Desajustadas

Condição


Annabeth suspirou e prendeu novamente os cabelos que caiam pelo seu rosto. A garota estava sentada na escrivaninha de seu quarto estudando, já devia passar das duas da manhã, os olhos dela já pesavam, porém Annie não podia parar.

Toda a sua nova rotina, após ter conseguido o emprego, estava dificultando seus estudos, por isso aquela noite de sexta feira seria usada apenas para estudar tudo que havia acumulado. Mesmo com a perna dormente, os olhos já lacrimejando pelo cansaço e o estomago roncando pela falta de alimentos, Annie não fez uma pausa sequer.

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Até em determinado momento, foi impossível continuar apenas sentada, levantou-se e espreguiçou-se, andou até o banheiro e jogou um pouco de agua fria no rosto; dirigiu-se a cozinha e preparou da forma mais silenciosa que pode um café, não queria acordar o pai, que chegará tarde e merecia, mais do que qualquer um, aquele descanso.

Logo após, voltou para o seu quarto e continuou estudando por mais algumas horas até concluir tudo que havia programado para estudar, fechou os livros e levantou-se, pronta para dormir, quando viu de relance o sol já nascendo. Soltou um suspiro curto e enfiou-se em baixo das cobertas, logo pegando no sono.

Porém o descanso não durou muito, acordou após um pesadelo que teve, sentou-se na cama, suando frio e ofegante, logo levantou-se, sabia que não conseguiria dormir mais. Andou até o banheiro e logo enfiou-se em baixo da agua gelada que caia do chuveiro, sentindo-se desperta logo em seguida.

Vestiu-se, roupas bem simples, uma blusa branca e um short velho, não tinha intenção de sair pela manhã, apenas a tarde quando tinha que ir ao trabalho. Logo foi a cozinha e viu um bilhete de seu pai, dizendo que havia ido até a escola para organizar seus trabalhos e provas. Annie não evitou bufar, seu pai ao invés de diminuir a rotina de trabalho depois de saber que Annie começara a trabalhar a aumentou, ele sentia-se, de alguma forma, culpado pela filha ter que arrumar um emprego tão cedo.

Tomou seu café da manhã e após isso voltou ao estudos, teria prova na segunda feira e não podia tirar nota baixa. Passou a manhã toda estudando, revisando e lendo. Almoçou sozinha, apenas um requentado da noite anterior e logo seguiu para tomar mais um banho.

Como no trabalho usava um avental, não preocupou-se em escolher alguma roupa muito bonita, apenas uma camiseta branca simples, uma calça e um tênis, prendeu os cabelos e passou um pouco de perfume. Logo seguiu, a pé, até o trabalho.

Logo que entrou, pegou seu avental e cumprimentou Ethan, com os dias havia entendido um pouco mais sobre o garoto, não se considerava amiga dele, mas tinha mudado sua opinião a seu respeito. Lavou suas mãos e seguiu para a frente da loja, logo indo atender um dos clientes.

Seguiu nessa rotina, atender clientes, anotar pedidos, preparar os pedidos, entregar, sorri, despedir, cumprimentar, acenar, por horas; sua boca já doía por ficar sorrindo. Finalmente seu expediente estava quase ao fim, comemorou silenciosamente ao ver que faltava menos de 10 minutos.

Não que não gostasse do emprego, o adorava, para ser sincera, porém estava cansada, com sono, um pouco irritadiça e principalmente esgotada mentalmente, precisa de um descanso, mas não tinha esse luxo, precisa continuar estudando e trabalhando, era por um bem maior.

Estava quase tirando o avental quando ouviu a campainha, grudada em cima da porta, soar, avisando que havia entrando mais um cliente, suspirou e arrumou o nó do avental; virou-se e andou até a mesa que o cliente havia sentado.

—Boa tarde. –Annie saudou e arregalou as olhos ao ver que o cliente ali era Percy.

E o garoto teve a mesma reação, salvo pelo fato de que ele foi mais lerdo, demorando alguns segundos para perceber que era Annie ali.

—Annie? –Ele disse, abrindo a boca em um “o”.

—Hum... –Annabeth murmurou, sentindo-se constrangida.

—Você trabalha aqui? –Percy questionou, de um modo quase magoado e Annie não entendeu o que se passava.

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—Sim. –Assentiu de forma meio relutante.

Percy fechou a cara, sua expressão, geralmente, suave deu lugar a uma carranca, e exalando um ar sombrio, e um tanto irritado, levantou-se, com certa violência, empurrando as cadeiras ao redor e saiu da loja, deixando Annie plantada lá, com uma cara de paisagem.

Como sempre acontecia quando se tratava de Percy, Annie não sabia como reagir, sequer o que pensar e agindo por impulso, saiu atrás dele, sem nem pensar nas consequências, mas ela não podia evitar, nunca conseguia pensar com clareza quando o assunto envolvia o moreno de olhos verdes.

Correu para alcança-lo, Percy tinha um passo longo, e ao chegar perto dele chamou-o, porém foi ignorada. Irritou-se e puxou o ombro dele, fazendo o garoto virar-se para si, ofegou um pouco e tentou falar, porém a expressão irritada dele a estava assustando, não pela raiva mas pelo traço magoado, ele parecia mais magoado do que irritado, e Annie não entendia o porquê.

—Qual o seu problema? –Foi tudo que Annie pode pronunciar, entre a respiração ofegante e entrecortada, tudo graças a maldita rotina sedentária.

—Qual o meu problema? –Percy repetiu, com um leve tom irônico. –Qual o seu problema? –Ele disse, confundindo Annie.

—O que está acontecendo? –Annie questionou, tentando respirar normalmente.

—Esta acontecendo que você é uma mentirosa. –Percy disse de forma acusatória.

—Uma mentirosa? O que? –Annie estava verdadeiramente confusa, Percy e seus talentos de embaralhar totalmente a mente dela.

—É. –Percy deixou que a expressão raivosa tornar-se triste, e aquilo partiu o coração de Annie. –Você quebrou a promessa.

E ao proferir aquela frase Annie lembrou-se, havia prometido que Percy seria a primeira pessoa a saber se conseguisse um emprego e no fim não contou para ele, afinal, havia prometido a si mesma que não falaria mais com ele, encontrava-se em um dilema e não sabia o que fazer.

Annabeth mordeu seus lábios e abaixou o olhar. Havia prometido a si mesma que não falaria mais com Percy, que se focaria nos seus estudos, que deixaria aquele garoto que apenas bagunçava sua cabeça longe. Então, porque raios, doía tanto ver Percy magoado por sua causa?

Annie não sabia o que fazer, nada passava em sua cabeça, absolutamente nada. E esse era o “efeito Percy” ele simplesmente tinha o dom de confundir Annabeth de um jeito que ninguém jamais conseguia.

—Tanto faz. –Annie sussurrou e assim que o fez sentiu-se ainda mais culpada. Percy a olhava, cada vez mais a tristeza se estampava nos belos olhos verdes.

—Por que você está me tratando assim? –O garoto questionou em um quase sussurro, fazendo Annabeth ter de levantar o olhar.

Annie sentiu um turbilhão de emoções passar por sua cabeça e o mais claro deles era: porque eu gosto de você. Annie tinha orgulho e custou a admitir, porém estar com Percy era como estar em frente a um feixe de luz, um farol que poderia lhe tirar de toda aquela escuridão que sua vida se tornava.

Mas Annie não se permitiria ter um sentimento como aquele, quando viu sua mãe lhe abandonar jurou que jamais amaria alguém, amar era dar alguém a oportunidade de te destruir e Annie não permitiria ser destruída. Se afundou nos estudos para esquecer seus sentimentos, se quisesse vencer deveria deixar de lado essas coisas fúteis que eram os sentimentos. Acreditava que os sentimentos nada mais eram do que atrasos em sua vida.

Ou tentava acreditar, se engava. Até mesmo naquele momento estava se enganado, fingia que não queria falar com Percy pelo fato dele lhe distrair dos estudos, porém sabia a verdade, se afastará do garoto porque não queria se apegar a ele, não podia amar, simplesmente não podia.

Percy encarava Annie, a espera de uma resposta. Não podia dizer o que pensava, então, soltou, quase sem medir as palavras.

—Pergunte aquela garçonete. –Respondeu e virou as costas, sentindo-se envergonhada pela fala ter saído com tanta agressividade.

—O que? –Percy soou muito confuso e de fato estava. Annie revirou os olhos diante da lerdeza.

—Nada. –Suspirou. –Preciso voltar ao trabalho... –Disse e tentou voltar a loja, porém sentiu a mão de Percy enlaçar-se com a sua, segurando-a.

—Annie, eu fiz algo de errado? –Ele questionou, parecendo verdadeiramente preocupado e isso fez o coração de Annie falhar uma batida.

—Eu... –Mais uma vez Annie não sabia o que dizer, maldito seja o efeito Percy.

—Você disse garçonete? –Ele pareceu finalmente ter associado a fala da garota. –Você estava falando daquela garota que derrubou sorvete em sorvete naquele dia?

Annie suspirou e sem saída admitiu.

—Sim. –Tentou soltar seu braço, o contato direto com Percy enevoava ainda mais sua mente, se é que isso fosse mesmo possível, porem o aperto dele era firme, não machucava, mas não dava brechas para Annie soltar-se e fugir, como vinha fazendo.

—Ah, acho que sua roupa não voltou ao normal, né? –Ele perguntou, tentando soar de modo descontraído.

—Eu fiquei cheirando a framboesa por uma semana. –Annie admitiu, sentindo vontade de rir de seu próprio azar.

—Sinto muito por isso, eu realmente me senti culpado, tanto é que enquanto você estava no banheiro eu fui falar com a garçonete, para pedir um modo de como tirar o sorvete da roupa, sabe? Mas ela não ajudou em muita coisa, acho que ela era meio lerda porque só ficou sorrindo e enrolando o cabelo no dedo, acho que ela não era muito inteligente... –Percy suspirou.

—Você estava pedindo ajuda a ela? –Annie sentiu seu queixo cair, Percy na verdade não havia dado em cima da garçonete?

—É, e eu meio que xinguei ela. –Ele soltou uma risadinha nervosa.

—Você o que? –Annie surpreendeu-se, nunca se quer havia visto o garoto nervoso.

—Ela falou mal de você. –Percy sussurrou. –Eu tinha que te defender.

Annie sentiu a culpa lhe atingir em cheio, enquanto estava chateada com Percy por ele estar supostamente falando com a garçonete ele estava na verdade lhe defendendo. Annie jamais sentiu um aperto tão grande no peito como naquele momento.

—Me desculpe. –Foi tudo que Annie pode dizer. –Por tudo, por estar te ignorando, sendo grossa com você e por ter quebrado a promessa. –Sua voz estava baixa e quase chorosa.

Percy não respondeu em palavras, apenas abraçou Annie por trás, passando seus braços pelo tronco dela e sorrindo em seguida ao notar que o rosto de Annie estava tão vermelho quanto o seu.

—Não precisa se desculpar. –Ele sussurrou. –Mas agora que você o fez saiba que só vou aceitar suas desculpas com uma condição.

—Qual? –Annie questionou, sentindo o corpo inteiro arrepiar-se, Percy estava com a cabeça próxima a seu pescoço.

—Você vai ter que ir a um encontro comigo. –Percy orgulhou-se de si mesmo por não ter gaguejado, parecia confiante mas estava nervoso.

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—O que? –Annie arregalou os olhos.

—Você ouviu. –Sorriu. –Ah, não faz isso, é só um encontro, você não quer que eu aceite suas desculpas?

—Tudo bem. –Annie assentiu, sem opção.

Percy surpreendeu-se, não imaginou que ela concordaria, não evitou de sorrir.

—Eu vou com outra condição. –Completou, fazendo Percy arquear as sobrancelhas.

—Qual? –Questionou, um tanto receoso.

—Você vai me soltar agora e me deixar voltar ao trabalho. –Annie disse e Percy sorriu.

—Claro... Com uma condição. –Disse e Annie soltou uma risada.

—Qual? –Questionou, sorrindo.

—Que você vai parar de me ignorar. –Percy disse de modo sério. –E que jamais quebrara outra promessa que fizer comigo.

—Eu aceito.