respondeu-o, mas gargalhou diante da expectativa.

— Podemos deixar para depois do casamento? Não quero estragar a visão “espetacular” da sua noiva perfeita comigo parecendo um hipogrifo! — Draco riu com gosto, imaginando a cena, mas com a certeza de que a acharia perfeita até mesmo vestida de hipogrifo.

— Até lá, o que acha de treinarmos?