Dreams

Six Months


Seis meses.

Fazia seis meses que Rachel tinha os mesmos sonhos, como se se tratasse de um mundo alternativo ao seu. Um mundo onde ela não era obrigada a trabalhar, mas precisava agir de acordo com todos ao seu redor. Precisava agir como uma princesa.

Afinal, ela era uma princesa. E essa era toda a ironia desse mundo. Ela, com 15 anos de idade, sonhando com princesas? Se contasse a qualquer pessoa, seria zoada até o fim da sua vida.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Provavelmente, aquilo começou quando ela folheou o livro “A Seleção” na biblioteca de seu colégio. De repente, era como se ela vivesse com duas vidas, que se complementavam: a real e a dos sonhos, onde ela era a irmã esquecida da história. Chegava a pensar se tudo o que sonhava era realmente a verdade, se Maxon Schreave tinha alguma irmã que não apareceu durante a história. Como se Kiera fosse desperdiçar uma história dessas...

— Rachel — sim, uma curiosidade: ela tinha o mesmo nome da vida real.

— Sim? — perguntou, sem levantar o olhar de seu livro.

Foi obrigada a levantar o olhar, quando sua empregada (sim, ela tinha uma empregada!) pegou o livro de suas mãos.

— Rachel! — ela exclamou de novo, repreensiva.

— Desculpe! — disse Rachel, sem entender.

— Se vossa mãe lhe vir agindo desta forma... — a empregada, que Rachel não lembrava o nome, continuou dizendo.

— Diga de uma vez o que quer. Eu estava lendo — reclamou Rachel, olhando para o livro, de braços cruzados.

— Seu pai quer lhe falar, em seu escritório — ela fechou o livro, ao dizer isso.

— Meu pai? O que ele quer? — era a primeira vez que ele pedia para falar com ela.

— Eu não posso me meter no assunto dos patrões, senhorita — a empregada disse, desviando o olhar.

— Certo!

Ela tinha alcançado a porta, quando foi parada pela empregada.

— Senhorita! — exclamou.

— O que? Tem um bicho em cima de mim? — perguntou, esquecendo-se dos modos.

— Vai visitar seu pai vestida deste jeito? — ela fez um gesto com as mãos, em direção às suas roupas.

Rachel olhou para baixo, e não viu nada de mais.

— Há algo de errado com minhas vestes? — perguntou, confusa.

— Criança — ela não sabia se ria ou chorava, colocou as mãos em seus ombros — Venha! Deixe que eu lhe arrumarei.

— Mas disseste que meu pai está esperando-me. Não se irritará com minha demora? — era estranho falar tão formalmente.

— Se irritará mais com seu descaso — garantiu a empregada.

Sem opções, deixou-se ser arrumada, e apressou-se para o caminho (precisou ser guiada por um guarda, já que nunca passou por ali).

— Está atrasada — foi o que o rei disse, assim que ela entrou no aposento.

— Perdoe-me por isso. Não estava trajada adequadamente — disse Rachel, olhando para baixo.

— Podem ir — o rei dirigiu-se para os seus assessores, que fizeram uma reverência e se foram por onde ela entrou.

— O que... Gostaria de falar comigo? — perguntou, ainda de pé.

— Sente-se — ele apontou a uma das cadeiras à sua frente

“Foi uma ótima decisão permanecer em pé” pensou Rachel, indo para perto da mesa.

Ela nunca esteve acostumada a obedecer às outras pessoas, não gostava de ser repreendida, mas, apesar de ser apenas um sonho, ela sabia que era melhor para ela tornar aquilo tudo o mais agradável possível.

— Já tens 18 anos — disse seu pai, repentinamente.

Rachel observou sem expressão a mesa. Era 3 anos mais velha ali? Não tinha tanta certeza...

— Sim, senhor — foi o que encontrou para dizer.

— Por que estás agindo como uma subordinada? — o rei parecia incomodado — Olhe para o seu pai.

Sem opções, ela olhou para ele, incomodada.

— Deveria passar menos tempo trancada naquele quarto — disse, como se realmente se preocupasse com ela.

— Estava estudando — respondeu, tentando desviar o olhar, sem que aquele homem se incomodasse.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Isso é muito importante, mas deveria passar mais tempo ao ar livre — insistiu.

— Sem querer ser desrespeitosa, — “mas já sendo” completou mentalmente — mas chamou-me para reclamar de meus hábitos?

Sabia que estava sendo insolente, mas estava curiosa. Seis meses que estava tendo aqueles sonhos, todas as noites, e o rei nunca lhe dirigiu a palavra. Era sempre a rainha ou o príncipe, seu irmão (que não era Maxon, importante esclarecer isso).

— Seu irmão enfrentará a seleção durante os próximos meses — anunciou o rei, e Rachel não surpreendeu-se que até aquilo fizesse parte de seu mundo de fantasia — Havendo o casamento dele, deverá casar-se também.

Demorou um pouco, antes de perceber que se referia a ela.

— Como disse? — perguntou, para assegurar-se.

— O que escutaste — respondeu, calmamente, e Rachel perguntou-se se sua homônima era calma em relação à essas coisas, ou o rei não preocupava-se mesmo com sua opinião — Não está realmente surpresa, certo?

— De certa forma, sim — respondeu.

— Sempre soube que isso ocorreria um dia, Rachel — ele disse.

— Não esperava que fosse tão rápido.

O rei não respondeu-lhe, olhando em alguns papéis.

— Não precisa preocupar-se, eu e sua mãe cuidaremos disso — ele disse, vagamente.

Era justamente isso que a preocupava. Ela tinha lido nos livros como acontecia. Os príncipes tinham sua seleção. As princesas eram casadas com nobres de outros países, para selar a paz.

— Pai, eu lhe imploro — ela disse, em um rompante — Deixe-me escolher... O que tens a perder com isto? Eu casarei-me com um nobre, de qualquer maneira. Todos sairemos ganhando, o reino continuará em paz com o país que for.

— As coisas não são assim, Rachel — ele disse, e sua inexpressividade a alarmava.

Afinal, ele seria como o rei dos livros? Ou seria um rei mais compreensivo?

Talvez a sorte dela foi que, naquele instante, sua mãe entrou ali. Ela iria lhe apoiar, Rachel tinha certeza, passou tempo suficiente com ela para ter essa certeza.

— Incomodo? — perguntou a rainha.

— É claro que não, querida — o rei levantou-se de seu lugar — Estávamos conversando sobre aquele assunto.

— Sim, eu confesso que estive escutando as últimas frases — ela sorriu.

— Mãe, por favor — implorou Rachel, levantando-se também.

— Rachel, deixe-nos a sós — a rainha interrompeu-a.

Ela suspirou, derrotada, mas assentiu com a cabeça.

— Vá andar um pouco nos jardins — o rei sugeriu, chamando um guarda para acompanhá-la.

Sem escolha, Rachel foi obrigada a caminhar, observando como o lugar era grande para uma família pequena. Seria mais agradável se ela tivesse outros irmãos, irmãos mais novos... Caminhar sob a vigilância do guarda era algo incômodo. Ainda mais pelo fato de ele ser lindo, mas Rachel não podia prestar atenção nisso, era apenas um guarda.

— Seu pai requer sua presença, novamente — outro guarda informou.

Ela ficou aliviada pelo suspense terminar, e seguiu o novo guia, evitando olhar para o lindo guarda, que antes a acompanhava em sua caminhada silenciosa.

— Está certo, Rachel — o rei disse, assim que ela chegou, a rainha estava ao lado da cadeira dele — Fará uma viagem por alguns países.

— Quanto tempo tenho? — perguntou, era uma questão importante.

— Seis meses — parecia uma ironia aquele tempo — Se não indicar alguém, voltará imediatamente e nós iremos escolher.

— Concordo — ela assentiu.

Seus olhos abriram-se, e ela voltou para o seu quarto, na vida real.

Pegou o livro “A Elite” e folheou as páginas, perguntando-se se a linguagem era tão formal quanto em seu sonho.