Lapidar Diamante

Prólogo


— Lorenzo, precisamos encontrar esse escritor!

— Mas existem muitas pessoas que postam coisas na internet em anônimo.

— Não me interessa, Lorenzo. Eu preciso desse escritor.

— Mas, senhor… - Lorenzo não tinha a menor ideia de como começaria a procurar o escritor.

— Lorenzo, acho que você não está entendendo a urgência disso.

— De fato não estou. É apenas mais um escritor entre vários que escrevem coisas na internet. - O homem de terno olhou para a parede a sua esquerda onde ficavam todos os troféus literários da faculdade.

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— Apenas mais um? - o diretor arregalou os olhos - quantos textos de internet você leu que é tão bom que chegou às mãos de alguns avaliadores do prêmio Franz Kafka? Eles estão realmente considerando colocar esse escritor na lista de candidatos ao prêmio.

— Senhor, isso é impossível. Como vão colocar um escritor na lista de candidatos sendo que não há outros textos dele, não há coletânea, nem livro.. eles perderam a cabeça?

— Eu não sei. Se o autor escreveu isso se adequando a todos os critérios do prêmio, acho que ele deve ter mais alguma coisa escrita. - o homem se virou para Lorenzo e continuou - Ontem, fui a uma reunião de emergência dos representantes da Academia Nacional de Letras sobre esse texto que fora divulgado e queriam conhecer o autor. Isso ainda não chegou às outras faculdades grandes. Lorenzo, você precisa encontrar esse autor, os organizadores do prêmio querem outras obras dele. Se soubermos quem ele é, podemos colocá-lo na nossa faculdade e incentivá-lo a escrever mais. Assim, ele ou ela poderá se candidatar e nossa faculdade será reconhecida internacionalmente como a reveladora de grandes poetas e escritores brasileiros.

— Quanto tempo deram para mandarmos as outras obras?

— Temos seis meses. É o máximo que nos deram. Os outros representantes da academia estarão procurando esse autor também e é por isso que temos de achar primeiro. Lorenzo, arrume um jeito de encontrar esse autor. Temos que ter o nome dele vinculado à nossa faculdade.

— Você tem alguma coisa para eu começar a procurar? - Lorenzo pediu. - Qualquer coisa.

— Alguns críticos avaliaram e definiram que era um adulto por volta dos 40 anos por causa de todo o conhecimento que continha o texto. - o diretor da faculdade deu de ombros - mas um único crítico disse que era alguém jovem. Coloquei alguns pesquisadores da parte da computação nisso e eles conseguiram rastrear o lugar de onde foi postado o texto. Uma escola de ensino médio. Relembrando: isso só nós sabemos e é por isso que precisamos começar as buscas agora.

— Certo, darei um jeito de descobrir quem é esse autor. - Lorenzo garantiu.

Xx

— Existe cada texto ridículo que me mandam ler que até penso em desistir de ser mestre em letras. Se diz escritor e erra conceito simples de “mas" e "mais" - Loring jogou mais um amontoado de páginas no fogo da lareira enquanto resmungava. Se levantou e foi encher a taça de vinho.

Ja era por volta de 23hrs e a campainha tocou. Loring praguejou quem quer que fosse e foi atender a porta.

Ao atender, Lorenzo apareceu ofegante.

— Loring, posso entrar?

— A essa hora, Lorenzo? Está bêbado? - Loring abriu passagem para o amigo entrar.

— Não.. dessa vez. Posso? - Lorenzo indicou a taça de vinho. Loring assentiu. - Acho melhor pegar uma para você também, vai precisar.

Xx

— Não. - Loring respondeu de prontidão à proposta de Lorenzo.

— Loring, você sabe que só pode ser você.

— Enzo, está vendo aquela pilha de papéis no fogo? - Lorenzo assentiu - é o que eu faço quando eu não gosto de algo. Como acha que posso dar conta de dar aula para um bando de crianças?

— Loring, você está se tornando relativamente muito amargo… passando suas noites lendo e criticando sem sair de casa para conhecer gente nova.

— É o que eu faço para viver.

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— Como se você realmente precisasse disso para viver. - Lorenzo disse com escárnio cruzando os braços e olhando a cobertura em que Loring morava. - Você é o melhor crítico do estado, quem dirá do pais. E mesmo já ganhando uma fortuna por avaliar dois ou três textos ainda pega trabalho a mais.

— Eu gosto do que faço. Se veio até aqui para julgar meu jeito de viver, é melhor ir. - Lorenzo já estava acostumado com o sotaque de Loring. Ele era britânico e havia se mudado para o Brasil. Aprendera bem a língua nativa mas ainda não conseguira perder o sotaque.

— Loring, por favor. Você é o melhor mestre de letras que eu já conheci, conseguirá fazer isso facilmente.

— Não gosto de ensinar. Muito menos para pessoas que não apreciarão meu conhecimento.

— São apenas alguns meses. É literatura brasileira, não tem nada que você não domine tanto quanto isso. - e era verdade. Ao terminar seu mestrado em Cambridge, quis se especializar em literatura brasileira, por isso estava vivendo no Brasil e com sucesso se tornou um grande crítico literário, conseguindo se oficializar como cidadão brasileiro por fim. - Loring, há uma coisa que se eu falar você aceitará na hora.

— Então diga, Lorenzo. - ordenou Loring.

— Não posso. É confidencial, só posso dizer se aceitar o trabalho.

— Me poupe, Lorenzo. - Loring se dirigiu à porta indicando que expulsaria Lorenzo.

— Tudo bem - Lorenzo se rendeu - Precisamos que você encontre um escritor. - Loring que, antes, havia aberto a porta, a estava fechando.

— Como é?

— O trabalho não é você lecionar na escola e sim encontrar o escritor desse conto. - Lorenzo tirou da bolsa alguns papéis entregando-os para Loring.

— "Lapidar Diamante”?! - Loring leu o título. - é algum tipo de brincadeira? Isso foi escrito por uma criança de 5 anos? Não vou atrás de alguma criança que escreveu uma porcaria que qualquer um escreve.

— Ai é que está. Não é qualquer porcaria. O prêmio Franz Kafka quer nomear o autor desse texto para candidato ao prêmio. Só que para isso precisam do autor e de mais alguns textos. Nossa faculdade quer fazer essa transição e entregar o escritor para o pessoal do Franz Kafka. Se conseguirmos, ele ou ela terá um grande prestígio e estudará em nossa faculdade com bolsa integral e estaremos com ele/a orientando para se tornar o melhor escritor que esse país já viu.

— Você sabe que não é assim. Um escritor não funciona assim, não se pode moldar um leão como você quer. - Loring olhava a cidade através da janela de vidro que ocupava a parede inteira. Tomou um gole do vinho e perguntou - Me diga, Lorenzo, quando encontrar esse escritor o que devo fazer? Entregar a vocês? Como um criminoso?

— Não, você deve conseguir outros trabalhos dele e nos mandar. Ajude-o a escrever melhor, comece com a orientação. Se isso não basta, imagine quantas pessoas vão ter a honra de trabalhar com Loring Brousse. - Lorenzo tentou inflar o ego de Loring.

— O que eu ganho com isso?

— Podemos pagar…

— Você sabe que não preciso de dinheiro. - Lorenzo sorriu com a ideia que palpitava em sua língua.

— O diretor sabia que você resistiria e por isso ofereceu um prêmio diferente, um que acho que você quer: podemos te colocar como conselheiro da Academia Brasileira de Letras.

— Isso é impossível, eu sou europeu.

— Resolva o seu problema que eu resolvo o meu. - Houve um momento de silêncio enquanto Loring pensava sobre o assunto - Eu sei que você adora um mistério, Loring. Aceita? - Depois de alguns segundos Loring se pronunciou:

— Preciso ler o texto, se eu achar que vale tudo o que falam, eu aceito.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.