Vítimas de uma tradição

Capítulo único


A mamãe me fez um pedido e eu, grandinha e esperta, já consigo escutar! Sei que ela não gosta quando eu a chuto, porque vive reclamando com a vovó da dor, mas eu não tenho culpa... aqui é apertado e está mais molhado do que costuma ficar. A mamãe chora e sinto os seus soluços. Alguém me puxa pela cabeça. Eu também choro. É difícil abrir os olhos com essa claridade e desconforto, mas eu quero muito viver! Papai uma vez disse, que o céu seria mais bonito se ele não fosse cinza, só que eu não quero voltar para a barriga da mamãe, porque lá, eu não possa enxergá-la.

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A vovó me pegou no colo e disse que sou menina. De repente, todos ficaram quietos. Será que não gostaram de mim? Acham que vou fazer bagunça? A mamãe começou a chorar de novo e estendeu os braços em minha direção, mas a vovó é brava e disse novamente que sou uma menina. Me tampou com um pano por causa do sol e andou depressa. Vou conhecer a minha nova casa! Agora, estou nos braços de um grande homem. É o papai! Quando eu for maiorzinha e alguma criança brigar comigo na escola, já sei quem vou chamar pra me defender! Ele está me colocando deitada em um lugar esquisito. É uma caixa. Já está na hora de dormir? Vejo a vovó me olhando de cima. E depois, jogando terra no meu corpinho. É o meu cobertor?

Ontem a mamãe me pediu várias vezes para eu nascer menino. Desculpa, mas sou menina. E é por isso que não consigo respirar direito e tudo está ficando mais escuro?!

Não me deixaram abraçar a mamãe, mas seus braços são os mais aconchegantes. Não tive tempo de fazê-la rir, mas sua gargalhada é a mais gostosa. E a única vez que eu pude vê-la, ela chorava. E o brilho de seus olhos tristes é muito mais bonito do que esse céu iluminado.

É, papai, eu conheci o céu. Posso olhar tudo o que existe e por quanto tempo eu quiser! E quer saber o que eu descobri? Não é o céu, papai; é a Índia que é cinza.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.